Capítulo 5
Chamas no teatro
Mione acordara com a cabeça latejando naquela manhã. Quando sentou-se na pequena cama, doeu mais ainda. Porém, ela percebeu que estava em um lugar desconhecido e não parecia ser um hotel. O ambiente era escuro, as paredes eram revestidas com placas metálicas e o quarto era frio. Quando viu um computador no canto e uma gaiola com uma coruja dentro, Mione começou a adivinhar onde ela estava.
O Departamento de Aurores da Inglaterra.
Assim que ela se levantou, um barulho fez sua atenção voltar-se para o computador. Um aviso em vermelho piscava dizendo "Você tem uma mensagem ao vivo". "Mas que raios...", pensou Mione, clicando no ícone que o aviso indicava.
O rosto maciço do senhor Norton surgiu na tela e começou a se movimentar.
- Bom dia, Granger.
- S-senhor Norton?
- O próprio. Desculpe por não mandar uma coruja, mas é que esse método não é mais seguro.
- Senhor Norton, ontem aconteceu uma coisa terrível, acho que alguém...
- Sim, nós já ficamos sabendo do atentado de ontem no seu quarto de hotel. Mas não se preocupe, você está segura aí no departamento de aurores.
- O senhor sabe quem foi o responsável pelo atentado?
- Não, mas provavelmente foi algum dos homens de Hogan.
- Como eles sabem sobre mim?
- Eles não sabem. Esse pessoal acha que você é apenas uma agente vinda dos Estados Unidos para incriminar Hogan, por isso que estão te atacando.
- Se o senhor diz...
- E como vão as coisas com o Balaço?
- Sinceramente, senhor, eu não tive oportunidade de procurá-lo ainda.
- Como não? Ele esteve no seu hotel ontem à noite!
- Esteve?
- Sim, segundo os registros do Ministério, Balaço esteve no hotel.
- Então deve ter sido depois que eu desmaiei.
- Claro... Esse é o trabalho dele, aparecer depois que as coisas acontecem...
- Desculpe, senhor Norton...
- Tudo bem, você teve uma noite agitada. A propósito, parabéns por desarmar aquela bomba, foi um ato muito corajoso.
- Obrigada.
- Entrarei em contato mais tarde.
- OK.
- Bom dia, Balaço. Que bom que veio – disse Barker, apertando a mão de Rony.
- Senhor, acho que temos um problema.
- O que houve?
- Eu fui buscar Sabrina na estação como o senhor pediu, mas ela não desembarcou.
- Como assim não desembarcou?
- Eu vi todos descerem do trem, mas não a encontrei.
- Então não procurou direito, Balaço, porque ela está aqui no...
- SENHOR! EMERGÊNCIA! – gritou Smoother, abrindo a porta com um estrondo.
Barker levantou-se tão rápido que sua cadeira caiu para trás, fazendo um grande estrondo e provocando alguns gritos do lado de fora.
- Foi só uma cadeira caindo, seus molóides – disse ele, saindo de sua sala e se juntando à multidão de agentes ao redor de um grande computador. – Afinal, o que houve?
- Outro ataque, senhor – disse o rapaz de óculos que estava sentado à frente do computador.
- Onde?
- Não sabemos, senhor, mas não foi em nossa área de cobertura.
- Então porque raios vocês estão tão nervosos!?
- Porque aconteceu um assassinato, senhor.
Barker olhou à sua volta com raiva. Todos estavam muito sérios e três agentes choravam num canto.
- Quem morreu?
- Ian Norton.
- O QUÊ? – gritou Barker. Seu rosto estava muito vermelho. – Quando?
- Seu corpo foi encontrado no início da manhã ainda fresco. Parece que tomou uma poção que fechou sua via respiratória.
- Oh, não... Era tudo que nós não precisávamos agora. OK, pessoal, vou precisar mandar alguém para os Estados Unidos o mais rápido possível.
- Por que o senhor não manda o Balaço?
Barker olhou para Rony e sua cara ficou ainda mais vermelha.
- Eu não vou mandá-lo, nós precisamos dele aqui! Eu vou para a minha sala refletir sobre o assunto e volto em alguns minutos com a lista de quem vai!
Quando Barker virou-se para a porta de sua sala, o computador apitou intensamente.
- Temos problemas outra vez – disse o rapaz do computador.
- O que é agora? – gritou Barker.
- Emergência, senhor... Um crime... Possíveis mortes... Uma explosão, aparentemente... No teatro Odeon!
Antes que Barker pudesse olhar para a pessoa com a qual precisaria falar, Rony já estava saindo pela porta principal da sede do departamento de aurores.
- Bom dia, gente! – disse Hermione, entrando no salão principal do departamento de aurores.
- Bom dia, Sabrina – responderam alguns, mas a maioria estava séria e com aparência triste.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada...
- Na verdade, aconteceu sim – disse Barker, saindo de sua sala com uma expressão abatida.
- O que houve?
- Eu sinto muito informar, mas o senhor Norton foi assassinado hoje no início da manhã.
- Como assim?
- Não sabemos de nada ainda, na verdade soubemos da notícia há pouco tempo e estamos meio ocupados com outro caso agora.
- Não é possível... – Mione jogou-se numa cadeira e desatou a chorar.
- Sinto muito, senhorita... Ele era um grande homem, é uma pena que tenha nos deixado.
- Você não sabe nada sobre ele! Nada! E nunca se importou!
Mione levantou-se e saiu correndo do escritório, deixando Barker e outros agentes paralisados olhando ela deixar o prédio.
Quando Rony olhou o teatro pela primeira vez naquela manhã, não podia acreditar no que estava vendo. O grande prédio que costumava ser um dos maiores teatros de Londres estava completamente chamuscado e parecendo que ia desabar a qualquer momento. Alguns curiosos pararam de andar para examinar o teatro, mas ainda não eram muitos.
Rony teve que remover uma coluna caída para entrar no teatro. Não podia ver nada lá dentro, tudo estava dominado pelas chamas e a fumaça impedia Rony de respirar normalmente. Ele puxou a gola de sua camiseta e tampou a boca, prosseguindo para dentro do teatro cuidadosamente.
O fogo consumia cadeira por cadeira e tomava pouco a pouco o enorme palco do teatro. No meio da confusão de chamas, algo chamou a atenção de Rony. Havia uma coisa pendurada nas grades do mezanino e essa coisa parecia incrivelmente com um...
- Corpo – sussurrou Rony, correndo para a escada de acesso ao mezanino.
Em poucos segundos, ele estava ao lado do corpo estatelado que parecia ter sido parcialmente consumido pelo fogo.
Rony colocou-o nas costas saiu rapidamente do teatro que já começava a desabar. Quando ele chegou na rua, os bombeiros já estavam com sua varinhas apontadas para as chamas cada vez mais abundantes.
- Balaço! – gritou Barker, surgindo de lugar nenhum. – O que houve?
Rony deixou o corpo cair no chão e despencou ao lado dele.
Mione estava muito abalada e caminhava sem rumo pelos arredores do prédio onde estava. Pelo menos era o que ela achava, até que percebeu que estava andando há mais de uma hora e nem imaginava onde se encontrava naquele momento.
Não conseguia pensar em mais nada. A única coisa que dominava sua mente era a imagem de seu chefe, amigo e confidente, praticamente um pai. Ela sabia que Balaço estava por trás disso e precisava encontrá-lo o mais rápido possível. Iria se vingar dele e revelar ao mundo todo quem era aquele assassino sem nome.
Ela respirou fundo e a raiva moveu suas pernas fazendo com que ela corresse para a rua cada vez mais rápido.
A última coisa que viu foi o carro preto vindo em sua direção.
- Pode ficar tranqüilo, senhor Barker, ele vai ficar bem – sussurrou a enfermeira, dirigindo Barker para fora do quarto.
- Eu não vou a lugar algum até que ele acorde!
Rony abriu os olhos devagar quando ouviu a voz preocupada de seu chefe.
- Balaço! – gritou Barker, debruçando-se sobre seu melhor agente. – Eu sabia que você não ia me deixar, garoto!
- Saia de cima dele! – a enfermeira puxava o corpulento homem pela cintura, mas sequer amassou seu paletó.
- O que... O que está acontecendo? – perguntou Rony, empurrando Barker para que ele pudesse se sentar na cama.
- Como assim o que está acontecendo!? Balaço, você quase morreu, mas agora você é praticamente um herói, entrou naquele teatro quase despencando e trouxe o corpo que foi tão útil! Ah, como aquilo foi útil! Mas inalou muita fumaça e quase teve uma parada respiratória, então o trouxemos aqui e agora você está bem, é claro que está, você é forte e ainda vai nos ajudar muito! Só precisa se recuperar!
- E pra isso ele precisa de silêncio – disse a enfermeira, que estava sentada numa cadeira e ofegante do esforço de puxar Barker.
- Barker... – disse Rony, sentindo sua cabeça rodar enquanto se acomodava – Eu não pude ver direito de quem era o corpo, mas me pareceu familiar...
- E era mesmo. Um caso interessante, eu diria.
- Quem era?
- Não gosto de hospitais, sabe. Muito menos de discutir coisas assim em hospitais – Barker virou-se para a enfermeira – Será que a senhora poderia nos dar alguns minutos a sós?
- Se você tentar fazer alguma coisa ao rapaz, inclusive tirá-lo daqui, saiba que eu chamarei a polícia!
- Certo, certo, vai saindo, vai!
Na hora que a enfermeira abriu a porta, o agente Smooth entrou no quarto.
- Smooth, por que demorou tanto?
- Desculpe, senhor, mas o Ministério está um caos e eles estão precisando da ajuda de todos que estiverem de plantão agora.
- Tudo bem, agora me dê a poção.
Smooth tirou do bolso da capa um pequeno frasco que continha uma poção verde-azulada. Barker pegou-a e a entregou a Rony.
- Beba isso logo para que possamos sair daqui. Esses trouxas não entendem nada de curar as pessoas, por Merlim...
Rony bebeu a poção de uma vez só e, segundos depois, começou a se sentir melhor.
- Vamos? – perguntou Barker.
- Claro – disse Rony, levantando da cama com disposição.
- Smooth, vá distrair a enfermeira metida.
Smooth saiu do quarto rapidamente e Rony colocou suas roupas na mesma velocidade.
- Tem uma coisa que você precisa saber, Balaço. É sobre sua missão especial.
- Diga.
- Eu sei que você tem estado ocupado demais com outras coisas, mas talvez Sabrina tenha algo a ver com o último assassinato.
- Barker, eu te falei, eu nem mesmo encontrei essa mulher ainda.
- É claro que encontrou! Ela é...
A porta do quarto se abriu e a cabeça de Smooth surgiu.
- Ei, será que vocês poderiam se apressar? Essa mulher é um inferno!
Os dois saíram do quarto e foram andando pelo corredor a largos passos, mas Rony parou quando chegaram à ala de emergência.
Sentada numa cadeira e usando alguns curativos na cabeça, estava Hermione Granger.
- Ei, Barker – disse Rony, fazendo seu chefe parar – Será que você tem mais um frasco daquela poção?
