Capítulo 11

Julgamentos

Como já era de se esperar, Rony passou mais uma temporada no hospital, mas dessa vez tinha um companheiro de quarto, Barker. Os dois tiveram sérios ferimentos nas costas devido ao contato com o trem, pois o vão entre o trem e o buraco não era tão grande assim. Apesar disso, a enfermeira garantiu que os dois estariam livres na sexta-feira de manhã.

- Nós vamos direto ao seu julgamento – disse Barker, folheando o Profeta Diário. – Só espero que eles deixem a gente se trocar – ele puxou seu avental de internado e fez uma careta.

Rony sorriu sem alegria.

- Balaço, meu filho, o que é que há?

- Nada.

- Você deveria estar feliz. Não há mais com o que se preocupar, os corruptos foram descobertos e capturados, você vai ser inocentado na primeira sessão.

- Eu sei.

- Ah, sim, é por causa da garota, não é?

Rony suspirou. Mione não fora visitá-lo uma única vez desde sua internação.

- Ela gosta de você – disse Barker, surpreendentemente carinhoso. – Ta na cara.

- Ela nem liga pra mim. Se eu morresse não ia fazer diferença.

- Você acha mesmo? Acha que ela se arriscou lutando com aqueles caras à toa?

- Ela estava tentando fazer o trabalho dela. Também é uma agente.

- Mais do que isso. Ela ma você.

- Não é o que parece.

- Como você pode ter tanta certeza?

- Não sei.

- Vai por mim, o único jeito de saber é demonstrando. Você também nunca disse a ela que a amava.

- Bom, isso é porque eu nunca tive a chance.

- Não me venha com desculpas! Eu sei que você não tem coragem.

- Eu devia ter te deixado lá no trilho, Barker.

- Calma, tudo vai dar certo – disse Barker, ajeitando a gravata de Rony na porta da sala onde seria o julgamento.

- Eu sei – disse ele, quase num sussurro.

- Pronto?

- Aham.

Barker abriu a porta e os dois entraram. A sala estava lotada e era designada a grandes julgamentos. Havia pelo menos 100 pessoas na platéia, entre elas gente que nem era do Ministério, como jornalistas e curiosos. Barker sentou-se numa cadeira da primeira fileira e Rony foi para a grande cadeira isolada na frente da platéia.

Ela correu os olhos pelo juri e eles não pareciam nada simpáticos.

- Estamos iniciando o julgamento de Ronald Weasley sob a acusação do assassinato de Antony Marcus Hogan. Silêncio, por favor – disse um dos homens na banca de júris.

- O responsável pela defesa do acusado é Arnold Barker, chefe do departamento de aurores do Ministério da Magia.

Os membros do júri se arrumaram em suas cadeiras e todos prenderam a respiração por alguns segundos.

- Que entrem os outros suspeitos.

Alguns guardas trouxeram por uma porta lateral Beth, Mark e Smooth, recentemente capturado ao aparatar na fronteira da Espanha com Portugal.

- Senhor Barker, pode interrogar os outros acusados.

Barker perguntou várias coisas ao trio sobre a organização secreta, o desvio de informações e os assassinatos, mas eles negaram tudo. Depois disso, Barker entregou ao júri as provas que incriminavam todos eles.

Depois, um homem do Ministério interrogou Rony, que respondeu com naturalidade a todas as perguntas.

- Que entrem as testemunhas – disse o homem do júri.

Pela mesma porta entraram duas pessoas, mas estas estavam desacompanhadas de guardas. Para a surpresa de Rony, Mione era uma delas.

O primeiro a ser interrogado pelo homem do Ministério foi Julian, que defendeu Rony até o fim. Quando chegou a vez de Mione, Rony tremeu.

- Senhorita Granger, qual é sua ligação com o senhor Weasley.

- Nenhuma em especial no momento, mas fomos grandes amigos na infância.

- Então como foi que a senhorita chegou a se envolver nesse caso?

- Ian Norton me enviou aqui para ficar de olho em Rony. O senhor Barker pediu a mesma coisa de Rony, mas eu não sabia que ele era o Balaço. Nós fomos seqüestrados pela primeira vez quando estávamos a lazer andando pela cidade, nada relacionado com trabalho. Pelo menos para mim.

Essa última frase de Mione deixou Rony muito irritado. "Ora essa", pensou. "Ela ainda acha que eu a enganei desde o início".

- O comportamento do senhor Weasley alguma vez levantou sua suspeita?

- Não. Pelo contrário, eu jamais desconfiei dele. Rony salvou a todos nós na noite de terça e me salvou antes disso também. A única vez que fiquei com a pulga atrás da orelha foi quando ele mexeu em meu lap-top e eu descobri que vários arquivos confidenciais haviam sido copiados. Porém eu descobri esses dias que na verdade Mark os copiara.

- Você acha que o senhor Weasley matou Hogan?

- Tenho certeza que não. Rony é fiel aos amigos. Apesar de Hogan ser de uma organização teoricamente inimiga do Ministério, ele era amigo de Hogan pela pessoa que ele era, não pelo seu trabalho.

- Mais alguma pergunta – disse o homem do júri.

- Não, senhor, obrigado.

Depois de mais algumas perguntas aqui e ali, o júri finalmente chegou a uma conclusão.

- Devido ao que foi declarado aqui hoje e as provas apresentadas, o júri chegou a decisão de que os senhores Mark Lanson, Brendon Smooth e a senhorita Elizabeth Carter são culpados. Isso leva a inocência do senhor Ronald Weasley.

Rony sorriu e suspirou de alívio. Barker passou correndo pela banca de júris e abraçou-o. Todos os fotógrafos não paravam de lançar flashes sobre os dois e os culpados.

Quando estava deixando a sala ao lado de Barker e alguns companheiros aurores, Rony viu Mione andando pelo corredor e correu para alcançá-la.

- Mione – disse Rony, um pouco ofegante. – Eu só queria te agradecer.

- De nada.

- Não, é sério. Muito obrigado, de verdade. O fato de você ter ido depor a meu favor foi muito importante pra mim.

- Você era inocente e eu era uma testemunha. Só estava fazendo meu trabalho.

E assim ela seguiu em frente, deixando Rony desolado.

O departamento de aurores estava em festa naquela tarde, pois todos comemoravam a liberdade de Rony e o sucesso do caso. Rony estava deprimido, mas os amigos fizeram o possível para animá-lo.

- Vamos lá, sai dessa – disse um rapaz que lhe deu uma garrafa de cerveja. – Mulher pe que nem biscoito, perde um, ganha oito.

Todos explodiram em gargalhadas e Rony deu uma risadinha.

- Ei, pessoal, vamos fazer um brinde – disse Barker, levantando sua garrafa. – Ao Rony que, apesar de ter um nome de verdade agora, será sempre o nosso Balaço!

- Ao Balaço! – repetiram todos.

À noite, todos começaram a ir embora para curtir o fim do dia em casa, já que não tinham mais trabalho para fazer por ali. Quando todos deixaram o escritório, Rony foi até o escritório de Barker, que estava arrumando suas coisas.

- E aí, como vai? – perguntou Barker.

- Melhor, obrigado. E você?

- Bem. Quer dizer, não é todo dia que alguém que você trata como filho te trai.

- Sinto muito, Bark.

- Não precisa sentir nada. Aquele imbecil teve seu merecido fim indo pra Azkaban.

- É verdade.

- E você? Vai ao julgamento dela amanhã?

- Acho que não. Mione deixou bem claro que nossa relação era estritamente profissional e não ia passar disso.

- Até agora você não se explicou para ela, não é!? Não disse como se sente, nem que não sabia que ela era a Sabrina desde o início.

- Bark, cai na real, ela desconfia de mim. Ela achou que eu tinha copiado os arquivos dela.

- Mas já não acha mais, ela encontrou o suspeito. Você tem que ser mais confiante, tem que lutar pelo que você quer!

- Não sei, é complicado...

- Complicado porque você quer, se quisesse seria fácil. Pense bem, Balaço. Amanhã ela vai ser inocentada e vai pegar o primeiro vôo para os Estados Unidos, e então só Merlim sabe quando você a verá de novo.

Barker estava com um semblante triste quando entrou no tribunal naquela manhã. Hermione estava da mesma maneira ao sentar na cadeira do acusado e assim passou durante todo o anúncio de abertura do julgamento.

Barker entregou as mesmas provas do último julgamento para o júri e sentou-se, esperando ser chamado para fazer algumas perguntas a Mione.

- Para interrogar a senhorita Granger eu chamo o senhor...

- Com licença!

Rony acabara de entrar na sala e vinha a largos passos pelo corredor.

- Eu acho que sou o mais indicado para fazer isso – disse ele, postando-se na frente do júri.

- E por que o senhor acha isso, senhor Weasley?

- Porque eu estive com ela o tempo todo e sou o maior conhecedor do caso.

- Senhor Barker, está de acordo?

Barker só faltava dar pulos de alegria, mas ele apenas acenou com a cabeça.

- Muito bem, senhor Weasley, vá em frente.

- Senhorita Granger – disse Rony, aproximando-se de Mione. – O que a senhora tem a ver com essa história toda?

- Eu só estava aqui a trabalho para vigiar o Balaço, mas não tive tempo de executar meu trabalho, pois fui seqüestrada por uma organização da qual eu nada sabia a respeito. Só estive na estação no dia do atentado a Barker porque Mark, meu ex-namorado, me levou até lá.

- Alguma vez você desconfiou dele?

- Nunca.

- E de sua secretária, senhorita Elizabeth Carter?

- Também não.

- Você teve alguma coisa a ver com o assassinato de Antony Hogan?

- Não.

- Com todo respeito, senhores, acho que não tem fundamento interrogar a senhorita Granger como acusada. Ela foi acusada de ser minha cúmplice, sendo que eu fui inocentado do crime.

- Pois bem, senhor Weasley. Mais alguma pergunta?

- Na verdade, tenho sim.

Rony enfiou a mão do bolso e tirou algo de dentro dele.

- Quer se casar comigo?

Um bafafá correu a sala. Todos se levantaram para ver o anel nas mãos de Rony e os fotógrafos começaram a disparar os flashes. Hermione apenas ficou parada e boquiaberta.

- Senhor Weasley, creio que esse não seja o momento mais... – começou uma senhora do júri.

- Ah, deixa o garoto em paz – disse o orador do júri. – Eles são inocentes mesmo, não temos mais o que julgar por aqui.

- Rony, eu... – disse Mione, procurando as palavras.

- Espera, deixa eu falar – ele tomou fôlego. – Mione, eu jamais tentaria te iludir para de espionar e você sabe disso. Quando te conheci, não sabia que você era a moça que eu tinha que espionar, nem quando andamos pela cidade e nem quando nos beijamos na ponte. Eu só descobri quem você era quando Morrice me seqüestrou e te deixou de refém. Mione, eu me entreguei para te salvar, eu não agüentaria te ver apanhando. Eu me entreguei por você, mesmo sabendo que você podia ser uma agente corrupta ou seja lá do que eles estavam te acusando. Naquela noite que nós passamos juntos eu já sabia que você era quem eu devia espionar, mas eu jamais faria isso, Mione, eu sabia que você inocente. Eu não fui pra cama com você para conquistar sua confiança e roubar seus arquivos, eu fui para cama com você porque eu te amo!

Mais flashes estouraram e os curiosos chegavam cada vez mais perto. Hermione continuava parada e boquiaberta. Rony olhou para todos na sala e foi até Mione.

- Vem comigo – disse ele, estendendo a mão para ela.

Ela segurou a mão dele e os dois saíram correndo pela sala, atravessaram a porta lateral e correram pelos corredores até chegarem à rua, onde Rony tirou sua vassoura do esconderijo e os dois montaram nela. Só pousaram novamente quando estavam bem longe do tumulto.

- Então? – disse Rony, pegando a mão de Mione.

- Então o que?

- Você tem uma pergunta para me responder.

- É, eu sei. É difícil Rony, é difícil saber em quem confiar. Eu confiava no Mark e você viu o que aconteceu, ele traiu a todos nós.

- Você não confia em mim? Depois de tudo que nós passamos?

- Confio, confio sim, Rony – ela o abraçou. – Mas para se casar é preciso ter mais do que confiança.

- Mione – ele levantou a cabeça dela e os dois se encararam. – Eu te amo.

- Eu sei.

- Você me ama?

Ela passou as mãos pelos cabelos dele e sorriu.

- Amo, amo sim. É claro que amo!

Os dois se beijaram e depois Rony mandou Afrodite, a coruja, entregar uma carta o mais rápido possível para Barker.

O aeroporto – se é que aquilo podia ser chamado de aeroporto – estava com uma aparência abandonada e muito vazio. Rony e Mione chegaram o mais rápido que puderam e Barker já estava lá, acompanhado por Julian.

- Ora, ora – disse Barker. – Quem diria, o Balaço chegando atrasado.

- Você nunca me disse porque eles te chamam de Balaço – disse Mione, apontando para Rony.

- É meu nome de guerra – disse Rony, um pouco vermelho.

- Fala pra ela, Balaço – disse Barker, muito sorridente.

- É só um apelido besta.

- Ta bom, eu falo – Barker se aproximou de Mione. – É porque ele é rápido, incansável e, quando você menos esperar, estará atrás de você.

Mione começou a rir e abraçou Rony.

- Eu disse que era um apelido besta.

- Hum, eu gostei – disse ela, beijando a buchecha do namorado.

Um pequeno avião com aparência de novo pousou na pista ao lado deles.

- Balaço, tem certeza de que vai fazer isso? – perguntou Barker, contendo as lágrimas.

- Não há mais nada pra mim aqui, Bark. Eu sou um agente secreto, mas agora todos já conhecem minha verdadeira identidade. Não tem mais sentido ficar por aqui. E, além do mais, já tava na hora de tirar uma férias, não é mesmo?

Barker abraçou Rony e desatou a chorar.

- Calma, Bark. Eu sempre vou lembrar de você, das suas broncas, reclamações e cobranças.

Barker soluçou e deu uma risadinha.

- Nós também vamos lembrar de você. Não importa se agora todos te chamam de Ronald Weasley ou Rony, porque você será sempre o nosso Balaço.

- Ei, vamos embarcando! – gritou o piloto.

- Adeus, então.

- Adeus!

Rony e Hermione entraram no avião depois de acenar várias vezes para os amigos. Finalmente, o avião partiu.

- É uma grande perda – disse Julian.

- É melhor sim – fungou Barker. – Esses dois são geniosos demais pra trabalhar sob as ordens de alguém. E tem talento o suficiente para formar uma dupla de espiões imbatível.

- Você sabe pra onde eles vão?

- Não. Por que?

- Sei lá, é sempre bom ter contatos por aí. A gente nunca sabe quando vai precisar.

- Ora, seu oportunista e... – Barker foi dando tapas em Julian até dentro do aeroporto.

- E não me venha mais com essa história.

- Foi só uma brincadeira, chefe.

- Brincadeira? Isso é hora de fazer brincadeira? Vai trabalhar, inútil!