NA: Essa fic é quase que totalmente original, por assim dizer. Ela é baseada num RPG onde eu era o mestre, um RPG que tinha como base o mundo Potteriano, porém, sem usar nenhum personagem de lá, apenas alguns lugares, como Hogwarts, e o estilo. Decide transformar o RPG numa fic, e acabei trazendo mais coisas do mundo Potteriano. Por exemplo, Dumbledore, Grindewald e Voldemort tem suas participações especiais na fic. Assim como o RPG, fui obrigado a separar a fic nas fases pelas quais o RPG passou. A diferença de tempo entre cada fase chega a ser, as vezes, de décadas, portanto, podem ficar tranqüilos que ela não vai se tornar repetitiva.

A fic trata de uma cidade, um grande ponto de poder no mundo, chamada Carphanther. Fundada por Paulus Carphanther, abriga as quatro esferas elementais, artefatos mágicos cobiçados por inúmeros bruxos do mundo, inclusive pela co-fundadora da cidade, Elizabeth Valkenburgh. A quantidade de bruxos gananciosos que elas irão atrair tornarão a cidade um antro de bruxos diabólicos, e uma rede de planos das trevas para que alguém possa por as mãos nelas.

Carphanther

A Fonte dos Quatro Elementos

I – A Fundação de Carphanther

Prólogo

- Achei que você não viria mais – começou Paulus quando sentiu a presença silenciosa de Elizabeth no alto da Torre de Lizion. Parado numa das extremidades, ele observava o movimento da cidade lá embaixo. Quem diria que um dia aquela depressão habitada por demônios e por uma terrível bruxa solitária um dia se tornaria numa das mais importantes cidades do mundo mágico? Um dos maiores pontos de concentração de magia poderosa do mundo, competindo até mesmo com a perdida Avalon e com Hogwarts? Sim...

Um dia um adolescente chegara ali com sonhos perdidos sobre uma nova vida, e se deparara com o seu futuro. Ali, no meio daquela depressão perdida entre as montanhas norueguesas ele conhecera inimigos, amigos, adversários poderosos, o amor, o medo, conheceu o que é ser importante para várias pessoas e o que é fazer parte da vida delas. Na depressão que anos mais tarde levaria seu nome.

- Por que me chamou aqui? – perguntou a mulher rapidamente. Com passos largos e confiantes, cruzou o espaço que a separava dele, e se prostrou a seu lado, olhando para a cidade também, não com o mesmo ar nostálgico de Paulus, nem como se observasse tudo com amor, mas sim com uma preocupação eminente. Olhou para ele quando viu que não respondia, e baixou a guarda ao ver que sua expressão não demonstrava em lugar algum preocupação ou medo. No rosto ligeiramente envelhecido dele estava uma expressão que ela nunca tinha visto por trás dos seus olhos duros, como uma certa ternura. Ou melhor, tinha visto sim, mas ela jamais gravava um gesto de ternura, ou um olhar de amor.

Paulus jamais aparentaria a idade que tinha. Parecia ter no máximo uns cinqüenta, quando, na verdade, quase noventa caíam por suas costas. Era alto, forte, de olhos pretos profundos, os cabelos cinzentos, agora marcado por várias mechas brancas. Um bigode característico e engraçado, que dava a ele um ar de xerife de filme do velho oeste. Rugas em sua pele? Só as formadas pela preocupação e pelos anos duros nos quais defendeu com a vida aquela pequena cidade. A pele morena, como se fosse queimada de sol, era estranha para aquela região da Europa. Paulus tinha visto e vivido demais.

- Esta cidade, Elizabeth – e com um gesto vago, apontou a cidade lá embaixo. – Quem diria que um dia eu e você faríamos dela o que ela é agora – Elizabeth suspirou entediada. Paulus fingiu que não percebeu. – Eu e você, opostos totais, duas pessoas sem nada de parecido. Quase nos matamos no nosso primeiro encontro. Juntos, salvamos essa cidade de todas as ameaças, juntos, formamos ela. Juntos. Quem diria... – e passou o braço por cima do ombro de Elizabeth, a puxando para perto de si. A mulher fez uma expressão incomodada, mas se deixou levar, e quando apoiou a cabeça no peito de Paulus, um súbito sentimento se apossou de seu coração de pedra. Ela se deixou levar por um momento de proteção.

- Nunca pensei que eu fosse capaz de sentir algo como uma afeição por você, Paulus – ele riu.

- É tão difícil pra você usar a palavra "amor"?

- Não existe amor, Paulus.

- Não sei, talvez no seu coração não exista, se é que você tem um. Mas, sabe, eu nunca senti amor por você, Elizabeth – ela o olhou incrédula e se afastou de seus braços lentamente. – Amor é o que eu senti e sinto por Helena, Liz. Por você é algo estranho, como se no final de tudo, fosse para nós dois, apesar de nossas inúmeras diferenças, termos de ficar juntos. Nossas vidas foram traçadas juntas, pelo menos a partir do momento que eu entrei na sua, e as duas andaram juntas, por um bem maior, Carphanther. Um relacionamento mais íntimo de nossa parte era inevitável.

- Você chama eu tentar te matar a cada dois encontros nossos um relacionamento mais íntimo? – Elizabeth voltara para sua voz fria habitual, que raramente abandonava.

- Deve ser frustrante para você eu ser a única pessoa que você quis matar e não conseguiu.

- Eu sei quem devo respeitar, Paulus, e por mais que por toda a minha vida eu tenha te odiado, eu sabia que você era a única pessoa no mundo capaz de me vencer.

- Toda a sua vida ter me odiado... – disse ele em tom irônico – Você acabou de dizer que sentia uma "afeição" por mim.

- Eu te respeito, é diferente. Te respeito como bruxo, não como homem. Te respeito como a única pessoa que me venceu num duelo. Te respeito como a única pessoa que mereceu meu respeito.

- É tão engraçado ouvir você admitir que existe alguém capaz de te vencer.

Elizabeth se afastou dele, que continuava próximo à beirada da torre olhando para baixo. Sim, ela tinha o amado, a única pessoa que ela foi capaz de amar. Sim, ela o respeitava, a única pessoa que conseguiu seu respeito. Sim, ela o odiava mais e mais a cada minuto. Ela podia admitir que o respeitava, mas jamais que o amava, e ainda mais, ao mesmo tempo em que o odiava. Paulus chegara num dia de sol no meio de sua cidade, venceu todos os seus Gulnarst, venceu a ela mesma, destruiu um a um os planos dela, escapou de todas as tentativas de morte que ela tinha feito contra ele. Paulus era a pedra no sapato de Elizabeth, e ela aprendera a conviver por anos e anos com a pedrinha balançando em seu sapato e machucando um a um seus dedos, e todas as dores ela suportou.

Mas ele tinha ganhado algo que Elizabeth se achava incapaz de dar a alguém. O seu amor. Aliás, ela não se achava capaz de amar alguém, até aquela tarde no Pico Aman, no meio da neve que cercava o local. Ali ela entendera que havia mais em seu respeito do que o respeito propriamente dito. Ela o admirava, e tinha transformado essa admiração em amor. Ela, Elizabeth Valkenburgh, tinha conhecido o sentimento mais nobre dos puros, mas que para ela era totalmente desprezível, e se entregou a esse amor, de corpo, alma, e maldade. Sim, maldade, em nenhum momento ela se esquecera do ódio que nutria por ele dentro si, e essa mistura de amor e ódio fizeram do sentimento dentro dela algo explosivo. E se até os corações mais gelados são capazes de amar, por que o de Elizabeth não teria essa capacidade?

Ela pôde suportar todas as pedras que Paulus se transformou na sua vida, mas jamais pode suportar que ele deixasse de ser uma pedra. Quando ele se casou com Helena, Elizabeth quis matá-lo, e novamente não conseguiu. Elizabeth quis matá-la, mas Paulus e ela tiveram um de seus maiores embates pela vida da mulher. E ainda assim, os dois ainda viviam em harmonia, como amigos amantes, como inimigos amantes, como amigos que se odiavam, como inimigos que se odiavam. Uma relação tão complicada que em palavras é difícil de se escrever, mas que existe, e só se é possível conhecê-la sentindo-a na pele.

Ela pôde suportar todas as pedras, só não podia permitir ele deixar de ser pedra, como tinha acabado de fazer quando disse "eu nunca senti amor por você, Elizabeth". Ela jamais admitiria aquilo. E se ele não a amava, ela também não o amava. Para Elizabeth a vida era uma gigantesca troca. Toma lá, dá cá. E por mais que com os sentimentos não funcionassem bem assim, ela faria eles funcionarem à sua maneira. Se não havia amor entre eles sobrava então o ódio, que naquele momento se intensificou dentro dela. A amizade? Uma amizade se destrói muito rápido, e Elizabeth vivera muitos anos sem nenhum amigo, Paulus não faria a menor falta, por mais que ela própria soubesse que aquilo não era verdade. E depois, pensara ela, Paulus só tinha atrapalhado sua vida, acabado com a sua paz, estragado seus planos, ficar longe dele para sempre não seria nada mal. Mas Elizabeth jamais iria embora de Carphanther, ali ficaria até o fim dos tempos, e se ela não iria embora, como eles se afastariam? Ela sabia. Deu a volta na Torre, até perto da escada por onde tinha subido, parou no primeiro degrau, olhando para as costas de Paulus.

- Existe alguém capaz de me vencer, Paulus. E, infelizmente, é você – continuou ela com voz fria. Paulus não se virou para olhá-la.

- Por quê, infelizmente? Imagina se fosse Joshua, algum dos meus filhos, Dumbledore, Voldemort ou Grindewald? Acha mesmo que estaria viva ainda? Se você me respeita, eu também te respeito, Liz, e você sabe que eu também te respeito, por isso vivemos nós dois em harmonia.

- Vivemos? – indagou ela com um quê de ironia na voz. – Acho que em pouco tempo falar "vivíamos" seria mais correto, Paulus.

- Por quê? – perguntou ele com um riso despreocupado.

- Porque eu acho que você não vai viver mais por muito tempo. Avada Kedavra!