Notas gerais: Drabbles. É só o que eu tenho conseguido escrever ultimamente. Pra quem não sabe, drabbles são histórias curtas, que não precisam ter enredo algum. A maioria das que eu li, em livejournals and the like, têm um quê que transcende a narrativa. É isso que me cativa nesses pedaços de texto. Espero que gostem deles tanto quanto eu.
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Nota da drabble: As frases foram retiradas de O Retrato de Dorian Gray, do virtuoso Oscar Wilde. Não posso evitar, amo essas frases.
"O mundo mudou, pois de marfim e ouro você se formou."
Era uma frase de um daqueles escritores trouxas que Remus vivia recitando. Estranhamente, ela fazia um sentido absurdo, Sirius ponderou, em um dos vários momentos em que se pegava fitando, vidrado, o amigo.
Definitivamente marfim, pensou, referindo-se mentalmente à pálida e doentia pele do lobisomem. Às vezes perguntava-se se corria mesmo sangue por aquelas veias, até que bania tal pensamento da cabeça ao se lembrar das Luas Cheias, ou ao perceber um quê de rosado na face do outro, o que provocava em Sirius um incontrolável desejo de sorrir.
É ouro, também, pensou, quando por uma fração de segundo os dois pares de olhos encontraram-se, e as faces de ambos tingiram-se de rubor quando Remus percebeu que o outro o observava; ambos viraram seus rostos para sentidos opostos. Não é mel, não é âmbar, é ouro. Precioso assim. Sirius arriscou mais uma olhadela; por sorte Remus voltara sua atenção a um livro apoiado em suas pernas cruzadas. Ouro também, pensou, ao ver os cabelos pardos iluminados pelas chamas da lareira. Fios de ouro, seja pelo fogo, seja pelo sol.
Sirius suspirou em reminiscência; há pouco tempo Remus era o pobre e mal-cuidado menino-lobisomem, hoje ele era esse ser de infinita preciosidade. Quando ele passou a enxergá-loa ssim, não sabia. Só sabia que seu mundo tinha mudado.
"As curvas de seus lábios reescrevem a história."
Quem sabe o que teria acontecido caso eu não vivesse só pelo toque deles, Sirius pensou, delineando com as pontas dos dedos os lábios do lobisomem de marfim e ouro à sua frente.
Será que eu teria mantido fidelidade a meus ideais? Será que eu ainda estaria naquele inferno, ponderou, enquanto passava com o polegar por sobre aqueles lábios, como que testando a maciez deles. Deu um sorriso enviezado.
Possível que meu caminho tivesse sido completamente diferente, mas... quem se importa, finalizou, inclinando-se para tocar os lábios de Remus com os seus próprios, e aquele ato para Sirius pareceu selar seu destino.
Por você, Remus, não disse, a língua ocupada demais em abrir caminho por entre os lábios que lhe fizeram reescrever a própria história.
Por você.