Interlude – Cena V – Nós
"I saw your teardrops, and I heard you cry
All you need is time
Seek me and you shall find
You have everything and your still lonely
It don't have to be this way
Let me show you a better day"
– Celine Dion, "I'm your angel"
Durante o jantar, Leahnny percebeu que os pais não estavam tão nervosos quanto antes, embora, de vez em quando, trocassem alguns tensos olhares. A garotinha ofereceu-se para lavar a louça, coisa que tanto Harry quanto Hermione estranharam, já que a filha era muito nova para saber como fazer isso. Os pais trocaram mais um olhar e logo Leahnny viu Hermione a pegando no colo e levando-a até o quarto.
– Ah, mãe... – protestou ela, quando Hermione a cobriu.
– Já está tarde, Leah.
– Eu quero ficar com você... e com o papai...
– Eu volto aqui amanhã, meu amor.
– Juntos, mãe – pediu ela. – Vocês estavam conversando no jantar... vocês não vão mais brigar?
– Não, querida. Agora durma.
– 'tá bem. Boa noite, mamãe.
– Boa noite, Leah.
Hermione pretendia voltar à cozinha e ajudar Harry com a louça, entretanto, ao sair do quarto da filha, encontrou o marido na sala, em pé, à sua espera.
– Eu ajudo você com a- começou ela.
– Louça? Já dei um jeito naquilo – disse ele, movendo a mão no ar em um pequeno gesto e permitindo que Hermione notasse a varinha que carregava.
– Achei que não gostava de fazer magia... – ela comentou, com a voz um pouco mais baixa do que o normal, evitando que Leahnny ouvisse.
– Eu adoro magia, mas...
– Sei.
Ambos ficaram em silêncio por alguns instantes, observando as paredes da sala, os quadros, o tapete e a janela, evitando sempre encontrar o olhar do outro.
"Bom, eu... tenho que..." Hermione tentou dizer que queria pegar seus pertences e partir, mas até para seus ouvidos as palavras pareceriam falsas demais.
– Você pode dormir no nosso quarto se quiser... – ofereceu ele.
– Har...
– Eu fico no sofá mais uma noite, eu não me importo...
– Hum... – Hermione pensou um pouco antes de continuar. – você também pode dormir na nossa cama, Harry.
– Amor, eu não tenho certeza se...
– Por que não nos deitamos e... conversamos amanhã? Foi um longo dia.
Harry concordou com a cabeça e sutilmente tomou a mão dela na sua. Conduziu a esposa até o quarto, abriu a porta e deixou Hermione entrar, soltando a mão dela e parando no batente da porta, hesitante.
– Acho melhor esperar você se deitar e... então eu... vou fechar a janela da cozinha...
– Harry, nunca fechamos a janela da cozinha, lembra?
– Mas para ligar o alarme...
– Em primeiro lugar, você tem de entrar aqui para ligar o alarme. Em segundo lugar – dessa vez, Hermione fez um movimento com a varinha –, eu posso fazer... com a janela da cozinha aberta.
– Amor, eu... não sei bem como lidar com isso.
– Nem eu, mas se ficarmos a noite inteira parados, estaremos exaustos amanhã, vamos nos deitar de uma vez.
– Então está... certo – ele concordou, entrando no quarto depois de alguns segundos.
Harry estava claramente vacilante e inseguro, temendo, talvez, fazer algum movimento equivocado, tomar uma simples atitude que seria erroneamente interpretada pela esposa. Ainda estava incerto sobre a situação do casamento, sobre a real decisão de Hermione. Temia que ela pudesse mudar de idéia e ir embora definitivamente.
Ela também não estava muito confortável. Não queria ser fria com Harry, tão pouco permitir que ele interpretasse mal o fato de ela ter proposto que dormissem na mesma cama. Ainda não estava preparada para um possível reconciliação, tinha muitas coisas para resolver consigo mesma e outras tantas para resolver com o marido.
Tinham parado de brigar, era verdade, mas retomar o casamento... faltava alguma coisa para que isso acontecesse...
A madrugada encontrou os dois refletindo sobre as mesmas dúvidas, ainda que não as compartilhassem com o cônjuge ao lado. Aos poucos, o sono, o silêncio e a monotonia da escuridão os venceu e eles se permitiram finalmente relaxar e serem absorvidos pelo estado de repouso e descanso que esperaram quatorze dias para encontrar.
Quase completamente adormecida, Hermione mexeu-se na cama, tocando, sem querer, o braço de Harry. Ele inspirou subitamente em resposta, afastou-se alguns centímetros, com cuidado para não acordá-la e ficou ouvindo a respiração da esposa, lenta e constante. Logo voltou a dormir, hipnotizado por aquele som, do qual sentira tanta falta que mal dormira nos dias em que não pudera ouvi-lo.
Um ruído contínuo e perturbador que ecoou por todo o apartamento os arrancou abruptamente do sono. Harry demorou algum tempo para entender o que estava acontecendo. Sentiu Hermione ao seu lado, quase abraçada ao seu corpo; viu que ela também acordara, talvez ainda mais confusa que ele.
– Harry! – ela perguntou, sonolenta. – O que está acontecendo?
– É o alarme...
– Droga!
– Vou dar um jeito nisso – disse Harry, levantando-se.
– Tome cuidado, Har, pode ter acontecido alguma coisa. Aliás, você cuida do alarme e eu vejo a Leah, ela deve ter acordado com todo esse barulho.
– Fique na cama, eu já volto.
Ele levantou-se e desligou o alarme. Com a varinha em punho, saiu do quarto, sem se importar com a possibilidade de encontrar a filha. Andou devagar pelo apartamento e, na cozinha, descobriu a razão do disparo: a janela aberta, por onde a chuva, que começara a cair enquanto eles dormiam, entrava na forma de grossas gotas de água.
Voltando para a sala, Harry encontrou a filha parada à porta do quarto, segurando o travesseiro e encarando o pai com uma expressão de medo.
– O que houve, papai?
– Nada, filha. Só esqueci a janela da cozinha aberta, começou a chover e o alarme disparou.
– Hum...
– Venha – ele a pegou no colo –, vamos voltar pra cama.
Quando Harry voltou para a suíte, Hermione estava sentada e encostada na cabeceira da cama, ansiosa, segurando a varinha firmemente na mão direita. Harry sorriu, aproximou-se e disse:
"Tudo bem, a chuva disparou o alarme. Eu disse que deveríamos ter fechado a janela..."
– Hum... é, eu ouvi. A Leah acordou?
– Aham, mas estava com uma carinha de sono de dar dó... eu a coloquei de volta na cama, ela já deve ter adormecido novamente.
Enquanto Harry voltava para debaixo das cobertas, Hermione largou a varinha sobre a mesa de cabeceira e, depois de ver o marido acomodado ao seu lado, apagou a luz do abajur, deixando-os na completa escuridão. Sentiu Harry abraçando-na, respirou fundo e deitou sobre o peito do marido.
– Eu te amo – disse ela, simplesmente, fechando os olhos.
– Eu também, amor, por isso eu sinto tantas saudades de você... não faz mais isso comigo.
– Não, não faço, Har. Eu juro, não quero ficar mais tempo longe de você... nunca mais... nunca mais...
– Shhhhh! – ele tentou acalmá-la, deitou então ao seu lado, de frente para ela, tirando algumas mechas de cabelo castanho caídas sobre o rosto da esposa e empurrando-as para trás dela, sobre o travesseiro.
– Foi tão horrível, eu achei que tinha perdido você para sempre, amor...
– Shhhh, não diga isso... ouça, Mione, eu sei que é complicado para você, mas, por favor, eu queria que passássemos mais tempo juntos.
– Vou dar um jeito, amor. Vou pedir à Minerva para chamar mais alguém para o trabalho, assim eu poderei ter um horário... normal.
Harry sorriu, realmente feliz. Ao contrário do que esperara, Hermione não recuara. Ele estava sentindo-se, aos poucos, mas confortável ao lado da esposa, e mais confiante também. Pensou em todas as possíveis conseqüências antes de tentar beijá-la. Aproximou seu rosto lentamente, atento a todas as reações de Hermione, tocou seus lábios com delicadeza até sentir a mão da esposa pressionando sua nuca com força.
Abraçou-a como pôde, ainda de lado e de frente para ela. Se a princípio tinha em mente apenas um beijo que selasse a reconciliação, naquele momento sentiu que não poderia parar de beijá-la enquanto não sufocasse a ausência que a separação provocara, não só em se coração, mas também em seu corpo.
Apoiando-se sobre um dos cotovelos, Harry ergueu-se um pouco, aproximando-se cada vez mais da esposa. Hermione permitiu que ele a deitasse de costas sobre o colchão e afagou as costas de Harry com as duas mãos, querendo fazê-lo sentir-se tão desejado e tão protegido quando ela se sentia nos braços do marido.
Mesmo estando sobre ela, Harry sentia como se não estivessem suficientemente próximos. Pela cintura da esposa, puxou-a mais para perto, fazendo Hermione erguer-se a centímetros do colchão e encostar por completo no seu.
Passou a beijá-la no colo, enquanto Hermione acariciava-o, suas mãos já por dentro da roupa.
– Tire... – pediu ele, voltando a beijá-la na boca.
– O quê? – Hermione perguntou inocentemente, quando ele permitiu que respirasse.
– A minha roupa, amor... – Harry riu.
Hermione obedeceu, devagar, beijando-o enquanto jogava a camisa do marido no pé da cama.
"Toda ela" acrescentou Harry, fazendo com Hermione exatamente o que acabara de pedir.
– Não estamos nos precipitando? – perguntou ela, depois de um breve gemido provocado pelos beijos que Harry pousou em seu abdômen.
– Eu acho que não consigo mais parar, amor... mesmo se quisesse...
– Eu também não – Hermione confessou, fazendo-o sorrir e reaproximar-se de seu rosto.
Em poucos segundos, a pergunta que ela fizer momentos antes não tinha mais importância; eles estavam ocupados o suficiente para não pensar em mais nada.
Harry beijou os seios da esposa com cuidado, sem pressa, acariciando-os com os lábios enquanto suas mãos pressionavam os ombros de Hermione com força, apertando-os, quase machucando.
"Har..."
– Está tudo bem, amor.
– Eu-
Ele não permitiu que Hermione falasse. Selou sua boca com um beijo demorado, durante o qual ela resmungou algo incompreensível e apertou com muita força a cintura dele.
– Relaxe, meu amor – sussurrou Harry, sentindo as unhas de Hermione cravarem em suas costas.
– Você está me machucando – ela murmurou, ainda agarrando-o com força.
– Você também – ele sorriu. – Eu não me importo... desde que esteja tudo bem com você...
– Eu só... – ela começou, enquanto os lábios úmidos de Harry alcançavam seu obro e desciam pelo braço direito –...queria...
– Hum? – ele perguntou, sem levantar o rosto e voltando a beijar a mão da esposa.
A resposta que Hermione daria foi substituída por um breve gemido no momento em que Harry largou sua mão e passou a beijar seus quadris.
"Queria...?"
– Por favor...
– Shhhh... feche os olhos, amor... eu cuido de você.
Embora soubesse que precisava se acalmar, Hermione ficava cada vez mais tensa. Harry continuava percorrendo seu corpo com os lábios e, pouco depois, a obrigou a cerrar os olhos e os punhos, prender a respiração por longos períodos, sentindo como se algo a restringisse além da falta de oxigênio.
"Amor..." ele insistiu, compenetrado, sentia-na liberar todo o ar preso nos pulmões.
Harry tomou as duas mãos de Hermione nas suas, mantendo os braços dela abertos sobre a cama. Olhou diretamente os olhos da esposa e não pode deixar de notar uma certa dose de hesitação e medo, que ela não conseguira – ou, provavelmente, não tentara – esconder.
Devolveu o olhar e só então percebeu que não estava tão calmo quanto tentara demonstrar à amante. Conteve-se a tempo de manter o controle sobre Hermione, voltando a beijá-la avidamente, movendo seu corpo sobre o dela e tentando esquecer – e fazê-la esquecer – os pensamentos de insegurança que retornavam continuamente.
Apertou as mãos dela com mais força, sentindo a resposta de Hermione provocar uma dor aguda em seus dedos. Libertou uma das mãos e usou-a para acariciar o rosto constrito da esposa, que, com isso, abrandou um pouco a expressão.
Hermione continuava nervosa e ele temia que o motivo fosse o mesmo que o deixava obcecado para agradá-la; o medo de que aquilo pudesse não passar de uma recaída efêmera, uma espécie de "noite de despedida" antes da separação definitiva.
Ele beijou os lábios da esposa, dessa vez, suavemente, embora ela sequer o retribuísse. O nervosismo que Harry sentia até foi útil nesse momento, ajudando-o a controlar a ansiedade e o desejo que tinha pela esposa.
– Har... – ela disse em voz baixa, com uma de suas mãos brincando com o cabelo do marido.
– Se você não estiver preparada, podemos...
– Eu quero, Harry...
– Mas...?
Ela inspirou profundamente, expirou devagar e largou os braços ao longo do corpo, sobre a cama.
– Eu não consigo...
– Eu sei... – disse Harry, deitando-se ao lado dela, com as costas no colchão.
– Tenho medo de estragar tudo... de novo...
– Eu sei... – olhando para o teto, Harry tateou ao seu lado a mão da esposa e a pegou –, também não quero jogar fora o que conseguimos resolver até aqui.
– Não quero que seja apenas uma noite... talvez precisemos de mais tempo...
– Separados? – perguntou Harry, assustado.
The End
A/N: Essa história, como o título diz, é um Interlúdio entre Cogitari Ancilla e Regillus Avernus, duas fics minhas, obviamente... então... LEIAM!
