Mary Sue: A Verdade por trás do Mito!
Capítulo VIII – Aquele em que há um baile em tributo a Mary Sue!
Hogwarts estava em polvorosa. Ninguém falava de outra coisa senão do Baile de Mary Sue. Ela, aliás, encomendara um vestido cor-de-rosa, sua cor favorita ("Realça a minha cútis"), especialmente para o evento. Lilá e Parvati também encomendaram vestidos à alta costura do mundo mágico. Hermione, por sua vez, preferiu ir fantasiada de galinha, em protesto por estarem promovendo um baile em tributo a Mary Sue e por ninguém ter enterrado o que sobrou dos corpos de Neville e Hagrid!
O dia do baile começou com uma movimentação muito grande. Todas as meninas já tinham vestido seus trajes de gala e, agora, preocupavam-se em dar os últimos retoques. Pintavam as unhas; umas alisavam os cabelos, outras os enrolavam; e Hermione, especificamente, ensaiava uma encenação de uma galinha botando ovo.
Já os meninos não tinham nem metade dessas preocupações. Simplesmente vestiram seus trajes especiais para festas. Nada de cabeleireiro, manicure ou afins. Harry era a exceção. Gastou muitos galeões com sua produção, pois precisava estar muito chique e bonito para fazer jus à beleza estonteante de Mary Sue.
Rony, por sua vez, estava exultante. Esse era o primeiro ano que não se preocupava com o que os outros diriam de suas roupas de segunda mão. Afinal, iria com Hermione (depois de muita insistência, ela assentiu em ir com ele ao baile) trajada de galináceo. Quem iria se preocupar com o que ele vestiria estando de braços dados com uma franga? Optou por tomar partido da situação: decidiu ir ao baile usando uma peruca vermelha igual a do Bozo, o ruivo de maior projeção em todo o mundo (tanto o mágico, quanto o trouxa).
A festividade começou com o crepúsculo. O vermelho do céu dava um tom bucólico à cena, o que apetecia a Mary Sue. As pessoas foram logo chegando no Salão de Festas; Dumbledore as saudava alegremente na entrada do recinto.
– Veja só, Minerva! – cochichou o diretor para a professora McGonagall entre um "olá, meus jovens" e um "aproveitem a noite". – Logo, logo, Hogwarts vai estar cheia de casais dançando, meninas com o salto do sapato quebrado, rapazes que beberam além da conta, e adolescentes fornicando no mato! Não é um ótimo exemplo a ser dado para as crianças lendo isso aqui?
Harry encontrou com Mary Sue ao pé de uma escadaria. Viu sua bela acompanhante descendo com uma mão no corrimão, a outra segurando com graça a barra do vestido, num ritmo elegante, olhos semicerrados fixos nos seus, um sorriso discreto no rosto aristocrático. Estava impassível, não esboçou nenhuma alteração, nem mesmo quando uma menina gorda escorregou do seu lado, rolou escada abaixo, derrubou três meninos que estavam dando mole por ali, e se espatifou no chão toda arreganhada, com o vestido arriado até a cintura.
– Vamos, Harry? – perguntou, dando braço ao menino.
– CLARO! – ele respondeu feliz.
Logo atrás vieram Parvati, trajando uma roupa azul escura, e seu acompanhante Dino Thomas, que trajava um terno de cor púrpura e, no peito, exibia inúmeras correntes douradas. Um pouco atrás estavam Lilá Brown, linda de preto, e Draco, impecável. Formariam um casal muito bonito, se ela não estivesse preocupadíssima em como impediria Hermione de arruinar o baile de sua amiga Mary Sue, e ele, ainda furioso por ter sido preterido por Mary Sue, especialmente por ela ter escolhido Harry.
Rony e Hermione foram um dos últimos a chegar no Baile. Ela tivera problemas em prender o bico de sua fantasia. Rony tentou ajudá-la, mas a menina estava irritadíssima e lhe dava respostas atravessadas a todo instante. Não tardou para Rony mandá-la enfiar o bico na cloaca!
O mau-humor do casal era visível logo que adentraram no Salão, e o diretor os felicitou:
– Tenha uma noite agradável, rapaz! Adorei o seu corte de cabelos! É inspirado no Bozo, não? Eu adoro o Bozo! Assistia-lhe quando pequetito, mas ainda me lembro dele até hoje! – Dumbledore riu-se. – E sinto por não ter arrumado um par e tenha precisado vir ao Baile com uma galinha!
– RÁ! – exclamou Hermione-Franga. – Aí está você, seu velho safado! Estive atrás de você a semana toda, mas você ficava fugindo de mim!
– Srta. Granger? – Dumbledore deu um sorriso meio amarelo para a aluna. – A galinha é você?
– Pode me explicar porque estamos aqui celebrando num Baile, enquanto as carcaças do Hagrid e um pedaço da perna do Neville (que o Selacanto não comeu) ainda estão ao relento lá nos jardins?
– Bem, Srta. Granger... Hagrid sabia da alta periculosidade de sua função ao aceitá-la! E eu teria providenciado uma cova se conseguisse uma grande o bastante!
– E quanto ao Neville?
– Quem?
– Neville! Neville Longbottom!
– Nem faço idéia de quem seja esse!
– COMO ASSIM? Você tem obrigação de saber quem são seus alunos! VOCÊ É O DIRETOR!
– Srta. Granger! Tome isso! – Dumbledore entregou um papel com algo escrito.
"Vire para o outro lado". Hermione virou para o verso. Estava escrito "Vire para o outro lado".
– Isso não vai funcionar comigo! – gritou a menina, mas já era tarde demais. O velho já se pirulitara dali.
– Ainda o pego! – falou Hermione-Franga. – Vamos Rony!
– RONY-BOZO! Eu já disse que só te chamo de Hermione-Franga se você me tratar por Rony-Bozo!
Enquanto isso, Mary Sue encontrava seu pai jogando um charme em Madame Pince, a Bibliotecária.
– PAI! – a menina lhe deu um forte abraço.
– ORA! Se não é a minha bastardinha favorita! Como está querida?
– Ótima! Eu vim ao baile com o Harry! E ele está se comportando como um verdadeiro cavalheiro!
– Olá, Sirius! – cumprimentou o rapazinho.
– Estou de olho em vocês, jovens! Comportem-se! – brincou Sirius, deixando os dois a sós mais uma vez.
Logo atrás deles vinha Hermione-Franga furiosa, andando o mais rápido que podia em sua fantasia. Estava quase alcançando Mary Sue quando Lilá Brown a interceptou. A bruxa-trouxa tentou se soltar e algumas penas voaram, mas Lilá era mais forte e conseguiu domá-la, enquanto Harry e Mary Sue se afastavam.
– Por que você fez isso, Lilá? – perguntou Hermione-Franga. – Eu estava quase alcançando Mary Sue. E ia dizer umas verdades para ela!
– Exatamente! Na posição de melhor amiga de Mary Sue vou impedi-la! Ninguém vai arruinar o Baile dela! NÃO VOU PERMITIR!
– Quero vê-la tentar! – desafiou Hermione-Franga.
– Pois veja! – Lilá arrancou o bico da fantasia e arremessou longe.
– MEU BICO! LEVEI HORAS PARA COLOCAR NO LUGAR!
– RÁ! Boa sorte para pô-lo de volta! – Lilá virou-se para Draco. – Rápido, Draco! Precisamos achar a Parvati! Para essa missão, vamos precisar de todas as Panteras!
Parvati estava sentada a uma mesa, as pernas cruzadas e um olhar furioso no rosto. Lilá a abordou.
– Temos um problema!
– VOCÊS TÊM UM PROBLEMA? Meu par veio vestido como um bicheiro, entornou todas, vomitou no meu vestido, agora está dormindo de roncar estirado debaixo da mesa do ponche, e VOCÊS têm um problema?
– Ah, querida! Que pena! Ele arruinou a sua noite?
Parvati bufou como resposta. Lilá continuou.
– Uma coisa vai te animar! Precisamos reunir as Panteras de novo!
– Precisamos? Por quê?
– Para impedir Hermione-Franga de arruinar a noite de Mary Sue!
Parvati levantou-se decidida:
– Em honra a todas as garotas cujos vestidos foram arruinados por vômitos de bêbados, eu juro: NÃO VOU TOLERAR QUE ATRAPALHEM A VIDA DE MARY SUE.
– É ISSO AÍ, GAROTA! AS PANTERAS DETONANDO! – gritou Lilá, batendo palminhas. – Vamos ao plano! Draco-Cameron! Você vai drogar Mary Sue e levá-la para um mato no jardim!
– Eu? Por que eu?
– Porque você é o vilãozinho da história, bestão!
– Ah, claro! Mas onde eu vou arrumar uma droga?
– Você não tem? – estranhou Parvati. – Todo vilãozinho tem um ou outro comprimido ansiolítico escondido.
– Serve ansiolítico? – Draco respirou aliviado. – Então, tá tranqüilo! Pensei que precisava ser crack ou ecstasy!
– Enquanto isso... – continuou Lilá. – Parvati-Drew vai ficar enrolando o Harry para que ele não dê falta dela! E eu vou dar um pau naquela galinha careca!
Mary Sue esperava por Harry – que dera uma ligeira passadinha no sanitário masculino –, quando Draco a abordou:
– O Potter se cansou de você?
– Ainda está chateado, Draco? Se servir de algum consolo, você era o segundo da lista!
– Ainda há tempo de mudar sua escolha... – Draco sussurrou ao ouvido de Mary Sue, jogando todo o seu charme. – Quer um ponche?
Mary Sue tomou o copo com ponche da mão de Draco delicadamente.
– Obrigada! Estava com sede!
Após alguns instantes de ingerido o líquido, Mary Sue bambeou. Draco a tomou nos braços e a levou para fora do salão.
Harry estava no banheiro lavando as mãos, quando Rony-Bozo apareceu.
– Aproveitando a noite? – perguntou o ruivo.
– Bastante. E você?
– Sei lá! A Mione tá doidona com essa de ser uma galinha. Daqui a pouco ela vai botar um ovo no meio da festa para arruinar o baile.
– Você acha que vai dar certo?
– Eu acho que ela vai pagar um mico federal e ainda por cima vai ter o efeito contrário ao que ela espera.
– Como assim?
– Vai coroar o Baile como o melhor da história de Hogwarts!
Parvati estava do lado de fora esperando por Harry, para distraí-lo como estava planejado. Saltou na frente do menino assim que vislumbrou sua cicatriz saindo do banheiro.
– Oi, Harry! – saudou.
– Oi, Parvati! O que aconteceu com o seu vestido?
– Ah, o Dino vomitou em mim! Mas foi só a barra do vestido! – Parvati arrancou praticamente a saia toda do vestido, deixando as pernas de fora. – Prontinho!
Harry e Rony arregalaram os olhos e balbuciaram algumas palavras sem sentido.
– Quer dançar? – arriscou a menina.
– E a...?
– Ela não se incomoda! – cortou Parvati. – VEM!
A morena arrastou Harry para o meio da pista de dança e rodopiou com ele por quase duas horas, dando tempo de sobra para Draco-Cameron e Lilá-Lucy terminarem a missão.
Hermione-Franga finalmente colocara seu bico de volta no lugar quando ouviu a porta do banheiro bater com força. Olhou pelo reflexo do espelho. Era Lilá.
– OK, Carijó Careca! Eu e você! Aqui e agora! TÁ NA HORA DO PAU!
Mary Sue despertou confusa. Onde estava? Olhou ao seu redor, mas a vista embaçada não lhe permitiu identificar o local.
– Estamos no mato! – falou Draco, num tom sádico.
– O que fez comigo?
– Nada... Ainda!
– O que quer?
– VOCÊ! Não é óbvio?
Mary Sue tentou fugir, mas Draco a segurou e arrancou-lhe um beijo forçado. Mary Sue o estapeou.
– Afaste-se de mim, seu crápula!
Draco tornou a beijá-la. Mary Sue resistiu no início, mas acabou cedendo.
– Por que é dos garotos maus que a gente sempre gosta, hein?
Draco ergueu a sobrancelha e tornou a beijá-la.
Harry e Parvati se divertiam pelo salão. Dançavam todos os tipos de música, ou melhor, ela tentava a todos os custos ensiná-lo como dançar todos os tipos de música, e ele nem sempre a acompanhava.
Ao final de uma canção country-pop-folk, já fazia mais de uma hora que Mary Sue tinha sumido, mas eles não estavam nem aí. Preferiram continuar dançando.
Lilá e Mione arrebentaram porta afora do banheiro, atracadas. A franga ciscava na cabeça da adversária, e a menina arrancava as penas da inimiga uma a uma. Lilá escorregou na barra do vestido e caiu estatelada no chão, dando a Hermione-Franga uma vantagem que podia lhe valer a luta. Ia golpear com toda a força, mas Dumbledore a atingiu na cabeça com um vaso, e Snape chutou-lhe a boca do estômago.
– Obrigada, Professores!
– Disponha, Srta. Brown! – Dumbledore esfregou as mãos, satisfeito.
– Estávamos esperando uma oportunidade para nos vingar dessa aí faz tempo! – acrescentou Snape satisfeito.
Lilá arrastou o corpo inconsciente de Hermione-Franga e atiçou no lago.
Harry já estava desacompanhado quando Mary Sue apareceu; batom borrado, vestido amassado e penteado desfeito.
– Mary Sue! Onde você estava? – perguntou Harry num tom ameno.
– COMO ASSIM? O QUE ESTÁ INSINUANDO?
– Nossa! Que agitação! Não estou insinuando nada!
– AGITAÇÃO? DO QUE ESTÁ FALANDO?
– Mary Sue, o que houve?
– NÃO HOUVE NADA ENTRE MIM E O DRACO!
– Draco? O que o Draco tem a ver com isso tudo?
– NÃO, HARRY! EU NÃO ESTAVA FORNICANDO COM O DRACO NO MATO, ENTENDEU?
– Fornicando? Nem sei o que isso significa!
– PÁRA COM ESSE INTERROGATÓRIO! QUER ME DEIXAR LOUCA? – Mary Sue saiu correndo esbaforida, visivelmente alterada.
– E então, Draco? Deu tudo certo? – perguntou Lilá, que aproximava com uma compressa de gelo sobre o lábio inchado.
Draco, que exibia um sorriso de orelha a orelha, paletó aberto e camisa amassada, limitou-se a balançar a cabeça concordando.
– Que cara de satisfação é essa? Parece até que... – Lilá ficou muda e branca como um papel. – Por favor, diga que não é verdade! VOCÊ NÃO FEZ ISSO! VOCÊ DEFLOROU MARY SUE?
– Sinto ter de lhe dizer, Lilá... Mas já defloraram Mary Sue faz tempo... – Draco bateu no joelho da amiga e levantou-se feliz da vida.
Lilá, arrasada, balbuciou algo incompreensível para si mesma. Parvati sentou-se ao seu lado.
– Ai, amiga! Que noite, hein?
– Tudo foi por água abaixo, Parvati! TUDO! Todas as horas dedicadas a fazer dessa noite algo especial! Todo esse esforço para Mary Sue acabar num mato com o Draco como uma qualquer!
Logo atrás das duas meninas, Rony e Harry também conversavam sobre a tumultuada noite.
– É... – Parvati estava pensativa. – Hoje aconteceu de tudo!
– Quase tudo! Não tivemos dois amigos de tempos brigando!
Rony deu um empurrão em Harry, insatisfeito com um comentário que o amigo fez sobre o Bozo não ser o maior palhaço da terra, e sim o Palhaço Krusty.
– Nem dois amigos fazendo as pazes aos prantos por causa da briga boba! – acrescentou Parvati, rindo discretamente.
Harry e Rony estavam abraçados, com lágrimas nos olhos. O pranto corria solto e a dor dilacerava, enquanto os dois rapazes reatavam os laços de amizade rompidos por tamanha tolice.
– Sabe o que não aconteceu? – lembrou-se Lilá. – Uma experiência homossexual entre dois adolescentes confusos sobre sua sexualidade!
Em meio ao abraço, Rony e Harry olharam fundo um nos olhos do outro. A proximidade era tanta que podiam sentir o calor da pele do amigo. Harry inclinou para frente e beijou os lábios receptivos de Rony.
– E eles podiam dar um beijo daqueles de novela! – animou-se Parvati!
Rony sentiu a língua quente de Harry roçar na sua, num vai-e-vem ritmado, quase como uma massagem.
– E, no final, podia ficar um rastro de baba entre as bocas deles! – acrescentou Lilá.
Os lábios dos meninos descolaram e cinco fios de cuspe ligavam seus lábios.
– Sabe o que também não teve? – Parvati falou. – Duas meninas que fingem ser superamigas, mas na verdade são duas falsonas que se odeiam!
– Ainda bem que esse não é o nosso caso, né? – Lilá abriu os braços.
As duas se abraçaram. Lilá esfregou as costas de Parvati. A última levantou-se e as duas se despediram.
– Puritana pudica! – murmurou Parvati, enquanto se afastava.
Lilá riu sadicamente ao ver a outra se afastar com um "Me coma! Sou uma puta!" colado nas costas.
