Capítulo 6
Seqüestro
Barker e Smooth seguiram para o departamento de aurores com pressa, deixando Rony no hospital, mas só depois de ele ter prometido que se apressaria.
Rony entrou no quarto de Hermione discretamente e acoplou o frasco que continha a poção em sua entrada de soro. Segundos depois, ela acordou com energia total.
- O que houve? – perguntou Mione.
- Você vai ficar um pouco tonta, mas vamos sair daqui logo.
Os dois se esgueiraram pelas paredes e pegaram o primeiro táxi que parou em sua frente.
- Para o centro, por favor – disse Rony. – Afinal, por que você estava no hospital?
- Foi minha vez de ser atropelada – respondeu Mione, sorrindo.
- Jura!?
Rony não queria dizer nada para ela, mas estava achando muito suspeitos todos aqueles acidentes acontecerem num curto espaço de tempo.
- Foi sério? – perguntou.
- Não. Eu desmaiei quando o carro veio e só acordei quando você me deu a poção. Ah, esqueci de agradecer por isso.
- Não tem de quê.
- Agora, você não me disse por que estava lá de novo.
- Bom, eu... Só fui dar uma olhada num amigo.
- Um agente?
- Sim. Ele estava numa missão e ficou ferido.
- Qual era o nome dele? – Mione achava que finalmente encontrara uma pista.
- Ahn... Max.
- Max? Hum, não conheço.
- Um dia eu te apresento. Olha, estamos quase chegando.
De repente, o motorista virou bruscamente para a direita e entrou num beco.
- Ei, moço, você pode continuar no mesmo caminho.
- Ou eu posso fazer o caminho que quiser – disse o motorista, sorrindo e exibindo seus dentes de ouro.
Rony arregalou os olhos quando viu aqueles dentes que tão bem conhecia. Eles pertenciam a um velho amigo... Ou inimigo, a julgar pela situação.
Ele continuou dirigindo rapidamente pelos becos da cidade, até chegar perto do rio Tamisa. Ali havia congestionamento, então ele teve que parar tão bruscamente como partira.
- Malditos turistas – disse o motorista. – Todo esse alvoroço pra ver uma ponte subir.
Nesse momento, Rony debruçou-se em cima do motorista e deu-lhe um soco muito bem dado, pois o homem ficou inconsciente. Ele puxou Hermione para fora do táxi e os dois correram pela ponte, misturando-se com a multidão que estava na calçada. Eram todos turistas observando os barcos e a ponte se elevar para os maiores passarem.
- Temos que nos misturar com os turistas – disse Rony, correndo de mãos dadas com Mione, indo cada vez mais para o meio da ponte. – E esperar ele passar.
- Ele está desacordado!
- Confie em mim, não vai demorar pra ele voltar à si.
- E o que faremos quando ele passar?
- Vamos esperar um tempo aqui. É melhor. Depois pegaremos o metrô e seguiremos direto para o Ministério.
Mione concordou e seguiu Rony até a grade da ponte, onde os dois se debruçaram para observar os barcos. Depois de algum tempo, os carros passaram e os turistas foram dispersando.
- Nossa – sussurrou Mione.
- O que?
- Fazia tempo que eu não via isso tudo – disse ela, observando os barcos passarem.
- É mesmo, tem vezes que a gente passa e nem percebe.
- Rony, o que acabou de acontecer?
Rony se assustou com a repentina mudança de assunto, mas sentiu no fundo de seu peito que podia confiar em Mione.
- Eu não sei ainda, mas acho que estamos correndo perigo.
- Por que?
- Porque eu trabalho no Ministério e pessoas que trabalham lá sempre correm perigo.
- Tem razão. E agora, já podemos ir?
- Não, vamos esperar mais um pouco. Esses caras não são bestas, eles ficam na espreita bastante tempo.
O vento roçou a face dos dois e Mione tremeu. Eles estavam bem no meio da ponte, onde o vento batia mais forte. Mas não era só isso que a fazia tremer, ela também estava com medo. Se sentia ridícula por ser uma agente e estar com medo, mas, pela primeira vez, ela estava sozinha.
- Vai ficar tudo bem, Mione. Confia em mim.
E ela confiava. Mais do que jamais confiara em alguém na vida, ela confiava naquele rapaz. Ele passou o braço pelas costas dela e a aproximou. Os dois ficaram encarando-se por alguns minutos, sem dizer nada. Eles não precisavam de palavras. Como se nada existisse ao redor deles, os dois se aproximaram cada vez mais, até que seus lábios se encostaram.
Lá estavam Rony e Mione, dois agentes secretos, se beijando no meio da Ponte de Londres.
Como se a terra começasse a se abrir sob seus pés, os dois se soltaram e olharam para o chão. De fato, ele estava se abrindo. Ambos lados da ponte começavam a se erguer cada vez mais rápido. Rony tentou puxar Mione para seu lado, mas não conseguiu.
- Mione! Pula pra cá, rápido!
- Não dá, ta muito alto!
- Pula!
Ele não parava de gritar, mas Mione sumia atrás da ponte. Ele se segurou na borda da ponte e olhou para trás, reconhecendo o motorista do táxi lá em baixo. O homem falou alguma coisa num celular e um carro preto foi se aproximando do outro lado da ponte.
- Mione, tome cuidado!
- Rony, o que vai acontecer?
- Apenas tome cuidado. Eu prometo que vou te buscar. Prometo!
Seus dedos foram soltando da borda um por um, até que Rony caiu. Algo amorteceu sua queda, mas mesmo assim ele desmaiou e foi colocado dentro do carro.
Mais tarde naquele dia, Rony abriu os olhos com dificuldade para enfrentar a claridade. O homem dos dentes de ouro estava perto da cama, que estava cercada por mais quatro ou cinco homens. Um deles se aproximou e sentou-se na cama.
- Bom dia, Ronald.
- Eles sabem que eu estou aqui – murmurou Rony. – Eles virão me procurar.
- E enquanto eles não chegam, vocês vai responder algumas perguntas. Coloquem-no na cadeira!
Dois homens pegaram Rony pelos braços e o jogaram numa cadeira de metal. O homem com que ele falara se debruçou sobre Rony para ficar cara-a-cara com ele.
- Quem é o Balaço? – perguntou.
- Eu não sei.
- Sabe sim. Todos no departamento de aurores sabem.
- Ele não tem nome, registro ou endereço.
- Mas tem rosto. Como ele é?
- Eu não sei.
- Como não sabe? Você trabalha com ele!
- Eu não sei.
O treinamento anti-interrogatórios pelo qual Rony passara na Academia de Aurores o fizera adquirir grande habilidade para lidar com situações como essa. A primeira regra era alegar desconhecimento.
- Ronald, você provavelmente sabe que Balaço está sendo acusado de assassinato.
- O que?
- Oh, um desinformado. Acontece que aconteceu um incêndio no Teatro Odeon e as únicas pessoas que estiveram lá num intervalo de 12 horas foram o Balaço e Antony Hogan. O último saiu sem vida.
Rony sentiu seu coração apertar. O corpo que vira no teatro era de Hogan e agora ele estava sendo acusado de assassinato. Por isso que Barker não queria tocar no assunto.
- Não sabia disso.
- Pois agora está sabendo. Agora, é melhor você falar antes que seu amigo se meta em mais encrencas.
- Eu não sei de nada. Não estive no Ministério desde ontem.
- Entendo. Talvez você precise de um certo estímulo pra nos contar mais sobre o Balaço, não é?
- Eu não sei quem ele é, estou dizendo.
- Wally – gritou o homem, ainda olhando para Rony. – Traga a moça.
Wally saiu do aposento e voltou segundos depois arrastando Hermione, que estava amordaçada.
- Mione! – gritou Rony. – Deixe ela ir embora, seu covarde! Ela sequer trabalha no Ministério!
- Nós vamos deixar ela ir quando você responder minhas perguntas.
- EU NÃO SEI DE NADA! – gritou Rony, tentando chutar o homem em vão.
- Acalme-se, Ronald. Não vai conseguir nada esperneando. Vou perguntar mais uma vez. Qual é a aparência do Balaço?
- Não sei – murmurou Rony.
O homem virou-se para Wally e os outros na sala e acenou com a cabeça.
- Luke – disse Wally, muito sorridente. – Defesa ou ataque?
- Ataque, sempre – respondeu Luke, aproximando-se de Hermione.
Wally segurou as mãos de Mione para trás enquanto Luke fechava o punho. Ele jogou a mão pra trás e depois deu um soco no rosto de Mione. Ela cambaleou.
- NÃO! – gritou Rony, tentando livrar-se da cadeira.
- Cada vez que você disser que não sabe responder algo, nós vamos bater em sua amiga. E quanto mais eu tiver que repetir a mesma pergunta, mas forte vai ser.
- Covarde.
- Mantenha suas conclusões para você mesmo, Ronald. Vamos lá, me diga, qual é a aparência do Balaço?
- Já disse que não sei!
O homem suspirou e continuou parado, pois Luke já estava dando outro soco em Mione. Esse fez com que ela caísse, mas Wally a ergueu rapidamente.
- PARE COM ISSO! – gritou Rony, muito vermelho. – Eu vou levar vocês até ele!
O homem arregalou os olhos e ergueu Rony da cadeira. Acenou para os outros homens da sala o seguirem e eles seguiram para a porta.
- Solte ela agora – disse Rony, ao passarem por Mione.
- Só quando encontrarmos o Balaço. Levem-na!
Wally e Luke seguiram com os outros para o corredor, mas tomaram a direção oposta.
- Mione! Eu volto para te buscar! – gritou Rony.
Mione acenou com a cabeça e Rony quis morrer quando viu o sangue jorrando no lado esquerdo de sua face.
- Solte ele, Morrice. Agora – disse Barker, que já aguardava os seqüestradores na porta do Ministério com todos seus agentes.
- Não tão rápido, Barker. Ele precisa nos mostrar uma coisa antes.
Ele puxou Rony para sua frente e o empurrou.
- Vá e não tente nenhuma gracinha. Nós ainda temos a garota.
Rony foi ao encontro de seus colegas e escondeu-se com Barker atrás dos outros agentes.
- Eles querem o Balaço – sussurrou Rony.
- Eu sei o que eles querem! Morrice era o maior aliado de Hogan e acha que você o matou!
- É só ele que acha isso?
- Bom, não, na verdade... Balaço, eles vão te incriminar. O Departamento de Justiça colocou você como primeiro na lista de suspeitos.
- Eu não acredito nisso. Ele já estava morto quando eu cheguei!
- Eu sei, mas não temos provas pra te salvar. Sinto muito.
Rony assentiu com a cabeça e suspirou.
- Fuja, Balaço. Vá para longe. Eles nunca vão te encontrar, você é o mais rápido do mundo!
- Eu não vou fugir das minhas responsabilidades, Barker, e nesse momento eu tenho um trabalho a terminar.
Ele fez menção de sair da barreira de agentes, mas Barker o impediu.
- Você não vai se entregar, vai?
- É preciso.
- Você é louco! Eles nem desconfiam que você é o Balaço!
- Não tem outro jeito.
- Tem sim. Fuja e esqueça tudo isso!
- Eu não posso, Barker! Eles a pegaram.
- Quem?
- Uma amiga minha.
- Pegaram a Sabrina?
- Não, pegaram minha amiga Hermione. Eu a encontrei na estação de trem quando fui buscar Sabrina.
- Como é essa sua amiga?
- Não muito alta, cabelos castanhos e volumosos, olhos castanho-claros... Ela é linda.
- Ela é a Sabrina!
- Não pode ser!
- Claro que pode! Ela passou a noite no Ministério, estava com você no hotel quando lançaram a bomba. Como você acha que sua amiga a desarmou? Ela é uma agente!
Rony não acreditava no que ouvia. Mione era a agente que ele fora designado a espiar, possivelmente uma agente corrupta. Provavelmente nem passara na cabeça dela a possibilidade dele ser o Balaço.
- Eu preciso ir, Barker. Fiz uma promessa e vou cumpri-la.
- Não faça isso, Balaço... Mas, ah, se você vai fazer, lembre-se de não deixar que ela descubra quem você realmente é! Isso estragaria a missão!
Sob os protestos de Barker, Rony atravessou a barreira dos agentes e foi ao encontro de Morrice.
- Onde ele está? – perguntou Morrice, um pouco nervoso.
- Você está falando com ele – respondeu Rony erguendo as mãos para que os homens de Morrice o algemassem.
