iCapítulo sete – O baile

Rony chegou ao seu aposento um pouco mais seco, um pouco mais feliz. Deitou em sua cama, como estava com sono. Pensou em dormir daquele jeito mesmo, um pouco molhado, um pouco seco, até que espirrou.

- Saúde – disse uma voz abafada. – Por onde esteve?

Ele não pôde responder, espirrou três vezes seguidas.

- Fica tomando aquele vento nas arquibancadas, olha só... Ainda por cima arrasta a Pavarti junto.

Rony espirrou mais uma vez.

- Harry, estou bem. Pavarti não estava comigo, vá dormir – falou, arrancando sua roupa molhada e jogando no chão, como o de costume.

Tossiu a noite toda. Acordou com uma dorzinha de cabeça, o nariz vermelho e escorrendo. Escolhera uma péssima hora para se resfriar, faltava quatro dias para apresentação do trabalho, não queria estar daquele jeito, não mesmo.

Desceu para tomar café acompanhado de Simas e Neville. Não tinha visto Pavarti nem Hermione. Entrou no salão comunal e sentiu um frio na barriga, Pavarti estava com uma cara péssima. Que constrangimento, um dia juntos e depois tudo acabado.

Assim que sentou, Lilá lhe lançou um olhar estranho. Patil o olhou, sorriu fraquinho.

- Bom dia, Rony – ela cumprimentou.

- Bom dia... – respondeu encabulado.

- Resfriado?

- Um pouco...

- Seu nariz está vermelho, acho melhor você tomar alguma poção para resolver isso – aconselhou Pavarti, gentilmente.

- Rony, não acredito que você está resfriado! – brigou Lilá. – E agora?

- Um zerão! – brincou Neville. Ambos faziam parte do trabalho de Estudo dos Trouxas.

- Quando ela souber... Vai te matar - falou Lilá, referindo-se a Persephone.

- Quem vai matar quem? – perguntou Hermione se sentando à mesa.

- Gramond, quando souber que Rony está gripado... – contou Neville. – Quantas vezes ela falou para você não tomar vento, Rony?

Rony tinha um acesso de tosse, tossia, tossia. Foi ficando vermelho e sem fôlego.

- Rony vai morrer hoje. Com sua tosse ou pelas mãos de Persephone! – supôs Lilá.

Rony se levantou e estendeu sua mão para Pavarti. Ela olhou, sem entender nada, Hermione também olhou e fez uma cara estranha.

- Tenho que falar com você, é rápido – contou Rony.

- Rony...

- Vai logo, Pá! – disse Lilá, empurrando a amiga para fora do banco. Ela se levantou, mas não pegou na mão de Rony.

Ele disse que a seguisse. Encontravam-se no saguão.

- Sei que você não quer falar mais comigo mas eu tenho que te dar isso...

- Não seja exagerado – discordou ela acanhada.

Ele apanhou um cordão de seu bolso.

- Um dia meu pai me deu este cordão, tinha uns oito anos. Contou que era pra eu usar e dar para alguém que eu realmente gostasse... Quero te dar isso porque você é muito importante para mim...

- Rony, não precisa...

- Mas eu quero te dar, de verdade... A primeira namorada a gente nunca esquece e para eu não ser esquecido também quero que fique com isso.

Rony pendurou o cordão no pescoço cheiroso de Pavarti. Era um cordão de ouro com um pingente, estava escrito 'Amigos para todo o sempre'.

- Eu não tenho palavras, Rony... Muito obrigada – agradeceu, os olhos marejados. Ele sorriu, estava chateado, Pavarti não estava um pouco abatida.

- Ficou resfriado, eu vivia dizendo para sair daquele vento infernal.

- Mas eu gosto do vento, você sabe disso... – contou. – Vamos terminar de tomar o café.

- Não, eu já tinha terminado mesmo, peça para Lilá pegar as minhas coisas... – pediu Pavarti.

Ele se dirigiu novamente para o Salão Principal. Lá estava Persephone, com uma cara feia, brigando mais uma vez com Gina.

- Aí está você, Ronald! O que diabos pensa que faz com a sua vida? – falou ela muito brava.

- Eu estou um pouco gripado – disse com tom anasalado.

- Um pouco? Sem comentários – ela se aproximou de Rony e cochichou em seu ouvido. – Você e Lilá são os vocalistas! Uma poção não resolverá! Lembra, sem magia!

- Gramond, é só Rony tomar uma poção e pronto! Sem escândalos e sem confusões – falou Harry, só agora Rony tinha percebido a sua presença.

- O dia que precisar de alguma opinião sua, Potter James, choverá Poção do Amor! Não se meta onde não é chamado! – disse rispidamente.

- Não fale assim com ele – defendeu Gina.

- Quem você pensa que é para falar assim comigo, Virgínia? Minha discussão é com Ronald e não com você, garota petulante. Depois conversamos, você e todo o resto – e saiu, dirigindo-se à mesa sonserina. Persephone andava com os alunos da Sonserina, junto com Draco Malfoy, que parecia ser seu amigo.

- Não agüento mais ela – falou Gina bem alto.

Rony se sentou à mesa, estava faminto e tinha pouco tempo para comer. Harry ficava olhando para ele, esperando alguma coisa.

- O que foi? – perguntou.

Gina olhou para o irmão surpresa.

- Nada... E a tosse? – perguntou Harry.

- Está tudo bem comigo.

- Santo Deus, quer dizer que está tudo em paz agora? – perguntou um Jorge sorridente.

- Sempre esteve tudo em paz – falou Rony, levantando-se.

- É UM BOM COMEÇO! – gritou Fred, feliz.


Três dias se passaram e Rony mais nervoso do que nunca. A apresentação estava deixando muito nervoso, os ensaios intensificados e sua tosse tinha melhorado um pouco. Rony reconheceu como um trouxa sofria quanto tinha uma gripe qualquer. O professor não permitia o uso da magia em seus trabalhos, afinal os trouxas não tinham o conhecimento desta. Aprender tocar baixo naquele curto espaço de tempo foi difícil. Tinha começado a aprender no meio de novembro, a idéia da banda foi de Persephone. Rony no baixo, Neville na bateria, Persephone na guitarra e Lilá ficou com o violão. Rony e Neville não sabiam tocar nenhum instrumento sem ajuda da magia.

Estava sendo difícil guardar aquele segredo, por precaução Persephone lançou o feitiço trava língua, mesmo que quisesse não conseguiria contar nada.

O trabalho era sobre mitos trouxas, Persephone resolveu tudo sozinha, quando Rony se deu conta levava bronca por errar o compasso, tocar devagar ou rápido demais. O mesmo com Neville, que "esquecia" dos outros e tocava rápido demais. Foi um trabalho árduo mas até que aprenderam rápido. As garotas só precisavam praticar mais, aperfeiçoar o que sabiam. A banda não tinha nome e muitas vezes entravam em conflito com o assunto, até que concluíram que não teria nome algum, afinal durariam apenas uma noite.

Percebeu que Pavarti estava melhor, conversavam um pouco, Hermione observava mas não falava nada. A relação dos dois estava estável, depois da noite do salvamento não conversaram mais. Por falta de tempo de ambas partes. Hermione organizava o baile, que tinha como tema os anos sessenta trouxas. Idéia de Melane, professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. E Rony ensaiando diariamente, depois das aulas.

Trocava algumas palavras com Harry, o rancor e orgulho finalmente haviam se dissipado. Conversaram como adultos, um pediu desculpa ao outro. Rony fez o mesmo com seus irmãos, Jorge, Fred e Gina. Como sentia falta de todos eles.

Eram onze e meia da noite, chegava do penúltimo ensaio. Estava ansioso, seria o grande dia. Primeiro de março, dia da apresentação, dia que completaria quinze anos. Encontrou Hermione arrumando a enorme mesa de estudos.

- O que faz acordado? – perguntou ajeitando uns papéis.

- Nada, tenho autorização para ficar fora da cama.

- Eu sei... Ainda está brabo?

Por Merlin, como ela o deixava tão nervoso.

- Com o quê?

- Não se faça de bobo.

- Por quê? Você está braba?

- Como me irrita isso que você faz.

- Irritar como? – perguntou aproximando vagarosamente.

- Você me responde com outras perguntas, precisa largar esta mania.

- Que mania? – perguntou Rony sorridente. – Amanhã você vai com quem ao baile?

- Com ninguém – falou esperançosa. – E você, vai com quem?

- Eu não vou ao baile, Hermione.

- Como, não vai ao baile? Garotas é que não faltam...

- Porque não vai com ninguém, garotos é que não faltam!

- Mas eu vou ao baile, diferente de você.

- Quem sabe eu apareço por lá... Por que o interesse?

- Pare com isso, Rony! Irrita, sabia?

Rony tinha tanto para dizer mas não sabia como. Da última vez que superou a sua timidez ouviu palavras rudes de Hermione. Ele se aproximou, tocou o rosto da garota, que estremeceu.

- Por que faz isso comigo, Rony... Por quê? – murmurou em seu ouvido.

Ele olhava Hermione, como sonhou com aquilo de novo. Ela ficou nas pontas dos pés, ele abraçou Hermione, sentindo o cheirinho dela. Cheirava chocolate. Rony amava chocolates. Estavam quase se beijando mas parou no meio do caminho. Afastou-se de Hermione, ela o olhou sem entender nada. "Sou um idiota", pensou Rony. Estava com medo de beijá-la, e relembrar a sensações que os lábios de Hermione faziam sobre os seus. Murmurou algo que seria um tchau e subiu para o dormitório.


Foi acordado por Neville, tomou um banho rápido e encontraram-se com Lilá e Persephone, que estava uma pilha de nervos. Neville parecia ser o mais calmo de todos, já estava acostumado a lidar com platéias, afinal era o goleiro do time da Grifinória.

No ensaio correu tudo bem, aliás perfeitamente bem. Todos em perfeita harmonia. Passou a tarde toda com os três, conversando, ensaiando, levando broncas. Ganhou presentes também. De Neville um bastão de batedor, para jogar quadribol. Rony estava sendo treinado pelos seus irmãos, próximo candidato à vaga no time, junto com ele mais alguns alunos treinavam. O time ficaria desfalcado e Alicia organizava os treinos para os novatos. Lilá o presenteou com um novo relógio porque o dele estava caindo aos pedaços, Persephone disse que daria o dela mais tarde.

O baile começava às sete e meia. Teria que estar no Salão Principal antes das sete, estava atrasado. Eram seis horas, entrou na torre Grifinória como um flash.

- Rony! – chamou Pavarti.

- Olá – cumprimentou, parando de subir as escadas.

- Todos estão te procurando, por onde esteve?

- É...

- Deixa pra lá, queria te dar os parabéns! – disse, abraçando-o. Fazia tempo que não sentia o cheiro fraquinho de morango que Pavarti Patil possuía. Ela o soltou e estendeu um pacote grande e fino.

- Espero que goste! Bem... Deixe-me ir, mais tarde é o baile... Com quem você vai? Hermione me disse que você não vai, por quê?

- Pelo mesmo motivo de Lilá!

- Mas Lilá disse que ia...

- Ué... Eu vou parecer por lá – falou sorrindo. – E você vai com Simas, já falei para ele ter cuidado com você.

Pavarti ficou vermelha. Sorriu para Rony e saiu.

Entrou no quarto, Harry estava dormindo e Simas mexendo em alguma coisa em seu baú. Havia alguns presentes em sua cama mas resolveu abrir mais tarde.

- Nossa, até que enfim apareceu! Você e Neville foram seqüestrados ou coisa parecida? – disse Simas caminhando em sua direção. – Tá difícil, hein? PARABÉNS! – gritou a última palavra. Rony foi jogado na cama de Neville e Simas começou a bagunçar-lhe o cabelo. Aquela era a forma de parabenizar os amigos. Harry olhou para eles, acordou com a bagunça.

- Olá, Bela Adormecida? Já estava chamando a Gina pra te acordar! – caçoou Simas.

Rony apanhou sua roupa e foi tomar seu banho. Colocou sua roupa, Lilá e Persephone com idéias femininas. Aquela gravata borboleta era ridícula, o terno preto.

- É só por esta noite – falou Neville, arrumando-lhe a gravata.

- Olha a idéia de trasgo, ou como diria os trouxas, idéia de jerico! – reclamou Rony.

Neville e Rony, depois se arrumaram, colocaram os sapatos lustrosos, passaram alguma loção. Teve que ouvir gozações, por incrível que pareça, Rony era muito vaidoso.

Por fim, lá estavam eles. As horas passaram como segundos. Todos posicionados no palco, Persephone estava de terno também. Lilá usava um vestido lilás bem simpático. Rony segurava o seu baixo, as mãos trêmulas, o coração saltitante, até Neville estava tenso, girava as baquetas no ar nervosamente.

Rony espiou pela fresta da cortina, assim como nos outros anos o Salão estava lotado e bastante decorado. Sentia seu estômago subir e descer como se fosse um elevador trouxa. Dumbledore falava com os alunos, era a hora. As cortinas abririam em alguns segundos, Lilá sorria esquisito para Rony, sorriso nervoso.

- Com vocês, a banda de Hogwarts! NO NAME!

"No name"? – perguntou-se.

Tarde demais, as cortinas se abriram, era incrível como conseguia pensar em tantas coisas em frações de segundos. A platéia exclamou "Ooohhhh". Ouviu algo que seria a contagem regressiva de Neville. "Qual era mesmo a primeira música?", perguntou-se.