Capítulo seis - Salvamento
Os dias se passavam, queria passar por cima de seus sentimentos mas estava sendo difícil.
Voe por todo o mar e volte aqui
Voe por todo mar e volte aqui
Pro meu peito...
Andava por Hogwarts de mãos dadas com Pavarti sem saber quanto colocaria um ponto final. Faltava-lhe coragem. Despedaçaria o coração dela, assim como fizeram com o seu um dia.
Se você foi, vou te esperar
Com pensamento que só fica em você
Aquele dia, um algo mais
Algo que eu não poderia prever
A distância entre Hermione e Rony cada dia ficava maior. Mas os pensamentos dele cada dia ficavam mais próximo. Não pensar em Hermione era como não respirar. Não se alegar quando algo de bom acontece em sua vida. Ter fome e não comer. Não pensar em Hermione, era não viver.
Você passou perto de mim
Sem que eu pudesse entender
Levou os meus sentidos todos pra você
Beijava Pavarti mas seu espírito não estava ali. Via o rosto de Hermione por todos os lados, em todos os lugares, tinha-a cravada em sua memória, em sua vida e em seus sonhos. Como um beijo poderia mudar o rumo de uma pessoa? Como um simples olhar, uma simples palavra, um toque, um sorriso podia fazer aquilo?
Mudou a minha vida e mais
Pedi ao vento pra trazer você aqui
Morando nos meus sonhos e na minha memória
Pedi ao vento pra trazer você pra mim
Queria tê-la ao seu lado, mais que nunca. Dizer o que estava entalado. Mas o amor travava uma incrível batalha com o orgulho, infelizmente perdia todas as vezes.
Vento traz você de novo
Vento faz do meu mundo novo
O orgulho matava Rony aos poucos, de forma dolorosa. Orgulho ferido, coração dilacerado.
Quantas vezes tentou contar a Pavarti os seus verdadeiros sentimentos. Quantas vezes quis gritar ao mundo que amava Hermione. Quantas vezes se pegou chamando por Hermione baixinho, quando passava por ela. Quantas vezes quis chorar, quis perdoar, voltar atrás, declarar-se novamente. Temia do que poderia acontecer, depois de tudo... Tinha medo.
E voe por todo mar e volte aqui
E voe por todo mar e volte aqui
pro meu peito...
Aquele era o dia de falar com Pavarti e sofrer as conseqüências de seus atos. Assim que terminassem as aulas contaria a verdade. E assim o fez.
- Pavarti, eu acho que não posso mais fazer isso – disse firmemente.
- Viver como?
- Sabe... Eu deveria ter contado antes mas me faltou coragem. Eu sinto muito mas não posso continuar com isso. Não posso mais ficar com você...
Ela o olhou, parecia que previa o que estava acontecendo.
- Eu fui um estúpido de levar isso adiante e você só foi prejudicada. Não queria mesmo que acabasse assim, aliás, eu nem deveria ter continuado – continuou.
- Eu sei, Rony... – compreendeu com os olhos marejados. – Eu soube desde o começo, desde tudo, é Hermione... Não é mesmo? - Rony engoliu seco. – Você não me enganou, deixou que eu me enganasse... Eu sinto, eu vejo que você não agüenta mais tudo isso. Não sei de onde tirei a idéia de que poderia arrancá-la de seu coração, como se arranca uma roupa que não serve mais.
- Eu sinto muito, Pavarti... Sinto mesmo.
E de fato sentia, gostava de Pavarti. Não queria feri-la mas feriu. Ferimento grande e profundo. Ela olhou Rony de forma piedosa, várias lágrimas escorriam de seu rosto e ele, sem saber o que fazia naquele momento, chegou perto da garota que naquele momento tampava o rosto com as mãos. Meu Deus, quanto sofrimento poderia ser evitado, quantas feridas abertas, quantas lágrimas dolorosas. Abraçou forte e chorava baixinho também. O que Rony não chorou em uma vida chorou em dois meses. Pavarti o apertava forte, sufocando suas lágrimas. Tudo aquilo por um orgulho besta de Rony. Como era estranho ter uma garota chorando em seu ombro, geralmente quando Gina ameaçava a chorar ele contava uma piada besta, fazia uma gracinha, um truque. Sempre procurou tentar fazer com que não chorasse e muitas vezes conseguia.
Mas aquilo era diferente, Pavarti não era sua irmã, não caberia a ele contar uma piada ou fazer um truque bobinho. Ela soluçava cada vez mais alto, fazendo Rony entrar em um desespero silencioso. Aos poucos ela foi se soltando e ele pôde ver o rosto vermelho de Pavarti, o olhar desolado, as mãos tremiam.
Pavarti o olhou, tentou sorrir, mas era impossível. Com sua mão gelada, acariciou mais uma vez o rosto de Rony, secando algumas lágrimas, sentindo-o pela última vez.
- Acho melhor... – disse ela, em meio às lágrimas. – Vamos Rony... Nem tudo está perdido. Só me de um tempo, para eu botar as minhas idéias em ordem. Não quero reviver todas as sensações que tive com você. Fique o máximo longe de mim, por favor. Não fique brabo comigo mas é estranho tudo isso...
- Você não precisa se explicar.
- Mas eu quero. Você não foi o único culpado nesta história, estou falando sério. Não quero ser agradável e nem fazer escândalo, você sabe que não sou assim. Não vou me fazer de vítima porque não há vítimas aqui – disse com dificuldade.
Ela colocou a mão sobre a boca e depois tentou secar as lágrimas mas não conseguiu.
- É... Melhor eu ir... Você tem coisas para fazer, não é mesmo?
- Eu não tenho nada para fazer – contou.
- Não sabia que meninos choravam – falou, exibindo um sorriso verdadeiro. Sentiu suas bochechas ficarem vermelhas e secou as lágrimas rapidamente. Ah, como Rony odeia chorar. – Pelo menos você chora, está sentindo mesmo... Eu vou indo, qualquer coisa eu te procuro.
Beijou o rosto de Rony e foi embora. Ele preferia que Pavarti tivesse explodido, gritado, mas o sofrimento calado era pior. Sem saber para onde ir, com quem falar, seguiu ao campo de quadribol. Anoiteceu como um passe de mágica. Ficou horas nas arquibancadas. Consultou seu relógio, já era madrugada, deveria estar há muito embaixo dos cobertores, em seu dormitório. Tomava o vento gelado da madrugada, observando o céu sem estrelas, os pensamentos na lua. Ficou ali por mais uma hora, sentiu-se sonolento e dirigiu-se para o dormitório.
Descendo as escadas, ocorreu-lhe que corria um grande perigo.Andando nos jardins na calada da noite poderia ser pego e expulso da escola, quantos pontos a Grifinória perderia. Andou mais depressa e avistou alguém no lago. Ficou indignado, quem seria o louco de estar nadando naquelas águas geladas? Estavam no fim do inverno, o lago descongelava mas a água era bastante fria. Aproximou-se com cautela, queria ver quem era. Mais perto e mais parto, era uma mulher que nadava tranqüilamente. Afinal, não existia só ele de louco ali. Não haveria problema de deixar-se ver pela garota, afinal ambos estavam errados. Saiu da sombra, um pouco mais perto. Ela percebeu Rony, ficou olhando e de repente começou a acenar. "Será que conheço", pensou ele. Correu em direção ao lago, a garota não estava acenando, debatia-se na água, estava se afogando. Arrancou os sapatos, o relógio e a blusa de seu moletom. Por sorte Rony sabia nadar, aprendera há muito tempo com seu irmão Carlinhos. Como a água estava gelada, ele nadava e nunca chegava na garota. Tentou gritar alguma coisa mas estava muito frio para isso e já estava perto. Por Deus, era Hermione que estava se afogando e que agora segurava firmemente seu pescoço.
- Cãibra, me deu uma cãibra, no meu pé – informou.
Com Hermione pendurada em seu pescoço, nadou para borda. Sentia muito frio mas ela parecia estar perfeitamente bem, tirando as dores no pé. Pegou-a no colo, sempre sonhou com aquilo, não daquela forma, mas seu desejo estava se cumprindo.
Colocou com delicadeza no gramado, ela segurava a canela, fazendo caretas.
- O que eu faço? – perguntou aflito.
- Eu não sei! – disse em meio aos gemidos.
- Pai nosso que estais no céu. Santificado seja o vosso nome. Venha a nós ao vosso reino... – começou Rony.
Hermione gargalhou e ele ria também, como não fazia há tempos. Pegou o pé branquinho de Hermione e começou a massagear.
- Vamos, estique seu pé – pediu ele.
Ela esticou e gritou baixinho.
- Dói.
- Eu sei que dói, mas este é o único remédio, vamos, estique.
- Você está tremendo! – disse ela esticando o pé.
- É claro, o estranho é você não estar tremendo de frio.
- Feitiço de aquecimento, Rony – informou sorrindo. – Por que você não fez o mesmo?
- Não me deram tempo, sabe... Está doendo?
- Por que você me salvou? – perguntou olhando com seus olhos castanhos.
- Mas que pergunta boba – disse ele, evitando o olhar da garota.
- Você poderia ter me deixado morrer, já que me odeia tanto assim...
- Ainda dói? – perguntou, ignorando-a.
- O que você estava fazendo aqui a esta hora? – pergunto, ainda o encarando.
- Salvando a sua vida, ainda está doendo?
- Não... Já faz um tempo que não dói mais – informou, recolhendo o pé.
- Por que não me disse antes?
- Porque estava bom...
Ela se levantou com um pouco de dificuldade. Usava um maiô verde claro, apanhou a sua varinha no meio de suas roupas e aplicou um feitiço secante. Olhou Rony, que procurava não tremer na frente dela. Como ela estava bonita, nunca pensou ver Hermione daquele jeito.
- Quer parar de me olhar assim? – pediu em um sorriso.
Rony colocou seu tênis e seu moletom.
- Você está tremendo, Rony... Deixa eu usar um feitiço para te secar...
- Não há tempo para isso, vamos, vou te levar na enfermaria.
- Não, não precisa... – disse encabulada.
- Claro que precisa, seu músculo vai ficar dolorido, vamos.
Ele, morrendo de frio, tomou Hermione em seus braços e seguiram para a ala hospitalar. Trocaram poucas palavras no caminho. Ela estava apreensiva, afinal era monitora, como explicaria tudo aquilo? Já ele não ligava muito. Sentia uma ponta de felicidade de estar com ela, de ter salvado sua vida.
- Onde está a sua namorada? - perguntou. – Pensei que ela estivesse junto com você...
- Eu não tenho namorada – informou. – Nunca tive...
- E Pavarti? – perguntou interessada.
- O que tem ela? - desconversou ele.
- Não é a sua namorada?
- Por que você quer saber?
- Pare de responder as minhas perguntas com outras! – exclamou.
- Onde está o seu namorado?
- Que namorado?
- Aquele que vive grudado em você...
- Filipe não é meu namorado, nunca foi... De onde tirou isso?
- De nenhum lugar...
- E a Pavarti, você não me respondeu...
- Ela nunca foi a minha namorada, não tenho mais nada com ela... Aliás, eu não deveria ter feito as coisas... Pronto, chegamos – desconversou Rony.
Ele abriu a porta da enfermaria, colocou Hermione em um leito e chamou a Madame Pomfrey. Ela estava com sua tradicional touca, pantufas.
Rony inventou uma história bem elaborada, se Hermione não soubesse o que tinha acontecido teria acreditado também. Ficaria por ali durante a noite.
- Weasley, você só se esqueceu de falar por que está molhado deste jeito – falou Madame Pomfrey.
- Os gêmeos, eu estava acordado e quando descia as escadas, havia um balde não sei de onde, caiu toda esta água em mim – falou. – Coisa deles...
- Mas cairia água em Hermione também...
- Não, no salão comunal, quando encontrei Hermione.
- Oh, compreendo... Vá Weasley, vai dormir... Vou pegar uma poção, Hermione, não saia daqui – pediu a enfermeira.
Rony se virou e estava saindo quando Hermione o chamou.
- Rony... Por que você faz isso comigo?
- Fazer o quê? – perguntou, virando-se.
- Isso... Me trata deste jeito, como se eu não existisse mais.
- Está enganada – mentiu o garoto.
- É tão estranho para mim ter você tão longe assim...
- Longe? – perguntou, fingindo-se de desentendido.
- Não queria ter causado aquele transtorno, naquele dia... Nas arquibancadas – lembrou Hermione. – Você me deixava feliz e agora... Não quero que amanhã você não olhe para mim, como não tivesse acontecido nada.
- Hermione... – murmurou.
Era sempre assim tê-la por perto... Mãos suadas, palavras travadas, coração pulsando e pernas bambas.
- Porque você faz isso comigo, Rony? – perguntou novamente. – Me deixa louca deste jeito...
Hermione saiu com dificuldade de seu leito.
- Não sei aonde você que chegar.
- Eu sinto muito por aquele dia, ter te beijado foi a melhor e a pior coisa na minha vida... – contou.
- Sente nada, você deveria ter contado a verdade – discordou. – Mas você escondeu, eu quebrei a minha cara.
- Você não pode falar assim! Sofri também, até mais que você, muito mais.
- Não quero falar sobre isso, não quero relembrar... Hermione, melhor você se deitar.
- Não quero me deitar e não quero mais ficar brigada com você – disse firmemente, ajeitando o cabelo, que estava um pouco bagunçado.
- Mas nós não estamos brigando.
- Não, olha, não fala com mais ninguém. Até Harry, que é seu amigo.
Hermione tinha pisado em seu calo, aquela história de esconder o namoro foi dolorida para ele.
- Todos sabiam do namoro dos dois, todos. Fui o último a saber. Acha isso legal? Ficar sendo poupado de uma coisa... Francamente, todo mundo fica tirando conclusões sobre mim! Que tipo de cara você acha que eu sou?
Hermione suspirou fundo e deu alguns passos, com certa dificuldade, na direção de Rony.
- Não é bem assim, Gina estava com medo, insegura de contar o que estava acontecendo.
- Gina é minha irmã! Irmã! Não tem justificativa, eu não sou um maníaco depressivo. Se Virgínia tem que ficar com alguém que seja Harry. Meu amigo, confio nele... Confiava, não sei... Não arrancaria o olho de ninguém – Hermione sorriu. – Fiquei chateado, você não ficaria?
- Como Harry diz, você é um perfeito cabeça dura. Ele queria ter contado pra você mas a Gina é que estava segurando... Mas você vai continuar agindo assim?
- Eu não mudei nada, foram vocês que mudaram, me poupando, escondendo as coisas... Não tenho mais o que fazer aqui... Tchau, Hermione.
Ele a olhou mais uma vez. Rosto pálido, cabelo bagunçado, lábios rosados, jeito desajeitado. Era pela menina de olhar tristonho que seu coração balançava, trepidava em seu peito. Fechou a porta e sorriu com alegria. Como disse Pavarti, nem tudo estava perdido.
