DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).

Notas: não, eu não sou dona dos personagens… Mas isso não me impede de amá-los!

Clau: super obrigada pelo apoio moral – e pelas reviews ;-) A continuação da conversa chegou... Espero que goste e continue lendo! Beijos!

Lady RR: esse problema de múltipla personalidade me confunde. Ainda bem que na minha mente todos os nomes levam a uma só pessoa ;-) Pois é, Marguerite e Verônica são as "Escolhidas", de alguma forma, no seriado. E, claro, eu não poderia deixar de aproveitar a chance de valorizar as mulheres do seriado... Matar a Marguerite??? Nem pensar! Sou fã de "Ox & Ite" de carteirinha... Sobre a Finn... Hummm... Continue lendo: as respostas vão aparecer! Sobre o tamanho dos capítulos, vejamos, esse é um pouquinho menor que o anterior... Mas se tiver bastante reviews, o próximo sai rapidinho porque a fic já estava terminada desde o concurso, né? Beijos!

Aline: com certeza a estória não pára por aí, tem muita água pra rolar... A cena do Roxton, bom, confesso que quando eu reli o texto fiquei com uma vontade danada de estar lá para consolá-lo... Ai ai, suspiros... Continue lendo, tá? Beijão!

Kakau: você pediu e o próximo capítulo está aqui ;-) Fico lisonjeada que você ache que a fic esteja conseguindo transmitir pelo menos um pouquinho da emoção dos nossos atores do seriado, na sua opinião... Beijão!

Parcival: nossa! Estou honrada em receber a review de tão honrado personagem! Afinal, até que você se revele, para mim Parcival (ou nas várias grafias Parsifal, Parsival, ou Parcifal) é a minha adorada Marguerite! Sim, Marguerite é o que eu considero como "meu material de trabalho" nessa fic, gosto muito do personagem... E, claro, tendo o ma-ra-vi-lho-so TDB (tudo de bom) Lord Roxton por perto para ajudá-la a superar as dificuldades e dores morais ou físicas, como você vai ver se continuar lendo esse capítulo! ;-) Beijos!

Jess: uau, só o texto da sua review me deixou lisonjeada... Bigada! As explicações – e revelações – chegam nesse capítulo! Espero que goste... Beijos!

Parte III – Revelações

Ele acordou com o barulho de um gemido abafado. Quando olhou para a cama, viu que ela estava tentando se levantar. Ele rapidamente se ergueu e foi sentar-se à beira da cama, amparando-a para sentar-se. 'O que foi, Marguerite? Está tudo bem?'

A respiração dela estava um pouco ofegante, mas ele checou com a mão em sua testa que a febre definitivamente tinha desaparecido.

'É difícil respirar com essas ataduras, John.' Ela tentou disfarçar. Tivera um pesadelo que a deixara ofegante, e não era mentira que com as ataduras e as costelas quebradas respirar profundamente era muito difícil.

'Você teve um pesadelo, não é?' ele sabia que ela nunca admitiria, mas sabia que a necessidade por ar vinha mais da tentativa dela acalmar-se de algo que a assustara.

Ela sorriu, resignada: não conseguia enganá-lo. Ele podia lê-la de maneira tão óbvia que chegava a ser assustador, se não fosse ele.

Ele a abraçou com cuidado, evitando tocar os pontos onde a atadura passava para não causar dor desnecessária nela. Ele afagou as costas dela delicadamente. Sentiu o corpo dela relaxar, com ela apoiando a testa em seu peito, e a respiração dela se acalmar.

'Está melhor assim?' ele perguntou, beijando os cabelos dela.

Ela levantou o rosto, rindo de maneira maliciosa 'Muito, muito melhor...'

Ele beijou-a suavemente, apenas um roçar dos lábios dele contra os dela, pois manifestações mais afoitas precisariam esperar que ela melhorasse um pouco mais... O beijo foi apenas uma carícia e uma promessa de tudo que podia vir a ser entre eles.

E dessa vez ela acreditava, ela definitivamente acreditava. Juntos, abraçados assim, viram o sol nascer no platô.

Alguns minutos depois, Verônica entrava no quarto, para checar como Marguerite estava, e ficou feliz vendo ambos acordados. John tinha se sentado contra a cabeceira da cama, apoiado na parede, e Marguerite estava sentada na cama com as costas apoiadas no peito largo dele.

'Bom dia!' Verônica disse timidamente, temendo estar interrompendo algo.

Marguerite abriu seus olhos que estavam límpidos e calmos, e respondeu com um sorriso. John deu seus bons dias sem se mexer de onde estava, vivendo um minuto de paraíso com a mulher que amava viva em seus braços.

Verônica apenas sorriu e ia saindo para a cozinha para preparar o café da manhã, quando Marguerite a chamou, sua voz ainda baixa porque não podia respirar profundamente.

'Verônica, se não for pedir muito, você e Challenger poderiam vir tomar café aqui conosco, no quarto. Assim conversamos...'

'Ótimo, porque depois pretendo sair buscar Finn, e toda a informação que conseguirmos organizar vai ser útil para isso.' Verônica disse, saindo do quarto com um sorriso nos lábios.

Mas John sentiu o corpo de Marguerite ficar repentinamente tenso contra o dele.

'O que foi, meu amor?' ele perguntou, uma mão acariciando de leve o ventre liso de Marguerite.

'Nada.' Ela tentou mentir.

'Algo que Verônica disse te deixou desconfortável. O que foi? Foi o fato dela ter falado em Finn?'

'John, eu temo que não veremos mais a Finn...' a voz de Marguerite desapareceu num sussurro.

Ele entendeu, passando o braço e enlaçando sua cintura, fazendo-a relaxar contra ele.

'Tudo vai se esclarecer quando conversarmos.' Mesmo assim, ele sentiu duas gotas molharem o braço que tinha em torno do corpo dela. Eram duas lágrimas silenciosas que ela deixara escapar.

Em alguns minutos, Challenger e Verônica entravam no quarto, carregando uma bandeja com pão, frutas e suco para todos.

'E o meu café?' Marguerite tentou brincar. Ela já se tinha recomposto.

'Nada de café na sua condição, Marguerite. Só daqui a uns dois ou três dias. Até lá, suco, água, ou chá, se você preferir.'

Ela fez uma careta, sentia falta do líquido escuro que era seu combustível de todas as manhãs. E o pior é que sem Ned em casa, sabia que nenhum dos outros a ajudaria contrabandeando um pouco de café para seu quarto enquanto Challenger não estivesse vendo.

Ela apenas bebeu um pouco de suco, não tinha fome só de pensar no que teria que contar a eles. Mas sabia que precisava ser feito.

Notando o silêncio dela, Verônica decidiu que o melhor era ir direto ao assunto.

'Então, que tal se cada um de nós contasse o que aconteceu ontem para tentarmos entender um pouco melhor o que foi aquilo?'

'É, acho que você e Marguerite podem começar pela parte de vocês, já que saíram daqui juntos e pelo visto se separaram no caminho.' Challenger completou.

'Foi muito estranho' John começou. 'Tínhamos acabado de apanhar o látex e estávamos prontos para carregá-lo de volta para cá, quando o primeiro plano de realidade passou por nós. Então, estávamos na Nova Amazônia. Depois, fomos transportados sucessivamente para vários lugares: o castelo das bruxas da Dama Alice, a planície com o piróglifo do Malone, e por fim a um plano em que conquistadores espanhóis do século dezesseis me confundiram com o meu primeiro antepassado que esteve na América do Sul. Eu estava fugindo deles com Marguerite, quando ela foi pega por um outro plano de realidade, e nos separamos. No meu plano eu continuei lutando, até ficar sem munição, tendo que partir para o corpo a corpo na luta, até que quando pensei que tudo estava perdido, aquele plano de realidade se desvaneceu no ar, e eu estava ali, sozinho, sob um céu onde a tempestade estava rapidamente se desmanchando, como num passe de mágica.'

Embora tecnicamente fosse a vez de Marguerite continuar, Roxton sentiu que ela estava cada vez mais tensa com o rumo da conversa, e fez sinal para que Challenger contasse sua parte.

'Humm, bem, eu estava com Finn e Veronica, e Maple White apareceu, aparentemente alguns minutos antes do momento em que ele seria atacado antes de eu encontrá-lo há três anos atrás. Então, discutimos, ele nos explicou que pelos estudos dele a Casa da Árvore era o centro das linhas de energia do platô, ajudando Verônica a reencontrar algumas marcas na base da Casa da Árvore que têm o mesmo desenho do Trion. Mas mesmo vendo a prova que eu tinha, uma cópia exata do diário dele, ele se recusou a ficar conosco, e quando saiu daqui foi imediatamente engolido por um dos planos de realidade e só pudemos ouvi-lo sendo atacado pelos dinossauros...'

'Exatamente como aconteceu há três anos atrás.' A voz de Marguerite parecia distante. Na verdade, ela estava avaliando se sua interpretação do que Morrighan dissera estava correta. Quando Challenger começara a mencionar Maple White, ela pensou que pudesse não se tratar de Finn. Mas se Maple White tinha cumprido seu destino, Finn era certamente a peça do quebra-cabeça.

'Precisamente. Depois, nós notamos que os planos de realidade não invadiam a Casa da Árvore por causa da cerca elétrica, e como o nível de energia parecia estar diminuindo, decidi ir até o moinho. Verônica e Finn me seguraram com uma corda, mas então eu fui tragado por um dos planos de realidade e a corda foi inútil. Lá, numa sala branca, um andróide tentou me matar, enquanto uma outra voz dizia que estávamos em 4666, que eu tinha criado tudo aquilo, e ao mesmo tempo eu era o único que podia destruir tudo aquilo. Creio que tenha a ver com o uso indevido que Zort pode vir a fazer das invenções que involuntariamente eu dei a ele.' Challenger parecia constrangido. 'Mas então, quando ele estava com o bisturi a milímetros do meu crânio, tudo desapareceu, e eu estava ali, deitado, a duzentos metros da Casa da Árvore, trêmulo e confuso. Dali a alguns minutos, quando eu tinha finalmente conseguido parar de tremer e ficado de pé, Roxton chegou, e voltamos à Casa da Árvore para tentar encontrar vocês, mas só encontramos Verônica desacordada.'

Agora foi a vez de Verônica interromper. 'Depois que Challenger foi tragado em outro plano de realidade, eu e Finn notamos que a cerca elétrica tinha parado de vez. Então, subimos e procuramos o centro da Casa da Árvore, um lugar que eu e fim tínhamos descoberto quando mudamos os móveis para fazer saltos pela sala. Quando eu pisei nesse centro, uma pirâmide de luz me envolveu, e o Trion começou a queimar. Tirei-o do meu pescoço e o segurei em minha mão. Finn ainda me pediu para sair dali, já que eu nem sabia o que significava ser a Protetora, e não sabia se aquilo era o que eu tinha que fazer. Ela estava preocupada que eu morresse ali. Mas então ela desapareceu. A próxima coisa que tive foi uma visão: minha mãe estava sendo atacada por Marguerite.' Ela parou, a voz emocionada por rever aquela lembrança. Imediatamente John e Challenger olharam para Marguerite, surpresos. Verônica, notando, continuou. 'Na verdade, sendo atacada por uma mulher que era exatamente como Marguerite. Exceto por duas coisas.' Agora a garota da selva olhava diretamente nos olhos da herdeira.

Marguerite estava confusa. Tinha visto Morrighan, e a única coisa que as distinguia eram as roupas, nada mais. Por que Verônica disse que havia duas diferenças entre elas?

'As roupas da mulher pareciam uma espécie de túnica, apanhada na cintura com um cordão, bem diferentes das roupas da nossa Marguerite. Mas havia outra diferença, essa mais profunda e definitiva: os olhos. Apesar de serem da mesma cor dos de Marguerite, eles eram frios, absolutamente frios.' Verônica estremeceu a lembrança dos olhos gelados de Morrighan. Ao mesmo tempo, Marguerite sentiu um bem-estar enorme por saber que ela não transmitia mais a seus amigos aquela sensação de frieza e estranhamento que por tanto tempo desejara transmitir, para afastá-los de si.

E Verônica continuou. 'Ela atacou minha mãe várias vezes, numa luta de igual para igual. Até que num dado momento ela se transformou numa égua, eu acho, escoiceou minha mãe e pisoteou-a.' Verônica parou novamente, seus olhos cheios de lágrimas e a face marcada pelo pesar.

'Macha, uma das formas de Morrighan.' Challenger manifestou alto o fio do seu raciocínio.

'Ela então se transformou num corvo, retirando o Trion do pescoço de minha mãe. Eu tentei ajudá-la mas a visão se desvaneceu. Depois de algum tempo, ouvi grasnidos perto de mim, e havia dois corvos lutando fora da pirâmide de luz onde eu me encontrava. Estranhei, porque sei que não há corvos no platô. Mas notei que um dos corvos era aquele que tinha estado em minha visão, pois ainda trazia em seu bico o Trion de minha mãe. Os corvos lutaram entre si, e depois do corvo que atacara minha mãe levar a melhor na luta, ele se transformou novamente na mulher que era a cópia de Marguerite, vindo para o meu lado. O outro corvo tentou inutilmente entrar no cone de luz, mas não conseguiu. Ao mesmo tempo, eu ouvi a voz de Marguerite falando sobre parar aquela assassina. O corvo atacou a mulher, mas esta o mandou longe com um safanão, e continuou vindo para o meu lado. O corvo pegou o Trion de minha mãe, que estava na mão da mulher, e finalmente conseguiu entrar na pirâmide de luz, e novamente eu ouvi a voz de Marguerite falando sobre essa tal de Morrighan e me pedindo para entregar a ela o meu Trion para que ela pudesse levar Morrighan embora. Só então eu percebi que o corvo podia ser Marguerite. Para testar, estendi meu braço, e ao invés de me atacar como o outro corvo fizera com minha mãe, este apenas pousou suavemente em meu braço. Perguntei para onde ela iria, e ela me disse que iria para a caverna onde vocês ficaram presos quando Challenger teve amnésia. Também pediu para que eu não a seguisse enquanto não tivesse a certeza de que tudo estava acabado. Eu entreguei meu Trion, e ele saiu voando, com os dois Trions no bico, seguido imediatamente pela mulher que voltara a se transformar em corvo. E então eu devo ter desmaiado, porque a próxima coisa de que me lembro já era ter Roxton e Challenger tentando me reanimar.' Os olhos de Verônica ainda estavam rasos d'água, porque ela não podia esquecer o que vira acontecer com sua mãe.

Todas as atenções então se voltaram para Marguerite. Faltava apenas a parte dela da história, e ela sabia que nem tudo seriam boas notícias.

'Quando John e eu nos separamos, eu estava num plano de realidade povoado por druidas. Eles eram inimigos de outro grupo de druidas que eu vi num sonho ou visão, há muito tempo atrás. Nessa visão, eu fui informada que eu era a reencarnação de uma sacerdotisa druida, chamada Morrighan. Mas apenas John sabia disso, porque isso veio à tona na caverna em que ficamos presos quando encontramos um corpo embrulhado num tecido marcado com a minha marca de nascença, e quando abrimos o tecido vimos que o corpo mumificado também tinha a mesma marca de nascença que eu tenho. No plano de realidade onde eu estive, os druidas disseram que eu é quem estava conjurando aquela tempestade que seria o fim dos tempos, e que eu precisava ser morta. Eles me desarmaram e me levaram para a caverna onde estivemos, mas num tempo em que a caverna estava inteira e intacta. Me prenderam ao altar, e o líder deles então me feriu com a adaga. Mas então o tempo pareceu parar, e eu entendi o que estava acontecendo: eles não poderiam estar me matando simplesmente porque eu não podia existir caso eles não matassem a pessoa certa: Morrighan, minha antepassada. Naquele momento, algo instintivo me moveu, e eu me transformei num corvo.'

'A forma Badbh de Morrighan' Challenger informou.

'Imediatamente, eu voltei para a Casa da Árvore, porque se era verdade que Morrighan estava provocando a tempestade para um fim dos tempos, ela tentaria destruir Verônica.'

Marguerite respirou o mais fundo que conseguia com seus ferimentos, para tomar coragem e olhar diretamente nos olhos de Verônica antes de continuar. 'Eu considerei a possibilidade de tentar primeiro salvar sua mãe de Morrighan, pois senti que Morrighan tentaria primeiro vencer a Protetora atual do platô. Mas sem saber onde era Avalon, e sem saber por onde começar a procurar, e sem saber se ela já não estaria destruída quando eu a encontrasse, achei que teria mais chances de defender você e o platô se ficasse na Casa da Árvore. Eu... eu... eu escolhi não arriscar sua vida para tentar salvar a de sua mãe, pelo platô.' Marguerite falou, finalmente baixando os olhos rasos d'água.

Sabia que Verônica iria condená-la. E os outros também. Afinal, todos eram heróicos, e teriam dado um jeito de salvar a todos, inclusive Abigail. Mas ela não arriscara. Seu objetivo era claro e alguns sacrifícios tinham que ser feitos, e havia um risco que ela não assumiria de forma alguma, que era permitir que algo acontecesse à Verônica.

O silêncio tomou conta da sala. Marguerite não tinha coragem de levantar o rosto, pois sabia o que estaria esperando estampado nas faces de seus amigos. Decepção e desprezo pela atitude fria que ela tinha tido. Provavelmente concluiriam que ela não defendera Abigail porque ela mesma não sabia o que significava ter uma mãe. Mas ela sabia que tinha feito o que precisava ser feito, por mais doloroso que fosse.

Foi quando sentiu que alguém apoiava a mão em seu queixo, obrigando-a a levantar a cabeça. Marguerite estava tão imersa em seus pensamentos que não tinha notado que Verônica, tão logo entendera o que Marguerite dissera, tinha ficado em silêncio, para depois levantar-se e ir se sentar à frente de Marguerite, na cama. Roxton e Challenger estavam em suspenso, esperando o que estava por vir. Racionalmente, tinham que concordar com Marguerite, a decisão correta tinha sido tomada. Emocionalmente, porém, os dois se colocavam no lugar de Marguerite e sabiam que nem toda a lógica do mundo teria permitido que eles tomassem a decisão correta. Marguerite agora estava face a face com Verônica, mas ainda mantinha seus olhos abaixados, lágrimas correndo por seu rosto. Verônica a olhava firmemente, o rosto também banhado em lágrimas.

'Marguerite?'

Nada.

'Marguerite? Olhe para mim.' Verônica ordenou, e seu tom de voz era firme, apesar da voz trêmula de choro.

Marguerite obedeceu. Seus olhos se encontraram, mas ao invés de desprezo e decepção, ela encontrou apenas tristeza e compreensão nos olhos de Verônica.

'Você fez o que precisava ser feito. Se tivesse tentado salvar minha mãe, teria perdido a nós duas e ao platô e a todos nós. Agora vejo que ainda tenho que aprender muito para ser a Protetora do platô. Pois provavelmente minha decisão teria sido diferente da sua, e estaríamos todos perdidos e acabados agora se tudo tivesse dependido exclusivamente de mim.'

Marguerite não conteve um soluço, o que provocou mais dor em seus ferimentos. Mas, respirando fundo, ela continuou, apenas assentindo levemente para Verônica, e sem desviar os olhos do olhar da Protetora.

'Eu vi um corvo chegar, trazendo no bico um Trion como o de Verônica, ao mesmo tempo em que a pirâmide de luz que envolvia Verônica ficava mais forte. Foi então que julguei que Abigail tinha sido destruída por Morrighan, minha ancestral, e que aquele corvo era Morrighan. Ataquei-a, mas como ser corvo não é exatamente algo que se aprende tão rapidamente, acabei levando a pior. Nesse momento, Morrighan se transformou em sua forma humana novamente, e avançou para Verônica. Eu tentei entrar na pirâmide de luz, mas vendo que não conseguia, pelo menos tentei mostrar à Verônica que aquele corvo era eu. Como Morrighan parecia mais que nunca disposta a destruir Verônica, eu achei que tirar-lhe o Trion era minha única chance. Por isso, tirei o Trion das mão de Morrighan, e com ele em meu bico consegui entrar na pirâmide de luz. Expliquei rapidamente à Verônica o que pretendia, e quando ela me reconheceu e me entregou o Trion, eu soube que nossa única chance era que eu conseguisse levar Morrighan dali antes que ela destruísse Verônica, impedi-la de pegar os Trions, e ainda fazer com que os druidas a pegassem para matá-la e cumprir o meu destino.'

Ela parou para tomar fôlego. Durante todo o tempo sua voz era baixa e contida, e embora Challenger, como médico improvisado, desejasse pedir que ela parasse para descansar e que retomassem a conversa mais tarde, a curiosidade dele também estava levando a melhor.

'Eu voei daqui, sendo seguida por Morrighan, que tinha se transformado novamente em corvo. Procurei dentre os vários planos de realidade até encontrar aquele onde os druidas tinham começado o meu sacrifício, e voltei para a caverna, sendo finalmente alcançada por Morrighan. Quando os druidas seguiram os dois corvos dentro da caverna, entendi que minha missão estava cumprida, e finalmente consegui me concentrar para voltar à minha forma humana. Mas então, além de todos os ferimentos adquiridos como Badbh, eu percebi que tinha mais um ferimento que podia colocar tudo a perder. A adaga druida em meu peito. Caí de joelhos, mas sabia que não podia simplesmente morrer ali antes que Morrighan fosse pega. Então, para ganhar tempo, eu perguntei porque ela estava destruindo o platô.'

Novamente Marguerite hesitou, mas continuou.

'Ela falou sobre uma ruptura no tempo, e depois disse que era proposital o encontro de planos do passado, presente e futuro, e que a missão dela estava quase cumprida, porque finalmente a ruptura temporal tinha sido quebrada e a anomalia tinha voltado ao seu tempo apropriado. E que só faltaria então destruir o platô. A essa altura, eu já estava mais para lá do que para cá, e ela, creio que querendo vencer como Morrighan e não como Badbh, voltou a assumir sua forma humana. A última coisa que vi foram os druidas se aproximando, mas ao invés de me pegarem, pegaram Morrighan. E então eu desmaiei. A próxima coisa que me lembro foi de uma dor horrível no peito, e de estar com vocês na caverna.'

Ela então virou-se para John, apesar da dor que o movimento causava. 'Eu precisava ver o corpo, ter certeza que eles tinham matado Morrighan realmente e a tinham enterrado ali, e que tudo tinha dado certo, realmente, John.' Ele sorriu para ela, tranqüilizando-a. Agora entendia sua atitude estranha quando acordara naquela caverna.

Ela voltou-se para Verônica e Challenger. 'Eu acho que isso quer dizer que Finn não vai mais voltar.' Ela murmurou. Sabia que os outros estavam pensando a mesma coisa, mas nenhum deles teria coragem de verbalizar isso. 'Creio que ela era a ruptura temporal que Morrighan mencionou, que desequilibraria o universo. Não duvido que nesse momento ela esteja de volta à Nova Amazônia...'

'Por isso não encontramos nenhuma trilha.' Veio a voz grave de Roxton de trás dela.

'Finn não vai voltar.' Verônica repetiu, mais para si mesma.

Challenger estava imóvel e calado. Todos se voltaram para ele.

'Parece que dessa vez eu quase acabei com o mundo mesmo, não é?' ele ponderou, racionalmente. Mas então, mesmo o sábio cientista tinha um coração. 'Eu vou sentir falta dela...' ele disse, a voz presa na garganta. Subitamente, ele se levantou e saiu da sala.

Verônica, ainda na cama de frente para Marguerite, apertou a mão da herdeira e saiu do quarto. Todos precisavam de um tempo para digerir todas aquelas notícias.

Na cama, John abraçou Marguerite com suavidade, reconfortando-a e finalmente sentindo-a relaxar e chorar livre e mansamente, sem testemunhas.

Depois de algum tempo, John notou que ela finalmente tinha adormecido. Com cuidado, saiu de trás dela, fazendo-a deitar-se para continuar dormindo.

Então, deixou o quarto para ver por onde andavam seus amigos. Sabia que todos estavam precisando de consolo.

Desceu as escadas para o laboratório de Challenger. Achava que seria mais fácil começar pelo seu velho amigo. E pensou que Verônica teria ido ter com ele, mas encontrou-o sozinho, sentado à sua bancada de estudos. Sobre ela, o casulo em que Arthur o besouro tinha se transformado. Challenger estava calado, mas Roxton podia ver que ele estava fazendo um esforço enorme para se concentrar no casulo ao invés de se deixar levar pelas emoções que o assaltavam.

'George?'

Challenger apenas levantou os olhos, sem dizer nada.

Roxton aproximou-se, obrigando-o a sair da mesa e a virar-se para encará-lo.

'Não foi sua culpa, meu velho.'

'Eu podia ter acabado com o Platô, John. Pior, eu posso ter acabado com Finn.' Então era aquilo que estava incomodando Challenger.

'George, eu creio que ela apenas voltou para o tempo dela, para viver a vida que é dela, lá, no tempo dela.'

'Você bem se lembra o que significava estar no tempo dela, John. Ela vai ser escravizada, mais cedo ou mais tarde, como os outros.'

'Finn é esperta, George. Lembre-se que ela sobreviveu vinte e dois anos sem você ou qualquer um de nós por perto. Tenho certeza que ela vai ser capaz de continuar fazendo o mesmo.'

Challenger fez um muxoxo, mas não falou nada.

'Eu também vou sentir falta dela, Challenger. Todos vamos. Mas o importante é que as coisas todas foram colocadas em seus lugares.' John reafirmou, apertando o braço do amigo. Challenger finalmente sorriu.

E então John deu a cartada final: 'E esse casulo? Por um acaso é o Arthur, nosso besouro quem está aí dentro?'

Imediatamente Challenger começou: 'É simplesmente fascinante, John, veja...' e continuou discorrendo por alguns minutos em uma de suas teorias, já que besouros não fazem casulos. John sorriu internamente: tudo ia ficar bem, a ciência era a Marguerite de Challenger, como ele já dissera com todas as letras, e o ajudaria a superar tudo, como Marguerite ajudava John a superar tudo simplesmente por existir e estar lá.

Quando o cientista finalmente terminou, dizendo que ainda tinha várias coisas para investigar sobre o curioso comportamento do besouro, Roxton deixou-o com suas experiências científicas e saiu para procurar Verônica. Fazia mais de uma hora que eles tinham terminado a conversa, e ele achou que ia encontrá-la no quarto dela. Mas o quarto dela estava vazio. Procurou por toda a Casa da Árvore, mas sem encontrá-la, julgou que ela tivesse saído para dar uma volta e espairecer. Nesse ponto os dois caçadores do grupo eram muito parecidos. Nada como um pouco de ar puro e atividade física ao ar livre para ajudá-los a desanuviar as idéias.

Então, voltou ao quarto de Marguerite, pois queria ter certeza que ela continuava bem. E ficou surpreso, ao se aproximar da porta, ouvir as vozes de Verônica e Marguerite, em voz baixa. Embora parecesse uma conversa séria e sobre assuntos que ele sabia serem graves para ambas, elas não estavam mais chorando. Elas eram certamente as duas mulheres mais fortes que ele já conhecera, e ele as admirava muito. Não pôde conter um sorriso. As duas certamente tinham muito que conversar: tinham compartilhado ontem algo forte e definitivo, que mudara a vida de ambas – e talvez a vida de todos eles e do mundo todo, de uma certa forma – e ele esperava que isso criasse um novo laço, um novo nível de entrosamento entre as duas mulheres da casa. Ele resolveu ir cortar um pouco de lenha, porque ele mesmo estava precisando de um pouco de ar puro para clarear sua mente, e podia ficar tranqüilo já que Verônica estava cuidando de Marguerite. Tudo ficaria bem, no final...

CONTINUA...

Bom, pessoal, essa é uma fic terminada, então, publicar as próximas partes depende apenas do fluxo de Reviews...

Estão vendo esse botãozinho GO aí embaixo? Isso, bem no canto inferior esquerdo... Taí! ;-)