Capítulo 9
O traidor
Rony sequer dormiu naquela noite. Passou 9 horas enfurnado no escritório de Barker, procurando pistas ou conexões suspeitas entre seu pessoal e os americanos. Entretanto, toda dessa busca foi em vão.
- Bom dia, Balaço – disse Smooth, o primeiro a chegar na departamento. Ele parecia meio surpreso com a presença de Rony.
- Bom dia.
- Chegou cedo hoje, hein!?
- Pois é. Estou procurando pistas e ligações entre os casos McLinn, Norton e Hogan.
- Jura!? Encontrou algo?
- Não. Os arquivos do pessoal dos Estados Unidos são muito difíceis de serem acessados.
- Talvez você não esteja procurando no lugar certo – disse Smooth, sorrindo cinicamente.
- O que você quer dizer?
- Balaço, é óbvio que será mais fácil se você começar a procurar no seu próprio departamento.
- Você desconfia de quem seja o traidor?
- Não gosto de dar opiniões sem fundamento.
- Qualquer coisa é válida nesse momento, Smooth.
- Bom, eu vim reparando em alguém que vem agindo estranhamente desde que tudo isso começou.
- Convenhamos que todos nós temos agido estranhamente. É uma situação delicada.
- Pode ser, mas essa pessoa está pior que todos nós. É muito suspeita.
- De quem se trata?
Smooth se aproximou de Rony e sussurrou em seu ouvido.
- Charles Stuart.
- Stu? O operador que trabalha aqui há mais de 10 anos?
- O próprio.
- Tem certeza?
- Não, por isso que você vai ter que checar.
- Como faço para acessar o computador dele?
- Você é louco? Ele nunca ia deixar as transações corruptas no seu computador daqui. Você vai ter que dar uma olhada no computador da casa dele.
- Muito bem. Onde ele mora?
- Vá até o escritório de Barker e pegue sua ficha. Lá tem o endereço.
- Obrigado, Smooth.
- Disponha sempre.
Rony estudou o pergaminho com o endereço de Stu por alguns segundos antes de dar o impulso em sua vassoura. Sabia que não demoraria mais do que 2 minutos para chegar ao local desejado.
Quando pisou no chão novamente, largou a sua vassoura num beco a dois quarteirões e seguiu andando para não levantar suspeitas no caso de Stu estar em casa.
Ele subiu as escadas do prédio velho onde o agente morava e girou a maçaneta devagar. Para sua surpresa, ela estava aberta.
"Suspeito", pensou. "Ele deve estar esperando alguém".
Rony abriu a porta com cuidado e sacou sua varinha. Deslizou para dentro do apartamento e não viu ninguém por perto. A última coisa que ele ouviu antes de cair inconsciente no chão foi um sonoro "Agora!".
Hermione também passara a noite em claro, mas não estava procurando pistas ou pesquisando sobre crimes. Seu pensamento estava longe, junto com um certo ruivo que não saia de sua cabeça.
- Como ele pode – sussurrou ela, assoando o nariz.
Quando levantou-se da cama para jogar os lenços fora, a campainha tocou.
- O que? – disse ela ao abrir a porta.
- Bom dia pra você também – Mark estava parado em sua porta segurando uma mala.
- Mark? O que você está fazendo aqui?
- O que você acha? Vim te ver!
- Eu achei que tivéssemos terminado.
- Terminamos, mas eu senti sua falta. Mione, você sabe que eu não sou nada sem você. Posso entrar?
Se não fosse pelo estado emocional que ela estava, Mione teria dito não. Mas ela apenas se afastou da porta para deixar Mark passar.
Rony acordou em um lugar estranho mais uma vez. Agora sua cabeça já não doía tanto, pois acabara se acostumando com as pancadas que andara levando nos últimos dias.
- Você está ficando mais rápido – disse Luke, usando um enorme curativo ao redor da cabeça.
Pela falta de estabilidade do solo e o já conhecido enjôo, Rony chegou à conclusão de que estava num barco. Ele tentou se erguer da cama, mas Luke o impediu.
- Ei, onde você pensa que vai?
- Desculpe, Luke, mas eu preciso ir trabalhar.
- Ótimo, porque nós temos uma missão pra você.
Rony deitou-se novamente e olhou para o lado. Caído perto da parede estava Charles Stuart com o peito ensangüentado.
- Vocês mataram ele também!?
- O cara estava na nossa cola e no nosso caminho.
- Isso só comprovou minhas suspeitas de que vocês são um bando de covardes.
- Guarde suas besteiras para falar quando tiver mais gente por aqui. Agora aproveite seus últimos momentos de liberdade enquanto a chefinha não chega.
Assim que Luke levantou-se da cama, uma mulher cruzou a porta do quarto.
- Oh! Ele já acordou?
- Sim, senhora.
- Ótimo. Pode ir agora, Luke.
- Obrigado, senhora.
Luke saiu do quarto olhando para Rony com um sorriso cínico no rosto. A mulher sentou-se na cama e vários homens a cercaram.
- Bom dia, Balaço.
- Sabe, ultimamente essa é a frase que eu mais tenho ouvido.
- Isso é porque você vem fazendo muita coisa errada.
- Não, acho que você está se referindo ao seu próprio grupo.
A mulher abriu a bolsa e tirou de dentro dela uma ficha do Ministério da Magia.
- Muito bem, parece que você é um herói no Ministério. Salvador de muitas vidas, o bruxo mais rápido do mundo. Hum, que interessante, melhor amigo de Harry Potter na infância. É o que eu digo, todos eles têm síndrome de grandeza.
- Olha lá como você fala dele!
- Sim, sim, claro. Esqueci que você é meio estouradinho. Continuando, vamos ao que interessa – ela abriu a bolsa novamente e tirou um pedaço de pergaminho de dentro dela. – Ronald Weasley, agente secreto. Apelido: Balaço. Blá blá blá, endereço, blá blá, aqui! Acusado pelo assassinato de Antony Hogan. Julgamento na próxima sexta-feira. Que ótimo! Rapazes, vão separando seus melhores ternos porque nós não vamos perder a ida do assassino de Hogan para Azkaban.
Rony estava um pouco assustado com a quantidade de informações sigilosas que a mulher tinha, mas continuou indiferente.
- Eu sou inocente e vocês sabem disso.
- Eu sei, mas o pobre Morrice não sabia. Coitado, tão ingênuo, não é à toa que o seu pessoal o pegou tão facilmente.
- O que você quer?
- Meu querido, quero te fazer um favor.
- Favor?
- Sim! Já que você vai para Azkaban de qualquer jeito, vamos dar um motivo justo para que isso aconteça.
- Do que você está falando.
A mulher acenou com a cabeça e um dos homens entregou a ela um pedaço grande de pergaminho.
- Preste atenção nesse mapa.
O mapa mostrava a planta de um lugar muito grande, cheio de túneis. Rony não demorou para descobrir que se tratava de uma estação de metrô. Nela, vários pontinhos azuis iam e vinham, mas um ponto vermelho se destacava entre todos.
- Reconhece esse ponto? – perguntou a mulher. – Trata-se de um grande amigo seu.
- Barker – murmurou Rony, olhando para o mapa.
- Exatamente. Ele está lá porque marcou uma reunião com Stu. É isso mesmo, Balaço, Barker também desconfiava dele.
- Mas... como?
- É simples. Vocês dois seguiram a mesma pista falsa. Você caiu primeiro em nossas mãos e temos algo especial preparado para Barker.
- Você quer dizer que... Smooth mandou a mim e Barker atrás de Stu... Smooth é o agente corrupto do nosso departamento!?
- Bingo! Grande homem, Brendon Smooth. Excelente de se trabalhar. Sacrificou sua carreira no Ministério para nos acobertar.
Rony não podia acreditar no que ouvia. Smooth era o homem de confiança de Barker, seu melhor amigo, quase um filho para ele. Os dois trabalhavam juntos há pelo menos 6 anos, Barker havia dado a Smooth seu primeiro emprego. Como ele poderia ter traído-o?
- Vocês acham que ele vai sair assim dessa? Eles vão me interrogar e eu vou entregá-lo! Vou entregar todos vocês!
- Acalme-se, querido, Smooth está seguro agora. Você pode entregá-lo, mas seu pessoal nunca vai entregá-lo. Ele está seguro bem longe daqui. Quanto a nós bem, você não tem provas para nos incriminar e não sabe nada sobre nós, além do que eles não levam muito em conta as respostas de alguém culpado por dois assassinatos.
- Dois?
- Ah é, eu não te contei essa parte! Sabe esse mapa? Smooth nos forneceu esta manhã assim que te capturamos. Barker está no nosso encalço, ele vinha trocando informações valiosas com Stuart. Por isso, vamos ter que matá-lo, então fizemos Stuart marcar uma reunião com ele na estação e vamos cuidar do seu chefe esta noite.
- Vocês matá-lo e me incriminar, não é?
- Claro. Está ficando esperto.
- É típico de vocês. Só não pensaram que o meu trabalho é ser o primeiro a chegar quando acontece algum assassinato.
- Não seja ingênuo, Balaço. Você já está sendo acusado de matar Hogan, quando descobrirem que você matou Barker também, vai direto para Azkaban.
Rony encarou a mulher com desprezo e deitou-se novamente.
