PEDIDO DE NATAL – ULTIMO CAPITULO
-Omiitchi, acorde... Você está tendo um pesadelo. – Ran o abraçou com mais força, para que ele parasse de se debater.
-Hein? – Omi abriu os olhos, sem entender. – Onde estamos?
-Estamos em nossa cama, no nosso quarto. – o ruivo tentou ler algo nos olhos assustados do amado, mas só lia confusão e medo.
-E o nosso bebê? Eu perdi nosso bebê? – os olhos de Omi se encheram de lágrimas...
-Que bebê, koi?
Omi se soltou de um rapelão dos braços de Ran e foi se olhar no espelho. Nada. Nem um corte na barriga, nem estrias, o abdomem continuava tanquinho, o peito no lugar, nada que indicasse uma gravidez interrompida. Ran observava-o, sem dizer nada. Omi virou-se e correu para o banheiro, onde ficou um bom tempo. O ex-espadachim até chegou a se levantar e parar na porta, ouvindo os soluços abafados do amado. Resolveu não interferir, AINDA. Se Omi quisesse, contaria. Voltou pra cama, esperando. Omi tinha chorado com o rosto enfiado na toalha de banho, porque sua vontade era de gritar muito, de frustração, dor, ciúmes... Sim, ciúmes. Aya-chan ia ter um filho, aquilo que ele, Omi Tsukiyono mais queria no mundo, poder ter um filho do homem que amava. A natureza às vezes era injusta. Mas não podia viver eternamente no banheiro, com o rosto enfiado na toalha, sentindo pena de si mesmo e preocupando Ran. Então lavou o rosto e voltou para a cama. O ruivo não perguntou nada, o loiro abraçou-o e ficaram um tempo apenas partilhando a ternura do momento.
-Sente-se melhor? – Ran deu um beijo no topo da cabeça clara.
-Ainda não. Foi um sonho muito real. Mas vai passar.
-Quer me contar sobre ele?
-Depois.
Passados alguns dias, o "depois" nunca chegava. Mas o ruivo não era nenhum lerdo... Foi juntando algumas pontas soltas, alguns comentários sobre o final da gravidez de Aya-chan... Quando o sobrinho nasceu, Omi deu uma desculpa qualquer e não foi ao hospital. Só o conheceu depois de duas semanas. Foi a própria Aya que deu a dica final ao irmão.
-Omi está com problemas?
-Porque pergunta?
-Ele está mais triste e calado que o normal. Você deveria dar mais atenção a ele, Onii-chan.
-Acha?
-Sim. O nascimento de Hiroshi o afetou muito. Ele ficou inseguro, porque é difícil, mas ele nunca vai poder te dar um filho, por mais que te ame. Se isso afeta as mulheres em relação ao marido, o que não dirá um homem.
-O Omi é mais forte que isso...
-Não é não. Ele pode ser o todo poderoso chefe de uma empresa (É. Para os outros, Omi e Ran trabalham numa empresa multi-nacional) mas é um ser humano, com sentimentos tão comuns como ciúmes e insegurança. Na cabeça dele, você pode querer trocá-lo por uma mulher que te dê um filho, no dia que te der realmente vontade de ter um. A cabeça pensa de um jeito, racionalizando, mas o coração é traidor.
Ran não disse nada, mas ficou pensando sobre tudo isso... Coincidentemente, a Kritiker viu-se diante de um caso sério, que absorveu muito da atenção de Omi e deu a chance a Ran de viajar para obter uns dados importantes. Este aproveitou a desculpa para se desviar por uns dias. Ele contatou Yohji e o nomeou seu procurador no assunto que tinha em mente. Depois voltou para casa, sem transparecer nada no rosto, se bem que tinha um olhar mais terno ao olhar para o amado e de vez em quando dava umas risadinhas travessas. Omi achava que era por causa do sobrinho e ficava um pouco mais enciumado. Umas duas semanas antes do Natal, o avô Takatori chamou Omi para conversar com ele e Ran achou melhor ficar em casa, para preparar tudo para a ceia de Natal, já que eles convidaram Aya-chan e o marido, Yohji e a esposa, Ken e Hiramaya, Birman e Manx e seus namorados... Omi nem disse nada, do tipo "mas vai começar duas semanas mais cedo a preparar as coisas?" porque sabia que visita à família Takatori era algo demais a pedir ao esposo, mesmo que o velho avô estivesse mais perto dos ancestrais que nunca... Assim que o trem de Omi virou a curva, Ran deu meia volta e saiu correndo atrás de uma loja de materiais de construção além de ligar para Aya-chan e dizer: "Sinal verde! Temos pelo menos duas semanas..." A irmã deu aquela risadinha travessa, que estava virando marca de família e chamou a babá de Hiroshi, para acompanha-la em algumas compras...
Três dias antes do Natal, um Omi irritado estava voltando pra casa, bufando:
-Eu sinto um cheiro de conspiração no ar... Meu avô poderia ter me deixado voltar pra casa mais cedo, mas ficou me segurando até agora... Sempre que eu ligava pro Ran, ele nem brigava muito comigo, me incentivando a ficar... Estão aprontando alguma nas minhas costas...
Pegou um táxi e parou em frente à casa. Estava toda enfeitada, luzes piscando, um boneco de neve com cartola e vassoura na mão acolhendo os que chegavam. Ao som do carro se retirando a porta se abriu e um loiro mais alto que Omi colocou a cabeça para espiar, depois gritou para dentro:
-ELE CHEGOU!!
Omi sentiu sua irritação se esvair completamente ao ser esmagado num abraço de urso por Yohji.
-Yohji-kun! Chegou quando?
-Há dois dias! Venha, venha, temos chocolate quente, lareira acesa e muito amor pra dar... Ohohoh!
Lá dentro um ruivo sorridente lhe ajudou a tirar o casaco e o cachecol, lhe deu um beijo cheio de saudades e colocou uma xícara de um chocolate grosso e fumegante nas mãos.
-Okaeri!
-Arigato... E Hira e Ken?
-Virão no dia de Natal. Não conseguiram passagem pra mais cedo...
-Com certeza, aquele cabeça de bagre do Kenken esqueceu-se de fazer reservas... E pensar que ele é chefe de equipe e secretário de minha irmã... Incompetente...
Asuka Kudou (é, ele tem um fraco por esse nome...), a esposa de Yohji, deu uma risada e abraçou o marido.
-Aiaiai... É Natal, amor, pelo menos dê um desconto nessa época...
E brincando, rindo, Omi nem se deu conta dos olhares que os três trocavam. Quando passou pelo corredor em direção ao quarto, sentiu um cheiro diferente vindo do escritório. Mas estava trancado! Ran vinha logo atrás dele...
-Que cheiro estranho...
-Ah, são os móveis novos que eu comprei...
-Você comprou móveis novos para o escritório? – estranhou Omi.
-Sim... Mas é uma surpresa de Natal pra você... Vai ter que se agüentar até lá. Me promete?
-Hummm... não sei... o que eu ganharia com isso?
-Boa pergunta, Tsukiyono-sama... Posso pensar em algumas possibilidades bem vantajosas para o senhor, aqui e agora... – O ruivo abraçou-o por trás e se esfregou no corpo dele, sussurrando no ouvido – Afinal, lá se foram algumas tardes de sábado perdidas e eu tenho que cobra-las de acordo, certo?
Omi ainda tentou argumentar (por educação, claro)
-Temos visitas, koibito.
-São da família... Eles entenderão se sumirmos por uns minutinhos...
-Por uns minutinhos eu não quero!
-Esse é meu itooshi! – Ran pegou-o nos braços. – Vamos ver se chegamos a um consenso entre o tamanho da minha saudade e o da minha educação.
-Espero que seja do jeito que eu lembro... – Omi deu uma casquinada maliciosa.
-Te mostro já, hentaizinho...
O dia seguinte foi ocupado pelos preparativos da ceia em si e Omi nem teve tempo de se lembrar do quarto fechado. E achou que a ansiedade de Ran e Yohji com a demora de Hira e Ken normal, afinal, havia uma possibilidade chata de que eles não viessem para a ceia. Já estavam pondo a mesa, meio chateados, quando as portas de um carro bateram e ouviram vozes gritando lá de fora:
-Ó DE CASA!!
-A COMIDA JÁ TÁ NA MESA??
-DÁ PRA ABRIR A PORTA?? AQUI TÁ UM FRIO DO CARAMBA!!
-OKAERI! OKAERI! – disseram todos, abrindo a porta.
Hira entrou primeiro, carregando uma cesta de vime embrulhada em papel celofane, com um grande laço rosa em cima. Ran e Aya-chan sentiram o coração bater mais forte. Asuka abraçou Yohji e começou a chorar silenciosamente. Ken veio atrás com as malas. Omi sorriu pra eles, estranhando o silêncio que se fez, depois que a porta se fechou. Olhou para a loira, que punha a cesta cuidadosamente no sofá:
-Que bom que deu tempo de vocês chegarem... Estávamos preocupados... Que é isso, Hira-chan? Uma cesta de Natal?
O sorriso da loira, que sempre foi grande, agora estava radiante. Ela tremia quando pegou na mão de Omi e trouxe-o para perto da cesta.
-De certo modo, é, Omiitchi. É o seu presente de Natal.
-Verdade? E o que é? – perguntou ele, enquanto abria o laço e o papel celofane. Ao olhar pra dentro da cesta, ele aproximou mais o rosto para confirmar o conteúdo, depois ergueu o corpo, colocando a mão sobre a boca... – Mas é... é...
-É! – Hiramaya ria, chorava, dava pulinhos, batia palmas... – É um bebezinho... Sua filha, Omiitchi...
-Como? Como pode... – Omitchi estava chorando sem perceber e virou-se para Ran. – Você...
-NOSSA filha, você quis dizer, não é, Hira? – Ran aproximou-se de Omi, abraçando-o. – Feliz Natal, meu amor.
-Vocês não compraram um bebê, certo? Ou seqüestraram um?
-Hey, hey. – Yohji se aproximou, desmanchando a franja de Omi, num gesto mais do que conhecido. – Nós te amamos e faríamos qualquer coisa pra te ver feliz, mas nada contra a lei...
-Ta certo que andamos mexendo uns pauzinhos pra agilizar o processo. – informou Manx – Mas está tudo dentro da lei de adoção.
Omi se agarrou na roupa de Ran, em dúvida se não ia enfartar de alegria ali, naquele momento. Depois jogou a cabeça pra trás, numa gargalhada de pura felicidade. E suspirou alto:
-EU AMO TODOS VOCÊS! AMO! – E se soltando do abraço do ruivo, enfiou as mãos na cesta com cuidado, trazendo o bebê bem agasalhadinho para junto do peito. – Foi por isso que vocês demoraram?
-Foi. Precisamos passar na província dela pra apanha-la e não foi fácil fazer essa baldeação pra cá... Não é linda? Ela tem olhos azuis...
-E disseram que ela vai ficar ruiva... – completou Aya-chan. – Mas a surpresa não para aí.
-Tem mais?
-Claro. Eu não disse que comprei móveis novos? – e Ran piscou o olho.
Lá em cima, escritório aberto, Omi pensou que ia desmaiar. Como no seu sonho, ele tinha se transformado num acolhedor quarto de criança. Tudo em tons pasteis, cheio de lacinhos, brinquedos, um berço grande no meio...
-Espero que goste... – Aya-chan sorriu. – Eu e Suryia-dono que escolhemos, com alguns palpites do Onii-chan sobre o que você gostaria...
-É perfeito... – Omi passou os dedos sobre a cômoda, olhou para os móbiles no teto... – Por isso meu avô me segurou lá tanto tempo...
-Sim. Ele cumpriu bem o papel dele...
-Oras, todos vocês me enganaram direitinho esse tempo todo... Podiam ganhar o Oscar tranqüilos...
Risadas. Foi quando a barriga de Ken roncou, lembrando que ainda havia uma ceia lá embaixo esperando.
-Tinha que estragar todo um clima natalino perfeito... – resmungou Yohji.
-Mas a comida ta lá pra ser comida, Yohji-kun. – Riu Omi. –Vamos, pessoal. Vamos partilhar nossa ceia.
-Ai, eu não to com muita fome, não. – gemeu Hiramaya, ficando pálida.
-Enjôo de novo, amor?
-Hm-hm...
-O QUE? CADE A FACA DE DESTRINCHAR O PERU? Eu vou destrinchar outro peru esse ano. – O ex-playboy estava até roxo de raiva.
-EPA! Que é isso, cunhado? Ela só comeu uma salsicha estragada enquanto a gente esperava o trem, só isso... Credo, que estresse...
-Ela anda comendo há muito tempo salsicha estragada... – Yohji não desamarrou a cara enquanto se sentavam.
Mais risadas enquanto se serviam. Omi olhava pra todos eles, brincando, partilhando aquele momento especial com ele, responsáveis pela sua felicidade. Ele sabia que faria o mesmo por qualquer um deles. Aquela era sua família, aquele momento era só deles. Porque era Natal e porque milagres ainda acontecem... Beijou a testa do bebê em seus braços e olhou para o marido a sua frente. Adorou o brilho no olhar do ruivo e o sorriso aberto dele. Os lábios dele disseram: "Feliz Natal. Eu te amo!" Definitivamente, o Natal é uma época maravilhosa...
N/A: Nossa, que capítulo difícil de sair... O meu computador fechou umas duas vezes enquanto eu digitava... Bem, Evil, este é o seu presente de Natal/aniversário... Eu disse que ia ser fluffy... Agora o making-off... Esse fic foi o resultado de uma conversa entre a Suryia Tsukiyono (espero que ela não ligue de ter feito uma participação especial no fic, decorando o quarto da filha de Omi) a Evil e eu no MSN. A Evil me pediu esse fic de aniversário e eu regateei, porque M-preg é sempre uma coisa complicada. A gente tem que arrumar umas desculpas plausíveis pra engravidar um homem. Pois a Suryia conseguiu formular toda uma hipótese cientificamente comprovável e jogou no meu colo. Eu disse que faria um fic bem SAP para acompanhar o espírito natalino. A Evil ainda está esperando um fic de gravidez extenso, complicado, bem detalhista, viu, querida Tsukiyono? A hipótese foi sua, se vira... Bem, Feliz Natal, pessoal. Eu acredito em milagres e acredito no amor. Até no ano que vem... Daí eu posso contar a história da Hiramaya e vamos rir com a família Kudou. Beijo. 24/12/04.
