Super Drive
Avisos:- Heero Pov , AU, tentativa de humor (como sempre "), Fluflly, Sap, Presença de Baterias, Baixos, Guitarras e todas essas coisas boas
Casais:- futuramente, 1x2, possível 3x4 (mas não vou garantir)
Spoilers:- Nada! Esse fic é spoiler-free.
Disclaimer:- Ontem, eu e Duo fomos a uma loja de guitarras para testar os equipamentos. Nos empolgamos com algumas delas e no final de nosso pequeno show, quebramos nossos instrumentos como autênticos roqueiros que somos. Mas as guitarras não eram nossas, e eram muito caras...$$, tão caras que eu tive que vender meus direitos autorais para poder pagar o estrago ...portanto, por mais que eu tenha me divertido, eu ainda não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente TT)
Quanto ao fic:- Ok, antes que alguém fique confuso, vamos a umas poucas informações que vem muito a calhar. Isso NÃO é uma songfic. Pronto, isso já ajuda bastante. Quem conhece o meu estilo de escrita sabe que eu utilizo as músicas apenas e tão somente como base para nomes dos fics, e também como meu esqueleto pessoal que pode ou não (como muitos de vocês já puderam notar) ser coerente com o conteúdo do capítulo. Eu sempre uso um parágrafo da música logo no inicio da fic, e esse padrão repete-se aqui. A diferença que ira apresentar-se nesse fic em particular, é que em muitos capítulos letras de OUTRAS músicas irão aparecer no meio da trama. Não se engane, nenhuma dessas será a musica que nomeia o fic. Essas outras musicas são parte IMPORTANTE da trama, razão pela qual eu estarei colocando a tradução delas no pé de página dos respectivos capítulos nos quais elas aparecerem.
Acredito que isso deixe a questão esclarecida.
Em mais uma pequena nota, eu estarei usando a versão traduzida da música "Super Drive" nos trechos que utilizo no início da fic, simplesmente por que eu sei que muito mais gente é capaz de entender inglês, do que japonês (língua original da música). Ufa! " já chega né?
...e é claro que a música "Super Drive" não me pertence TT
Esse capítulo vai dedicado a todas as pessoas que tiveram a paciência suficiente de esperar por ele , em especial aqueles que sempre me incentivaram a continuar. Vocês sabem quem são
" As we walk across today,
will my voice, entrusted to the western wind,
reach as far as the tomorrow that we'll run through?
That´s right..."
" Enquanto andamos pelo hoje,
irá minha voz, confiada ao vento do oeste,
alcançar tão longe quanto o amanhã pelo qual passaremos juntos?
É isso..."
Para mim, um trato é um trato, e se este foi selado, por mais desagradável que o cumprimento dos termos seja, é exatamente isso que será feito por mim.
Dessa forma - e recusando-me terminantemente a mudar a minha maneira de ser apenas por um, digamos, "detalhe" desagradável - eu atualmente encontrava-me em uma situação um
Eu havia – dentre todas as coisas estúpidas que poderia ter feito – fechado um tipo de contrato físico/verbal com Duo Maxwell: um acordo que estabelecia que, a partir do momento em que a mão dele fechou firmemente sobre a minha, colaboraríamos um com o outro, trabalhando efetivamente pelo mesmo ideal em comum, nada mais nada menos do que o sucesso da Wings.
Obviamente agora, apenas alguns dias depois do fato, eu não conseguia compreender exatamente que tipo de forças superiores haviam me colocado na situação citada anteriormente. Acima disso, eu não conseguia me lembrar exatamente por que EU havia proposto tal arranjo, afinal, era de se esperar que Duo – sendo aquele que chegou repentinamente como um tornado em nossa banda e nossas vidas - propusesse um acordo, e não eu.
Por outro lado, eu havia sido a pessoa que o ignorará a ponto de levá-lo a – literalmente - me lançar contra a parede.
A simples lembrança desse fato é algo que me enfurece e confunde ao mesmo tempo. A fúria é gerada pela enorme audácia que ele teve em realizar tal feito. A confusão... provavelmente parte do fato de que, alguma coisa nesse ato, foi o propulsor para a minha decisão de propor um tipo de trégua entre nós.
De qualquer forma, eu suponho que as razões de minhas ações passadas não são realmente importantes, uma vez que, no presente momento, eu possuo preocupações muito maiores com as quais lidar. Entre elas, o fato de que estaremos gravando nosso primeiro single[1] em apenas quatro semanas, este, unido ainda ao fato de que sou o segundo vocalista da banda. O que conseqüentemente me levou a conversa que eu estava tendo com meu empresário naquele exato momento.
'Muito bem Heero, eu sei que você está ciente de que em quatro semanas estaremos gravando a primeira música de trabalho da Wings. Vocês terão esse tempo para ensaiar a melodia até a perfeição, e os últimos ensaios serão gerais, misturando os instrumentos com o vocal, para que em seguida vocês possam entrar em estúdio. Alguma dúvida quanto a isso?' – meu empresário me perguntou, em seu tom de voz sempre calmo, e ao mesmo tempo, decidido.
Eu tinha total e completa certeza de que mais alguma coisa além de simples avisos estaria saindo dessa reunião, mas, inutilmente tentando evitar o inevitável, respondi de forma a me esquivar do que eu sabia que seria colocado em pauta em seguida. 'Não, está tudo muito claro para mim Treize, obrigado pelo aviso. Posso voltar aos ensaios agora?' , respondi, levantando-me de minha cadeira e tentando escapar o mais rápido possível.
'Claro que pode Heero', ele respondeu com um sorriso, e um olhar calmo. Suspirei mentalmente e já estava me colocando em ação para abandonar a sala, quando ele continuou, uma de suas sobrancelhas subindo enquanto ele falava, em um sinal claro de que ele havia percebido o que eu tentava fazer. ' Só mais uma coisa...'
'Oh não!', pensei, ainda recusando-me a abandonar todas as esperanças e virando-me lentamente na direção de meu empresário. Talvez ele fosse me dizer algo completamente diferente do que eu esperava...
'Pois não, Treize?' , respondi.
'Você, como segundo vocalista da banda terá de comparecer a alguns dos ensaios de vozes', Treize falou, olhando para alguns papéis sobre sua mesa. "h-óh, isso não estava caminhando nada bem, mas ainda havia uma esperança e eu me recusava a abandoná-la como um todo.
'Isso é tudo?', respondi, fingindo estar recebendo aquela declaração como a coisa mais natural do mundo.
'Sim. É tudo. E saiba que eu escalei Duo para lhe dar toda a orientação que for necessária para que você alcance o seu melhor desempenho.', meu empresário terminou, sem tirar os olhos dos papéis sobre sua mesa.
Merda! Era exatamente isso que eu temia. Eu precisava fazer alguma coisa para evitar uma eminente tragédia. 'Mas Treize...', comecei, sendo interrompido pelo simples movimento da cabeça de meu empresário, esta movendo-se rapidamente para cima, fazendo com que seus olhos instantaneamente perfurassem os meus, efetivamente calando-me.
'Veja Heero, eu não perguntei exatamente se você deseja ou não ser tutelado por Duo. Eu estou apenas lhe avisando que isso será necessário para que você alcance o seu melhor. Você entende o que eu estou lhe dizendo?', ele perguntou, em um tom de voz que não deixava espaço para qualquer tipo de argumentação.
'Perfeitamente senhor.' , respondi. Eu sei reconhecer uma ordem quando ela é esfregada diante de meu rosto.
Abri a porta lentamente para retirar-me, mas antes que meu corpo estivesse completamente fora da sala, Treize chamou por mim novamente. ' E Heero...'. Ele hesitou até o momento em que percebeu ter minha completa atenção. 'Sim?' respondi.
'Lembre-se de que estamos fazendo o que é melhor para você e para a banda.', ele falou com um sorriso que continha uma ponta mais do que perceptível de orgulho e esperança. Eu apenas assenti com a cabeça fechando a porta atrás de mim antes de caminhar pelo estúdio até os vestiários, aonde sentei pesadamente sobre um dos bancos, colocando minha cabeça sobre minhas mãos para melhor pensar sobre tudo o que havia acabado de acontecer.
A parte racional de meu cérebro me dizia que Treize era um homem extremamente justo, além de ser inteligente, e possuir um faro inacreditável para reconhecer o verdadeiro talento. Enquanto isso, a outra parte, aquela que não gosta de desistir apesar da derrota iminente, tentava me lembrar o quão realmente horrível e humilhante seria ter de ser TUTELADO por Duo Maxwell.
Em algum lugar, no meio de minha confusão mental, uma voz distinta fez com que todos os outros pensamentos calassem. Esta, dizia que o que tivesse de ser feito pela banda, seria feito, e isso era uma decisão sem volta. Ao mesmo tempo, essa mesma voz me lembrava de meu contrato fechado junto a Maxwell – o trato que eu havia conseguido ignorar nos últimos dias, graças o fato de que não havia me encontrado com ele desde então.
Agora, nenhum desses dois fatos podia ser ignorado, e eu tinha toda a intenção de levar ambos a diante com toda a seriedade que eles mereciam.
Decidido, levantei-me de meu lugar, dirigindo-me em seguida a meu armário para pegar minha guitarra e ir diretamente para meu apartamento, afinal, se eu realmente pretendia começar o meu dia seguinte de ensaios com o pé direito, eu certamente precisava dormir.
Em meu caminho na direção da saída, ao abrir a porta do vestiário, dei de cara com Duo. Ele pareceu um pouco surpreso com o movimento inesperado da porta, e em seguida, quando ele finalmente percebeu quem a estava segurando, não pude deixar de notar vários músculos de seu corpo contraindo-se, provavelmente esperando por um ataque – físico ou verbal – ou por minhas características trombadas, que costumavam deixar claro o fato de que eu me recusava a reconhecer sua presença , mesmo que ele estivesse bem diante de mim.
Resolvi em um centésimo de segundo que esse seria o momento ideal para começar a colocar a minha parte do trato em dia. Eu não podia mais ignorar a presença de Duo, e agora ele veria exatamente que eu pretendia cumprir com minha palavra, portanto, era melhor que ele estivesse disposto a seguir a dele.
Segurei a porta para que ele entrasse, sem dizer nada, e quando ele moveu-se de forma cautelosa para dentro do vestiário, movi-me para fora, e antes de me retirar por completo, seguindo um impulso raro, falei em sua direção, 'Até amanh'.
Deixei o estúdio sem conseguir conter um pequeno sorriso malicioso que me invadiu os lábios ao lembrar da cara de completo e total choque que Duo exibiu no momento em que lhe dirigi a palavra inesperadamente.
Eu mesmo havia sentido uma certa quantidade de choque diante de meu comportamento, porém, se de agora em diante eu tinha de aprender a conviver civilizadamente com Maxwell, melhor seria se ambos fossemos nos acostumando com um comportamento mais condizente a isso.
No dia seguinte, fui para os ensaios, decidido a me concentrar apenas e unicamente em me esforçar o máximo que pudesse, dessa forma, eu esperava poder encurtar o meu tempo no ensaio de voz, com sua duração de terríveis quatro semanas, para apenas duas.
Cheguei ao estúdio, e naquela semana, eu e os demais rapazes decidimos que dedicaríamos todo o nosso tempo ao ensaio da música que estaríamos gravando em breve. Decidimos ainda, fazer algumas experimentações individuais quanto aos arranjos na semana seguinte, apenas para que a melhor versão definitiva pudesse ser gravada.
Decisões tomadas e acertadas, partimos para a tarefa de ensaiar, e depois de três horas, fizemos o nosso primeiro intervalo.
Resolvi voltar um pouco mais cedo para a sala de gravações, e fui tomado pela surpresa ao encontrar Duo e Quatre conversando dentro do cômodo. Ao me verem, ambos pararam imediatamente de falar, como se eu fosse algum tipo de Medusa, capaz de transformar as pessoas em pedra com um simples olhar.
Tentando passar por cima da situação obviamente incômoda, fui diretamente na direção de meu instrumento, fingindo não ter percebido a pequena troca que acontecia entre meu melhor amigo e meu companheiro de banda antes de minha entrada. Ao mesmo tempo, notei um pequeno sinal de positivo que Quatre lançou a Duo , antes de retirar-se da sala.
Ignorei o gesto, engolindo uma enorme bola de curiosidade misturada com raiva, garganta abaixo. Não tem nada que me enerve mais do que ações supostamente feitas nas minhas costas.
Virei-me na direção de Duo para encontrar este olhando para mim com uma expressão hesitante. Engoli uma segunda bola garganta abaixo, desta vez, a imensa vontade que tinha de simplesmente lhe perguntar o que diabos ele estava tramando.
O que deixou minha boca foi um simples, 'Você chegou adiantado', no melhor tom de falso desinteresse que fui capaz de conjurar.
Dentre todas as reações esperadas, Duo exibiu uma que eu não havia cogitado. Ele pareceu ainda mais surpreso, seus olhos arregalando-se levemente diante do som de minha voz.
Pensei involuntariamente que, caso ele fosse ter esse tipo de reação a cada vez que eu lhe dirigisse a palavra, talvez não fosse tão difícil lidar com ele.
Meu pensamento foi morto apenas segundos depois de ter formado-se, pois meu cérebro identificou a voz de Duo, respondendo diretamente a mim.
'Na verdade eu vim para assistir o ensaio de vocês.', ele disse, parecendo ainda um pouco incerto sobre as palavras que saiam de sua boca.
'Hmpf', respondi com um grunhido dando de ombros, colocando a alça de meu instrumento em meu ombro, e antes que houvesse qualquer continuação para aquela pseudo-conversa, fomos interrompidos pela chegada do restante da banda.
Wufei e Trowa cumprimentaram Duo brevemente, e o ensaio continuou como se a presença dele sequer existisse. Ao fim deste, meus companheiros pegaram seus instrumentos, deixando a sala livre para que esta mesma fosse utilizada no próximo ensaio, o de voz. Quatre porém, permaneceu.
Enquanto microfones eram ajustados, aproximei-me de meu amigo para lhe perguntar por que ele havia ficado para o ensaio.
'Eu sou muito curioso', Quatre respondeu com um sorriso, ' e eu realmente gostaria de ter uma idéia de como a canção vai ficar. Por isso vou ficar hoje para os ensaios de voz. Espero que não se importe.'
'Não, eu não me importo.' , respondi, desejando fervorosamente que aquele ensaio acabasse da maneira mais rápida e indolor possível.
Tudo pareceu finalmente estar arrumado, e Duo dirigiu-se a um dos microfones no centro do estúdio, deliberadamente colocando-se a uma distância 'segura' do outro microfone, aonde eu deveria me prostrar. Dirigi-me a meu local a tempo apenas de ouvir o início de nossa canção começar a tocar nos auto falantes da sala, a gravação que havíamos feito na semana anterior preenchendo todo o cômodo.
Duo rapidamente olhou em minha direção, segundos antes de sua deixa, e falou, 'Eu cantarei sozinho da primeira vez, ok?'. E antes mesmo de poder assimilar meu balançar de cabeça positivo, ele virou-se novamente para o microfone, e começou a cantar.
Ainda não estou completamente certo de que as cordas vocais de Duo não possuem algum tipo de feitiço ou maldição muito antiga. Afinal, se eu parecia ser capaz de paralisar pessoas com um olhar, ele parecia igualmente capaz de fazê-lo - talvez com mais eficiência ainda – com sua voz.
O estúdio foi preenchido com a mágica daquele som por alguns minutos, e quando tudo terminou, eu mais uma vez encontrava-me em um estado completamente estupefato, envolto em uma sensação que, podia afirmar com toda a certeza, eu já não sentia a muito tempo.
Eu esperava aprender a me acostumar com isso logo.
Recuperei-me a tempo de ver Duo afastar-se do microfone com sua cabeça abaixada, em uma posição clara de derrota. Aquilo de certa forma me incomodou. Mas que diabos?
'Isto está péssimo!', ele exclamou para ninguém em particular.
Tenho certeza que a exclamação foi surpreendente o suficiente para que eu não tivesse tempo de esconder a expressão de total incredulidade que meu rosto provavelmente exibia. Olhei para Quatre, em busca de alguma explicação sobre o que estava acontecendo, e encontrei uma expressão que imitava a minha com perfeição.
Ambos simplesmente não podíamos entender como algo tão perfeito como o que havíamos acabado de presenciar podia ser taxado de 'péssimo'.
Quatre provavelmente recuperou-se antes de mim, por que foi a voz dele que retirou-me de meu estranho estado de choque.
'Duo...você....tem certeza do que está falando?', meu amigo loiro perguntou, provavelmente tentando assegurar-se de que aquela cena não passava de uma simples brincadeira.
'Tenho certeza absoluta, Quatre.', Duo respondeu, sua voz exibindo um tom resoluto que eu desconhecia até o presente momento. 'Isto precisa de uma melhora gigantesca e...', ele parou, olhando em minha direção, como que para certificar-se que minha presença naquela sala era real, e então continuou. ' ...e eu precisarei de um treinamento prévio de voz, dos mais sérios.', ele concluiu, novamente olhando para mim.
Decidi que não interferiria de qualquer forma naquele processo. Se Duo achava que sua voz precisava de melhoras, eu realmente não podia fazer nada além de pensar que ele era um completo idiota incapaz de enxergar a real dimensão de seu próprio talento.
'Você se importa de passarmos essa semana fazendo exercícios de timbre ?', ele perguntou, e a frase foi dita em um tom de voz tão suave, tão tímido, que tive de olhar para o rosto dele para me certificar de que a pergunta havia sido dirigida para mim.
'Não, eu não me importo' , respondi casualmente, dando de ombros. Eu jamais havia feito exercícios de timbre, e cheguei a conclusão de que, quanto melhor pudesse me tornar antes de começar a realmente cantar, mais rapidamente iria me livrar dessas horas de tortura.
Duo assentiu com a cabeça, parecendo ainda um tanto quanto incerto, e eu não pude deixar de pensar que aquela reação era um pouco diferente da usual confiança com a qual Maxwell costumava agir.
Ignorei o pensamento involuntário, e durante o resto do ensaio, prosseguimos com uma série de exercícios no qual praticávamos as mais variadas utilizações de voz.
Não fora tão ruim quanto eu pensei que seria.
Mas isto, é claro, foi um sentimento que durou por um tempo consideravelmente pequeno.
No segundo dia de ensaios de voz, Quatre permaneceu novamente, e nos dias seguintes, Trowa e Wufei apareceram, respectivamente. Ok, eu podia entender a vontade de Quatre de querer assistir a um dos ensaios, mas as presenças de Trowa e Wufei eram completamente injustificadas, apesar de suas tentativas vãs de me convencerem da necessidade de estarem ali.
Essa atitude era completamente estranha partindo de meus amigos, e isso, unido ao fato de que, independente da quantidade de tempo que praticávamos, Duo permanecia constantemente frustrado e insatisfeito com o desempenho de sua voz, fez com que eu parasse para analisar a situação com um pouco mais de cuidado.
Não havia uma resposta lógica que explicasse o comportamento de meu companheiros, e a impressão cada vez maior de que alguma coisa acontecia atrás de minhas costas, não era nem um pouco agradável.
A resposta para tudo aquilo veio a mim de uma forma completamente inesperada.
Durante o intervalo de um dos ensaios, ao retornar para o estúdio, parei próximo a porta olhando longamente pela janela de vidro que dava para o corredor. Dentro do estúdio estavam Duo e Wufei. Eu não podia ouvir o que se passava dentro da sala, mas a imagem era clara o suficiente.
Wufei repetia um dos muitos exercícios de vozes dos quais eu mesmo havia repetido até a exaustão nos últimos quatro dias. Duo colocava uma de suas mãos sobre o pescoço de meu companheiro chinês, sentindo a movimentação das cordas vocais enquanto este fazia o exercício, e em seguida dava-lhe o que eu supunha que fossem instruções.
Em seguida, o próprio Wufei colocou uma de suas mãos no pescoço de Duo enquanto este fazia o exercício, e após alguns momentos nessa troca, Wufei já tentava aproveitar-se da situação para enforcar Maxwell, numa óbvia brincadeira, provavelmente por conta de algum comentário.
O que eu via acontecendo naquele momento não teria me impressionado tanto se não fosse por um único detalhe extremamente importante: aquela era uma cena comum. Sim, extremamente comum, levando-se em conta os – eu não podia acreditar no termo que meu próprio cérebro havia conjurado – 'padrões Maxwell' de comportamento. Sendo assim, por que ela vinha tornando-se cada vez mais rara?
Várias partes de uma teoria formaram-se em minha mente, e decidi que a colocaria em teste no dia seguinte.
Faltei ao quinto dia de ensaios de som, chegando ao estúdio no horário do ensaio de voz, torcendo para que todos os outros membros da banda tivessem ido embora, deixando Duo completamente sozinho.
Para minha sorte, nesse dia, Duo estava fazendo uso dos fones de ouvido do estúdio, e, estando de costas para a porta da grande sala, ele nem sequer notou o exato momento no qual eu adentrei o cômodo, deixando minha mochila em um canto e colocando-me apenas a alguns metros dele, ouvindo sua voz que corria solta por todo o lugar.
Sem a presença da música, que tocava apenas nos fones de ouvido, a voz dele parecia ainda mais poderosa, sua força multiplicada pela presença do silêncio. Como era possível que ele pensasse que sua voz não estava boa o suficiente para as gravações? Era simplesmente inconcebível.
Me passou pela cabeça repentinamente, que a voz dele realmente parecia melhor hoje do que no primeiro dia de ensaio, e esse pequeno fato apenas juntou-se aos outros que eu já possuía em mente, e que formavam juntos a teoria que eu tiraria a limpo de qualquer forma.
Quando a canção finalmente terminou e Duo suspirou longamente, retirando os fones de ouvido, aproveitei para cruzar meus dois braços na frente do peito e esperar pelo momento no qual ele viraria para assimilar a minha presença no cômodo.
Fui recompensado segundos depois com uma expressão de completo espanto na fase de Duo, e suprimi um sorriso de vitória que ameaçava escapar meus lábios diante da surpresa que eu tinha provocado.
Esperei alguns segundos e então parti para a pergunta que vinha rondando meu cérebro desde o primeiro ensaio do qual havíamos participado juntos. 'Qual é o seu maldito problema , Maxwell?'
Assisti o exato momento no qual espanto passou a lentamente tornar-se indignação, e Duo finalmente abriu a boca para falar. 'O quê ?', ele perguntou. Uma pergunta curta, mas válida, ponderei.
'Eu perguntei qual é o seu problema. Ou você é surdo também?', repeti, mantendo meu tom de voz baixo e controlado, tentando arrancar dele a resposta que já esperava ouvir.
'Olhe aqui Yuy...', ele começou, finalmente recuperando-se completamente do choque, deixando agora que a indignação tomasse conta por completo.
'Olhar o quê? Você tem certeza que quer dirigir a palavra pra mim Duo? Não tem mais ninguém da banda aqui hoje para conferir se eu vou me comportar ou não.', continuei em um tom sarcástico, que eu tinha certeza que ele compreenderia com clareza.
Um rastro de surpresa passou pelo rosto de Duo, e em seguida sua face adotou uma expressão de resignação amarga. 'Certo. Eu vejo que você descobriu então...', ele falou, olhando para o chão.
'Eu vivo com esses caras a anos, eu praticamente posso ler a mente deles', respondi.
'Infelizmente, ler mentes não é uma capacidade que ajuda em muita coisa nesse exato momento, Heero', ele retrucou, levando a conversa exatamente para aonde eu queria que ele fosse.
'Na verdade é um dom um tanto quanto inútil quando se está lidando com você ', respondi, um pouco de amargura entrando em meu próprio tom de voz sem que eu tivesse solicitado. 'Você conversa com meus amigos e os convence a virem te 'cobrir' durante os nossos ensaios. Você finge que sua voz está ruim para cantar com perfeição somente quando eu não estou presente. Que tipo de idiota você pensa que eu sou afinal ?', terminei, meu tom de voz inconscientemente subindo.
O rosto de Duo ficou completamente em branco. Tenho a impressão de que talvez ele não estivesse esperando essa pergunta partindo de mim. Porém, ele recuperou-se, dirigindo-me uma pergunta que eu também não esperava.
'Eu não sei Heero, eu sinceramente, não sei. Por que VOCÊ não me conta que tipo de idiota você é? Por que eu não consigo descobrir.', ele falou, olhando diretamente em meus olhos, dizendo-me silenciosamente que aquilo não era uma tentativa de briga, e sim, uma pergunta de verdade.
Mas não pude evitar de ficar confuso. 'O quê?', perguntei de volta, não realmente respondendo com clareza.
'Eu quero honestamente saber que tipo de pessoa você é.' , ele falou, seu tom de voz estabilizando-se enquanto ele dava um longo suspiro. 'Primeiro, você simplesmente me ignora, agindo como se eu fosse algum ser invisível, ou como se você não me conhecesse. E então de um dia para o outro, você magicamente assimila a minha presença, e mais, você passa a me tratar de forma civilizada, até concorda com as coisas que eu proponho...'
Eu estava ouvindo, e tentando identificar exatamente qual parte daquele relato era para ser supostamente estranha. Meu rosto provavelmente exibia uma expressão que gritava 'E daí?', por que foi exatamente esta a exclamação que Duo respondeu em seguida, sem que eu sequer a tivesse verbalizado.
' E daí, que eu não sei mais como agir a sua volta. Antes eu podia ser eu mesmo, já que isso não fazia qualquer diferença, mas agora...' – ele hesitou, olhando para mim e meus olhos exigiram que ele terminasse o que havia começado – '...mas agora você me trata como um ser humano de verdade, e eu gostaria de evitar que você voltasse a ser o que era antes. Satisfeito?', ele terminou, e eu podia sentir em seu tom de voz que aquela pequena confissão havia lhe custado um bocado.
Deixei que aquelas palavras rodassem em minha mente por alguns instantes, considerando-as cuidadosamente.
Eu sabia que havia sido um cretino com Duo - isso já havia ficado bem claro no momento em que eu fora lançado contra a parede do estúdio. O que eu não sabia, era que a minha mudança de comportamento fosse surpreendê-lo tanto.
Talvez fosse hora para uma pequena confissão de minha própria parte. Seria odioso ter de fazê-lo, mas um pequena voz em meu cérebro me dizia que, de alguma forma, eu devia isso a Duo. Por mais desagradável que isso fosse.
'Veja Duo, eu sei muito bem que não fui a melhor das pessoas com você durante nossos primeiros dias...', comecei.
'Rá, pode ter certeza disso.' , ele exclamou interrompendo, cruzando os braços sobre seu peito, a hesitação prévia da semana, completamente esquecida.
'Porém...', continuei, fingindo não ter ouvido suas palavras, ' uma vez que percebi que você não era exatamente o que eu pensava que fosse, e que...' – minha voz baixou um tom, tornando-se muito suave diante do que eu estava prestes a dizer – '...eu havia te julgado mal precipitadamente...decidi que podia te dar uma chance, e foi isso o que combinamos. Que nós dois conviveríamos, pelo bem da banda, lembra-se ?'
Duo pareceu completamente incrédulo diante de minha declaração.
Essa reação me deixou confuso. 'Você não se lembra?', perguntei, recusando-me a acreditar que ele teria sido capaz de esquecer.
Minha pergunta trouxe-o de volta a terra firme. 'Mas é L"GICO que me lembro Heero, é só que...'
'Só que o que?', foi minha vez de interromper bruscamente.
'Só que eu não pensei que você fosse levar aquilo a sério.', ele respondeu calmamente, como se fosse a resposta mais óbvia possível diante da charada para a qual ambos havíamos sido tragados repentinamente.
Agora EU estava incrédulo. Duo havia fechado um trato comigo, e mesmo assim, ele não acreditava na minha capacidade de levar aquilo adiante? O que ele pensava que eu era afinal?
Antes que pudesse perguntar qualquer coisa porém, ele continuou. 'Me desculpe por isso Heero, é apenas que...' – ele parou, olhando para o chão e em seguida olhando diretamente para mim, como que em um desafio mudo para que eu discordasse do que ele estava prestes a dizer – '...não foram muitas as pessoas nesse mundo que me deram razões para que eu confiasse nelas. E isso inclui palavras.'
Esta era uma afirmação com a qual eu podia simpatizar. Afinal, atualmente eu conseguia contar exatamente nos dedos de uma mão, as pessoas nas quais eu confiava.
Provavelmente balancei minha cabeça em afirmação, por que Duo continuou sem que eu tivesse dito qualquer coisa.
'Veja, eu também te julguei mal, e acho que isso faz com que fiquemos quites.' Duo então estendeu sua mão para mim, e olhou diretamente em meus olhos.
'Você acha que pode passar por cima disso e, digamos, assinar uma segunda via de nosso trato?' , ele perguntou, mão ainda estendida, e olhos ainda completamente fixos nos meus, em um sorriso sarcástico que mais tarde eu descobriria ser uma das mais marcantes características que Duo possuía.
Em poucos segundos, avaliei a situação a minha frente. Ele estava diante de mim, admitindo seu erro, e isso sem dúvida tinha um valor. Além do mais, eu já estava convencido a trabalhar com ele pelo bem da banda, antes mesmo dessa discussão tomar lugar.
Porém, acima de tudo, havia naquele gesto a implicação clara de que Duo estava colocando sua confiança em mim, e uma voz em minha mente – uma voz que estranhamente tomava mais força a cada dia – me dizia que aquilo era um desafio que eu podia enfrentar. Duo poderia confiar em mim.
Estendi minha mão na direção da dele em resposta, e fechamos os punhos silenciosamente. Não havia mais o que ser dito, agora tudo estava em aberto.
Quando nos separamos, senti minha mão formigar por alguns momentos, mas essa realização foi interrompida por um longo, e aparentemente aliviado, suspiro que partiu de Duo.
Ele espreguiçou-se longamente enquanto dizia, 'Bem, eu acho que não há mais nada a ser feito aqui hoje.'
Concordei com a cabeça. 'Eu suponho que não.'
'Então vamos para a casa, e, a partir de amanhã podemos começar a ensaiar a música. Está bom para você?', ele perguntou.
'Sem problemas.', respondi, sem poder deixar de notar internamente, a enorme diferença que havia em sua voz e ações uma vez livres de hesitações.
Terminamos de recolher nossas mochilas e arrumar o estúdio em silêncio, e antes de partirmos, um para cada lado, Duo olhou por trás de seu ombro, com uma de suas mãos jogadas para cima em cumprimento e despediu-se. 'Até amanhã.'
'Até amanhã.', respondi, menos entusiasticamente. Então lembrando-me de algo, virei-me rapidamente e gritei em sua direção. ' E Duo...'
Ele virou na direção de minha voz. 'O quê?'
'Eu não quero mais ver os outros rapazes no ensaio de voz.', gritei, dando as costas para a figura trançada, e andando na direção do ponto de ônibus.
'Certo', ele respondeu com uma risada. E com isso ambos tomamos nosso caminho naquele dia sem olhar para trás.
Os ensaios da semana seguinte foram infinitamente mais produtivos. Duo passou a concentrar-se unicamente em sua voz, e isso gerou uma melhora palpável na performance de nossa canção.
Ao mesmo tempo, os ensaios de som também haviam atingido níveis muito bons. A essa altura , eu e os demais rapazes já estávamos completamente familiarizados com a nova música e seu arranjo definitivo, e passamos então para o estudo de novas melodias que já estavam sendo compostas por todos nós, com a ajuda de Duo, que continuava a freqüentar os ensaios da banda.
Durante a última semana de ensaios antes da gravação, eu já havia sido liberado dos ensaios de voz, mas continuava a participar destes mesmo assim.
Eu podia dizer com toda a certeza que meu próprio desempenho havia aumentado, mas tinha ainda de admitir que gostava de acompanhar o processo pelo qual nossa criação estava passando, tornando-se a cada dia que passava algo mais belo e próximo do real.
No último dia daquela semana, uma sexta-feira cinzenta e chuvosa, fomos todos dispensados por Treize mais cedo. Ele havia nos dito que não havia a necessidade de mais ensaio agora, que a gravação estava tão próxima de acontecer e depois de nosso exaustivos esforços durante os últimos tempos.
Na semana seguinte, gravaríamos, e depois disso, continuaríamos numa nova jornada de apresentações teste para promover o novo single, e de gravação das demais músicas do disco, caso a primeira tornasse-se um verdadeiro sucesso.
Eu podia sentir uma nuvem de borboletas dançando em meu estômago quase constantemente, e imaginava se meus companheiros de banda sentiam o mesmo. Eu estava praticamente certo que sim.
Pegamos nossos equipamentos e saímos juntos em direção a saída. Ao chegarmos na porta do estúdio, despedi-me de meus amigos, acenando para Wufei que saiu usando uma longa capa em cima de sua bicicleta e para Trowa e Quatre que saíram dividindo um único guarda-chuva.
A cena chamou minha atenção para o fato de que eu havia esquecido o meu próprio guarda-chuva dentro do estúdio.
Retornei a sala, entrando suavemente para recuperar meu objeto esquecido, e dei de cara com a mais improvável das cenas.
Duo estava sentado a frente do grande piano, uma partitura a sua frente, na qual ele fazia rabiscos com um lápis em sua mão.
'Você toca piano?', perguntei, o tom de minha voz retirando Duo de seu estado compenetrado.
'Ah sim, eu toco um pouco. Nada extraordinário, apenas o suficiente para me ajudar nas melodias.' Ele respondeu, parecendo levemente envergonhado. ' E por que você voltou Heero?'.
'Eu voltei para pegar meu guarda-chuva, mas...', hesitei, sentindo minha face corar um pouco, completamente fora de meu controle, 'Eu posso te ajudar com a melodia... se você quiser.'
'Mas é claro.', Duo respondeu com um grande sorriso, abrindo espaço para mim no banco do piano, para que eu sentasse junto a ele.
Neguei essa oferta silenciosamente puxando uma cadeira que coloquei a seu lado,sentando-me nesta e pegando as partituras em mãos para verificar o progresso que ele já havia feito.
Até hoje, não sei explicar o que me impulsionou a ajudar Duo naquele momento, tudo o que sei, é que naquela noite, passamos algumas horas trabalhando na introdução de uma música que possuía um grande potencial.
Após algum tempo, e satisfeitos com nosso trabalho, resolvemos deixar o estúdio. Afinal, precisávamos de repouso para finalmente gravar na semana seguinte.
Pegamos nossas coisas e nos dirigimos à porta do grande estúdio. Uma vez do lado de fora aonde a água ainda caia do céu sem piedade, notei que Duo não possuía um guarda-chuva em mãos.
Meu cérebro debateu por alguns segundos sobre a idéia de oferecer-lhe uma carona debaixo do meu, mas antes que eu chegasse a uma conclusão sobre isso, ou mesmo sobre o por quê de eu estar querendo fazer essa gentileza, Duo moveu-se do meu lado, colocando sua mochila sobre a cabeça e correndo a toda a velocidade na direção na qual ele sempre tomava.
Olhei suas costas movendo-se para longe por um momento, e antes de desaparecer na escuridão causada pelo início da noite e pela chuva, o corpo movimentou-se rapidamente na minha direção, e Duo jogou uma de suas mãos para cima, em seu usual modo, gritando para mim.
'Até amanh', ele disse, voltando a correr rapidamente.
'Até amanh', gritei de volta, não ousando quebrar aquilo que já havia inconscientemente tornado-se um ritual entre nós.
Abri meu guarda-chuva em seguida, e sai andando pela rua.
Ao mesmo tempo, tentei acalmar as borboletas em meu estômago. Essas que, em certos momentos estranhos como esse, decidiam que era uma boa idéia dançar algo mais drástico, como tango, por exemplo.
Eu esperava que elas parassem logo com esse hábito irritante.
Fim do Capítulo 3
[1] Single: esse termo é bastante conhecido, mas resolvi explicá-lo só por segurança. O single é o nome dado as músicas que as bandas lançam. Toda vez que uma banda ou artista qualquer lança uma música nova no mercado, ele lança um single. No Brasil, não existe o hábito de lançar pequenos cd's que contém apenas uma música de um determinado artista – ou seja, um cd que , por exemplo, a pessoa que gosta APENAS daquela música pode comprar, para não ter de comprar o cd inteiro – mas no resto do mundo, essa é uma prática comum. Esses cd's de uma música só, também são chamados de single. Eu uso o termo com freqüência, e espero que ninguém se confunda "
Agora...por que eu tive a idéia cretina de fazer esse fic em Heero POV? Heero POV é tão complicado...ai,ai....pelo menos estamos caminhando...devagar e sempre...hehehe "
