Super Drive
Avisos:- Heero Pov , AU, tentativa de humor (como sempre "), Fluflly, Sap, Presença de Baterias, Baixos, Guitarras e todas essas coisas boas
Casais:- futuramente, 12, possível 34 (mas não vou garantir)
Spoilers:- Nada! Esse fic é spoiler-free.
Disclaimer:- Ontem, eu e Duo fomos a uma loja de guitarras para testar os equipamentos. Nos empolgamos com algumas delas e no final de nosso pequeno show, quebramos nossos instrumentos como autênticos roqueiros que somos. Mas as guitarras não eram nossas, e eram muito caras...$$, tão caras que eu tive que vender meus direitos autorais para poder pagar o estrago ...portanto, por mais que eu tenha me divertido, eu ainda não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente TT)
Quanto ao fic:- Ok, antes que alguém fique confuso, vamos a umas poucas informações que vem muito a calhar. Isso NÃO é uma songfic. Pronto, isso já ajuda bastante. Quem conhece o meu estilo de escrita sabe que eu utilizo as músicas apenas e tão somente como base para nomes dos fics, e também como meu esqueleto pessoal que pode ou não (como muitos de vocês já puderam notar) ser coerente com o conteúdo do capítulo. Eu sempre uso um parágrafo da música logo no inicio da fic, e esse padrão repete-se aqui. A diferença que ira apresentar-se nesse fic em particular, é que em muitos capítulos letras de OUTRAS músicas irão aparecer no meio da trama. Não se engane, nenhuma dessas será a musica que nomeia o fic. Essas outras musicas são parte IMPORTANTE da trama, razão pela qual eu estarei colocando a tradução delas no pé de página dos respectivos capítulos nos quais elas aparecerem.
Acredito que isso deixe a questão esclarecida.
Em mais uma pequena nota, eu estarei usando a versão traduzida da música "Super Drive" nos trechos que utilizo no início da fic, simplesmente por que eu sei que muito mais gente é capaz de entender inglês, do que japonês (língua original da música). Ufa! " já chega né?
...e é claro que a música "Super Drive" não me pertence TT
Esse capítulo vai dedicado especialmente para DarkWolf 03 - certamente a fã mais calorosa de 'Super Drive'. Me desculpe amiguinha, eu sei que o atraso foi grande. Mas espero que esse capítulo de alguma forma te compense. Obrigada pelo apoio
Vai dedicado também MUITO especialmente para a mamy Evil, já que hoje é aniversário dela, e também por que eu a amo muito. Você é TUDO DE BOM mamy
"No, wanna sell your soul
In this world of fairy-tales,
No, forget smile again
I just want to keep on sleeping forever..."
"Não, quero vender minha alma
Nesse mundo de contos de fadas,
Não, esqueça sorria de novo
Eu só quero continuar dormindo pra sempre..."
Um espectador poderia pensar talvez, que depois de meu gesto de surpreendente gentileza para com Duo naquela estranha noite chuvosa a três semanas atrás, diante das circunstâncias dessa aproximação - um tanto quanto tímida, mas mesmo assim notável, na minha opinião – que nosso estranho 'relacionamento' , apesar de eu ainda achar essa palavra muito forte para descrever o que temos, estava finalmente dando um passo a frente. Talvez saindo da área em que pulávamos no pescoço um do outro gritando 'morte' em cada novo encontro e entrando numa área mais civilizada, aonde nos cumprimentávamos, éramos capazes de socializar em outros grupos de uma forma saudável e até mesmo fazer pequenos favores, em ocasiões.
Talvez sim, talvez não.
Depois daquilo, tivemos de ensaiar apenas mais alguns poucos dias antes de entrarmos definitivamente em estúdio, e nesses encontros, Duo jamais citou uma palavra sequer a respeito de seu aparente hábito noturno de tocar piano ou a melodia que agora estávamos compondo juntos. E se ele não tinha qualquer comentário a fazer, certamente EU também não o faria.
Isso nos colocou nessa estranha situação aonde possuíamos esse tipo de segredo pairando entre nós dois.
Se isso realmente nos aproximou, e se tal fato era aparente diante aos olhos de todos... não saberia dizer com certeza. Mas as chances de que qualquer um me pergunte sobre isso são ridiculamente remotas. Afinal de contas, as únicas pessoas que convivem diretamente junto a Duo e eu, são os rapazes da banda e nosso empresário.
Agora que parei para pensar, é até um pouco estranho que nenhum deles tenha trazido o assunto a tona, uma vez que por bem ou mal todos estão envolvidos nele...
De qualquer forma, realmente não os culpo por não estarem pensando em assuntos secundários durante os últimos tempos pelos quais temos passado.
Os vinte últimos dias foram...difíceis. Estranhos. Agitados. Altamente estressantes. Desgastantes. E ao mesmo tempo, maravilhosos.
Há apenas duas semanas, e pela primeira vez, entramos em estúdio para gravar definitivamente nosso primeiro single. O Sr. Kushrenada nos levou a mesma gravadora na qual havíamos ouvido Duo cantar pela primeira vez e naquele local assistimos enquanto nossa música literalmente ganhou vida pelas nossas mãos, e as do operador de uma gigantesca mesa de mixagem, aonde luzes piscavam e ele apertava pequenos botões sem nem mesmo olhar para eles mais de uma vez.
Quero que fique absolutamente claro que um processo de gravação é extremamente cansativo. Cada um de nós tocou separadamente algumas vezes, e depois, mais uma certa quantidade de vezes como um conjunto. Inicialmente, nos encontrávamos um pouco nervosos. Lutando contra a incerteza e possibilidade de que tudo pudesse chegar a um fim prematuro naquele exato local, caso um de nós – ou todos nós – falhássemos. Tivemos de usar como única arma a nosso favor, a certeza de que éramos músicos extremamente capazes e talentosos, caso contrário, não teríamos chego até ali em primeiro lugar.
Parece algo fácil de se concretizar quando você olha metodicamente para a situação. Estando dentro dela, posso dizer que nem tudo é tão simples assim.
As gravações individuais foram difíceis. Inicialmente nenhum de nós sentia-se completamente confortável tocando a melodia sem qualquer outro tipo de acompanhamento além de nossos próprios instrumentos sozinhos. Parecia de alguma forma... estranho, tocar aquela melodia sem mais ninguém. Como se em algum nível estivéssemos traindo a verdadeira essência da música ao não deixar que ela alcançasse o seu desempenho e esplendor máximo.
E sim, nós nos apegamos completamente a esse primeiro single. De um dia para o outro, a música havia sido envolta em um tipo de 'aura', como se tivesse sido colocada em uma redoma de cristal criada por nós mesmos e plenamente reconhecida por todos. Não pergunte. Eu mesmo não sou capaz de explicar como aconteceu.
Depois de algumas gravações solo e mais algumas tantas em grupo, todas assistidas e acompanhadas de perto por Treize e Duo através de uma gigantesca janela de vidro que dava para a sala de gravação, fomos chamados pelo operador da mesa para verificar a versão definitiva da melodia.
A canção ficou...muito boa. Realmente muito boa. Mas ainda...faltava alguma coisa. Alguma coisa grande. Essencial. E eu soube, olhando para os rostos de meus companheiros no momento em que ouvíamos nossa gravação, apesar dos sorrisos que eles exibiam – esses, variando de um pequeno movimento de lábios , no caso de Trowa, até uma perfeita vista de todos os dentes da frente, no caso de Quatre – que eles sentiam exatamente o mesmo que eu.
O sentimento de que nossa obra ainda não estava totalmente completa.
E eu não mais possuía a vergonha - ou mesmo a raiva - de admitir que Duo seria o responsável por trazer o último, e importantíssimo, elemento que completaria aquele processo. Posso ser uma pessoa um pouco difícil de se lidar, bastante teimoso, mas ainda não sou um completo idiota. E precisaria ser isso – ou talvez surdo – para não perceber e reconhecer que aquela música jamais seria a mesma se não possuísse dentro de si uma voz que terminasse de lhe trazer a vida. A voz de Duo.
Após concordarmos com pequenas alterações e ajustes na canção e depois de ouvir mais uma vez sua versão definitiva, foi a vez de Duo entrar em estúdio. A fase de gravação de vocal seria um pouco diferente, e quase havia me esquecido que, sendo o backing vocal, eu também teria de participar dela.
A estação de gravação de voz tratava-se de uma grande sala dividida em três partes. Em uma delas, o cantor principal ficava bem ao centro, junto a um grande microfone, enquanto os responsáveis pela gravação e mixagem ficavam num estúdio adjacente. Os responsáveis pelo segundo vocal ficavam numa terceira parte, todas as três sendo separadas apenas por janelas de vidro.
Duo parecia completamente apavorado antes de entrar naquela sala. Eu entrei primeiro, e tomei minha posição no compartimento que ficava em suas costas – uma vez que dessa forma, ambos ficariam encarando o operador da mesa de gravação assim como o empresário e o restante da banda, que ficariam assistindo ao processo do outro lado da maior janela de vidro do complexo inteiro e dando possíveis indicações.
Minha posição permitia ver a maneira quase robótica com a qual Duo adentrou e posicionou-se no estúdio. Eu podia até mesmo ver os músculos endurecidos e repuxando por debaixo da camiseta que ele usava, e que grudava levemente em suas costas.
O nervosismo de Duo de alguma forma suavizou o meu próprio. Apesar de todos os ensaios e repetidas semanas de exercícios e treino pelas quais eu havia sido submetido, no fundo, não tinha tanta certeza de que minha performance seria perfeita. E eu queria – precisava – que essa performance fosse perfeita.
Eu me sentia absolutamente ridículo por estar duvidando de minha própria capacidade, mas ao mesmo tempo, era algo que simplesmente não podia evitar. Nenhum de nós podia, e tinha certeza de que todos os outros rapazes compreendiam exatamente a forma como me sentia, e compartilhavam o mesmo sentimento comigo.
Diante disso, e naquele exato momento, tudo o que podia fazer era torcer para que Duo fosse capaz de passar por cima de seu nervosismo e insegurança , e dar o melhor de si. Se ele fosse capaz de fazê-lo, eu sabia que de alguma forma seria capaz de jogar os meus próprios fantasmas pela janela e dar o melhor de mim em contraposto.
Duo não nos decepcionou.
Assim que a melodia chegou a nossos ouvidos através dos grandes fones que usávamos, e antes de fechar meus olhos para sentir a música e apagar por completo toda e qualquer interferência de fora que pudesse me distrair da tarefa de acompanhar a voz de meu companheiro em momentos que eu sabia de cor depois de infinitas horas de ensaio, a última coisa que vi foram as costas de Duo, subindo e descendo lentamente em um longo suspiro.
Depois disso, não me lembro de mais nada.
Cantar de olhos fechados é uma experiência mais intensa do que a maioria das pessoas acredita ser. Se você realmente cantar, REALMENTE se entregar de corpo e alma a música, nem sequer perceberá o exato momento no qual o restante do mundo simplesmente desaparecerá, fazendo com que não reste nada além de você e a canção que preenche tudo nesse espaço particular.
Durante toda a gravação, permiti-me sair desse pequeno universo uma única vez, durante um rápido trecho em um solo de guitarra, no qual abri meus olhos apenas para captar o exato momento no qual Duo virou-se na minha direção, trança dançando atrás de si com a força do giro, para me dar um pequeno sorriso e um sinal de positivo. Respondi o sinal com um breve aceno com a cabeça, que se perdeu no momento seguinte, quando voltei a fechar meus olhos e ele virou-se ao mesmo tempo, e ambos voltamos a cantar nossas respectivas partes.
Quando o processo finalmente terminou depois de mais algumas tentativas, a banda inteira estava visivelmente física e emocionalmente esgotada. Treize nos avisou que a mixagem de voz levaria um pouco mais de tempo, e nos liberou para que fossemos para casa descansar um pouco.
Caminhamos em completo silêncio até o ponto de táxi do lado de fora do estúdio e nos dividimos em três carros, Quatre em um, Duo em outro, Trowa, Wufei e eu em um terceiro, e cada um deles partiu em direções diferentes, sem que trocássemos mais do que alguns sorrisos cansados e acenos.
Me despedir brevemente de Wufei no elevador, abrir a porta de meu apartamento e retirar a mochila das costas antes de cair solidamente contra minha cama foram as últimas memórias claras que tive daquele dia.
Fui acordado na manhã seguinte pelo som da campainha tocando incessantemente, e levantei-me de minha cama completamente irritado e pronto para rosnar todo tipo de obscenidade diante da figura insolente que ousava bater na minha porta a essa hora.
Isso tudo antes – obviamente - de perceber que já eram duas e meia da tarde, e antes também de poder ver Trowa alcançar a porta antes de mim, e abri-la amplamente para revelar a presença de Quatre , exibindo um sorriso que ameaçava partir seu rosto em dois, Duo, que parecia estranhamente desconfortável ao seu lado, e Wufei, que certamente havia sido acordado apenas alguns momentos antes de nós, a julgar pelo seu estado igualmente desarrumado e...amassado. Ele, Trowa e eu estávamos usando as mesmas roupas do dia anterior.
O chinês deu o primeiro passo para dentro do apartamento, jogando-se sem cerimônia sobre o sofá e esfregando os olhos em movimentos lentos e aparentemente um pouco duros. Ele realmente havia acabado de acordar e sorri levemente divertido diante da revelação de que Wufei, assim como Trowa, não parecia ser exatamente uma pessoa 'das manhãs'.
Quatre entrou em seguida puxando Duo levemente pelo braço como se este não fosse capaz de movimentar-se por vontade própria para dentro do cômodo. Agora do lado de dentro, ele parecia ainda mais desconfortável e alguma coisa em sua postura, juntamente a um quase imperceptível brilho rosado em suas bochechas, me dizia que talvez ele estivesse sentindo-se um pouco como um estranho no ninho, estando pela primeira vez em um local com o qual todos os outros já estavam plenamente acostumados e familiarizados.
Indiquei acenando com o dedo o grande sofá do centro da sala enquanto fechava lentamente a porta e quando virei-me novamente, encontrei Duo ainda parado, basicamente na mesma posição em que estivera segundos atrás. Olhei instintivamente para a direção que ele olhava e vi Quatre e Trowa sentados no sofá. Trowa estava bocejando com uma mão tapando sua boca enquanto Quatre, sentado a seu lado, sorria enquanto ajeitava distraidamente os fios da franja de meu amigo, que naquele exato momento apontavam para todas as direções possíveis uma vez que ele obviamente não havia preocupado-se em penteá-la antes de encaminhar-se a porta.
Quando Trowa notou o que Quatre fazia, parou de bocejar e tirou a mão da boca esboçando um minúsculo sorriso sonolento. Diante disso, senti-me estranhamente como um intruso naquele momento que repentinamente parecia tão...intimo aos meus olhos. Virei-me rapidamente na direção de Duo – por falta de ter uma outra direção para a qual olhar – e vi que ele fazia o mesmo que eu. Wufei parecia completamente alheio a cena toda enquanto espreguiçava-se na poltrona ao lado do sofá como um grande gato persa.
Resolvi engolir a sensação um tanto quanto alienígena que a visão de meus dois amigos tinham me dado, e caminhei até o centro da sala, sentando-me em seguida no chão. Ouvi os passos de Duo atrás de mim, e em poucos segundos ele estava sentado também no chão, a minha frente, ao lado da poltrona aonde Wufei encontrava-se.
'Então', meu amigo chinês falou, 'qual o motivo dessa reunião tão repentina em plena as...' ele olhou para seu pulso apenas para perceber que não havia um relógio aonde um deveria estar. 'A essa hora?', ele terminou dando de ombros, obviamente sonolento demais para ligar para um detalhe tão pequeno.
Quatre manejou um sorriso maior do que o que havia exibido na porta de meu apartamento e em um simples gesto tirou um cd de dentro do bolso do casaco que usava. 'Está pronto!' ele falou com um floreio, rodando a mão diversas vezes antes de pousá-la na mesa de centro da sala, colocando o cd sobre o móvel.
Senti-me imediatamente acordado, e a rápida reação de Trowa e Wufei diante daquelas palavras – ambos jogaram-se para frente para olhar a inocente mesa – me dizia que o mesmo havia acabado de acontecer com eles. Quatre não precisava dizer mais nada que complementasse sua frase. Todos os presentes sabiam muito bem o que exatamente estava pronto.
Olhamos por algum tempo, talvez um pouco incrédulos, talvez um pouco temerosos, para aquele cd, mas ninguém falou qualquer coisa. A antecipação que caiu sobre o cômodo de um minuto para o outro era palpável o suficiente para ser cortada com uma faca. Aparentemente, nenhum dos cinco rapazes naquela sala sentia-se completamente pronto para finalmente tomar a atitude que iria nos dizer se o encanto que sentíamos por nossa música permanecia vivo ou se esse havia sido, de alguma forma, quebrado.
Por fim, Duo foi quem levantou-se olhando a sua volta e em seguida, tirou o cd do local aonde este estava, fazendo com que todos nós seguíssemos com olhos atentos o movimento do objeto até seu destino final dentro do aparelho de som que ficava do outro lado do cômodo.
E antes que qualquer coisa pudesse ser dita diante daquilo, a música começou a surgir dos alto-falantes do aparelho e espalhou-se pela sala toda, preenchendo o cômodo e nossas mentes com o brilho, surpresa, e a alegria semelhantes a de um ente querido repentinamente voltando para casa.
Ficamos parados em nossos lugares durante toda a canção, completamente maravilhados com o resultado. Se eu achava que a música era boa depois de presenciar sua primeira possível versão, e que tinha tornado-se muito boa ao fim da gravação de som, nesse exato momento, escutando a versão definitiva, eu não tinha palavras para descrever a beleza do que estava diante de nossos...bem, ouvidos.
Era simplesmente perfeito. E não pude conter a surpresa que senti ao ver a expressão de meus amigos mudarem ao reconhecerem minha voz ao fundo e me agraciarem com plenos sorrisos de aprovação. Quando a canção acabou, soltei um suspiro que nem sequer havia notado que estava segurando durante todo o tempo.
Quando estávamos novamente em silêncio, Quatre foi quem começou as comemorações praticamente gritando em excitação.
'Parabéns rapazes!' ele exclamou, atingindo a todos nós com sua alegria contagiante. Deixei-me cair para trás no chão em um gesto aliviado, e ri minha alegria em voz alta para quem quisesse ouvir. Eu simplesmente não conseguia evitar a felicidade que parecia espalhar-se por todos os poros de meu corpo, me preenchendo de uma forma que já não sentia a muito tempo.
Fechei meus olhos por alguns momentos suspirando de forma satisfeita, e quando os abri novamente tive a visão de Duo logo acima de mim, olhando para baixo na minha direção com um sorriso um pouco hesitante, trança caindo por sobre seu ombro e pairando acima de meus olhos.
'Parabéns Heero', ele falou finalmente, timidamente estendendo uma de suas mãos na minha direção para me cumprimentar.
Cedi a um impulso mais do que repentino e puxei-o pela mão para o chão ao meu lado aonde ele caiu em completa surpresa e estupefação. 'Parabéns Duo', respondi seu cumprimento, olhando para ele por um momento antes de voltar a olhar para cima, apenas a tempo de soltar todo o ar de dentro de meus pulmões ao mesmo tempo em que Wufei jogava-se sobre nós dois com um sorriso que tinha mais do que um toque de maligno.
'Parabéns caras!' ele falou de seu posto confortavelmente deitado sobre mim e Duo, e não pude conter a risada que escapou de meus lábios sem qualquer ordem. Notei que Duo também ria alegremente ao meu lado, também sendo esmagado pelo corpo de nosso companheiro chinês , mas isso também durou apenas até o momento seguinte, quando Trowa e Quatre respectivamente juntaram-se a diversão jogando-se sobre Wufei e efetivamente me transformaram numa mancha no carpete enquanto todos riam descontroladamente.(1)
Ficamos assim por apenas algum tempo antes de todos levantarem-se para que pudéssemos nos cumprimentar de verdade. Naquela tarde, comemoramos almoçando todos juntos em uma pequena lanchonete próxima ao nosso estúdio de ensaios, aonde teríamos uma reunião com Treize um pouco mais tarde.
Nosso empresário nos parabenizou longamente por nosso resultado e anunciou que as próximas semanas seriam as mais difíceis que teríamos de enfrentar até então. O single seria oficialmente lançado em circuito nacional em apenas dez dias, e durante o mês seguinte, teríamos de enfrentar uma agenda de gravações e também de aparições promocionais que fariam com que nossos rostos ficassem o mais visíveis o possível ao público que queríamos atingir.
Essa era a parte do processo que menos me agradava. Eu não tinha qualquer problema em fazer shows , na verdade, a perspectiva era muito excitante , uma vez que finalmente poderíamos ver a química da banda em palco, diante de um público. Mas as aparições em programas de televisão e revistas, por outro lado, me incomodavam um pouco. Eu não sabia se estava realmente pronto para esse tipo de exposição deliberada.
Fomos informados para retornar para casa e descansar, já que no dia seguinte estaríamos sendo apresentados para uma rotina completamente nova de ensaios e apresentações.
Por alguma razão, passou por minha mente rapidamente a idéia de que, entre todos, talvez Duo fosse o membro da banda que mais receberia trabalho sobre seus ombros, afinal, algumas músicas do cd - cerca de quatro ou cinco - ainda precisavam ser terminadas, algumas nem sequer haviam começado a ser compostas. Lembrei-me repentinamente da canção que havíamos começamos a compor juntos apenas algumas semanas atrás.
Joguei esse pensamento para longe e peguei minha mochila, acompanhando os rapazes para fora do estúdio e torcendo internamente para que daquele momento em diante as coisas continuassem caminhando na boa estrada em que vinham até então. Sim, as coisas iriam ficar um pouco mais complicadas, mas se havíamos chego até ali, não iríamos parar agora que estávamos tão a frente em nossos planos.
E assim, com um objetivo e muito trabalho para preencher todos os momentos em que permanecíamos acordados, as duas semanas seguintes passaram como um verdadeiro borrão diante de nossos olhos.
Não podia deixar de notar que depois do sucesso da gravação de nosso single e com a contagem de dias para a data de lançamento chegando a seu fim eminente, que havíamos pouco a pouco ganho um bocado de confiança. A banda agora parecia visivelmente mais segura quanto a seu próprio talento, e como isso tudo parecia tão claro a meus olhos de repente? Não sei se conseguiria explicar propriamente.
Talvez seja o fato de que eu já convivia com esses caras a um bom tempo agora, e conseguia notar esse tipo de mudança por mais sutil que ela fosse. Talvez fosse por que parecíamos mais empenhados em fazer o que já estávamos acostumados a fazer a tanto tempo. Talvez fosse por que agora existia um prazer maior em tirar som dos instrumentos e vê-los unirem-se a uma voz incrivelmente compatível com a beleza destes. Talvez eu fosse um romântico e tudo isso acontecesse só dentro da minha cabeça, ok?
Mas o fato é que realmente me sentia mais próximo de todos os rapazes. Mesmo de Duo, a quem eu pensara ter uma repelência natural no início, com a qual havia aprendido a lidar lentamente, muito lentamente.
Talvez essa estranha proximidade tenha sido a principal responsável por eu perceber que alguma coisa estava acontecendo precisamente com Duo nos últimos tempos. Eu provavelmente não seria a melhor pessoa para fazer esse tipo de julgamento, mas a verdade é que nos últimos dias ele parecia...introspectivo? cansado? Melancólico até. A verdade é que, por mais idiota que essa afirmação possa parecer, ele parecia ter perdido um pouco daquela aura eternamente alegre que o cerca.
Por muito tempo isso fora tudo o que eu mais desejei que acontecesse, mas agora que havia realmente acontecido.... me incomodava.
Observei meu companheiro de banda por algum tempo a fim de tentar chegar a alguma conclusão sobre minhas suspeitas, mas o comportamento dele não mudou o suficiente para que alguma coisa pudesse ser apontada como anormal nas coisas que ele fazia. E sim, ninguém precisa repetir para mim o quão estúpido de minha parte era gastar mesmo minutos que fossem em uma minuciosa observação do comportamento de Duo Maxwell. Eu mesmo já sabia o quão patético era essa atitude, mas o fato é que me encontrei realmente curioso diante daquela situação.
Tive uma certa confirmação de minhas suspeitas numa quarta-feira durante uma reunião com Treize. Fomos convocados a um almoço aonde ele e mais dois executivos da gravadora pretendiam fazer algum tipo de anúncio.
'Atenção meus rapazes', ele falou, batendo suavemente com uma pequena colher de sobremesa em seu copo de vinho para chamar nossa atenção. 'O anúncio pelo qual chamei todos aqui hoje, é muito importante para o começo do futuro brilhante da Wings.', ele falou, sorrindo amplamente para os ocupantes da mesa. 'O que eu quero dizer é que a primeira aparição de vocês diante do público já tem data marcada. Vocês vão abrir um show no próximo sábado.', ele terminou triunfalmente, erguendo seu copo em brinde para dar efeito a sua declaração.
Ficamos absolutamente surpresos com a revelação, e um minuto depois da informação ser absorvida pela mesa , todos os seus ocupantes levantaram seus copos em comemoração. Em seguida Treize sentou-se a prosseguiu a nos contar os detalhes a respeito de nossa primeira apresentação.
Estaríamos abrindo o show das 'Garotas de Sank' , uma banda de rock contemporâneo formada apenas por mulheres e que, apesar do nome lamentável, tocavam muito bem e eram um estrondoso sucesso de vendas. E ser o ato de abertura dessa banda significava que tocaríamos para MUITA gente. Muita gente que não tinha ido aquele show para nos ver, e que logo, poderiam ser um público um pouco...difícil.
A primeira coisa que me passou pela cabeça foi o que diabos havia dado em Treize para jogar uma situação complicada como essa em nossas mãos justamente em nossa primeira apresentação. A segunda coisa foi que talvez ele pudesse ler mentes, já que suas palavras seguintes sanaram parcialmente minhas dúvidas.
'E rapazes,' ele falou após uma delicada golada de seu vinho, 'saibam que vocês foram especialmente escolhidos para esse apresentação depois que os demais executivos da gravadora ouviram o single de vocês. Eles acham que as chances de vendermos mais de cem mil cópias são altíssimas, e esse é um número mais do que respeitável para um primeiro single.'
Após essa afirmação, os executivos presentes prosseguiram a parabenizar-nos por nosso trabalho e explicar alguns dos detalhes sobre a escolha da banda de abertura para as 'Garotas de Sank'. Tais detalhes eram supostamente importantes, mas me encontrei bloqueando as palavras daqueles ilustres senhores desconhecidos para mim até então, para observar a movimentação de meus companheiros envolta da mesa.
Trowa estava sentado a minha frente, ouvindo atentamente e acenando com a cabeça em sinal de compreensão para seja lá o que estivesse sendo dito. Wufei estava a seu lado, seguido de Treize, e os dois estavam conversando paralelamente entre si em tons baixos. Do outro lado de Trowa estava Quatre, e foram as palavras dele, dirigidas a pessoa sentada em seu outro lado, que chamaram a minha atenção.
'Você está bem, Duo?', meu amigo loiro sussurrou, e olhei discretamente para Duo, sentado a meu lado, para descobrir a razão daquela pergunta.
Duo parecia visivelmente chateado, suas sobrancelhas estava franzidas e percebi que ele agarrava o garfo em sua mão direita com força o suficiente para dobrar o objeto em dois. Ele estava olhando para seu prato com uma mistura estranha de indecisão e ...tristeza? Eu não tinha certeza do que estava vendo naqueles olhos.
Alertado pela pergunta de Quatre, um sorriso entrou quase que imediatamente em seu rosto e por um momento fiquei espantado em perceber como ele era capaz de simplesmente colocar uma expressão dessas no rosto, como se tivesse acabado de retirá-la do bolso sem qualquer dificuldade. Por alguma razão essa atitude me incomodava.
'Eu estou ótimo Quatre, sem problemas', ele respondeu assegurando meu amigo, o sorriso firme como um prego em seu rosto. Então ele olhou para mim, como que sentindo meu olhar sobre sua figura, e o sorriso falhou por um momento infinitesimal antes de voltar completamente para seu lugar e ele soltar seu garfo sobre o prato, colocando os cotovelos sobre a mesa e apoiando a cabeça sobre esses. 'Hey Heero, isso tudo não é ótimo?'
'É, é sim' , respondi, saindo de dentro de meu transe de desconfiança e voltando minha atenção para o prato a minha frente e as palavras dos executivos a meu lado.
O resto do jantar transcorreu sem grandes problemas ou surpresas, e ficamos sabendo ainda durante aquela noite a respeito de nosso repertório – que incluía , além de nosso single, alguns covers de músicas famosas – e recebemos uma exaustiva e controlada agenda de ensaios que preenchiam completamente os últimos três dias que teríamos antes da apresentação.
Deixamos o restaurante algumas horas depois e todos pareciam extremamente excitados com o show. Wufei e Trowa animadamente discutiam a respeito de poses na hora dos solos, enquanto Quatre e Duo falavam a respeito de figurino. Eu ouvia silenciosamente os dois lados das conversas, abstraindo-me por alguns momentos do que se passava na cabeça de meus companheiros para olhar rapidamente no que se passava dentro de minha própria mente.
Era incrível a forma como as coisas repentinamente estavam acontecendo tão rápido.
Olhando para trás agora, parecia que uma eternidade havia passado até que finalmente tivéssemos chego a esse ponto, e agora que aqui estávamos tudo havia ficado tão...rápido.
E por mais que eu fizesse meu melhor para tentar controlar a passagem do tempo e a velocidade incrível com a qual as coisas estavam acontecendo a minha volta, descobri que simplesmente não era capaz de fazê-lo.
A prova irrefutável desse fato esfregou-se com um grito de triunfo na minha cara quando acordei de uma espiral interminável de horas e horas de ensaio e apreensão , para me descobrir no meio do sábado a tarde, faltando poucas horas para que entrássemos no palco.
Estávamos Trowa e eu dentro de uma sala, sentados em um sofá, apenas esperando pelo momento em que seriamos chamados para entrar no palco.
Eu me sentia um pouco estranho dentro da roupa que Quatre havia escolhido para mim, uma calça jeans que tinha mais rasgos do que tecido, sapatos de couro pretos e uma camiseta branca que era alguns números abaixo do meu. Segundo ele, boa parte da primeira impressão que passaríamos seria baseada em nosso visual, portanto, ele havia auto-denominado-se o estilista da banda. Os outros rapazes e eu simplesmente demos de ombro.
Trowa estava sentado ao meu lado, com uma roupa um tanto quanto parecida com a minha, com a diferença de que sua calça não era rasgada, e sim uma peça completamente negra, e ele usava uma camisa verde escura sem mangas. Eu tinha escutado Quatre falar algo sobre combinação com a cor dos olhos, mas não tenho certeza absoluta disso.
Por fim, Quatre e Wufei juntaram-se a nós, nosso companheiro estilista vestido numa calça social preta e uma camisa branca, com uma gravata propositadamente um pouco solta, e Wufei vestindo calças jeans azul escuro e um colete preto, sem qualquer outra peça por baixo.
E quando olhamos uns para os outros, a verdade é que realmente parecíamos com uma banda de rock.
Quatre dirigiu-se diretamente para uma das mesas em nossa sala, abrindo uma garrafa de água e tomando um longo gole. Wufei sentou-se em uma das cadeiras com suas baquetas em mãos, treinando alguns movimentos. Trowa permaneceu ao meu lado, distraidamente lendo uma revista que havia encontrado dentro do cômodo. Tudo que restou a mim para fazer, foi apoiar o pescoço contra o apoio do sofá e olhar para o teto da sala, concentrando-me em não ficar nervoso.
Mas isso só durou até o momento em que um rapaz entrou na sala, anunciando que entraríamos em dez minutos.
'Onde está Duo?' falou Quatre, num tom que imediatamente disparou algum tipo de alarme dentro de minha cabeça. Eu pensara que ele sabia.
'Ele não estava com vocês?', perguntou Trowa a meu lado.
'Não,' o loiro respondeu, sua voz tomando um tom de preocupação, 'ele disse que iria até os guarda-roupas e que depois se encontraria conosco, mas isso já faz,' ele olhou para seu relógio, 'quase uma hora. Aonde ele pode ter ido?'
'Fiquem aqui', uma voz respondeu, e levei alguns segundos para perceber que essa voz era minha e que estava me levantando de meu lugar. 'Eu vou buscá-lo lá fora. Vocês segurem Treize e o pessoal de apoio de palco por mais alguns minutos.'
Meus amigos assentiram, e sai daquele lugar como um raio, indo diretamente para os vestiários e de lá passando por todas as outras salas aonde Duo possivelmente poderia estar. Olhei cuidadosamente dentro de cada canto, mas não me dei o trabalho de chamar por seu nome, por que aqui, fora das salas, era possível ouvir claramente o público do outro lado aonde encontrava-se o palco principal, e o som dos gritos era praticamente ensurdecedor.
Voltei para meu ponto de partida a fim de chamar os outros rapazes para me ajudarem naquela busca e foi quando congelei em meu lugar vendo uma figura parada diante da porta do local aonde encontravam-se meus outros companheiros.
Duo estava parado na porta, usando uma calça de couro preta, uma camisa branca com diversos detalhes e fios soltos na parte da frente, e segurava um pequeno chapéu nas mãos, junto ao peito (2). Mesmo a distância, eu podia ver o movimento de seu peito subindo e descendo com a força de seus suspiros. Observei-o por alguns poucos instantes antes de caminhar lentamente em sua direção, tomando também alguns longos golpes de ar. Quando cheguei a seu lado, coloquei minha mão suavemente sobre seu ombro, mas mesmo a gentileza de meu toque não impediu que ele pulasse praticamente um metro do chão em surpresa e virasse bruscamente.
Quando seus olhos encontraram os meus , estes focaram nos meus por um momento antes dele abaixar sua cabeça e olhar para o chão como se esse fosse a coisa mais interessante do mundo. Esse pequeno instante porém, por menor que tivesse sido, fez com que eu pudesse ver algo. Algo que estranhamente despertou um certo sentimento de protecionismo dentro de mim.
Coloquei minha mão novamente sobre seu ombro, assim pedindo silenciosamente para que ele olhasse para mim, e quando seus olhos timidamente encontraram os meus novamente, apenas acenei com minha cabeça em sua direção, de uma forma extremamente semelhante aquela que tinha feito no estúdio, no dia em que havíamos gravado nossa primeira canção.
Dizendo-lhe sem palavras que tudo estava ok. Que ficaríamos bem. Que tudo ia dar certo.
Como tinha certeza disso? Na hora simplesmente tive.
Só posso dizer que de alguma forma sem sequer ter conhecimento disso, devo ter adquirido algumas habilidades na área de comunicação silenciosa, por que o brilho de reconhecimento nos olhos de Duo me disse que ele havia compreendido o que eu queria dizer, e com um aceno igualmente curto de sua cabeça, ele colocou o chapéu que tinha em mãos na cabeça, e entramos juntos na sala para ser recepcionados pelo restante da banda e da equipe de apoio, que praticamente nos arrastou para a entrada do palco com gritos de posições e ajustes finais.
Não tive sequer tempo de pensar que se eu havia compreendido a resposta de Duo apenas através de um simples aceno, era possível que ele também tivesse ganho alguns pontos extras no jogo da comunicação sem palavras.
Não me perguntem a respeito de pensamentos coerentes. Uma vez que você esteja atrás do palco, as vozes das pessoas gritando descontroladamente do outro lado, e as vozes pelos gigantescos alto falantes que ecoam por toda a parte anunciando o seu nome, apenas uma única palavra solitária passa pela sua mente: Showtime.
E assim foi conosco. As luzes brilhantes, os gritos entusiasmados,o som forte o suficiente para ecoar por todo o seu corpo. Isso é estar no palco. E as sensações te deixam de uma maneira que é simplesmente impossível de descrever. É surpreendentemente intoxicante, e quase ri diante da idéia que havia passado por minha cabeça algumas horas antes, de que talvez eu não fosse capaz de tocar diante do público.
A verdade é que não há como NÃO tocar. Uma vez lá em cima, você precisa tocar, o seu corpo sente a necessidade de tocar. É como se uma segunda consciência tomasse conta e não lhe deixasse outra alternativa além a de afundar no universo de luzes , vozes e som.
Eu já disse que é complicado de explicar?
Então sugiro que vocês não perguntem para Duo, por que se para mim a dificuldade de descrever aquele universo era imensa, eu não conseguia sequer ter idéia de como seria para ele.
Duo parecia possuído no palco. Uma outra pessoa, completamente diferente e ao mesmo tempo, indiscutivelmente...Duo. Ele movia-se por todos os lados, dançando, pulando, e estando em tantas partes ao mesmo tempo que a certa altura do show lembrei de ter me indagado rapidamente se era ele ou nós que estávamos nos mexendo. E a voz....a voz certamente estava por toda parte. Ela simplesmente parecia nos abraçar com sua força descomunal, e misturada aos sons de excitação do público, era absolutamente todo o combustível de que precisávamos.
Acredito que o termo do meio para essa capacidade é 'presença de palco', mas não estou completamente certo disso. A única coisa de que tenho certeza é que Duo foi fenomenal naquele dia, e que sua postura possivelmente ajudou grandiosamente para que a minha performance e a dos outros rapazes também tenha atingido seus picos. Não me lembro de um momento sequer no qual eu tenha olhado para meus companheiros de banda e não tenha visto um sorriso estampado no rosto de cada um deles. Tinha certeza que um desses também estampava o meu próprio rosto.
Depois de tocar cinco músicas conhecidas, encerramos o espetáculo com nossa canção, propositadamente deixada para o final para um tipo de 'retirada triunfal'. E foi somente depois do último acorde da última estrofe de nossa música e com os gritos da platéia sendo o único som que preenchia todo o espaço, que finalmente recuperei minha consciência completamente por tempo o suficiente para perceber os chamados de Quatre, indicando que era hora de agradecer e nos retirar de cena.
Curvamo-nos juntos em frente ao palco, acenando para o público enquanto este ia simplesmente a loucura. Retiramo-nos apressadamente a fim de dar espaço para a equipe que estaria organizando o palco para a atração principal, e mesmo enquanto nos distanciávamos, podia ouvir o som de vozes e palmas ecoando pelos corredores.
Fomos encaminhados para a sala que havíamos ocupado apenas cerca de quarenta minutos antes e a primeira coisa que fiz foi jogar-me contra o sofá, não confiando na força de minhas pernas para segurar o peso do corpo uma vez que a adrenalina do momento finalmente passasse.
A sala rapidamente foi preenchida por diversas pessoas que entravam e saiam cumprimentando-nos vigorosamente por nossa performance. Treize, os executivos do jantar de dias atrás dos quais o nome eu não conseguia me lembrar, alguns dos assistentes de palco. Até mesmo as estrelas do show principal passaram rapidamente por nosso camarim para trocar algumas palavras de encorajamento e parabenização.
Um simples olhar na direção de meus amigos me disse que todos eles sentiam-se tão prontos para sair dali quanto eu. Agora que o 'barato' causado pelo show estava lentamente deixando nossos sistemas, o cansaço estava tomando seu lugar, e a última coisa que qualquer um de nós queria era estar no meio de um bando de semi-estranhos no momento em que finalmente fossemos tomados pela exaustão.
Dirigimo-nos até uma pequena área reclusa e consideravelmente mais distante do palco, aonde conseguíamos ouvir as vozes um dos outros, e nesse ambiente, finalmente livres das pequenas obrigações sociais impostas a uma banda novata, pudemos finalmente parabenizar uns aos outros pela nossa primeira e incrível performance ao público. E a felicidade estava estampada no rosto de cada um.
Algum tempo depois, fomos chamados por Treize, convocando para que pegássemos nossas coisas e nos aprontássemos para as comemorações pós-show. Cada um de nós lentamente retornou e pegou suas mochilas aonde havíamos levado nossas roupas 'normais' e nos preparamos para partir.
Quando já estava pronto para deixar as instalações, olhei para trás a tempo de ver Duo sentado em um dos bancos do vestiário segurando o que parecia um pedaço de papel em suas mãos, um sorriso melancólico brincando em seu rosto.
Meus pés me levaram ao local aonde ele estava sem que eu lhes desse tal ordem.
'Tudo bem?', perguntei um pouco incerto, sentando-me ao seu lado esperando não estar interrompendo algum tipo de momento pessoal, por mais pessoal que um momento pudesse ser no meio de um lugar como aquele.
'Sim, tudo', ele respondeu, lançando-me um sorriso um pouco mais próximo daqueles que estava acostumado a presenciar e olhando-me por um momento como que avaliando se podia me dizer algo ou não. Permaneci a seu lado em completo silêncio. Se ele quisesse me contar alguma coisa, eu seria todo ouvidos, caso contrário, tudo o que ele precisava pedir era que me retirasse, e eu o faria num piscar de olhos.
'Ela,' ele me disse, virando a foto que segurava em suas mãos na minha direção, para que eu pudesse ver, ' foi quem me trouxe até aqui. Até isso.'
Olhei por algum tempo para a mulher na foto . Era uma moça jovem, de uns vinte e oito anos no máximo. Ela possuía longos cabelos loiros que emolduravam uma face em forma de coração e caiam por seu ombro, e olhos que sorriam para a câmera numa maneira que eu achava estranhamente familiar. Em seus braços, ela carregava uma criança igualmente sorridente, que aparentava ter quatro ou cinco anos no máximo, e possuía cabelos igualmente claros.
Uma olhada um pouco mais atenta me disse que a criança nos braços da jovem era Duo.
'É sua mãe?' perguntei, observando sua reação a minha questão para me assegurar de que não estava entrando em algum tipo de território proibido ou perigoso.
'É,' ele respondeu simplesmente, um pequeno sorriso saudoso em seus lábios. 'Ela completaria quarenta e dois anos hoje.' , ele completou, e essas palavras me fizeram compreender que sua mãe já não estava entre os vivos. Senti uma dor familiar constringir meu próprio peito.
'Eu...sinto muito.' Respondi, e ele assentiu levemente com a cabeça, como num gesto automático de quem já ouviu a mesma frase muitas e muitas vezes. Ficamos em silêncio por mais algum tempo, apenas olhando para a foto.
'Eu, queria ter podido visitá-la hoje', ele falou de repente, 'mas não havia como mudar a data do show, então...'
'Ainda dá tempo', respondi, compreendendo exatamente como ele se sentia, e tentando passar isso pelo simples tom de minha voz da melhor forma possível.
'Não, não tem problema', ele respondeu com um gesto, dando-me um pequeno sorriso compreensivo. ' Nós tínhamos o show, e eu tenho certeza que ela compreenderia', ele continuou. Acenei levemente com a cabeça, raciocinando que ele provavelmente estava certo.
'Eu só queria', ele disse , novamente interrompendo meus pensamentos, 'que esta noite tivesse sido perfeita. Para ela.' Ele suspirou então, deixando que sua cabeça caísse pesadamente sobre os ombros e as mãos sobre seu colo, obviamente exausto.
Antes de perceber exatamente o que estava fazendo, coloquei uma de minhas mãos sobre a suas, e sua cabeça levantou-se em choque, seus olhos buscando compreensão a respeito daquele gesto em minha face.
'Foi perfeito.' falei simplesmente, com muita sinceridade, antes de afastar minha mão novamente.
E de repente, segundos depois de reconhecer o brilho de pura felicidade passar pelo rosto de Duo, já não podia ver seu rosto por que ele havia jogado seus dois braços a minha volta em um abraço quase sufocante.
Fiquei chocado por alguns momentos simplesmente sem saber o que fazer, e quando finalmente senti os braços de Duo afastarem-se de meu corpo com a sombra da incerteza em seus gestos, instintivamente fechei meus próprios braços envolta de sua figura, mantendo-o exatamente aonde ele estava.
'Obrigado Heero, por...por...', ele falou finalmente, sua voz ao lado de meu ouvido contra meu pescoço, provavelmente buscando pelas palavras certas para me dizer o quanto aquilo era importante para ele. Resolvi lhe poupar do trabalho, sabendo exatamente por que ele estava me agradecendo.
'Por nada', respondi simplesmente afundando meu rosto no perfume delicado de seus cabelos, e ficamos abraçados assim por alguns minutos.
Durante esse momento, lembro-me de ter pensado o quão curioso era poder perceber que o tempo, que havia corrido num ritmo completamente frenético nos últimos dias de que tinha lembrança, parecia ter repentinamente parado naquele instante de paz quase surreal.
Uma única palavra que teimava em resumir os acontecimentos me passou pela cabeça.
Perfeito.
FIM DO CAPITULO 4
(1) Montinho de Gundam Boys! QUEM nunca sonhou em fazer parte desses levante a mão e será expulsa do fandom de Gundam Wing pra sempre hehehehe. Eu entrava num montinho desses fácil, fácil. E só por curiosidade, o Quatre ficou por cima por que é o mais fracote nyahaahah
(2) Qualquer coincidência a respeito da roupa do Duo e da roupa do Ryuichii de 'Gravitation' não é uma mera coincidência, é uma REFERÊNCIA. Digamos que , por vontade da autora, o Duo pegou a roupa do Ryuichii emprestada
E eu sei que em nenhum momento citei exatamente qual era a música que poderia ter servido como primeiro single da 'Wings', mas depois de muito escutar musicas pra lá e para cá gostaria de sugerir 'Misery' do hide (que apesar do nome sugestivamente triste, é uma musica bastante feliz e otimista) por que pra mim, essa música tem todo o feeling que eu gostaria de imprimir na 'Wings'. Então fica assim, o primeiro single da 'Wings' é 'Misery' – talvez eu use isso mais tarde...
Ah , e essa música é altamente recomendável para se ouvir lendo esse capítulo, realmente recomendo!
Vejo vocês em breve /
