Capítulo 4

Torta de caramelos encantados

O dia seguinte amanheceu ensolarado. Junho estava chegando, assim como o verão. Hermione não tinha preparado o despertador, não iria à aula, tinha muito em que pensar. Por isso, não sabia que horas eram.

Levantou-se tentando imaginar, pela claridade, se era cedo ou não. A poção que tinha feito na noite anterior permitiu que ela tivesse um sono sem sonhos e, só assim, conseguiu descansar depois das descobertas que teve.

Quando abriu a porta de seu quarto, ouviu vozes. Foi até a cozinha e viu Aline conversando com duas amigas, Júlia e Clarissa. As três pararam de falar com a chegada dela e Hermione teve certeza de que elas não discutiam as provas do mês. Respirou fundo:

- A gente precisa conversar.

Aline soltou um suspiro:

- Que bom que você pensa assim, Mione. Depois que você foi embora da sede ontem, nós conversamos com Lupin e ele nos contou tudo. Quero dizer, nós não sabíamos quem você era! Não sabíamos que você era bruxa e, muito menos, tudo pelo que você tinha passado.

- Nós sabíamos da guerra e sabíamos sobre Harry Potter. Mas Lupin teve o cuidado de nunca mencionar o seu nome. – disse Júlia.

- Mione – Aline se aproximou da amiga e a abraçou -, nós queremos ajudá-la a enfrentar esse momento.

- Obrigada. – ela respondeu, sincera.

- Seria bom se você viesse hoje conosco ao treinamento. Poderia conversar mais com seus velhos amigos. – sugeriu Clarissa.

Hermione achou que a idéia era interessante. Poderia fazer mais perguntas, poderia voltar a se acostumar com o Largo Grimmauld.

Poderia ver Rony.

Resolveram ir logo após o almoço. As três amigas de Hermione foram para a faculdade, mas ela ficou. Passou a manhã revivendo o dia anterior e, já perto do meio-dia, arrumou-se e ficou esperando as outras.

As quatro chegaram ao Largo Grimmauld depois da uma da tarde. Encontraram a casa cheia. Todos os amigos de Harry estavam lá, provavelmente convocados de emergência agora que ele já sabia de tudo.

Hermione chegou e sentou-se na sala. Harry estava numa rodinha no chão e conversava muito compenetrado com alguns amigos. Deborah, que estava entre eles, levantou-se e foi até a entrada da sala. A porta do hall foi aberta e fechada. Alguém tinha entrado.

- Quem chegou? – Hermione perguntou, interessada.

- O senhor e a senhora Weasley. – respondeu Deborah sem olhar para ela.

Hermione observou a garota sentar-se ao lado de Harry com ar superior. Não gostava dela, algo não estava certo com aquela menina. Mas não ficou muito tempo nesses pensamentos, levantou-se porque queria muito ver Arthur e Molly.

Desceu as escadas, mas, como sempre, hesitou à porta da cozinha. Ficou parada por um instante quando viu que Lupin vinha de lá.

- Lupin. – ela chamou.

- Sim, Hermione. – ele respondeu com um sorriso.

- Molly e Arthur estão na cozinha?

- Não. Molly não vem aqui – parou, melancólico. – há muitos meses.

Lupin foi em direção à sala e Hermione pensou em segui-lo. Maldita Deborah, pensava. Ela tinha lhe dado a informação errada.

Mas uma voz vinda da cozinha chamou a atenção dela.

- Torta de caramelos encantados?

Hermione tombou a cabeça na direção da porta para ouvir melhor. Parecia a voz de Gui.

- Onde vou achar isso? Hogsmead? – sim, era a voz de Gui.

- Não, Hogsmead não vai ter. As melhores são feitas pelas velhas bruxas enclausuradas de Madri.

Essa segunda voz fez Hermione soltar um pequeno 'oh'. Então o senhor e a senhora Weasley deveriam ser Gui e sua... esposa!

Hermione caminhou cautelosamente até a cozinha para observar a cena, sem ser vista.

Gui ainda tinha os cabelos compridos e presos em um rabo-de-cavalo. Estava agora com 31 anos e, apesar de conservar sempre um jeito moleque, tinha a fisionomia muito mais séria e madura.

À sua frente, uma mulher estava sentada. Hermione não conseguia ver o rosto dela, mas reparou nos cabelos loiros e levemente cacheados, tão longos que o encosto da cadeira cobria as pontas. Reparou também que a mulher estava grávida!

- Você não poderia ter desejo de algo mais simples? Torta de caramelos encantados feita pelas velhas bruxas encapuzadas de Madri?

- Enclausuradas. Gui! Você quer que o nosso bebê tenha cara de caramelos encantados?

- Desde que ele não tenha cara de uma bruxa mascarada de Madri...

- Você é impossível! – ela fez um gesto na direção dele, mas não estava irritada. Apenas tentou alcançar um bombom na mesa. Gui estava sorrindo:

- Ninfadora, impossível é você.

Hermione deixou o queixo cair e irrompeu correndo pela cozinha. Só parou quando já estava na frente de Tonks.

- Hermione, querida! Como é bom te ver. Abaixe um pouco para eu poder abraçá-la, sim? Mal posso me mover com essa barriga enorme.

- Nini, você só está de quatro meses. – Gui balançou a cabeça.

- É. Olha o que você me aprontou. – Tonks respondeu e, depois, olhando para Hermione, piscou, confidente.

Hermione estava rindo da cena e abaixou para abraçar Tonks. Depois, puxou uma cadeira e sentou ao lado dela.

- Senti tanto por não poder convidá-la para o nosso casamento, Mione...

- Desculpe, Tonks. Tenho certeza de que foi lindo.

- Foi... – ela abriu um sorriso.

Hermione dispensou um tempo para olhar a amiga. Tonks estava com 24 anos e tinha o mesmo rostinho de garota. Os cabelos lhe davam um ar diferente, porém. Parecia mais velha, mais adulta. As roupas já não eram jeans e não estavam rasgadas. Tonks estava usando um lindo vestido verde-água que deixava visível que sua barriga começava a crescer.

- Bem, torta de caramelos encantados feita pelas velhas bruxas enclausuradas de Madri? – Gui olhou para Tonks.

- Hummmm... – ela respondeu, fechando os olhos.

- Então a gente se vê quando eu voltar da Espanha.

Tonks estendeu a mão esquerda e puxou Gui para perto dela.

- Engraçadinho. – ela o fez se abaixar e lhe deu um beijo.

- Se tortas você quer, tortas você terá. – ele continuava curvado na direção da esposa.

Ela lhe deu outro beijo.

- Um dia você vai ter desejo de simples maçãs. – ele disse e se endireitou. Começou a caminhar para a porta.

- Maçãs? – Tonks tinha uma expressão divertida. – Agora que você falou, tinha um pomar da casa de campo dos meus avós paternos no norte, que tinha maçãs deliciosas...

- Eu não estou ouvindo... – Gui cantarolou e apressou-se em pegar seu casaco e sair.

Tonks virou-se para Hermione, as duas estavam rindo.

- Mione, você vem comigo até um dos quartos? Eu gostaria de me deitar.

- Claro.

Hermione ajudou Tonks a se levantar. Depois, caminhando atrás dela, viu que algumas coisas nunca mudam. Sorriu.

Antes escondidas pelo encosto da cadeira, as pontas do cabelo de Tonks estavam cor-de-rosa.

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Rony,

Faz uma semana que não escrevo, porque não posso parar de estudar. O fim do ano está chegando e, junto com ele, os NIEMs. Todos estão enlouquecendo, mas, para mim, tem sido uma terapia. Quanto mais tempo eu passo afundada nos livros, menos penso em outras coisas (acho que começo a entender a Mione...).

Minhas amigas já não me fazem mais companhia, por mais que tentem. Não consigo me divertir com as conversas delas e finjo dar risada mesmo não achando graça nas piadas. Meus momentos de alegria são superficiais. Para quem me vê, continuo a mesma Gina de sempre, mas eu não me sinto assim.

E você pode respirar aliviado, irmãozinho, pois os garotos parecem querer distância de mim. Um dia descubro o que há de errado comigo, que me torna tão pouco atraente. Pelo menos evito sua dor de cabeça (foi uma piada... será que estou melhorando?)

Escreva contando sobre você. Faz tanto tempo que não o vejo e todas as suas cartas são vagas, como se você não pudesse me dizer onde está. Sinto-me de volta à época da guerra, mandando cartas em código para Harry preso na Rua dos Alfeneiros.

A carta vai ficar por aqui. Já mencionei Harry e Hermione e sei que já era hora de não fazer mais isso, de entender que eles foram para longe de nós. Perdi meus melhores amigos.

Beijos e saudades,

Gina

- Harry?

- Hermione!

- Eu te assustei?

- Não, não... Eu só não estava prestando atenção.

- O que você está segurando?

- Uma carta. Para Rony.

- Corujas não vêm até o Largo Grimmauld. Pelo menos, não deveriam, acaba com a nossa segurança.

- Não foi uma coruja, foi Lupin. Ele pegou com Snape hoje de manhã, quando esteve em Hogwarts.

- Snape...

- Sim, há muitas pessoas que ainda não reencontramos. – Harry disse isso olhando para a carta de Gina em suas mãos. – Bem, eu vou colocar esta carta junto das outras coisas de Rony, para que ele veja quando chegar. Com licença, Mione.

- Claro.

Ele saiu, passando a mão nervosamente pelos cabelos eternamente rebeldes.

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N/A: Ok... Renunciei ao meu shipper mais antigo (Snape/Tonks), para montar o casal mais descolado do mundo mágico. O que vocês acharam da junção???

Isabelle, Babbi e Nycolly: Morrendo de curiosidade, morrendo de curiosidade. Meninas! Calma! Hahahaha... Eu sempre venho com os capítulos novos! Tadinha da Mione? Tadinha dela e do Rony, não? (Como eu sou cruel, tenho até vergonha...)

Xyania: Ora, ora, eu revelei os shippers tão no começo! R/H e H/G. Bem, quanto a isso de os amigos do Harry saberem que ele é, vou ter que explicar melhor, ainda não surgiu o momento nesses capítulos, mas você já puderam ver que os amigos da Mione não sabiam sobre ela... A Gina? Hum... A Gina deu uma "palhinha" neste capítulo. Tenham só mais um pouquinho de paciência... (Na verdade, já escrevi a cena em que ela volta, mas está guardada).

Lily: A Mione não é paranóica... Ela só está sofrendo muito. Tadinha, sempre incompreendida, hehe.

Ana: Depois de rir da sua review (esse comentário inicial foi fantástico), devo dizer: sim, a Mione não existe sem o Ron e nem ele sem ela. Mas, se a vida fosse simples... Ainda bem que os Cavaleiros Rubros e as descobertas-tardias estão interessantes. Fiquei com medo de encher a fic de explicações chatas. E, ai, eu adoro o Harry. E é mesmo emocionante quando ele fala dos pais. Ah! Lembra-se da carta da Gina? Here it is! (Ela já volta...).

Beijões!