Mary Sue: A Verdade por trás do Mito!
Epílogo – Aquele em que Mary Sue vai ao programa da Márcia!
Uma mulher turbinada, no início de seus quarenta anos, exibindo vasta cabeleira loura artificial com cachos nas pontas se aproxima da câmera nº 5 com uma expressão muito séria no rosto.
– Harry Potter, 15 anos! Está de casamento marcado, mas não sabe se ama ou não a sua noiva. Como será que ela vai reagir?
A mulher muda de ângulo e diz para a câmera nº 3:
– Molly Weasley, 50 anos! Ela vive um drama familiar avassalador! Há alguém que possa ajudá-la?
Mais uma mudança de ângulo. Dessa vez para a Câmera nº 1.
– Eles estão aqui para dizer: BASTA! EU JÁ SOFRI MUITO E TENHO O DIREITO DE SER FELIZ! A partir de agora, nada de máscaras, nada de rodeios. A vida como ela é! Eu sou Márcia Goldschmidt e esta é A HORA DA VERDADE!
Márcia adentra o estúdio, ovacionada pela platéia lotada de senhoras sem ter mais o que fazer da vida, acompanhadas por suas filhas igualmente inúteis.
– Boa tarde, auditório. Boa tarde, Brasil! Estou começando mais um "A Hora da Verdade". Hoje vamos iniciar o programa com um caso muito sério e muito complicado. É uma situação delicada, pois envolve uma decisão que mudará para sempre a vida desse rapaz! HARRY! ENTRE, POR FAVOR!
O menino se sentou um pouco acabrunhado.
– Não precisa ter vergonha de expor o seu problema para o Brasil, Harry! Nós estamos aqui para ajudar!
– Bem, é que eu não sei se esse é o tipo de coisa que deva ser discutida num programa de televisão... Aliás, nem sei o porquê de eu estar aqui!
– ESSA É FÁCIL! – gritou Márcia. – Você está aqui porque um dos autores dessa fic sempre prestigia o meu programa e não ia perder essa oportunidade de vê-lo aqui, no A HORA DA VERDADE!
A platéia de vovós aplaudiu entusiasticamente ao final da fala de Márcia.
– E então, Harry? Por que não compartilha com os telespectadores e leitores dessa fic o motivo de estar aqui?
– Sabe o que é, Márcia... Eu estou noivo... Mas não sei se realmente estou apaixonado...
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – chocou-se a platéia.
– Realmente, Harry. Isso é muito sério! Já conversou com sua noiva a respeito?
– Não! Não tive coragem!
– Pois é bom tirar as forças de onde não tem, porque sua noiva estará se juntando a nós AGORA! MARY SUE! ENTRE, POR FAVOR!
Mary Sue entrou com a pior cara do mundo. Seus cabelos esvoaçavam como sempre. Ela se sentou e cochichou para Harry:
– Francamente, Harry! Olha o mico que você está me fazendo pagar!
Harry não respondeu. Ficou olhando para o chão.
– Mary Sue, você sabe porque está aqui? – perguntou Márcia.
– Só pode ser coisa de quem quer acabar com a minha imagem! – a deusa cruzou os braços, irritada.
– Não, não! – corrigiu Márcia. – Você está aqui porque seu noivo tem algo muito importante a revelar!
– AQUI? – chocou-se Mary Sue. – Não podia ser em qualquer outro lugar?
– Mas aqui é o lugar ideal para resolver problemas! – ponderou Márcia.
– ÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ! – concordou a platéia.
– OK, OK! – aquiesceu Mary Sue. – Diga logo de uma vez, Harry! Por que me trouxe aqui? O que tem a me dizer?
– Bem, eu... Sabe o que é... Quer dizer... Não tenho nada contra... Nem a favor... Muito pelo contrário...
Márcia balançava a cabeça com uma expressão compenetrada.
– HARRY! VOCÊ NÃO ESTÁ DIZENDO NADA!
– Eu... Eu não sei se amo você!
– O QUÊ? – chocou-se Mary Sue.
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – também se chocou a platéia.
– Eu não sei se amo você! – repetiu Harry.
– ISSO É POR CAUSA DAQUELA BICHINHA, NÃO É? – esbravejou Mary Sue.
– BICHINHA? – Márcia interveio. – TEM UMA BICHINHA NO MEIO DA HISTÓRIA?
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – a platéia estava atônita.
– Não tem bichinha nenhuma! – Harry finalmente desgrudou os olhos do chão.
– PRODUÇÃO! – chamou a Márcia. – Tem bichinha ou não tem?
– TEM, SIM! – insistiu Mary Sue.
– NÃO TEM! – devolveu Harry.
– Tem bichinha, sim! E está aqui no programa! – anunciou Márcia, triunfante. – RONY! ENTRE, POR FAVOR!
Rony apareceu no estúdio e os olhos de Mary Sue faiscaram de raiva. A menina se segurou na cadeira para não voar no pescoço do, ahn, rival.
– Rony, diga lá! – Márcia abordou o ruivo. – Há quanto tempo você conhece o Harry?
– Cinco anos, Márcia!
– E há quanto tempo vocês têm um caso?
– NÓS NÃO TEMOS UM CASO! – gritou Harry.
– Há coisa de algumas semanas! Desde a noite do Baile!
– Mas você não estava no Baile, Mary Sue? – perguntou a Márcia.
– Sim, estava!
– E por que não tomou conta do seu noivo?
– Bem, ele ainda não era meu noivo...
– ELA ESTAVA NO MATO COM DRACO MALFOY!!!!! – interrompeu Rony.
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – chocou-se a platéia.
– MENTIRA! – gritou Mary Sue.
– Mentira? – questionou Márcia. – Será? Vamos descobrir! DRACO! ENTRE, POR FAVOR!
O louro surgiu no estúdio com um sorriso malicioso nos lábios.
– E então, Draco? Vocês foram para o mato, ou não foram?
– Fomos, Márcia!
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – chocou-se a platéia.
– ISSO TUDO É UM COMPLÔ CONTRA A MINHA FIGURA! APOSTO COMO É COISA DAQUELA FRANGA DA GRANGER!
– Será? – Márcia continuava botando lenha na fogueira. – HERMIONE! ENTRE, POR FAVOR!
Hermione surgiu com sua recém adquirida cabeleira loura, toda rebolativa, e se sentou jogando os cachos por cima do ombro.
– E então, Hermione? Você quer ferrar com a Mary Sue?
– Claro que não, Márcia! Já passei dessa fase! O que acontece é que a Mary Sue não aceita o fato de eu agora ocupar a vaga que já foi dela de menina mais linda de Hogwarts!
– MAS QUE CALÚNIA! – gritou Mary Sue.
– A MAIS LINDA? – Márcia balançou a cabeça negativamente. – Há quem discorde de você! LILÁ! ENTRE, POR FAVOR!
Lilá juntou-se à patota que não parava de crescer. Enquanto Hermione e Mary Sue batiam boca, Rony sussurrava alguma coisa no ouvido de Harry, e Draco subira as escadas da platéia para jogar um charme numa das acompanhantes das senhoras da platéia.
– Você se acha a mais linda, Lilá?
– É claro, Márcia! Nem tem comparação! Eu dou de dez a zero nessa aí!
– RIDÍCULA! – gritou Hermione. – Você não tem um pingo da minha graça e elegância!
– VOCÊ È CARECA, SUA FRANGA MALUCA! – Lilá arrancou a peruca loura de Hermione e varejou longe.
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – chocou-se a platéia.
As duas começaram a discutir calorosamente quando Márcia interveio:
– Desculpem-me, mas a Produção está avisando que tem uma amiga de vocês aí nos bastidores que diz que BOTA AS DUAS NO CHINELO!!!!!! PARVATI! ENTRE, POR FAVOR!
A morena nem teve tempo de abrir a boca. Mal pisou no estúdio, e Lilá e Hermione voaram em seu pescoço.
– Ei! – gritou Harry, enquanto as três se atracavam no chão. – Esse programa não deveria ser sobre mim?
– Claro que sim! – falou Márcia. – Mas espere um pouquinho, que agora o Plaza tem um recadinho para os nossos telespectadores e leitores! Diga lá, Plaza!
– SUPER FÁCIL CASA! – gritou o Plaza, um senhor de seus cinqüenta anos, cabelos pintados como os do Ney Gonçalves Dias. – Tá precisando de um lugar para morar? Tá cansado de pagar aluguel? Quer sair de vez desse seu barraco caindo aos pedaços? A família aumentou, e não tem como fazer um puxadinho? O SUPER FÁCIL CASA é a solução! Aqui você consegue uma residência, sem ter de preencher cadastro, sem formulários, sem consulta ao SPS, sem a menor burocracia! Aqui não tem problema com trambique, porque os trambiqueiros somos nós! Obrigado, Márcia!
– Ok, Plaza! – falou a loura falsa. – Vamos dar continuidade ao programa! Você telespectador que acaba de sintonizar aqui no A HORA DA VERDADE, e você, leitor maluco, que gosta de ler fics de trás para frente; vou colocá-los a par da situação! Harry é um rapaz indeciso, e estamos aqui para auxiliá-lo na árdua missão de descobrir se ele gosta ou não de sua noiva! Para ajudá-lo, a Produção trouxe aqui uma especialista, a Dra. Regina Phalange, terapeuta, psicóloga, psicótica, parapsiquiatra, paramédica, pára-raios e proparoxítona de renome internacional! DRA. REGINA! ENTRE, POR FAVOR!
Surgiu uma mulher de óculos e cara de fuinha, trajada de branco, carregando uma grande pasta azul.
– Doutora, como pretende ajudar o pobre Harry?
– Bem, Márcia, eu trago comigo o que há de mais avançado no campo do estudo neuroparapsicossomático relativo à questão da homossexualidade! Em outras palavras, é um teste para saber se o garoto é boiola ou não!
– E como é esse teste? – Márcia voltou a exibir o seu célebre olhar sério e compenetrado.
– Ele é composto de duas etapas. A primeira fase é um questionário preferencial. Tudo simples; nada que exija muito esforço intelectual. A segunda fase é o teste da farinha, mesmo!
– Está preparado, Harry?
O menino balançou a cabeça positivamente.
– Primeira pergunta! – anunciou a médica. – O que você prefere comer? Quiche ou salsichão?
– Doutora Phalange, muito obrigada! – interveio Mary Sue. – Mas acho que isso não será necessário! O Harry não é gay!
– Tem certeza? – perguntou a médica, apontando para Harry.
O menino estava dando risadinhas, enquanto Rony enfiava a língua em sua orelha.
– Pára, seu atrevido! – dizia, entre uma lambida e outra.
– TENHO! – bufou Mary Sue, arrancando Harry da poltrona e arrastando o menino para os bastidores.
– BEM! – gritou Márcia, enquanto a Produção tratava de retirar Rony, Draco, a Dra. Phalange e as três meninas (que se espancavam) do palco. – MAIS UM CASO RESOLVIDO! ELES VÃO CONTINUAR JUNTOS!
– ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ! – entusiasmou-se a platéia.
Márcia virou-se para a câmera nº 5:
– Vamos dar continuidade ao programa, então, com o segundo caso do dia! Esse é um caso muito grave! É um verdadeiro drama! Palmas, por favor, platéia! MOLLY! ENTRE, POR FAVOR!
A Sra. Weasley adentrou o estúdio trazendo consigo sua filha caçula, Gina. As velhinhas da platéia aplaudiram entusiasticamente, sob comando da apresentadora.
– Molly! Conte-nos o seu drama!
– Márcia, minha situação é muito complicada! Eu tenho sete filhos, e mal tenha dinheiro para alimentá-los!
– AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!!!! – penalizou-se a platéia.
Márcia enxugou uma lágrima no canto dos olhos.
– O principal problema é com a minha caçula! – Molly sacudiu a menina seqüelada no colo. – Ela precisa de um transplante de cérebro! E a única operação que nós temos como pagar envolve furar o crânio dela com o tubo de uma caneta BIC para dar uma ventilada nas têmporas!
– Isso é muito, muito trágico! – Márcia mordeu o lábio inferior. – Quem foi o pilantra que ofereceu esse procedimento absurdo?
– Foi a Dra. Phalange, há alguns minutos, nos bastidores!
Márcia fez cara de criança-pega-com-a-mão-no-pote-de-biscoito-antes-do-jantar, mas logo tratou de disfarçar.
– Quem se importa com o nome do médico, não é mesmo? O mais importante é o recadinho que a Ana vai dar pra gente, agora!
– Baby Machine! – gritou Ana, mulher de melenas louras (tingidas, é claro) e nariz de batata. – É a solução para você que está desempregada! Agora vai poder costurar pra fora! É o passatempo para você, sua desocupada, que fica aí, o dia todo coçando, vendo o programa da Márcia.
Nesse momento, Márcia levantou a sobrancelha, cabreira.
– Muito obrigada, Ana! – a apresentadora falou num tom claramente hostil.
– Espere! Ainda não terminei!
– Terminou sim!
– Mas ainda não falei de como as encalhadas podem aproveitar o formato de bebê da Baby Machine para fingir que tem um filho! E aí, ia aproveitar para vender a máquina de fazer fraldas por um preço promocional!
– Produção, por favor! – Márcia estalou os dedos. – Retire essa baderneira daqui, pois não?
Enquanto os seguranças do programa arrastavam Ana e a Baby Machine à força e as arremessavam no terreno baldio atrás do estúdio, Márcia dava continuidade ao programa.
– Voltemos ao problema de sua filha, Molly! Temos aqui conosco o Laboratório Unigen, responsável pela avaliação encefálica de Gina! Dr. Roberto! Fale-nos! Qual foi o resultado?
– Bem, Márcia... – respondeu um senhor moreno de terno, no início de seus quarenta anos. – Nós realizamos uma bateria de testes e exames. Eletroencefalogramas, Tomografias Computadorizadas, Chapas de Raios X, de Raios e de Raios , Testes de Psicomotricidade, de Resposta Reflexiva, de Q.I., de Coordenação Motora e o último teste da revista Capricho para saber se ela combina com o gatinho em que está de olho!
– Como podem ver, não há Laboratório mais completo que o Unigen! E o resultado, Dr. Roberto?
– Infelizmente, Virgínia Weasley foi reprovada em todos os testes!
– Até no de Q.I.? – chocou-se Márcia.
– Deu negativo o Q.I. dela! É o primeiro caso na história da ciência!
– Então ela vai precisar de um transplante de cérebro?
– Na verdade, Márcia. Descobrimos que a pequena Gina é um caso raro! Ela tem, no lugar do cérebro, uma imensa bola de manteiga!
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – chocou-se a platéia.
Molly começou a chorar.
– Não se preocupe, Molly! A Produção está entrando em contato com um especialista em Medicina dos Laticínios para tratar da sua caçula. Enquanto isso, por que não damos seqüência ao caso?
Molly indicou que sim com um aceno de cabeça, enquanto enxugava as lágrimas.
– Você também tem problemas com seus filhos gêmeos, não é? FRED! JORGE! ENTREM, POR FAVOR!
Os gêmeos surgiram no estúdio e se sentaram ao lado da mãe e da irmã, que se contorcia.
– O que foi que nós aprontamos dessa vez, mãe? – perguntou Jorge.
– É isso aí! – concordou Fred. – Por que você fez a gente vir aqui?
– Compartilhe com o Brasil, Molly! – acrescentou Márcia. – Por que você trouxe seus filhos aqui?
– Eles não têm estudo, Márcia! Ficam fazendo zona pela casa, explodindo a cozinha com poções malucas, passando cocô na parede... E o pior é que não têm fundo esse diabo desses meninos! Vão lá na hora do jantar e comem que nem uns cavalos! Depois, de madrugada, eles vão ao que restou da cozinha e alimpam a geladeira! Assim não dá! E o pai deles trabalhando que nem condenado! Vai morrer! Vai falir aquele meu marido!
– E o que você quer fazer, Molly? Quer dar um sumiço neles? – perguntou Márcia, exibindo um olhar de justiceira.
Molly concordou com um aceno de cabeça, enquanto chorava copiosamente.
– MÃE! ESTÁ LOUCA? – perguntou Jorge, sendo agarrado por um dos enormes seguranças da produção.
– EI! A GENTE NÃO TEM O DIREITO DE SE DEFENDER, NÃO? – gritou Fred, ao ser agarrado pela cintura por outro segurança.
– IH, FORA! IH, FORA! IH, FORA! IH, FORA! – a platéia fez coro.
Os garotos se debateram exaustivamente (o que não fez muita diferença, vide a clara discrepância entre os seguranças da Produção da Márcia, que rivalizavam com Hagrid, e os gêmeos), mas acabaram sendo levados para um, ahn, passeio rumo ao mato escuro mais próximo.
– Parece que ao menos uma parcela do caso já foi resolvida! – Márcia anunciou sorridente. E acrescentou ao ver a velharia começara se aprumar para aplaudir – Mas ainda é cedo para nos animarmos! Vamos dar continuidade ao caso!
– Sabe o que é, Márcia! É o meu Roniquinho! Ele anda tão estranho, ultimamente...
– Vocês se lembram do Rony, telespectadores e leitores? – Márcia rodopiou, jogando os cabelos e parando diante da câmera nº 7. – Aquele menino ruivo que estava no caso anterior, chupando o pescoço de seu melhor amigo Harry Potter? Pois é ele mesmo! E ele está pronto para voltar ao Estúdio! RONY! ENTRE, POR FAVOR!
Rony entrou desmunhecando e suspirando. Sentou-se cruzando as pernas e apoiando as mãos em cima do joelho.
– Rony, o que está havendo? – perguntaram Márcia e Molly simultaneamente.
– Sabe o que é Márcia? Eu vivia com ciúmes da Mary Sue com o Harry! Até que um dia eu percebi que eu amava O HARRY e não a Mary Sue!
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – chocou-se a platéia.
– Ah... Emboiolou! É isso? – Perguntou a Márcia.
– NÃO! – gritou Molly. – Filho meu não é viado! Ele só pode estar possuído por um espírito maligno!
– Será? Estamos aqui no Estúdio com o Padre Querêncio de Ataulfo, especialista em exorcismos! – Márcia lançou um olhar para a câmera nº 3. – E ainda estamos no aguardo pelo especialista em Medicina dos Laticínios! Queremos ajudar a pobre e descerebrada Gina!
Márcia aproximou-se de um senhor de seus setenta anos, de batina, um grande par de óculos no rosto, que o faziam parecer um abelhão.
– Diga, lá! Padre! – falou a loura. – É espírito, ou é boiola?
– Olha, Márcia! Sinceramente. – O Padre Querêncio tomou ar. – Se fosse possessão, eu, com a minha experiência, já tinha dado jeito! Esse é traveco, mesmo!
– OOOOOOOOOOOHHHHHHHHHH!!!!!!! – chocou-se a platéia.
– MENTIRA! – gritou Molly. – Quem é você, seu padreco, para vir falar do meu filho! Nem o conhece o meu Rony!
– Não sou Rony! – o ruivo botou as mãos nas cadeiras. – Agora sou Verônica!
– Peraê! – interrompeu Márcia, fazendo-se de boba. – É Rony, mas quer ser Verônica? Por que Verônica? Não estou entendendo esse caso!
– SEU NOME NÃO È VERÔNICA! – gritou Molly. – arremessando a débil Gina longe.
– Essa boiolagem surgiu de onde? – perguntou uma das acompanhantes da platéia, a quem Márcia deu voz com um microfone. – Você por acaso foi criado pela sua avó?
A pergunta gerou protestos entre a velha guarda. Márcia retomou a ordem com um grito:
– PÁRA TUDO!
Silêncio absoluto se fez.
– FIZEMOS UM AVANÇO NO CASO DE GINA WEASLEY!
– ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ! – a platéia bateu palmas.
– E temos um convidado muito especial! JEAN CLAUDE VAN DAMME! ENTRE POR FAVOR!
O ex-astro Hollywoodiano surgiu trajando uma roupa incrivelmente cafona que podia rivalizar até mesmo com o cantor Daniel, o ápice do brega, no Brasil. Sentou-se ao lado de Rony, que parecia deveras animado em ter o astro-sarado assim tão perto.
– E, então Jean Claude? – inquiriu Márcia; de novo o olhar compenetrado. – O que você pode fazer para ajudar?
– Bem, Márcia... – explicou o ex-astro. – Desde o fracasso da seqüência de Soldado Universal, eu não consigo arrumar emprego em Hollywood. Aí tentei me arrumar em Hong Kong, mas eles me acharam muito baixinho... Aí tentei um troco como dublê em seriados japoneses Super Sentai...
– Super Sentai?
– É... Tipo Power Rangers e Jaspion!
– OK! Continue...
– Mas isso também não deu certo, porque eu precisava gravar usando uns capacetes e aí ninguém ia saber que era eu fantasiado... Então abandonei isso tudo e me lancei numa nova carreira!
– E é essa nova carreira que o trouxe aqui?
– Sim, sim! Agora eu vivo peregrinando pelo mundo benzendo crianças tortas!
– Nossa... Mas ele é tããããããão altruísta... – Rony começou a se assanhar para cima de Van Damme.
– Um especialista em benzer crianças tortas é demais até para o meu programa! – Márcia, perplexa, deixou escapar um desabafo.
– Mas tem um porém!
– Ah, sim! – Márcia pegou um papel de uma das contra-regras. – Quer dizer, então, que há exigências a serem cumpridas antes de você benzer a menina?
– Exatamente!
– Você quer que uma popozuda dance para você e uma pepita de ouro, é isso?
– Exatamente!
– Escuta aqui, colega! – Márcia colocou a mão nas cadeiras – Você tá achando que tá onde? Na casa da Mãe Joana? No programa do João Kléber? Ou, pior ainda, naquele programa horroroso que o Wagner Montes apresenta na CNT?
– No gold, no blessing! No popozudas, no blessing! – Jean Claude foi taxativo!
– Produção, por favor, fora com esse pilantra daqui! Aqui já basto eu, lucrando com a desgraça alheia!
Enquanto Jean Claude Van Damme trocava sopapos com os seguranças, Márcia virou-se para a câmera nº12:
– Mas nem todos são aproveitadores! Vejam só vocês! Está na linha conosco um especialista em Medicina dos Laticínios que pode falar um pouco conosco sobre a bola de manteiga incrustada no crânio de Gina Weasley. Diga lá, Doutor!
– Bem... O caso de Gina é claramente caso para uma cirurgia simples. Basta uma caneta BIC...
– Espere um pouco! – interrompeu Márcia, reconhecendo a voz. – Dra. Phalange! É você?
Tu-Tu-Tu... Tu-Tu-Tu...
– Desligou na minha cara, aquela pilantra! – Márcia mais uma vez virou-se para outra câmera. Dessa vez a nº 2. – Bem, infelizmente, esse é todo o tempo que temos! Tenho que entregar o programa agora, que o Cabrini já está no ponto para começar o "Cidade Alerta".
E, ao som ensurdecedor de palmas entusiasmadas, Márcia se despediu:
– Até a próxima, com mais um A HORA DA VERDADE!
