Sob os Holofotes - by Lili Psiquê

Disclaimer: Saint Seiya / Cavaleiros do Zodíaco pertence a Masami Kurumada.

Resumo: Universo Alternativo. Afrodite é um ator em busca da fama. Romances, decepções e grandes alegrias irão cruzar seu caminho até que ele consiga um cantinho cativo sob os holofotes do sucesso. Romance yaoi / lemon.

Esse aqui seria o último capítulo. Mas ele ficou enorme, e eu acabei dividindo-o em dois. O próximo vai ser o último sim! Não me joguem pedras... :o) E novos thanks as betas e amigas Celly M, Susu-chan e Elfa Ju! E a todo mundo que tá lendo a fic!!!!

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Capítulo 6 - Esperança

- Monsieur Kamus, párdon, mas há um senhor o esperando aqui no hall.

- Mas eu não estou aguardando ninguém.

- Eu sei que o monsieur pediu para não ser incomodado, mas ele insiste em vê-lo imediatamente.

- Mas, afinal, quem é?

- É um ator, o monsieur Miro.

Kamus gelou. Miro? Ali? Na França? No hotel onde ele estava hospedado? Mas como ele descobriu que ele estava lá?

- Por favor, mademoiselle, peça para ele subir.

- Imediatamente.

Desligou o telefone, e correu em se vestir. Já era noite, e Kamus pretendia descansar, pois havia gravado o dia inteiro, e estava cansadíssimo. Só Miro mesmo para interrompê-lo. Mas tinha que assumir... Estava com uma saudade absurda dele. Ninguém imaginava como fora difícil para ele deixar os Estados Unidos. Não por Hollywood, mas por Miro. Sua vida andava extremamente apagada sem ele.

Ouviu batidas na porta, e foi abri-la. O grego estava lindo, como sempre fora, mas Kamus vestiu sua máscara de seriedade, e fingiu indignação com a visita.

- Realmente, eu te fiz falta, hein, Kamus? Mas que cara feia... - E Miro foi entrando no quarto, sem a menor cerimônia.

- Não comece a me irritar. O que você quer, Miro? - Sim, a afirmação do ator era verdadeira, mas quem disse que o diretor iria assumir isso? O grego nem fazia idéia de como a sua simples presença balançava o francês.

- Ué, você tá morando em um hotel? Achei que você tinha uma casa em Paris. Vivia falando de como era maravilhoso morar nessa cidade cheia de almofadinhas frescos...

- E tenho. Mas estou rodando um filme aqui em Bourdeaux, e preferi me hospedar nas proximidades. Se não percebeu, Paris está bem longe. E, pelo que eu saiba, onde moro não lhe diz respeito.

- Kamus, só para esclarecer: eu não cruzei o oceano para brigar com você. E muito menos para implorar que você volte para mim.

- Quem chegou cheio de sarcasmo foi você, mon ami. Imagino então que você só passou para dar um oizinho, non?

- Mas que droga! Por que a gente tem sempre que discutir? - E o grego começou a falar quase sem tomar fôlego, gesticulando exageradamente. - Eu vim aqui com a melhor das intenções, mas não, você tem que me recepcionar mal desse jeito! É como se todo o tempo que nós passamos juntos não tivesse significado nada pra você! Óbvio que o grande diretor Kamus já deslocou uma francesinha para esquentar sua cama, mas, mesmo assim, acho que...

E Miro foi calado com um beijo apaixonado.

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Carlo e Afrodite foram manchete em revistas, jornais e tablóides durante um bom tempo. Eles se recusavam a dar qualquer declaração sobre a relação deles, apesar de aparecerem sempre juntos, de mãos dadas, fazendo com que o teor do relacionamento deles tornasse óbvio.

A carreira de Dite continuava ridícula, se comparada aos anos anteriores. Mas a de Carlo ia muito bem. O italiano tinha um contrato muito lucrativo com um estúdio antes de assumir o relacionamento com Afrodite, e, após muitas reuniões, os executivos resolveram não quebrar o contrato com ele. Afinal, toda aquela publicidade podia ser positiva. Acertaram. O filme que Carlo estreiou depois daquele bafafá todo foi um sucesso.

Afrodite estava muito feliz ao lado de Carlo, mas continuava com uma sensação de 'falta'. Não adiantava, era óbvio que ele não iria conseguir tudo o que almejava. Ter seu amor ao seu lado já era tão bom... Por que ele tinha que sentir tantas saudades de atuar?

O italiano sentia a infelicidade que o sueco tentava esconder. Fora que eles não tinham nem 6 meses de namoro e já brigavam direto. Carlo sabia que Afrodite estava ficando sem dinheiro, pois os trabalhos estavam cada vez mais escassos. Mas, para acompanhá-lo, o sueco gastava o que não tinha. E se mostrava indignado quando o outro tentava pagar a conta, ou o levava em uma loja cara para comprar-lhe uma roupa diferente. Os agrados sempre se transformavam em discussões.

- Oi Mozão! – O sueco o recebeu com um sorriso enorme. Andava dormindo direto na mansão do italiano.

- Tudo bem Dite? Como foi seu dia?

- Péssimo...

- Por que?

- Porque você não estava aqui!

Carlo deu risada, lisonjeado com o comentário.

– Bom, pra compensar a ausência, te trouxe um presente.

- O que é dessa vez? – Dite fechou a cara.

O italiano não percebeu que o sueco emburrou, e desatou a falar.

- Sexta feira tem aquela premiação, que você disse que queria ir. Você sabe que eu não entendo muita coisa desse lance de estilistas, mas achei que você iria gostar. Você pode usa-lo no evento...

E entregou a caixa enorme para Afrodite.

"Mais uma roupa..." Carlo não entendia que ele estava de saco cheio de tanto mimo?

- Olha Carlo, eu acho que não deixei bem claro na última vez, mas eu não quero, obrigado. – Nem abriu a caixa, devolveu-a fechada.

- Como assim, não quer? Eu passei horas procurando alguma coisa legal pra você usar...

- Eu não preciso disso!

- Não é questão de precisar...

- Eu não sou uma dondoca, é tão difícil assim de entender?! Eu sei que você devia estar acostumado a encher suas namoradinhas de presentes, mas eu já disse milhares de vezes que não quero nada! Não quero que você gaste nada comigo, eu só preciso do teu amor. Também tenho dinheiro, não precisa me tratar como um pobre coitado! – Estourou. Mais uma briga...

- Droga! E eu transpareço isso? Você tá achando que eu quero te comprar, Afrodite? Você não sabe interpretar um gesto de carinho?

- Você que me trata como se eu tivesse 15 anos! – E saiu andando rápido. Carlo só ouviu a porta de sua casa batendo com força.

- Você que age como se fosse um adolescente! – Gritou para as paredes... É, seria mais uma noite sozinho.

Por causa dessa dificuldade em se acertar com Dite, Carlo procurou as únicas pessoas que talvez poderiam ajudá-lo: Shaka e Mú. Marcaram um encontro na casa dos dois. Difícil foi despistar Dite, mas Carlo inventou uma reunião com um estúdio, e conseguiu sair.

- Oi, Carlo! Entre.

- Olá, Mú. - Carlo entrou na casa do casal e acompanhou Mú até a sala, onde Shaka o aguardava sentado no sofá. - Oi, Shaka. Tudo bem com vocês?

- Tudo bem. Aceita um chá?

- Sabe, Shaka, na verdade não, mas obrigado. Eu estou meio nervoso, gostaria de ir direto ao assunto. - E sentou-se.

- Tudo bem, pode falar. - Dizendo isso, Mú sentou-se ao lado do indiano, enlaçando sua mão na dele.

Carlo mostrou-se claramente constrangido. Realmente estava desesperado, para chegar a ponto de 'discutir' a sua relação com os amigos do namorado.

- Sabe... eu estou... ahn... com medo de perder o Di.

- Medo? Mas Carlo, ele te ama há anos! Dite jamais deixaria você.

- Eu sei que ele me ama, Shaka. Mas o Di anda tão triste...

Shaka e Mú entreolharam-se. Óbvio que ele estava triste! Não havia estrelado mais nenhum filme!

- Imagino o que vocês estão pensando. A culpa é minha, eu sei! Primeiro foi aquele dia em que ele dormiu em casa, e eu o deixei ir embora. Depois que começamos a namorar, então, a coisa desandou de vez. Eu daria qualquer coisa para que fosse o contrário, para que eu estivesse fora do cinema. Estou nessa pelo dinheiro e pelo glamour; o Di não. Ele sempre quis ser famoso, claro, mas para ele a fama sempre se relacionou com o reconhecimento pelo seu trabalho. Atuar é tudo para ele...

O italiano apoiou os cotovelos no joelho, e abaixou a cabeça, segurando-a nas mãos. Se controlava para não começar a chorar. Shaka e Mú estavam quietos, esperando que ele se acalmasse. O que não aconteceu. Carlo levantou-se do sofá, e voltou a desabafar, agora mexendo as mãos e os braços como todo bom italiano, enquanto andava pela sala.

- Semana passada eu comprei um Dolce & Gabbana lindo para ele ir comigo em uma premiação. Não costumo ter muita paciência com essas frescuras, mas achei que ele iria adorar a roupa e o evento. Mas, ao ver o presente, Di teve um ataque histérico! Disse que não era uma dondoca para ser sustentado, que já tinha dito que não queria que eu gastasse um dólar que fosse com ele, que eu o trato como uma mocinha que precisa o tempo todo de agrados... Ma que catso! Eu quero mesmo agradá-lo! O que há de errado nisso?

Viu que o indiano e o tibetano olhavam para ele com uma cara de espanto, então se acalmou e sentou-se novamente. Ia voltar a falar, mas Shaka o interrompeu com um gesto.

- Carlo, coloque-se no lugar de Afrodite. Ele se sustenta sozinho aqui na Califórnia desde uns 17 anos, e tornou-se uma estrela com 22. É uma situação nova pra ele!

- Mas, Shaka... o que eu posso fazer? - Carlo mostrava cansaço, como se falar tudo aquilo tivesse sido uma batalha. - O Di quase não consegue trabalhos! O Shion já entrou em contato com tudo quanto é estúdio, e eu falei com todos os meus conhecidos do meio. Ninguém quer correr o risco de investir num filme com Di. E não tem como ele acompanhar meu estilo de vida se não deixar que eu o ajude financeiramente. - Suspirou. - A culpa é minha... - Abaixou os olhos, sem conseguir conter uma lágrima solitária que escorreu pela sua face. - Se eu não tivesse me envolvido com ele, sua vida estaria como antes, e ele continuaria brilhando...

- Cale-se, Carlo! Você ainda não entendeu? Dite faria qualquer coisa por você! Se ele tivesse que escolher entre seu amor e sua carreira, ele ficaria ao seu lado, sem hesitar! Afrodite não precisa dessa piedade. - Mú estourou.

- Acalmem-se! Carlo, você sabe que não é pra tanto. E Mú, você sabe que não adianta ser rude com ele. - Shaka levantou-se, e tomou as rédeas da discussão. - Olha, realmente não há uma solução simples para esse problema. Mas faça o seguinte: mantenha a calma, e tenha jogo de cintura para lidar com Afrodite. Só isso não vai resolver a situação, mas aguarde mais um mês. Se tudo der certo, o Miro trará a solução.

- O Miro? Mas o que ele tem a ver com isso?

- Mais do que você imagina. E não me pergunte mais nada, por favor... A gente não sabe se a idéia dele vai dar certo, então é melhor não criarmos falsas esperanças.

- Mas, Shaka...

- Por favor, sem 'mas'... - Shaka, aborrecido, suspirou, com um olhar suplicante. - Vamos tomar o chá?

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Miro acordou com o sol entrando pelo vidro da sacada. Abriu os olhos e viu Kamus ali em pé, já vestido, observando a vista.

- Típico de você... Já de gravata... Madrugou? - E espreguiçou-se com manha.

- Non, Miro, você que acordou tarde. - Kamus andou até a cama, e sentou-se ao lado do grego. Começou a mexer nos cachos azuis, com um olhar triste. - Eu já estou meio atrasado, mas liguei para minha assistente e disse que só iria chegar mais tarde ao set.

O grego sentou-se na cama, fazendo com que o lençol cobrisse apenas o necessário. O francês não conteve um sorriso ao vê-lo quase nu em sua cama.

- Estou te atrapalhando? - Miro fechou a cara e ameaçou levantar-se, mas o francês apoiou a mão em seu peito, forçando-o a continuar com as costas encostadas na cabeceira da cama.

- Por favor, abaixe a guarda! Eu não quero mesmo discutir. - Tirou os sapatos, sentando-se de pernas cruzadas na cama, na frente do outro. - Fiquei aqui porque queria conversar contigo, mas você fica tão lindo dormindo que não quis te acordar. - E colocou a mão alva no rosto bronzeado.

Miro inclinou a cabeça, aproveitando o carinho colocando a sua mão em cima da do outro.

- Foi desse Kamus que eu senti falta... - Puxou-o pelo pulso e o abraçou. Sentiu aquele perfume que povoava seus sonhos todas as noites, mesmo tendo ficado sem vê-lo durante tanto tempo.

O francês retribuiu o enlace, e deixou-se ficar ali, aproveitando o contato tão saudoso. Mas lembrou-se de repente da dúvida que o incomodava desde a hora em que acordou com o ator em seus braços. Afastou-se com tranqüilidade dele, e ficou segurando sua mão.

- Miro... Ontem à noite você disse que não tinha vindo até a França para discutir, e nem para implorar que eu voltasse pra você. Por que você veio então?

Ai... Realmente, Miro tinha ido atrás de Kamus para pedir que ele ajudasse Afrodite. Mas, e agora? Devia ter contado isso para ele antes de passar a noite ali. Kamus jamais demonstraria mágoa se o ator lhe falasse que não tinha vindo simplesmente atrás dele, mas ficaria magoado sim. Quem não ficaria?

- Ahn... é... Sabe, Kamus... a gente pode discutir isso depois? - E puxou o francês para mais um beijo, mas não obteve retribuição. Kamus afastou-se delicadamente, sem deixar de fitar os olhos do grego.

- Miro, eu gostaria de saber disso agora. Talvez não seja importante pra você, mas para mim, é.

Miro suspirou. - Promete que não vai ficar bravo? - Kamus continuou impassível. - Eu vim te pedir para tentar ajudar o Afrodite.

A feição do francês não mudou, mas ele sentiu a decepção correr por todas suas veias. "Afrodite? Ele veio até aqui só por causa do Afrodite?" Não que o sueco não fosse importante... Mas Kamus achou que finalmente Miro tinha entendido tudo aquilo que ele sentia, e o porquê daquela briga idiota de anos atrás, que fez com que eles não se falassem mais. Soltou a mão do ator, e afastou-se discretamente.

- E como eu poderia ajudar o Afrodite?

Miro percebeu a frieza no olhar e na voz, mas preferiu deixar isso para depois. Primeiro iria explicar o porquê de sua visita. Depois dava um jeito de reconquistar o diretor.

- Você não sabe como anda a carreira dele?

- Lógico que sei. Além de trabalhar no cinema, acompanho os jornais. Ele não tem mais carreira, desde as últimas aparições no National Enquirer. Eu só estranhei o fato do Carlo ter conseguido manter-se na classe de estrelas de primeira magnitude.

- Parece que ele tinha um contrato com um estúdio, e a multa pela quebra iria ser muito alta. Aí, ele estreiou um filme que já estava em fase de edição quando assumiu o relacionamento com Dite, e a curiosidade americana foi maior do que o preconceito. Com o sucesso, ele conseguiu outros trabalhos, e segue na mesma. Mas nenhum diretor ou estúdio aposta mais no Afrodite. Ele está definhando aos poucos. Não consegue ser feliz ao lado daquele italiano, justamente por estar decepcionado com o mundo dos espetáculos...

- E como eu poderia ajudá-lo?

Miro hesitou um instante, mas se encheu de coragem e falou.

- Volta comigo para Hollywood.

Kamus se espantou. - Não posso! Miro, eu tenho uma vida aqui! - Levantou-se da cama. - Você achou que seria assim, simples? Vinha até aqui, passava a noite comigo, ou sei lá eu quantos dias, e me pedia para voltar pra lá?

A mágoa de Kamus não era essa. Sim, ele tinha uma vida, mas abandonaria qualquer coisa se o pedido de Miro tivesse sido diferente. Se o pedido fosse para que ele voltasse para o grego. Não queria saber de Afrodite. Queria saber do Miro.

- Eu sei que você tem seus projetos, mas eu posso te esperar. Kamus, tente entender, ele é nosso amigo. E você já reconheceu inúmeras vezes o talento dele. Mas nós já tentamos de todos os meios ajuda-lo, sem sucesso. A última chance é você!

Miro levantou, sem se dar conta de sua nudez, desesperado para fazer o francês entender a urgência do problema. Alcançou Kamus, que estava próximo a cama, e segurou seus braços, olhando-o nos olhos.

- Não pense que eu vim aqui só para pedir ajuda para ele. Também quero que você volte pra mim, sim. Mas esse é um assunto muito mais delicado, que eu queria tratar com você mais tarde, com mais calma. - Seria impossível negar esse pedido manhoso.

- Mon Dieu, Miro, vista-se! - O francês ficou desarmado ao ver o corpo bronzeado iluminado pela luz do sol que invadia todo o quarto.

- Como se você não tivesse visto isso antes...

- Atrevido! Como você...

E, desta vez, Kamus é quem foi calado.

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Miro arrastou Kamus para a Califórnia dois meses depois. O diretor acabou deixando seu projeto independente no aguardo. Resolveu acompanhar logo o ator até os Estados Unidos, antes que o grego o enlouquecesse. Não pensou que Miro pudesse ser tão obstinado; durante os dois meses que permaneceram juntos na França ele utilizou todos os argumentos imagináveis para fazer Kamus acreditar que poderia ajudar Dite a voltar ao cinema. O francês ainda não estava muito convencido, mas não custava tentar...

Logo que chegaram em Hollywood, Kamus se hospedou na mansão de Miro, depois da insistência do grego. Ele tinha vendido seu apartamento por lá, justamente por acreditar que não voltaria mais para a América. Podia ter ficado num hotel, lógico, mas aí teria que agüentar Miro o infernizando durante 'eras'...

A imprensa notificou discretamente o retorno do diretor francês. Logo Kamus e Miro convidaram Dite, Carlo, Mú e Shaka para um jantar na mansão. Pensaram até em chamar Shion, mas acharam que a opinião do empresário de Di não seria de peso naquele momento. Kamus já sabia que roteiro iria trabalhar. Era um drama de sua autoria, chamado 'City of Angels'¹. Afrodite seria um anjo, apaixonado por uma mortal. Era uma história envolvente, triste, romântica, mas conseguia fugir do piegas característico de muitos romances.

A surpresa? Afrodite não topou.

- Como assim, não quer fazer o filme? - Carlo parecia o mais pasmo. Não conseguiu esconder seu desapontamento.

- Não quero, Carlo, eu simplesmente não quero. Kamus, agradeço sua preocupação, mas se você voltou da França só para tentar me ajudar, perdeu a viagem. Me perdoe, mas não vou destruir a carreira dos meus amigos. - Impassível. Dite sequer suspirou ao dar a negativa.

- Como assim, Dite? - Kamus achou que o roteiro era bom, que Afrodite era ótimo para o papel...

- Não é óbvio? Que estúdio vai financiar esse filme? E depois, se a bilheteria for medíocre, como vai ficar a reputação do diretor, do estúdio e dos outros atores? Vocês ainda não entenderam? Não há solução. Meu destino é ser o ator gay que já foi um sucesso, que não soube administrar a fama, que vive às custas da caridade do namorado.

- Caridade? Mas que droga, Di! Será que nós vamos continuar brigando eternamente? Não é caridade. Eu te amo tanto, que não consigo nem imaginar minha vida sem você. Eu abriria mão de tudo para te ver feliz.

- Chega, por favor. Não vamos começar de novo. - Shaka estava com uma cara de decepção. Aquilo tudo já estava deixando-o cansado. - Chega de orgulho, Dite. Não é só o Carlo que te ama, mas todos nós. Não é óbvio? Queremos tanto te ajudar, não seja hostil. Se Kamus e Miro estão aqui, é por que já refletiram sobre o assunto e tomaram a decisão deles. E você acha que Kamus estaria aqui se não tivesse certeza de que vai dar tudo certo?

- Mas, Shaka...

- Não vamos discutir novamente, por favor! Olha pro Carlo. Pensa no que ele enfrentou para estar do teu lado. E por causa dessa barreira que você criou, não percebe que seu relacionamento está definhando... Do que valeu você sofrer tanto por esse italiano, se agora não dá valor à sua conquista?

- Dite, você vai fazer e acabou. Sei que gostou do roteiro, que vai atuar extremamente bem. Deixe o restante conosco, ok?

- Mas, Miro...

- Ótimo. Bom, então eu e Miro vamos entrar em contato com os estúdios, adular alguns executivos, e assim que estivermos com o orçamento ok, lhe avisamos. Vamos jantar? - Kamus concluiu a discussão com um sorriso de vitória.

O sueco começou a chorar. Carlo o abraçou com delicadeza, enquanto Afrodite agradecia a todos em meio aos soluços.

Durante o jantar, Mú não segurou a sua curiosidade.

- Miro, você vai fazer que papel no filme?

- Na verdade, não vou atuar... Vou ser o produtor.

Carlo quase cuspiu o vinho que estava tomando.

- Produtor? Você tá brincando, né?

- Não... eu não pretendo mais atuar. - Miro nem olhava para os amigos. Continuou mexendo no prato.

A mesa parou.

- Como assim? Ai, por Buda! Qual é o problema de vocês, atores?

Finalmente o grego olhou para os outros na mesa, e viu que Kamus estava vermelho.

- Eu já me decidi, Shaka. Resolvi parar por escolha própria mesmo. Falei com um consultor meu, e sei que tenho dinheiro suficiente para manter uma vida de luxo até os meus 90 anos, apesar de não ter tanta vontade assim de chegar a essa idade. - Conseguiu fazer a mesa descontrair um pouco. - Se eu vender essa mansão, então, posso continuar com meu estilo de vida tranqüilamente. E eu acho que chegou a hora de viver. Tô de saco cheio de ter que tratar bem essas fãs loucas, ter que fugir de paparazzos, ter minha vida exposta a todo momento... Eu quero ser feliz, sabe?

- E, se eu não me engano, o francês faz parte disso... - Lógico que o italiano alfinetou.

- Conversamos sobre isso durante dois meses. Miro enfiou nessa cabeça dura que não quer mais ser ator, que isso não é importante pra ele, etc, etc, etc... Tentei fazê-lo desistir disso tudo, mas não teve jeito. A única coisa com a qual ele concordou foi em não fazer anúncio nenhum a imprensa.

- Não vou contar nada aos jornais, simplesmente vou recusar os convites para filmes. O Kamus também me convenceu em ajudar na produção do filme com o Dite, e eu acabei concordando... Não quero ficar parado, sem ter nada pra fazer.

- Mudanças, mudanças... Você não tá planejando nenhuma surpresa não, né, Shaka? A nossa vida ainda vai continuar como está, né?

Todos riram da cara do Mú.

- Não, Mú, eu estou contente com a minha vida desde os nossos 18 anos... Não é agora que eu vou querer mudar alguma coisa... Já chega ter que conviver com as loucuras desses aí...

- Realmente, como vocês se agüentam há tanto tempo?

E os amigos continuaram a conversar até de madrugada, pois há muito tempo não se reuniam como naquela noite. E a lufada de esperança que os envolveu permitiu que a noite fosse muito mais agradável até que o esperado.

To be Continued

1 - AAAHHH!!! Botei o Dite no lugar do Nicolas Cage!!! Hahahaha... Sim, eu não tenho vergonha na cara. Ah, não consegui ter outra idéia para mais um roteiro de filme. E a 'Sob os Holofotes' foi escrita tendo como trilha sonora a música Angel, da Sarah McLachlan, a Fellin' Love, da Paula Cole e a Red House, do mestre Jimi Hendrix, todas da trilha do filme Cidade dos Anjos. Perdoem a falta de criatividade. E, aliás, os direitos de Cidade dos Anjos são da Warner Bros.

E os direitos autorais de 'Mozão e Mozinho' são da Elfa!