Parte VI

Harry observou com atenção o lugar em que acabara de entrar. Poderia ser tomado como um modesto quarto de hotel suburbano, não fosse um porta-retrato colocado sobre a penteadeira, repleta de produtos de higiene pessoal. Aqueles pequenos detalhes indicavam que alguém vivia ali.

"Parece que o tal Norton não vai muito com a minha cara..." disse Harry casualmente, deixando que Draco tirasse seu casaco. O loiro estendeu-o com cuidado no encosto de uma cadeira e o fitou por alguns segundos.

"Diz isso pela cara que ele fez quando você disse que vinha comigo para cá?" Draco riu-se ligeiramente. "Sinto decepcioná-lo, Potter... mas desta vez a culpa é toda minha..."

Harry ergueu uma sobrancelha, sem entender o sorriso maldoso do loiro. "Sua?"

"Norton tem uma estranha obsessão pela minha pessoa". Disse dando os ombros e parecendo um pouco entediado. "Às vezes me pergunto se trepo tão bem quanto dizem..."

A boca de Harry pendeu de leve. Draco sorriu.

"Parece que o escandalizei, Sr. Potter".

"Não." retrucou Harry, sentando-se na beirada da cama de casal antiga e tirando as botas, sem erguer os olhos. "Não, Draco... já o ouvi baixar o nível antes, se esqueceu?"

Draco sabia que Harry se referia as inúmeras vezes em que ele xingara seus pais e amigos. Sentiu uma estranha contração no peito e desviou os olhos.

"Vamos acabar logo com isso..."

Ouviu Harry rir baixo e longamente.

"Esses trouxas devem te tratar muito mal, para estar tão ansioso para dormir comigo, Draco".

O loiro rilhou os dentes e fez menção de sair pela porta. Chegou a virar a maçaneta, mas Harry parou-o bem a tempo, segurando-o pelo braço. Encarou Draco e viu que o rapaz tinha um ar extremamente magoado no rosto pálido.

"Não sou pago para ouvir ofensas, Potter". sibilou ele com amargura, fazendo força para se soltar.

Harry permaneceu em silêncio, mas não o soltou. Intimamente pensava se tinha pego pesado demais, mas tinha quase certeza de que Draco já ouvira coisas piores... considerando que levava uma vida como aquela.

"Você quer que eu te peça desculpas?" perguntou Harry com um olhar sério, apertando mais sua mão em torno do braço do loiro.

Draco fez uma careta de dor

"Eu quero que você me solte!"

Harry sorriu e fez que não com a cabeça. Draco era praticamente da sua altura, mas ele parecia tão menor naquele instante, tão abalado e submisso, como um pequeno pássaro que batera contra uma vidraça e fora apanhado por uma mão humana.

O loiro ofegou, sentindo a outra mão de Harry segurar-se na sua cintura, puxando-o para próximo dele.

"Pare... Você está me machucando, Potter!"

Fazendo uma teatral careta de incredulidade, Harry continuou segurando-o com firmeza, enquanto o arrastava na direção da cama, jogando-o sobre o colchão e deitando-se sobre ele.

"Eu vou gritar". Avisou Draco em voz baixa, o corpo trêmulo.

Harry aproximou seu rosto do dele, quase encostando as pontas de seus narizes.

"Grite." Disse Harry e em resposta, o loiro engoliu em seco, deixando a boca pender.

Se ele realmente ia gritar ou não Harry nunca soube, pois naquele exato instante beijou-o com força.

Draco tentou resistir, fechando os lábios, empurrando as mãos de Harry que tentavam lhe abraçar, lutando bravamente contra aquela invasão.

O moreno quase sorriu diante daquilo. Será que o pouco orgulho que restava no jovem Malfoy era tão precioso... tanto que ele não poderia deixar alguém como Harry se aproximar dele, tocá-lo... beijá-lo?

E como eram macios... Harry nunca imaginaria que aquela boca pudesse ser tão doce e suave. Imaginar que aquela fosse a mesma boca que o infernizara, que ele chegara socar em seus anos escolares...

Logo Harry percebeu que Draco não lutava mais, que ele o abraçava, que retribuía o beijo. A língua úmida do loiro juntou-se a sua e as mãos finas enlaçaram seu pescoço.

A necessidade de ar obrigou-os a romper o contato, encostando ambas as testas, os olhos fechados e a respiração arquejante. Draco foi o primeiro a se mexer, incomodado com o peso de Harry sobre si daquela maneira.

Harry ergueu ligeiramente o corpo, mas não soltou Draco. O loiro sorriu.

"Relaxe, Potter. Eu não estou pensando em fugir." garantiu Draco maldosamente. "Mas... a não ser que você pretenda fazer o que tem em mente comigo vestido... bem, terá de me soltar..."

Harry franziu o cenho e suas mãos soltaram os braços de Draco, para então fixarem-se em suas roupas. Abriu o colete e jogou-o no chão, sem desviar os olhos dele uma única vez.

Draco não tentou impedi-lo. Limitou-se em ajudar, erguendo os braços para que Harry pudesse tirar sua camisa.

Logo Draco estava inteiramente nu. Seu rosto normalmente pálido, agora corado e ele procurava olhar somente para o lado. Fez menção de levantar-se, mas novamente Harry o impediu.

"Vou apagar a luz". disse Draco.

"Não... é preferível que nos olhemos... quero ter certeza do que estamos fazendo."

Draco riu-se, enquanto Harry terminava de tirar sua última peça de roupa e novamente se acomodava sobre o loiro.

Verde encontrou-se com cinzento e Draco perguntou:

"Por que Potter? Você não certeza?"

Foi a vez de Harry rir-se. Ele apoiou as mãos no colchão, acomodando-se melhor entre as coxas do loiro. Draco uniu as sobrancelhas e fez força para não gritar quando Harry o penetrou.

Eles se beijaram novamente, abafando os gemidos de prazer de Harry e os de dor de Draco. Harry desceu uma das mãos até o baixo ventre do loiro e começou a acariciá-lo devagar.

Draco arquejou, rompendo o beijo e gemendo desta vez num tom mais calmo, quase doce.

Voltara os olhos acinzentados para cima e deixara a boca pender novamente, os murmúrios quase uma constante leve e inebriante.

Harry sorriu diante de tal cena.

Sorriu para si... por si.

Por Draco.

Por que não ficar satisfeito? Afinal... o quê tinha lhes restado... o que tinha sobrado de bom em suas vidas?

Draco apertou a mão de Harry junto da sua e cerrou os olhos.

É.

Era pouca coisa.

(...)

Harry acendera outro cigarro no exato instante em sentiu o peso sobre seu peito sumir. Voltou os olhos para a face pálida que o encarava. Fez menção de apagar o cigarro, mas Draco foi mais rápido e pegou-o das mãos de Harry. Tragou uma vez e depois devolveu ao dono que o mirou com curiosidade. Parecia sério.

"Por que, Draco?"

Draco sabia perfeitamente bem ao que Harry se referia e simplesmente suspirou, deitando de volta do peito do moreno e o abraçando.

"Não sei, mas não estou arrependido..." então ergueu o rosto por um instante: "Você está?"

Harry ficou alguns segundos em silêncio antes de responder.

"Não. Não tenho certeza."

A risada baixa ecoou por todo o dormitório.

"Você parece que nunca tem."

Harry intimamente concordou.

"O que vai acontecer agora?"

Draco suspirou, olhando casualmente para a mão de Harry caída sobre o colchão.

Ele não sabia. Ele não queria saber. Fechou os olhos. Harry, que pensava da mesma forma, o imitou.

Do cigarro ainda aceso na mão morena ergueu-se uma fina névoa, os envolvendo como um etéreo abraço.

E era pouca coisa.

Mas a única suficientemente real.

Fim


NdA. Antes de mais nada... peloamordemerlim NÃO ME MATEM! Até porque se vocês me matarem... bem, eu nem poderei pensar numa possível continuação para esta fanfic, né? Mas isso não é uma promessa, somente óbvia constatação. Comentários serão bem-vindos e servirão de incentivo, eu lhes prometo. Esse foi meu presente de Natal para vocês, espero que tenham gostado. E como prêmio pela preferência e paciência... esse capítulo foi bem maior que todos os outros! Não que seja muuuita coisa, mas... Meninas e meninos, MUITO obrigada por terem me acompanhado esse mês (foi mais ou menos isso, né? Um mês?), vocês não têm idéia de como me deixaram feliz! A gente se vê em breve, né? (eu espero) XD