Capítulo 7

Invasão

- Como assim ele se entregou? – indagava Smooth, acompanhando Barker para o Escritório de Inteligência do Departamento de Aurores.

- Se entregando, oras. Ele foi lá e deixou que o algemassem.

- Mas, por que ele...

- Cala a boca, Smooth. Vá fazer seu trabalho que eu cuido do meu.

Smooth fechou a porta e Barker encarou todos os presentes na sala. Eram os maiores estrategistas do departamento.

- Boa tarde, senhores – disse Barker, sentando-se ao mesmo tempo que os outros.

- É bom que seja importante, Barker – disse um sujeito com a cara quadrada e olhos esbugalhados. – Nós estamos atolados até o pescoço com os outros assassinatos.

- Eu não tomaria o tempo dos senhores se não fosse algo de extrema importância. O nosso agente especial está sob custódia de Jean Morrice, maior aliado de Hogan e atual chefe da organização de aurores expulsos do Ministério.

- Balaço? – perguntou um homem miúdo no canto da mesa.

- Como preferirem.

- Como isso aconteceu?

- Morrice seqüestrou Balaço e a agente Sabrina Cobuild, agente recém chegada dos Estados Unidos, nessa manhã. Ele pensou que Balaço fosse um agente comum e interrogou-o perguntando sobre o Balaço. Quando começaram a torturar Sabrina, Balaço disse que levaria Morrice à quem ele queria.

- E então?

- Então Balaço os trouxe aqui e me contou essa história. Ele decidiu se entregar logo depois.

- Se entregar? – disse o sujeito da cara quadrada. – Ele ficou louco?

- Aparentemente Morrice prometeu matar a garota se Balaço não aparecesse.

- Esse Balaço não entende nada sobre nossas regras de conduta! Antes perder um agente do que dois, principalmente quando estamos falando de um agente especial!

- Ahn, senhor, eu creio que Balaço tem uma relação afetiva com a moça.

Todos os presentes suspiraram e alguns se inclinaram em suas cadeiras. O homem carrancudo continuou a encarar Barker.

- Ele pelo menos levou um rastreador?

- Sim, senhor.

- Ótimo. Barker, vá para seu departamento e me traga a localização de Balaço. Enquanto isso nós vamos bolar uma estratégia de abordagem ao lugar onde ele está.

Rony entrou na cede da Organização dos Aurores Expulsos pelo Ministério com tranqüilidade aparente. Apesar de sua face não demonstrar emoções, ele estava sofrendo muito internamente. Violara o código dos aurores, fizera com que Mione apanhasse, não sabia que tipo de violência poderiam estar usando contra ela nesse momento e, ainda por cima, estava sendo acusado de assassinato.

Os homens o levaram para o andar subterrâneo do local, onde todos os planos secretos eram armazenados, pois o acesso era restrito com uma senha. Eles colocaram Rony numa cadeira e o amarraram a ela, enquanto Morrice o encarava com ódio.

- Balaço. Finalmente nos encontramos cara a cara, sem mentiras ou disfarces.

- Eu nunca menti pra você, Morrice.

- Ah não!? E quando enganou a todos nós entrando aqui e fingindo ser nosso amigo? E a mentira que era sua amizade com Hogan? Não contente em apenas entregá-lo, você ainda o matou! Por que você fez isso?

- Eu não o matei. Encontrei Hogan morto naquele teatro.

- Mentira!

- Por que eu o mataria? Ele era o principal acusado de um caso de assassinato! Meu trabalho é mantê-lo vivo.

- Talvez porque... Você não trabalhe apenas para o Ministério da Magia.

- Bom, pra você que eu não trabalho.

- Você acha que eu nasci ontem, Balaço? Eu sei que você matou Hogan e sei que está ganhando um extra por isso! Para quem você trabalha?

- Para o Ministério da Magia.

- E quem mais?

- Ninguém.

- Você não vai querer que eu chame sua amiguinha outra vez, vai?

- NÃO! Deixe ela ir, você prometeu!

- E você me enganou! Me fez de bobo! Me fez ir até o Ministério para todos verem que eu tinha o Balaço sob meu nariz o tempo todo e não o reconheci!

- Não é justo você mantê-la aqui, eu já disse que ela não tem nada a ver com isso!

- Balaço, pare de tentar me enganar! Eu sei mais do que você pensa. Botei minha equipe para trabalhar, chamei informantes, tudo isso enquanto você ria de mim com seu chefe agora pouco. Nós sabemos que a moça é Sabrina Coulbuid, agente especial dos Estados Unidos!

- Isso não é verdade!

- É sim. Quem diria... Nós, que não tínhamos nada esta manhã, agora mantemos dois agentes especiais sob custódia.

- Você vai pagar por isso, Morrice. Vai pagar por fazê-la sofrer.

- Você é que vai me pagar por ter matado meu melhor amigo! Levem-no para a sala de interrogatório!

- OK, conseguimos a localização – disse Barker, jogando um pergaminho em cima da mesa.

Nele havia a planta de um prédio e vários pontos azuis se mexendo nele. Os que mais se destacavam eram o ponto vermelho e o preto.

- Azuis são agentes simples, vermelho é Balaço e preto é Morrice.

- Como Balaço conseguiu colocar rastreadores em todos eles? – perguntou o carrancudo.

- Wayne, Balaço é nosso melhor agente. Ele esteve infiltrado nessa organização há algum tempo e colocou o rastreador em todos eles.

- Excelente – disse Wayne, pela primeira vez impressionado com o trabalho de Rony.

- Bom, o mapa é de um prédio abandonado em Chelsea, e essa planta é do andar subterrâneo. Balaço já mencionara que é preciso de um código pra acessar esse andar.

- Vocês tem?

- Infelizmente, não. Mas temos um grande carregamento de granadas.

Alguns agentes sorriram, mas Wayne continuou sério.

- Vai ser preciso mais do que granadas para invadir um prédio desses, Barker.

- Eu sei. Todos os agentes foram convocados e estão se reunindo no térreo, prontos para o ataque.

- Eles estarão nos esperando.

- Pois que esperem. Ora, francamente, nós somos aurores! Lutamos contra o Lorde das Trevas, podemos dar conta de meia-dúzia de rebeldes.

- Você não sabe muito sobre eles. Eles podem ter armas e conhecer feitiços que nós não sabemos.

- Duvido muito.

- De qualquer forma, precisamos de uma estratégia.

- Foi pra isso que te chamei aqui, Wayne.

- Certo, o plano é o seguinte...

Rony tremia intensamente naquela sala fria. Mas não era por causa do clima, e sim do feitiço que acabara de receber.

- Gosta disso, Balaço? Quer mais? – disse Wally, com os olhos arregalados e a varinha apontada para ele.

- Eu... não o matei.

- Não é isso que eu quero saber, eu sei que você o matou. Estou perguntando quem te mandou fazer isso – disse Morrice, muito calmo e encarando um painel na parede.

- Ninguém me contratou, eu não o matei.

Wally murmurou alguma coisa e várias faíscas alaranjadas saíram de sua varinha, acertando Rony no peito. Ele se contorceu e tremeu mais ainda.

- É melhor ir desembuchando de uma vez, senão...

- Deixe isso, Wally – disse Morrice, tirando sua varinha de dentro do bolso. – Eles chegaram.

Os dois saíram da sala e Luke ficou de guarda, sentado distraidamente lendo o Profeta Diário.

Rony ouviu o grande estrondo lá em cima e chegou a conclusão de que a porta fora explodida. Essa imagem logo se associou com a de Barker. "Típico", pensou.

O barulho de gritos, feitiços sendo lançados e corpos caindo foi se aproximando a aumentando, mas parou em algum lugar próximo. Provavelmente eles haviam encontrado Morrice. Então, Rony teve uma idéia.

- Eu não agüento mais isso – murmurou, olhando para Luke.

O rapaz abaixou o jornal e olhou para Rony com um sorriso.

- Então é só falar o que o chefe perguntou.

- Tudo bem, eu falo.

Luke estava com um ar triunfal. Ele se aproximou de Rony com um sorriso maior ainda.

- Me conte, para quem você trabalha?

- É para o – Rony sussurrou algo tão baixo que nem ele mesmo ouviu.

- O que? – perguntou Luke, se aproximando um pouco mais.

- O...

- Repita! – Luke ficou ainda mais próximo e se apoiou nos braços da cadeira de Rony.

- Chama-se...

- Mais uma vez!

Ele colocou o ouvido no rosto de Rony, que inclinou o corpo pra trás e voltou com tudo, dando uma cabeçada muito forte em Luke.

- Imbecil – disse Rony, soltando-se da cadeira e pegando com a boca a varinha de Luke.

Ele precisava encontrar Hermione. Lembrou-se então do caminho que ela fizera da última vez que se viram e seguiu o corredor pelo lado oposto à entrada, chegando a uma sala escura que estava trancada. Ele deu um pontapé na porta e ela se abriu, revelando Mione.

Ela estava sentada de braços cruzados e veio correndo ao encontro de Rony, abraçando-o.

- Rony! Eu sabia que você viria.

- Eu prometi, não é mesmo!?

Os dois sorriram e Rony não pode deixar de olhar a ferida no lado esquerdo do resto de Hermione. Já não sangrava mais, mas estava aberta.

- Me desculpe, Mione.

- Pelo que?

- Por fazer você se machucar.

- Que isso, Rony, não foi culpa sua! Vamos sair daqui antes que um daqueles bárbaros volte.

Ela pegou a varinha de Luke que estava caída no chão e soltou as algemas de Rony. Os dois se abraçaram novamente, dessa vez com mais ternura. Seus lábios se tocaram por alguns segundos, até que os dois ouviram que alguém se aproximava e saíram pela saída de emergência ao lado do quarto onde Hermione se encontrava.

- Entra, por favor – disse Rony, abrindo a porta de seu apartamento.

- Obrigada – disse Mione, um pouco tímida por estar onde estava.

- Tem certeza de que está melhor?

- Claro.

Mione sentou-se no sofá e passou a mão pelo curativo recém-feito ao lado do seu olho. O ferimento já não doía com tanta intensidade.

Rony abriu as cortinas que estavam fechadas há dias, pois ele só parava em casa para dormir. Pela janela ele pode ver que estava escurecendo.

- Poxa, que dia, não!? – disse ele, indo para a cozinha.

- Pois é. Ainda não entendi direito o que aconteceu.

- Bebida? – perguntou Rony, mostrando pela porta uma garrafa de vinho e duas taças.

- Pode ser. Eu não acredito que aquele Balaço não apareceu.

- Acredite, ele é um cara muito ocupado.

Rony sentou-se ao lado dela com um aperto no coração. Não gostava de mentir para ela, mas as palavras de Barker ecoavam em sua cabeça: "Lembre-se de não deixar que ela descubra quem você realmente é! Isso estragaria a missão".

- É um idiota. Arriscar companheiros assim, onde já se viu. Se ele fosse metade do que dizem que ele é, teria se entregado e impedido que tudo isso acontecesse.

- Mione, esquece isso. Ele teve seus motivos.

- Por que você o defende? Ele fez você ser torturado!

- É o meu trabalho. Eu tenho que lidar com isso.

- Eu sei, desculpe – ela sorriu e passou a mão pelo ombro de Rony. – Você é um grande agente, Rony. Praticamente um herói.

- Não, não é pra tanto.

- Obrigada por ter me salvado.

- Eu não te salvei, Mione. Agradeça aos aurores.

- Salvou sim, duas vezes! Primeiro entregando o Balaço para pararem de me torturar, depois se meteu com um deles para me tirar de lá a salvo. Eu não tenho palavras pra agradecer.

- Ora, você também salvou minha vida quando desarmou aquela bomba.

Ele sorriu e Mione retribuiu. Os dois se olharam como se nunca tivessem se visto antes e, como num passe de mágica, estavam se beijando com paixão.