Capítulo 8

Blacks e Weasleys

Hermione andava impaciente de um lado ao outro do empoeirado saguão. Aline desceu as escadas até ela.

- Todos já estão instalados nos quartos. – avisou.

Hermione apenas acenou com a cabeça.

- Qual é o problema, Mione?

- Harry e Rony já deveriam estar aqui. Estão demorando demais.

- Você acha que eles podem ter tido problemas? – Aline levantou as sobrancelhas.

- Não sei o que eu acho. – Hermione respondeu, desanimada.

As duas permaneceram alguns instantes em silêncio, até um pequeno clarão invadir o local.

- O que foi isso? – Hermione perguntou, olhando na direção de Aline.

- O meu anel. – ela respondeu, passando a mão direita sobre a jóia no anelar esquerdo.

Hermione pegou a mão da amiga e observou o anel, pensativa.

- O que ele faz?

- Eu o encontrei no Largo Grimmauld. Estava em uma caixa com uma inscrição. Ele detecta tipos fortes de magia, está piscando desde que chegamos aqui.

- Deve ser por causa das muitas proteções que este hotel recebeu. – concluiu Hermione, largando a mão de Aline, já sem interesse no assunto.

Mais alguns minutos de silêncio preencheram a sala, Aline cobria o anel com a mão direita para bloquear sua luz.

Mas foi outra iluminação que surpreendeu as duas. A grande lareira de mármore despertou com chamas verdes e logo a cabeça de Rony apareceu entre elas. Hermione correu em direção a ele e ajoelhou.

- Onde você está? – perguntou em tom desesperado.

- Vou ser rápido caso a rede esteja sendo vigiada. Tivemos de voltar para a antiga sede. Seguiremos para aí usando o plano de apoio.

Hermione concordou com a cabeça. A imagem de Rony tremulou.

- Preciso ir. Tchau, Mione.

- Tchau... – mas sua voz falhou.

Quando Hermione já estava de pé, Aline perguntou:

- O que ele quis dizer?

- Estão no Largo Grimmauld.

- E o plano de apoio? O que é?

Hermione hesitou. Não soube explicar o porquê, mas preferiu não revelar nada a Aline.

- Eles chegarão logo.

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O "logo" de Hermione revelou-se uma aflita espera de dois dias. Ela sabia que seria assim, mas não estava menos preocupada do que os outros, que apenas acreditavam em sua palavra.

Harry abriu a porta do saguão do hotel no entardecer do segundo dia. Encontrou Gina descendo as escadas e entregou seu malão.

- Obrigada, Harry. Como estão todos?

- Estão chegando. Eu vim antes, de vigia.

Menos de dois minutos depois, Rony e os outros chegaram. Pareciam muito cansados, sinal de que estiveram viajando durante todo o dia. Gina mostrou a todos os quartos que estavam disponíveis e juntou-se a Mione na cozinha.

A cozinha do hotel era muito grande e muito branca. Gina espantou-se ao pensar o quão trabalhoso deveria ter sido limpar aquele lugar, a quem quer que tivesse feito o serviço.

- Elfos. – Hermione suspirou.

- Elfos?

- Sim, eu ainda não tinha dito quem fez todo o serviço aqui no hotel. Foram elfos. Presos aos segredos dos donos do lugar por magias próprias de sua espécie. – ela usou tom desdenhoso nas últimas palavras.

Gina sabia o que Hermione era contra o trabalho não-remunerado de elfos domésticos. Sabia também que a guerra a havia forçado a deixar de lado seus projetos de defesa dos direitos deles, com o F.A.L.E., e que sua fuga para o mundo dos trouxas provavelmente tinha afastado seu pensamento da questão. Mas agora ela estava de volta.

- Não há mais nenhum Black vivo, há? Quero dizer, Sirius, Belatriz, todos foram mortos na guerra. A quem os elfos obedecem?

- Andrômeda ainda está viva.

- Andrômeda sabe da Ordem?

- Não. Mas não relutou em assinar os papéis que passavam as propriedades dos Blacks herdadas por ela para sua filha. Tonks cuidou da limpeza do hotel. Quis libertar os elfos, mas eles sabiam segredos demais.

- Onde eles estão?

- Demos serviços em outros andares, para que eles não ficassem por perto. – Hermione sentou-se com ar indignado. – Estão fazendo inúteis serviços de limpeza em outros quartos.

- Então... – Gina ainda estava absorvendo informações. – Andrômeda herdou este hotel e a casa no Largo Grimmauld?

- Sim.

- E Narcisa Malfoy?

- Ah. Vejo que você finalmente se lembrou dela. Eu não quis tocar no assunto, não sabia até quanto você queria se lembrar. Narcisa herdou metade das propriedades, mas ainda não fez nada com elas. Continua no exterior, com Draco.

Gina deu um leve pulo ao ouvir o nome de Draco Malfoy. Ele tinha se recuperado. Tinha se afastado dos comensais. Tinha resistido à pressão de seu pai. Tinha sofrido muito.

Narcisa, antes considerada por todos apenas uma marionete nas mãos de Lúcio, revelou-se uma verdadeira guerreira para proteger seu filho. Arriscou sua vida, mas conseguiu fugir. Narcisa e Draco passaram meses escondidos por Snape. Finalmente tinha sido explicada a relação de Snape com Lúcio. O professor sabia que Draco era mal-tratado e forçado a envolver-se nos negócios do pai. Tinha esperado, tinha feito amizade e, por fim, tinha conseguido tirar o menino daquela casa.

Mas o pensamento de Gina não passou por nenhuma dessas lembranças. Foi direto para o dia em que, no aeroporto, viu Draco fugir com a mãe para a América, fingindo-se trouxa e com os olhos vermelhos por causa do sono e do choro. Draco havia pedido que Gina o acompanhasse, havia confessado que estava apaixonado por ela. Gina decidiu ficar e eles nunca mais haviam se falado.

Rony entrou na cozinha. Ainda não tinha falado com Hermione desde o recado pela lareira.

- O que estão conversando?

Gina olhou aflita para Hermione. O irmão nunca tinha disfarçado o quanto detestava Draco, mesmo após sua saída do grupo de comensais.

- Eu estava falando dos elfos. – Hermione respondeu.

- Outra vez a história dos elfos, Mione? Você não trouxe distintivos, trouxe?

- Trouxe. – Hermione olhou irritada. – E neles está escrito 'Weasley é nosso rei'.

Rony não ficou bravo. Pelo contrário, abriu um grande sorriso que, provavelmente, deixou Hermione mais irritada. Gina achou prudente ir ver como os recém-chegados tinham conseguido se acomodar nos quartos.

- Não quero brigar com você, Mione. – Rony se aproximou dela.

- Eu também não quero brigar com você, Rony... Eu só...

Ele balançou a cabeça.

- Não precisa dizer nada.

Rony foi até a cadeira onde Hermione estava sentada. Puxou outra e colocou-a muito perto da ex-namorada. Sentou-se e a abraçou. Nenhum dos dois disse nada, mas Rony sentiu a respiração de Hermione muito funda.

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- Eu cheguei antes!

- Não chegou não!

- Cheguei sim!

- Não!

- Cheguei! Você está morrendo de inveja!

- Ah, é? Você vai ver o que é inveja!

Fred começou a perseguir Jorge ao redor da piscina. Os dois estavam molhados e, se o chão não fosse tão áspero, provavelmente teriam caído na água.

- Vocês não tinham que ir para Hogsmead? – Tonks gritou das portas de vidro da cozinha. Olhava para o quintal de sua casa aborrecida.

Fred e Jorge pararam de correr e foram pra perto dela.

- Não. – Fred respondeu, confuso.

- Joey e Tommy estão cuidando da loja.

- Somos altos executivos, Nini.

Tonks jogou bruscamente duas toalhas para eles. A de Fred caiu cobrindo seu rosto e a de Jorge ultrapassou sua cabeça e foi aterrissar no gramado do jardim.

- Se cuidar do meu filho tiver um décimo da dificuldade de cuidar de vocês, eu já estou considerando contratar três babás. Agora se sequem antes de entrar!

Fred e Jorge obedeceram.

- Está regulando sua piscina agora, Nini? O dinheiro dos Black serviu muito bem para você.

- Não tem um centavo de dinheiro dos Black nesta casa, Fred. Isso tudo é fruto do meu trabalho e do seu irmão. Só me expliquem uma coisa. – Tonks inclinou-se ameaçadora em direção aos gêmeos, que estavam pegando comida na geladeira. – Como é que Gui levantou ainda de madrugada para trabalhar, Harry e Rony já devem ter chegado ao hotel a essa altura e eu voltei do Ministério faz quase uma hora e vocês dois nem sequer saíram da casa?

Fred deu de ombros e Jorge mordeu um pedaço de torta.

- Nós estávamos treinando. – Fred respondeu, por fim.

- Sim, na piscina, condicionamento físico.

Tonks virou os olhos para o teto e começou a andar em direção à sala.

- Ora, vamos, Nini. Nós ainda não estamos envolvidos na nova Ordem. Quero dizer, ainda não tem uma missão para nós. – Jorge tentou explicar.

Tonks parou e virou-se para eles.

- Sempre tem missão. Mas vocês insistem que não podem deixar a loja até o fechamento do mês. – Tonks olhou fundo para os dois. Sabia que, apesar de não quererem demonstrar, os gêmeos tinham ficado muito abalados com a guerra e a perda do seu irmão.

A mãe, antes vigorosa e autoritária, era agora quem precisava de ajuda. O pai, cansado, tentava encontrar formas de consolá-la, mas não conseguia. Gui dividia-se entre os pais e a esposa e a própria Tonks passava quanto tempo podia n'A Toca com Molly. Carlinhos, ainda na Romênia, dava notícias raramente, Rony estava inteiramente envolvido na Ordem novamente e Gina tinha passado o ano todo em Hogwarts.

Fred e Jorge, apesar de seu caráter e de sua bondade, nunca foram muito maduros. Com a família dividida, tinham perdido o suporte. Muitas vezes ficavam na casa de Gui e Tonks, encontrando nos dois a semente de uma família estruturada.

Tonks percebeu que estava sendo muito dura e se calou.

- Nós iremos amanhã. Iremos para o hotel, encontrar Rony e Gina. – Fred disse, quando ela já estava na sala.

Tonks concordou com a cabeça e se sentou no sofá.

Os gêmeos ficaram na cozinha, ainda segurando as comidas que tinha tirado da geladeira. Passados alguns instantes, sentaram-se à mesa e começaram a comer.

Tonks, fazendo um pouco de esforço, inclinou-se no sofá para olhá-los, apertando os olhos. Dois segundos depois, atirou um de seus chinelos de quarto na direção deles, acertando a cadeira ao lado de Jorge. O chinelo era muito leve, mas aquilo surpreendeu os dois.

- Tenho uma missão para vocês agora. – ela gritou.

Os dois olharam surpresos.

- Devolvam a minha torta de caramelos encantados na geladeira, sim?

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N/A: É, a Tonks amadureceu. Vocês sentiram?

Belle: Diante desse comentário, tenho que pedir calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma, calma... (estou morrendo de rir até agora...)

Lílian: (oh, my, mais uma Lilly nas reviews!): recebeu o e-mail direitinho? Espero que sim!!!

Xianya: Eu também estou doida para ver o que vai acontecer com o Harry e a Gina! ;) E as descobertas-tardias ainda vão dar mais pano pra manga, aguarde.

Letícia: Pode deixar que, se não vier outro bloqueio, eu não demoro, não.

Lily Dragon: E se esse vírus pega mesmo? Não, não! Vou pedir pro Snape uma poção de cura (aproveito para dar um passeio pelas masmorras, hummm...)

Sarinhah: Mais uma curiosa sobre o Harry e a Gina. Beijo? Beijo? Olha que o beijo que está demorando mesmo para sair é o da Mione e do Ron (oh, yes, eu vou te torturar, mas você vai gostar da Mione!).

Obrigada pelas reviews e beijos para todas!!!