PEDIDO DE NATAL – CAPITULO 02
Ran foi avisado de que Omi passou mal na consulta médica. Procurou não demonstrar conhecimento na hora do almoço, mas antes da saída foi se informar com o médico.
-Com licença... Doutor, meu esposo deve ter dito ao senhor para não me contar nada, para me poupar de eventuais sofrimentos. Mas eu quero saber sem rodeios o que ele tem. Se for algo grave, quero estar ao lado dele o tempo todo.
-Bem, será ótimo se o senhor ficar ao lado dele todo o tempo, Fujimiya-kun, mas o estado dele não inspira mais cuidados que os normais para mulheres na condição de seu cônjuge.
Ran piscou seus belos olhos violetas duas vezes. Pigarreou e confessou:
-Me desculpe, mas acho que eu não compreendi a associação de idéias. Que tipo de cuidados o senhor se refere? Mulheres na condição de Omi? Seja mais claro, por favor.
-Oh, sim. Vou ser direto. Seu esposo está grávido.
Apesar de há alguns anos Ran Fujimiya não se considerar um cara violento, achar que estava mais comedido, seu sangue ferveu como antes e o médico se viu erguido pelo colarinho e prensado na parede.
-Que tipo de brincadeira sem graça é essa? – a voz saiu baixa e perigosa.
-Cof, cof... Por favor, Fujimiya-san, acalme-se e me solte. Por favor?
-Está falando sério? Mas como pode ser possível. Tsukiyono é um homem. Comprovo o fato todos os dias.
-Oh, é algo formidável. Uma revolução interna! Os órgãos femininos não se desenvolveram na mesma época que os masculinos, mas estavam lá, abrindo caminho organismo adentro. – e explicou a um ruivo embasbacado tudo de novo.
-Ainda não acredito... Ele parecia tão... tão calmo, indiferente na hora do almoço...
-Devia estar em estado de choque ainda... Tenha paciência com ele, Fujimiya-san. Os hormônios vão criar uma montanha-russa emocional em seu esposo. Às vezes ele vai estar eufórico, noutras ele vai chorar por um prato fora do lugar.
-Sim... sim... OOOOOOOOH, SIIMMMM!! – Ran ergueu os braços e jogou a cabeça pra trás, depois cobriu o rosto com as mãos. – Meu Deus, obrigado. O-BRI-GA-DO!! Doutor, desculpe meus maus modos lá trás.
-Normal, uma reação normal, Fujimiya-san. Mas sua alegria de agora desculpa tudo...
-Sim, sim, obrigado por enquanto, obrigado... – foi agradecendo enquanto saía do consultório e se dirigia para o escritório de Omi. A secretária estava repassando a agenda do dia seguinte, encaixando algumas coisas, quando Ran parou na porta. Ela foi esperta para deixar para depois e se retirar, fechando a porta atrás de si.
-Algum problema? – perguntou Omi, surpreso com a aparição fora de hora.
-Não, porque teria? Não posso vir te ver, simplesmente?
-Se eu não te conhecesse bem, poderia até engolir isso... Mas você está com aquele olhar de quem está aprontando alguma...
-Opa, mocinho... Eu tenho a fisionomia esculpida em gelo, não era isso que Yohji dizia?
-"Time flies and people changes" diria Hiramaya . Portanto, nem você escapa dessa verdade, Fujimiya-kun.
-Nem você, Omiitchi. Quem diria que logo VOCÊ seria capaz de esculpir a SUA fisionomia em pedra pra que eu não desconfiasse de nada?
O loiro ficou um pouco mais pálido e tentou disfarçar.
-Desconfiasse? Estamos falando do quê, Ran?
-De algo muito importante que está acontecendo, aqui, agora...
-Algo importante? – Omi levantou-se devagar, para evitar a vertigem e deu a volta na mesa, pronto para fugir para o banheiro... Mas Ran se aproximou rapidamente dele.
-Sim. Ora, vamos, itooshi, me diga a verdade... O que o médico lhe disse?
-Você já sabe...
-Mas quero ouvir da sua própria boca. Diga. Vamos, diga as palavras mágicas.
-Ran-chan, vamos ter um bebê... – e a reação foi inédita, nunca prevista, nem em seus melhores sonhos.
O ruivo o agarrou pela cintura e o ergueu rodando com ele, gritando de alegria. Omi se desesperou. Ran ouviu o gemido profundo que ele deu e colocou-o no chão preocupado.
-Machuquei alguma coisa? Fiz algo de errado?
Omi só balançou a cabeça enquanto corria para o banheiro. Alguns minutos depois voltava enxugando o rosto e as mãos.
-Me esqueci desse problema... desculpe, koi.
-Vai passar logo, o médico me garantiu... Por hora, Ran-chan, menos empolgação... – Omi deu uma risadinha... – Ai, como os outros vão reagir?
As reações foram até normais. Ligaram para Yohji, que havia se casado e morava em outra província, cuidando de uma loja de artigos importados. Ken namorava a irmã dele, Hiramaya Kudou (1), que era violoncelista e vocalista de uma banda e estava sempre fora, em concerto ou em tournée. O ex-playboy só fez tirar uma com a cara do ruivo (como sempre):
-Geez, Ran. Até nisso você quis me passar a perna? Fez que fez até engravidar o pobre do Omiitchi?
Mas o ex-espadachim tinha mais jogo de cintura...
-Você que é um lerdo... daqui a pouco até Hiramaya aparece de barriga por aí...
-EU CASTRO AQUELE DESGRAÇADO!!
Omi escutou o berro de longe. Era uma piada os ciúmes que Yohji sentia da irmã. E Ran sempre o pegava nesse ponto fraco dele.
-Oras, Kudou. O que você acha que eles ficam fazendo durante as noites da tournée quando tudo acaba? Jogando damas?
-Vamos mudar de assunto?
Ran sorria. Ele queria contar a todo mundo como a barriga de Omi crescia, tímida a princípio até despontar com tudo aos cinco meses. Como eles transformaram o escritório em dormitório infantil. As compras de enxoval, com uma emburrada e enciumada Aya-chan a tiracolo, agora que tinha perdido o lugar de destaque nas atenções do irmão. O sobrinho foi relegado ao plano de... sobrinho. Omi visitava-a sempre que podia pra ir aprendendo algumas coisas na prática e lia, lia muito. Livros, pesquisa na Internet, cursos para grávidas. Um dia, lá pelo sexto mês, um furacão loiro passou pela cidade para vê-los, trazendo na bagagem um monte de brinquedos. Foi no dia em que Omi teve vontade de comer melancia com catchup e Ken, Hiramaya e Ran dividiram a cidade em três setores diferentes para tentar achar a fruta fora da estação. Hira trouxe porque teve a brilhante idéia de subornar um chef de restaurante de um hotel cinco estrelas.
-Pelo menos meu filho não vai nascer com cara de melancia...
A emoção de encostar a mão e sentir o bebê empurrando, chutando? Era o SEU bebê, com quem eles conversavam, cantavam, brincavam... Hira deixou umas fitas gravadas que acalmavam o irrequieto Fujimiya nas piores horas. No primeiro ultrassom, os pais choraram. Quando descobriram que era uma menina então, Ran passou mal. Omi vivia com a caixa de lenços pra cima e pra baixo.
Mas aos sete meses, Omi sentiu umas dores embaixo estranhas. Bem doloridas. E uns dias depois das dores terem começado, veio o sangramento. Ele chamou Ran, que ligou imediatamente para uma ambulância. Deitados no sofá, esperando, Omi chorava.
-Ainda não ta na hora... Ainda não...
-Calma, itooshi...
-Oh, por favor, por favor... por favor... quem permitiu esse milagre, que não permita que agora acabe assim...
-Shh... Não vai acabar nada... Olha, a ambulância chegou...
-Ran, você vai comigo?... Fica comigo... RAN! RAN! RAAAAANNN!
-Que foi, Omi? Calma... Acorde... Você está tendo um pesadelo...
-Hein?
N/A: Nossa, agora vocês me matam, ne? Minhas orelhas vão queimar, eu vou espirrar até cair o nariz... Calma, gente, o fic não acabou... Tem mais.... (1) Evil, uma palhinha, uma participação especial da personagem que eu to criando, só pra você... Amanhã eu termino o fic... Sem falta. Você vai gostar eu prometo...
