Parte III

O estranho na verdade não era tão estranho assim. Harry lembrava-se vagamente daquele rosto chupado e vermelho. Dos cabelos castanhos e opacos. Ele o vira em sua primeira e última visita àquele... estabelecimento, vários meses atrás. Harry achou decididamente engraçado recordar-se daquele senhor, mas não do rapaz com quem passara a noite. De fato chegou a rir-se, arrancando um olhar surpreso do homem e também de Draco.

"Algum problema?" perguntou Draco num tom de voz delicadamente preocupado e hesitante.

Harry segurou uma nova risada e ergueu uma das mãos, como se pedisse desculpas por sua falta de jeito.

"Parece que seu amigo me acha divertido, menino Draco..." comentou o homem com um sorriso que não se estendia a seus olhos negros e argutos.

As mãos que mais uma vez apertaram os ombros de Draco pareciam-se com garras de um abutre de tão magras. O loiro lançou um olhar quase suplicante a Harry.

"De modo algum" disse com firmeza levantando-se e estendendo a mão para o homem de rosto chupado. "Sou Harry Potter".

Baixando o olhar para a mão que lhe era oferecida, o homem correu seus olhos pelo rosto repentinamente sério de Harry. Parecendo registrar seus traços atentamente. Então mirou a cicatriz em forma de raio e seu rosto se desanuviou.

"Recordo-me do senhor..." disse ele apertando a mão. "Devo acrescentar que é um prazer tê-lo novamente em nossa casa, não é Draco?" assim que soltou Harry, o homem voltou a apertar os ombros do loiro com força. Aquilo causou um estranho calafrio em Harry.

"A propósito... chame-me de Norton. É como todos me conhecem por aqui..."

Harry fez um rápido movimento com a cabeça, assentindo. Agora sabia porque não se esquecera do homem. Ele lhe provocava uma sensação de sufocamento. Era um pouco parecido com o efeito que os dementadores lhe causavam, mas Harry duvidava que puxar sua varinha e berrar Expecto Patronus adiantasse de alguma coisa...

Draco tinha os olhos voltados para a mesa, abrindo a boca de leve a todo instante em que Norton lhe apertava. O rapaz loiro abaixara as mãos e se segurava com força na cadeira. Parecia que tinha medo de cair, de se mexer.

"Então... se não se importa, Sr. Potter, eu gostaria de levar o menino aqui comigo... posso lhe arranjar outro que esteja..."

"Não".

Ambos - Norton e Draco - fitaram Harry com atenção. O primeiro parecia apenas curioso com a recusa, o segundo, espantado.

"Na verdade, eu estava tendo um animado papo com Draco, Sr. Norton".

Norton contorceu seu rosto chupado diante daquele suave atrevimento. Ele inspirou fundo e por fim acabou sorrindo de um modo medíocre.

"Esses rapazes não estão aqui para conversar, Sr. Potter. Estão aqui para trabalhar. Então se não se importa..."

Harry sorriu maldosamente e sem dizer uma palavra, abriu a carteira tirando uma quantia que lhe pareceu suficiente. Então jogou as notas sobre a mesa com displicência.

"Isso é o bastante?" perguntou ajeitando o casaco e voltando a se sentar.

Norton pareceu ofendido e fez uma careta. Draco conservava seus olhos cinzas ligeiramente arregalados. Harry estava calmo e dono de si. Nunca dera a ter medo de cara feia e não era agora que ia começar...

"Ah não é...?" perguntou casualmente, fazendo menção de apanhar a carteira outra vez, mas Norton parou-lhe abruptamente, colocando a mão sobre a sua. Harry sentiu os dedos frios sobre a pele e rangeu os dentes.

"Por favor, Sr. Potter... nunca foi conhecido por ser ganancioso. Isso basta, claro. Mas se quiser dormir com o rapaz, bem... teremos que rever o valor..."

Sentindo cada vez mais nojo daquele homem, Harry forçou os cantos de seus lábios para cima e disse: "De certo que sim".

Norton apanhou as notas e rapidamente guardou-as dentro de seu terno. Draco aparentemente prendia a respiração, sem atrever-se dar um único pio - parecia que ele já conhecia o ritual e que se preparava mentalmente para suportá-lo.

"Agora se me dão licença..." Norton se abaixou e segurou o rosto de Draco entre seus dedos, fazendo com o rapaz o encarasse. "Até mais tarde, meu querido". Complementou com um sorriso malicioso, em seguida apertando seus lábios finos contra boca fechada do loiro.

Harry precisou segurar-se nas bordas da mesa para não voar na garganta do homem ou mesmo puxar sua varinha e azará-lo. Draco suportou tudo sem clamar, embora seu rosto tenha se contorcido violentamente. Com um último olhar a Harry, Norton deu as costas e se afastou em direção à outra mesa.

O moreno respirou fundo e encarou Draco, que tinha uma expressão de repulsa no rosto pálido. Harry não pode se conter e disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

"Como você agüenta? Você é um..." ele baixou o tom para quase um sussurro. "... um bruxo. Não precisa se submeter a esse tipo de coisa!"

De fato a idéia de Draco Malfoy tão submisso lhe soava estranha demais. Aquele a sua frente não era o sonserino que conhecera. E se por um lado isso fosse bom, Harry esperava que nem tudo tivesse sido tirado da personalidade do loiro...

Uma risada baixa lhe chamou de volta a mesa.

Piscando os olhos, viu Draco balançar a cabeça de leve, enquanto seus lábios se curvavam num sorrisinho enviesado.

"Há certas coisas, Potter que até podem parecer simples..." seu rosto deformou-se numa expressão amarga. "...mas não são".

Harry engoliu em seco.

"Há ocasiões... em que você não tem escolha". Volveu Draco tirando mais um cigarro do maço. Harry automaticamente estendeu o isqueiro para ele.

"Não posso acreditar que esteja preso aqui, Draco..."

O loiro pareceu sorrir, mas seus olhos estavam vazios.

"Não por correntes, nem por magia ou contratos... eu... eu..." ele pareceu hesitar por um segundo, tragando o cigarro longamente antes de continuar. "Eu estou aqui por que quero..."

"Ninguém quer ser humilhado, Draco..." interrompeu Harry descrente.

Draco rodou os olhos.

"Eu estou aqui por que quero continuar livre, Potter".

Harry deixou a boca pender rapidamente. Repentinamente ele tentava raciocinar. Livre? Harry tinha sinceras duvidas de que Draco tivesse muito poder de decisão e liberdade dentro daquelas paredes, a não ser se queria seu drink com ou sem gelo...

"Livre? Mas livre do quê?" perguntou com o cenho franzido e viu Draco inspirar fundo, antes de responder num novo sussurro:

"Azkaban".

Continua.

N.A: Ahhh... teve menos reviews (foram 12)... ;_; tá errado! Eu quero 13 dinovo! Não vou mais atualizar... (::Dana cruza os braços e vira o corpo::) Brincadeira, eu ainda estou muito feliz com todos esses comentários... MUITO, MUUUUITO OBRIGADA!!! :D