Mary Sue: A Verdade por trás do Mito!
Capítulo IX – Aquele em que Mary Sue fica presa no banheiro!

Lilá vinha rumo ao dormitório para dormir. Encontrou Mary Sue andando com as pernas abertas como um pato.

– Tudo bem? – perguntou, estranhando o andar da amiga.

– Lilá! O que faz aqui a essa hora? – Mary Sue surpreendeu-se em encontrar a amiga. Realmente já era tarde. – Sabe o que foi? Eu caí, por causa do salto e meio que torci o tornozelo!

– Eu te ajudo!

Apesar dos protestos de Mary Sue, que insistia que não era realmente necessário ajudá-la, Lilá a levou até o banheiro.

– Coloca o pé pro alto que eu vou improvisar uma tala com o salto do seu sapato e o papel higiênico! – falou a menina. – Só não sei se vai dar certo!

– Não precisa! É sério!


Parvati entrou no banheiro com uma expressão de pavor no rosto.

– Temos um problema! – falou a morena.

– O que houve? – Lilá e Mary Sue falaram ao mesmo tempo.

A resposta veio em forma de uma menina careca encharcada, trajando o que sobrou de uma fantasia de galinha, que bateu a porta ao entrar no sanitário e exibia um lampejo colérico e psicótico nos olhos.

– QUE BOM QUE ESTÃO TODAS AQUI! PRECISAMOS TROCAR UMA IDÉIA!

– Hermione! – exclamou Mary Sue. – Por Deus! Eu sabia que você era cafona, mas não a esse ponto! Tá parecendo a Bjork no Oscar®!

– NÃO É UMA BOA HORA PARA GRACINHA, SUE!

– MARY SUE! – a menina se ofendeu. – Sue é apelido de empregada doméstica! Diminutivo de Suellen!

– QUEM ME ACERTOU NA CABEÇA?

– O Dumbledore! – Lilá julgou que era melhor não mentir naquele momento.

– QUEM? – Hermione foi pega de surpresa.

– O Dumbledore! E o Professor Snape foi quem te arrastou e te jogou no lago! – Lilá achou pouco prudente se acusar estando presa no banheiro com uma Hermione tão enfurecida.

Hermione ficou de queixo caído por alguns instantes, mas logo o sangue lhe subiu à cabeça novamente.

– VOU MATAR OS DOIS!

A garota avançou com tanta violência na maçaneta que a arrancou. Hermione ergueu o pedaço da porta e tentou encaixar de volta para abrir a passagem.

– O que você fez? – Parvati logo se aproximou para tentar abrir a porta. Também não conseguiu. Lilá, que veio logo depois, tampouco.

– Estamos presas! – Parvati sentou-se desolada.

– PRESAS? – Mary Sue saltou de onde estava sentada. – Como assim? Eu preciso ir embora amanhã cedo! Meu pai veio me buscar! O Ministério da Magia ainda está atrás dele!

– ALGUÉM NOS AJUDE! SOCORRO! SOCORRO! – Lilá gritava, esmurrando a porta.

– Não adianta, Lilá! – Hermione balançou a cabeça negativamente. – Todos já foram dormir. Estamos presas.

– Talvez o Filch ainda esteja lá fora! – Lilá não perdia a esperança. Ainda tentou forçar a porta mais duas vezes até sentar-se junto às outras três meninas, desolada.


Um silêncio sepulcral se perpetuou por vários e longos minutos. Quem quebrou o gelo foi Parvati:

– Você vai embora, Mary Sue? É sério?

A deusa respondeu com um aceno de cabeça.

– E pretendia nos contar quando? Amanhã, a caminho de não sei que buraco escondido do Reino Unido, via coruja cor-de-rosa? – questionou a morena.

Mary Sue não respondeu.


As garotas ficaram mudas mais uma vez. Lilá mexia e revirava absolutamente tudo no banheiro, em busca de uma saída, uma fresta, alguma coisa qualquer que as permitisse sair de lá. Fazia um barulho danado em sua vistoria. Dedicou uma parcela de tempo demasiado grande em tentar abrir uma porta de armário empenada.

– VAI PARAR? – gritou Hermione, irritada com o barulho.

– ORA! DESCULPEM-ME, MENINAS, POR SER A ÚNICA PREOCUPADA EM ACHAR UMA SAÍDA DESSE LUGAR! DESCULPEM-ME, MENINAS, POR NÃO QUERER PASSAR A NOITE AQUI, USANDO A PRIVADA DE TRAVESSEIRO!

– Não vamos brigar! – interveio Parvati. – A noite já será desagradável o suficiente sem brigas!

– Desculpem-me! Você tem razão, Parvati – Lilá aquiesceu. Hermione também fez seu pedido de desculpas.


O tempo se arrastava lentamente. E o silêncio absoluto fazia parecer como se fosse uma eternidade.

– DROGA! – Lilá ralhou. – Se eu tivesse minha varinha aqui comigo...

– Não adianta ficar se culpando! – disse Mary Sue. – Ninguém leva uma varinha para um Baile! Como você poderia imaginar que ficaríamos presas no banheiro?

– Pelo menos estamos juntas – ponderou Parvati. – Podemos fazer companhia umas às outras, e talvez o tempo assim passe mais rápido!

– Bem... Acho difícil alguém conseguir dormir de qualquer forma... – Hermione aproximou-se. – O que querem fazer?

– Posso contar histórias de terror! – falou Lilá.

– Acho que já passamos da idade... – Mary Sue disse.

– Querem revisar a matéria de Feitiços da última aula?

– NÃO! DECIDIDAMENTE, NÃO! – Lilá e Mary Sue trataram de por freio às idéias nerds de Mione.

– Podemos brincar de "verdade ou conseqüência" – sugeriu Parvati.

A idéia era tão boa quanto contar histórias de terror, mas sob o iminente perigo de passar a noite revisando a última lição do Professor Flitwick sobre como acender chamas pequenas com peidos mentais, qualquer coisa que fosse sugerida seria aceita.

– Na falta de garrafas, vamos girar o meu sapato! – Parvati animou-se.

– E quem disse que garrafas estão em falta? – Mary Sue lançou um sorriso maroto.

Enquanto as outras meninas olhavam intrigadas, Mary Sue suspendeu o vestido até a altura das coxas, revelando duas garrafas cheias amarradas nas pernas.

– Você não torceu o tornozelo coisa nenhuma, sua cachaceira! Você não queria é dividir a bebida comigo!

– A questão é... – Mary Sue ignorou o comentário de Lilá. – Para podermos girar a garrafa, precisamos esvaziá-la primeiro! Quem está com vontade de tomar um porre?

As garotas beberam no gargalo mesmo. Hermione engasgou e quase cuspiu tudo fora. Parvati também teve dificuldade em beber.

– É muito forte! – disseram.

– Vocês se acostumam! – falou Lilá. – Até o final da noite, vai parecer água!

– Enquanto não tem garrafa para brincar de "verdade ou conseqüência", que tal brincarmos com isso? – Hermione retirou quatro bolinhas de vidro de dentro do vestido.

– Bolinhas de gude? – estranhou Mary Sue.

– Não... – explicou Mione. – Bolinhas de iVeritaserum/i! Você estoura perto da pessoa, ela inala o vapor e, num piscar de olhos, revela o seu maior segredo!

– Que legal! Onde você comprou isso? – entusiasmou-se Lilá.

– Eu não comprei! Eu criei!

– QUE MÁXIMO! Pra quê?

– Queria ver se fazia o Rony confessar o que ele sente por mim! Se é que ele sente alguma coisa, isto é!

– Ah, querida! – consolou Mary Sue ao ver a carinha notavelmente abalada de Mione. – É claro que ele sente. Se ele não sentisse nada, ou só amizade, jamais viria ao Baile com você vestida desse jeito!

– E o que ele confessou? – Parvati estava curiosa.

– Que já deixou de pagar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras, bar de Madame Rosmerta, em Hogsmeade!

– Puxa! Deve ter sido frustrante preparar tudo isso e ouvir essa revelação! – Lilá balançou a cabeça negativamente.


As meninas já estavam bem mais alegres – leia-se bêbadas – quando decidiram fazer uso das Bolinhas. Sentaram-se no chão do banheiro, dispostas como numa mesa de jogo de truco.

– EU COMEÇO! – gritou Parvati, com sua bolinha numa mão e uma garrafa já pela metade na outra. Atiçou a esfera de vidro em frente à Hermione. As outras três seguraram a respiração para não inalar o vapor.

– Eu comecei a minha prova de poções cinco minutos antes do que deveria!

– iEsse/i é o seu grande segredo? – Parvati estava decepcionada. – Francamente, Hermione! QUE LIXO DE VIDA A SUA!

As garotas gargalharam da indignação de Parvati. Mary Sue, aliás, bateu palmas e os pés contra o chão.

– MINHA VEZ! MINHA VEZ! – falava a jovem de cabelos esvoaçantes. –PREPARE-SE LILÁ BROWN!

– Estou pronta! – disse a menina depois de tomar um bom gole da bebida e limpar a boca.

Mary Sue varejou o vidro longe com muita força. Perdeu o equilíbrio e caiu no chão às gargalhadas. Acabou inalando parte da fumaça também.

– EU CUSPI DENTRO DE UMA DAS GARRAFAS, E NÃO SEI QUAL FOI! – gritou a garota, outrora tão preocupada com a etiqueta e com o que os outros iam pensar dela.

– SUA POOOOOOOORCAAAAAAA!!!!!!!!!! – gritou Hermione, nem parecia a estudiosa que todos conheciam.

– Eu... Eu... – Lilá começou a chorar, cortando o clima de festa que se instalara no banheiro. – Eu colei um adesivo nas costas da Parvati!

Mary Sue arrancou a papeleta das costas da morena e levou a mão à boca, sufocando o riso. Hermione não se deu ao trabalho de esconder a gargalhada. Caiu no riso na cara de Parvati. Chegou a apontar para a menina.

– Dá isso aqui! – Parvati arrancou o papel das mãos de Hermione e leu o conteúdo.

– Você não vai querer mais ser minha amiga! – Lilá continuava inconsolável. – E agora que a Mary Sue vai embora, vou ficar sozinha e vou precisar socializar com aquelas nerds horrorosas, como a Hermione Granger!

– EI! – gritou Hermione. – Eu estou bem aqui!

– Eu não vou deixar de ser sua amiga, Lilá!

– Não?

– Não!

– Jura?

– Juro! Vamos continuar sendo a mesma dupla de meninas falsas, enjoadas, metidas e incrivelmente lindas e populares que éramos antes!

– QUE BOM! – Lilá parou de chorar e deu um abraço apertado na colega.

– QUE ABSURDO! – Hermione estava indignada. – NÃO SOU UMA NERD HORROROSA!

As outras três a encararam.

– Tá! Tudo bem! Até sou nerd, mas não sou horrorosa!

– Você é CARECA! – gritou Parvati.

– Se bem que aquele cabelo nêga-descendo-o-morro-em-carreira-desabalada não era nem um pouco atraente! – ponderou Lilá, enxugando as lágrimas.

– É verdade! – Mary Sue assentiu. – É difícil dizer qual é pior: a careca, ou aquele tonhão que ela tinha na cabeça, que mais parecia um gambá morto!

– EEEEEEEEEEEEIIIIIII!!!!!!!!! – Hermione irritou-se. – E quem são VOCÊS para falarem de mim? Vocês com suas belezas FABRICADAS!!!!!!!!

– Oooooooohhhhhhhh!!!!!!!! – as três meninas se chocaram.

– Como ousas? Despeitada! – ralhou Mary Sue.

– Gosta de falar do meu cabelo, não é Sue? Quem você pensa que engana com essa chapinha safada que você faz? "Meu cabelo é liso assim naturalmente..." Acha que eu sou o quê? Idiota?

Mary Sue aprumou-se toda para responder, mas a única coisa que lhe ocorreu foi gritar que não a chamasse de Sue.

– E você, Brown? – Hermione ligou a metralhadora verborrágica. – Todas sabemos que você usa calcinha com enchimento para disfarçar essa bunda de gaveta!

Hermione virou-se para Parvati e lançou um olhar cruel.

– O seu defeito eu vou deixar que fale por conta própria!

A bolinha estourou. Parvati tentou segurar a vontade que surgiu dentro do peito, mas não conseguiu: despejou toda a verdade:

– Eu nasci com seis dedos nos pés!

Lilá e Mary Sue se lançaram para trás com terror. Parvati explodiu em lágrimas. Hermione cruzou os braços e lançou no rosto um sorriso de pura satisfação pela missão cumprida.

– Estávamos andando para cima e para baixo com uma deformada. – gritou Mary Sue. – É pior do que se fôssemos amigas de uma gorda!

– Tudo bem! Tudo bem! – Lilá tentou contemporizar. – Isso acontece! É aceitável, desde que ninguém saiba! E ela sempre escondeu! Nunca apareceu por aí de sandálias!

Mary Sue balançou a cabeça concordando.

– Enquanto ninguém souber que ela nasceu com um dedo a mais em cada pé, não tem problema de ela andar com a gente!

– Quanto você quer pelo seu silêncio, carecão? – gritou Parvati, em meio às lágrimas.

– Para começar, quero que conte TODA a verdade! Você não nasceu com seis dedos em CADA PÉ!

Hermione arrancou o sapato de salto de Parvati, deixando a mostra os pés da menina.

– MEU DEUS! – gritou Lilá cobrindo os olhos.

Parvati voltou a chorar de soluçar.

– VOCÊ NASCEU COM SEIS DEDOS NOS DOIS PÉS! TRÊS EM CADA! – Hermione saboreava uma vingança, com requintes de crueldade, há muito desejada.

– É como uma pata de porco! – chocou-se Mary Sue.

– SUA MALDITA!!!!! – Parvati levantou subitamente de onde estava sentada e arrebentou a garrafa que estava em sua mão na cabeça de Hermione.

A bruxa-trouxa caiu estatelada no chão (agora tinto de sangue). Hermione levou a mão à cabeça.

– PARVATI, SUA LOUCA! – gritou Mary Sue. – Você abriu a cabeça dela!

– Alguém está abrindo a porta! – interrompeu Lilá.

Era Filch. Olhou as quatro garotas (bêbadas e acabadas; uma delas ferida), balançou a cabeça com pesar e falou:

– Começar o dia assim não é bom presságio!