Capítulo 4
Tiros no Corredor
Hermione estava sentada numa cadeira desconfortável há mais de três horas. Não sabia no que pensar. Não sabia ao certo o que estava fazendo ali, já que precisava ir ao trabalho e não tinha muito tempo. Mas seu inconsciente gritava uma única certeza dentro dela: ela era a única pessoa que Rony tinha naquele momento.
E era por esse motivo que ela não havia se levantado e simplesmente ido embora, como qualquer pessoa já teria feito.
Lembrou-se daquela época em que ela, Rony e Harry eram amigos. Aquela foi a última vez em que esteve sentada na sala de espera de um hospital. Foi também a última vez em que todos seus amigos estavam juntos, até os que não eram tão próximos ou tão unidos. Mas estavam lá, todos juntos, orando para que Harry Potter saísse bem da recuperação e pudesse festejar com todos eles a derrota de Lorde Voldemort.
Ela nunca esteve tão perto de Rony como naquele dia. Parecia que, quanto mais distante Harry ficava, mais Rony se aproximava dela. Os dois ficaram juntos por duas semanas naquele hospital, as duas semanas mais agonizantes da vida de ambos. Porém, foram semanas interessantes para eles, porque não brigaram sequer uma vez, o que era uma coisa inédita.
Até que o estado de Harry piorou e os dois pareceram adivinhar que o pior estava por vir. Era difícil manter a esperança num momento daqueles e eles não conseguiam passar uma hora sem cair no choro, consolando um ao outro. Hermione sentia-se protegida ao lado de Rony e sentia que aquele era seu lugar. Quando Harry ficasse bom e tudo voltasse ao normal, eles ficariam juntos, como tinha que ser.
Porém, as coisas não aconteceram desse jeito. Harry morreu e a turma se separou. Rony desapareceu por alguns dias e Mione sentiu que aquele era o momento de mudar completamente sua vida, então foi para os Estados Unidos. E agora tudo isso passava em sua cabeça como se tivesse acontecido ontem.
- Senhorita Granger?
Mione acordou de seu transe e levantou-se imediatamente. Seus olhos estavam vermelhos, cheios d'água, e a enfermeira a olhava com pena.
- O que houve?
- Ronald está bem. Precisamos fazer alguns exames e uns remendos, mas ele vai se recuperar rápido. Se quiser vê-lo, o quarto é o primeiro à esquerda depois dessa porta.
A moça saiu e deixou Hermione um pouco pensativa. Ela esfregou os olhos, passou pela primeira porta e entrou no quarto de Rony.
Ele parecia bem. Estava sentado e assistindo televisão.
- Ah, olá – disse ele sorrindo.
- Oi. Vejo que você está bem.
- Sim. Você deve estar irritada por ter ficado aqui esse tempo todo e eu só ter quebrado a perna e machucado o braço.
- Imagina, Rony, eu...
- Pode ir agora. Eu vou ficar bem.
- Eu sei que você vai, mas será que não é melhor...
- Eu não preciso de uma babá cuidando de mim o tempo todo!
Mione não sabia se saia andando e batia a porta ou ia até aquela cama e esmurrava Rony. Devido à situação do rapaz, ela escolheu a primeira opção.
- Senhorita Granger? – perguntou o gerente do hotel, do outro lado da linha.
- Sim?
- A senhorita tem visita.
- Quem é?
- Ronald Weasley.
- Oh sim... Mande subir.
- Sim, senhora.
Assim que Mione colocou o telefone no gancho, alguém bateu na porta. Ela se espantou com a rapidez de Rony, mas foi bem devagar até a porta e abriu-a lentamente.
Rony estava saindo do elevador naquele momento e o quarto de Mione ficava no fim do corredor. Enquanto ele se aproximava, ela tentava achar uma explicação para as batidas em sua porta.
- Olá, Mione – disse Rony, segurando um buquê de rosas amarelas e sorrindo.
- Rony... O que você está fazendo aqui?
- Vim me desculpar. Eu fui muito grosso com você.
- Não, tudo bem, você passou por um momento difícil...
- Eu venho sendo grosso com você desde que nos encontramos. Acho que não deveria ser assim, recomeçamos mal nossa relação.
- Sim, é verdade.
- Ah, são para você.
Rony estendeu o buquê para Mione e ela recebeu as flores com um sorriso. Ela sentiu uma emoção forte dentro do peito, uma coisa que não sentia há muito tempo. Sem perceber o que fazia, abraçou Rony com força.
Ele foi pego de surpresa, mas, ao contrário dos velhos tempos, passou seus braços envolta da cintura de Mione e retribuiu o abraço. Seus rostos estavam muito próximos, eles podiam sentir a respiração um do outro. Nada poderia separá-los naquele momento, eles estavam juntos, próximos, a distância entre eles diminuía cada vez mais...
Mione começava a fechar os olhos lentamente, mas abriu-os subitamente. Algo de errado estava acontecendo naquele corredor, ela podia sentir a presença de alguém por lá e seus dotes de agente nunca a enganavam. Num movimento extremamente rápido, Mione puxou Rony para dentro do quarto e bateu a porta.
BAM.
- O que está acontecendo? Por que... Por Merlim!
Rony olhou para a porta. Algo estava encravado nela, algo que provavelmente fora lançado neles e por pouco não os acertou. Rony sabia muito bem o que era aquilo, mas Mione parecia não saber e se aproximava do objeto para examiná-lo.
- Não! – gritou Rony, puxando Mione pelo braço para longe da porta.
- O que foi?
- Precisamos sair daqui! Agora!
- Não podemos fazer isso, tem gente ali fora pronta para nos matar!
- Nesse caso, estamos saindo pela outra saída.
- Não tem outra... Não, Rony, não!
Rony abriu a janela e olhou para baixo. Sentiu um pouco de vertigem, o quarto de Mione ficava no décimo sétimo andar e os carros passavam rapidamente pela avenida lá em baixo. Superada a tontura, ele encontrou um relevo no qual poderia apoiar os pés para uma fuga rápida.
- Vamos logo! – disse ele, sentando na janela.
- O que, você quer que eu pule?
- Claro que não! Precisamos sair daqui e vai ser andando!
- Como?
- Pare de fazer perguntas e venha!
Mione aproximou-se da janela e olhou para baixo com cuidado. Ela fechou os olhos e sentou-se na janela na frente de Rony.
- Rony, por que estamos fazendo isso? Ficar aqui é mais seguro.
Rony olhou para a coisa enfiada na porta e depois olhou de novo para Mione.
- Aquilo é uma bomba, Mione.
Mione arregalou os olhos e abriu a boca, mas não disse nada.
- Podemos ir agora? – perguntou Rony.
- E deixar essa bomba aqui para explodir o prédio?
- Não vai explodir o prédio, no máximo pegará esse andar e talvez o de baixo e o de cima.
- Pessoas vão morrer! Eu não poderei conviver com isso!
- E o que você quer fazer, salvá-las?
- Era isso que eu estava pensando!
Mione levantou-se e foi até a porta. Rony revirou os olhos e foi atrás dela. De todas as bombas no mundo, por que tinha que ser aquela? Era uma das únicas que ele não fazia idéia de como desarmar.
- Não tem como fazer isso, Mione.
- Tem sim... Essa bomba pode ser desarmada.
- E quem vai desarmá-la?
Mione lançou um olhar ameaçador para Rony e ele tirou a varinha do bolso.
- Claro, como eu não fui pensar nisso... A senhora perfeita sabe-tudo vai desarmar a bomba.
- Eu não vou brigar com você agora, Ronald. Seja útil e faça algo para me ajudar.
Rony correu os olhos por toda a parede ao lado da porta e se aproximou de Mione.
- Certo, esse é o plano: eu saio, te dou cobertura e você faz a maracutaia que está pretendendo.
- Ótimo plano, muito elaborado e detalhista!
- Faz melhor, então!
- OK, pode ir. Mas, quando sair, não mexa na porta!
Rony concordou com a cabeça, respirou fundo e apontou a varinha para a porta. Quando Mione conseguiu enxergar a parede em meio à fumaça, havia um grande buraco que ocupava quase ela inteira.
- Discreto que só ele – murmurou Mione, passando pelo buraco agachada.
Pelo menos dez homens surgiam do nada no final do corredor e vinham correndo em direção à Rony. Ele já estava cuidando de outros cinco que o esperavam do outro lado da porta e Mione sentiu que a situação estava ficando feia.
- Será que dá pra ir logo com isso? – gritou Rony, esmurrando um homem que o atacara e olhando de lado para Mione.
Mione foi até o objeto enfiado na porta do quarto e começou a examiná-lo. Era uma bomba complexa e raramente vista, mas seus conhecimentos sobre armamentos a ajudariam a desarmá-la. Abriu um compartimento com cuidado, tirou a varinha do bolso e foi desativando alguns fios, fechando os olhos cada vez que mexia num deles.
Cada vez mais homens apareciam, mas Rony não deixava nenhum se aproximar dela ou da bomba. "Para uma pessoa recém saída do hospital, até que está lutando bem", pensou. Ao cortar o último fio azul que encontrou, o barulho de dentro da bomba cessou.
- Rony, podemos ir! – gritou Mione, tentando se fazer ouvir no meio da gritaria e urros dos homens nocauteados.
- Já estava em tempo, não? – ele socou o último homem que veio em sua direção, pegou Mione pelo braço e os dois saíram em disparada corredor à fora.
