Disclaimer:
Rurouni Kenshin não me pertence. Direitos inclusos assim ao autor Watsuki e aos devidos afiliados.Notas:
Universo Alternativo. A classificação do fanfiction poderá mudar de acordo com o contexto aqui escrito. Possivelmente uma linguagem mais rude, vulgar será usada em capítulos posteriores. Assim como situações de morte e situações de caráter sexual. Se não se sente confortável com essas circunstâncias apresentadas, seria recomendável não ler.
Aos reviewers:
Mila.Potter.Lavigne : Obrigada pelo review. É, deixei bastante obvio, não pretendia fazer isso um segredo! Vou prestar mais atenção! Obrigada pela dica. Quem está de 'fora' tem uma visão melhor. Espero que goste deste capitulo.
krol yuki: Obrigada! Eu gostaria de demorar menos para postar os capítulos, mas isso parece impossível as vezes! Eu já tinha esse capitulo pronto a algum tempo, mas faltava completar algumas coisas... Enfim, vou tentar ser mais rápida. Espero que goste!
Pandora-samaBR: Bem, foi útil! Desculpe pela demora! Fico feliz que tenha gostado, espero que goste deste também.
Kenjutsu Komachi: Obrigada pelo elogio e pelo comentário! Fico muitíssimo feliz por ter gostado! Ah, e agradecida pelas boas vindas! Espero que goste deste capitulo.
Yuu: Gosta do Bakumatsu? Realmente, é muito interessante. Ainda mais pelo o fato de que eu vou retratar o Kenshin, na época da revolução, como o monarquista.(Obvio) Não tem como não! Não me importo com o tamanho dos comentários, por isso pode falar o quanto quiser! :)
Além da Atração
por Kaiora
Capitulo 2: a chegada
Young girl don't hide
You'll never change if you just run away
Young girl just hold tight
Soon you're gonna see your brighter day
(Kyoto, 1866 - Bakumatsu - intermédio)
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Yumi rapidamente prendeu o seu cabelo, deixado belas perolas caírem sobre um dos lados. Um sorriso correu seus lábios ao ver com grande gosto a sua imagem refletida no espelho. "Finalmente, hoje ela irá chegar..." Disse, um tom de fascinação ressoava através de seus lábios.
Um leve bater da porta a fez olhar para trás. "Entre." Comandou ainda virada.
Ao abrir da porta, a figura de Sojirou fez presença. Sua face sorridente adentrou ao quarto. "Boa tarde Yumi-dono." A saudou, enquanto andava em direção a cama.
Yumi voltou seu olhar para o espelho. "Boa tarde Soujirou..." Disse levantando-se e direcionando-se para onde Soujirou estava.
Levemente Yumi sentou-se em uma cama. "Bem Soujirou, não esqueça que daqui a pouco você terá que pegar a nossa jóia, nada de atrasos!" Disse, enquanto jogava a cabeça para trás em puro prazer. "Nossa, não posso nem imaginar!" Disse voltando-se para frente rapidamente. "Ela fará rios de dinheiro para mim!" Exclamou, enquanto tentava suprimir uma risada.
Soujirou deu-lhe um fraco sorriso. Yumi podia ser um tanto gananciosa, e no fundo, ele sabia que aquilo não era nada bom.
Yumi olhou-o pelo canto dos olhos, percebendo que o garoto estava extremamente quieto. "O que foi Soujirou? Não me parece muito empolgado com tudo isso..." Disse impaciente.
Soujirou a olhou um pouco incerto, e soltou um suspiro. "Não Yumi-dono..." Começou, um pouco duvidoso das suas próximas palavras. "Não se preocupe... Você estando feliz já é algo muito bom, mas..." Parou, sua mente duvidosa. 'Talvez eu não devesse...Mas, ela vai acabar se destruindo com isso...' Pensou preocupado.
Yumi olhou-a aborrecida. "Mas o que Soujirou?" Perguntou-lhe impaciente.
Soujirou olhou a figura irritada de Yumi e percebeu que por mais que ele a aconselhasse, suas palavras seriam em vão, já que ela estava por demais corrompida e cega pela ganância. Balançou a cabeça em negação. "Não é nada..." Disse apenas se levantando.
Yumi levantou-se rapidamente. "É bom! Nada irá estragar esse dia perfeito!" Disse freneticamente.
Soujirou apenas concordou.
Depois de algum tempo de silêncio, Yumi olhou para o relógio que jazia no canto de sua cama. Já entardecia, e a hora se aproximava.
"Sou, é melhor você se apressar, a minha jóia já está chegando, tardar ela não irá mais!" Disse rapidamente, enquanto fazia Soujirou levantar-se da cama. "Depressa, não quero atrasos!" Disse, levando-o até a porta.
Ele olhou para trás e concordou. "De certo..." Disse enquanto abria a porta. "Não desejo deixar uma senhorita esperando..."
Yumi concordou. "Sim, rápido!" Disse enquanto fechava a porta. Juntou as mãos e sorriu sobre elas. "Finalmente!"
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Soujirou aproximava-se do caís, muitos haviam desembarcado do grande navio. Ele olhou aos arredores, e de longe pode ver uma bela garota parada. 'Deve ser ela..' Imaginou, agilizando os seus passos.
"Kaoru-san?" Perguntou incerto ao chegar perto da bela garota, que esperava serenamente.
A garota levantou seus olhos para fitar o rapaz que estava parado em sua frente. Hipnótizantes olhos azuis fitavam Soujirou. "Sim..." Respondeu-lhe, seu tom de voz ressoava docemente no ambiente.
Soujirou fitava a garota em sua frente, com doces olhos. Estendeu uma de suas mãos para ela. "Sou Soujirou. Kaoru-san, eu vim te acompanhar até a casa de Yumi-dono." Disse-lhe.
Kaoru olhou uma mão estendida em sua direção, e levemente a pegou. "Obrigada."
Soujirou balançou a cabeça concordando, e abaixou-se para pegar as malas que jaziam no chão. "Muito bem Kaoru-san, me acompanhe até a carruagem por gentileza." Disse, conduzindo-a.
Os passos de Kaoru eram graciosos, pisavam sobre o chão duro com tanta leveza, que lhe dava a impressão de que seus doces passos eram direcionados a uma pluma.
Soujirou ajudou Kaoru a subir na carruagem, e logo a seguiu, juntando-se a ela.
Kaoru olhou-o com olhos sérios. Talvez o estudando, procurando algum indicio de perigo. Tentando talvez se familiarizar com aquela expressão, talvez. Mas apesar de sua expressão ser distinta, e até distante, nos seus olhos uma doçura revelava-se, e isso era impossível de se esconder, não tinha como não se perceber.
Soujirou percebeu o olhar fixo da garota em sua pessoa, e suspirou. "Kaoru-san, deseja algo?" Perguntou-lhe educadamente.
Kaoru piscou e enrubesceu, percebendo apenas nesse instante que seu olhar estava por demais fixo no garoto a sua frente. "Me perdoe Soujirou-san..." Disse, embaraçada. "Mas é que estou um pouco cansada... Perdoe a minha rudeza." Disse, fitando uma de suas mãos.
Soujirou balançou a cabeça negativamente. "Não se embarace Kaoru-san, não há motivos para isso."
Kaoru olhou-o com diferentes olhos. Eles agora pareciam sorrir para o garoto. Não havia perigo. Não havia o que temer. "Obrigada." Disse, verdadeiramente agradecida. Um sorriso pairou em seus belos e voluptuosos lábios.
Soujirou olhou-a fascinado. Cada pedacinho e gesto que ela exalava parecia hipnotiza-lo. 'Agora entendo o porque de tanto alvoroço por ela...Ela realmente é uma jóia...' Pensou, enquanto seu olhar repousava sobre um dos seus lados. Respirou levemente. 'Este aroma... Se não me engano... Jasmim?' Perguntou-se, enquanto seu olhar fixava-se mais uma vez sobre Kaoru. 'Poderia ser dela?'
Ao perceber que Kaoru sentia-se inconfortável com seu incessante estudo sobre ela, Soujirou rapidamente retirou os seus olhos da garota, que timidamente havia virado seus olhos, para os agradar com a paisagem que se passava sobre a pequena janela. Ela parecia pensativa, talvez imersa em suas lembranças. Uma flor em sua mais rara beleza. Era realmente um retrato que não se via sempre.
Ele respirou fundo e olhou através da janela, da mesma forma que ela. "Lembranças?" A voz de Soujirou cortou o silêncio.
Kaoru levemente tornou seus olhos para fitar o garoto, um pouco de surpresa estavam escritos nele. "Lembranças?" Ela perguntou, ainda tentando compreender o significado da ligeira pergunta.
Soujirou balançou a cabeça concordando. "De Paris, talvez?"
A testa de Kaoru subiu levemente em surpresa. "Ah..." Ela começou, realmente incerta do que dizer. "Sim, um pouco." Lhe revelou. Sua voz ressonava leve e gentil através da cabine da carruagem.
Soujirou continuou imóvel, apenas fitava a garota. "Gostaria de voltar?"
Kaoru olhou-o, surpresa. Abriu a boca e fechou-a rapidamente, sem palavras. 'Gostaria realmente de voltar?' Perguntou-se, seu rosto imóvel aos pensamentos. Uma metade sua gritava em seu interior, ao abandonar aquele lugar, mas uma outra parte estava agradecida, e realmente feliz. Então, o que responder? Talvez metade.
Soujirou percebeu o desconforto da garota a essa pergunta, e resolveu que ela de maneira alguma precisava passar por tal embaraço. Talvez as memórias que residiam em sua mente de Paris não fossem as melhores, ou talvez, ela estivesse excessivamente saudosa de sua casa. "Se não se sentir bem em responder essa pergunta, não ha porque fazê-lo." Disse gentilmente.
Kaoru piscou, estava extasiada com a gentileza deste garoto. Sorriu fracamente. "Obrigada Soujirou-san... Não me sinto muito confortável para falar de Paris, ou de qualquer coisa que lembre o que eu deixei lá." Disse, seus olhos brilhavam fracamente, junto a suas palavras enigmáticas.
Soujirou olho-a sem surpresa. Percebia-se que a garota parecia um pouco triste, e extremamente cansada. Porém, apesar de todo o desgaste, a sua beleza não parecia diminuir, ao contrário, parecia expandir-se cada vez mais.
"Como desejar..." Disse, logo se calando.
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Soujirou e Kaoru encontravam-se frente a frente com a porta que dava de entrada para a Casa Shelter. Era uma casa em estilo que beirava o ocidental, e seu aspecto era de uma construção muito nova, não deveria ter mais que um ano. Apesar de estarem no auge da revolução, alguns com poder o suficiente para ousar, construíam seus legados a seu próprio gosto. Independente de estilos. O final do Xogunato continha uma grande expectativa. Entre o novo e o velho. Deveria o regime atual permanecer, ou dever-se-ia abrir as portas para uma nova Era? A casa de acompanhantes já segurava um ar extremamente Ocidental. E não podia negar-se o quanto diferente era de todas as tradicionais.
Soujirou encostou uma de suas mãos sobre a porta, e puxou uma longa corda que se encontrava em um dos lados. Um longo ressoar foi escutado, e passos podiam ser escutados do lado de fora.
Kaoru olhou para Soujirou, este olhava para frente. "Obrigada por ter ido me buscar, Soujirou-san." Kaoru disse, enquanto desviava o seu olhar para frente da porta que estava sendo aberta.
Soujirou a olhou um pouco surpreso, talvez não esperasse as palavras.
Kaoru adiantou-se e entrou delicadamente para dentro da casa, inclinado a cabeça ligeiramente para a servente que havia com um pequeno sorriso aberto a porta. "Obrigada." Kaoru disse, enquanto olhava ao seu redor, ligeiramente.
Soujirou logo estava ao lado de Kaoru, vestindo o seu usual sorriso. "O que acha da entrada?" Ele perguntou, enquanto dava um passo, fazendo-se ficar ao lado de Kaoru. "Agrada-lhe?"
Kaoru sorriu levemente, e virou o seu rosto para Soujirou, que ainda a olhava. "Sim, me agrada." Respondeu meramente, enquanto tomava alguns passos até um grande espelho, que era rodeado por anjos encobertos por um tom de dourado.
Kaoru olhou o seu reflexo no espelho por alguns segundos, e tocou com ternas mãos um dos anjos. "Seria ouro?" Ela inquiriu, retirando a mão, e olhando para Soujirou, que caminhava até ela.
Ele balançou a cabeça concordando. "Sim. Yumi-dono é uma mulher muito caprichosa e extravagante." Disse, enquanto olhava o próprio reflexo no grande espelho. "A casa em seu geral é extravagante, mas acredito que já deva estar acostumada com luxo, se não mais que esta casa." Disse, enquanto seus olhos caíram sobre Kaoru.
Kaoru apenas balançou a cabeça, concordando silenciosamente.
Soujirou colocou uma mão sobre o ombro de Kaoru delicadamente. "Vamos Kaoru-san? Tenho certeza que todos estão ansiosos para conhecê-la." Ele disse, enquanto a sua mão deslizava de volta para a sua origem.
"Claro." Kaoru disse, um pouco envergonhada.
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O grande salão estava recheado com todas as mulheres da Casa Shelter.A proprietária encontrava-se em um grande e luxuoso sofá, suas bordas douradas, refletindo delicadamente e finamente. As demais mulheres, as acompanhantes, estavam vestidas em escuros yukatas, sentadas em diferentes poltronas, todas continham as bordas douradas.
"Ela já não deveria estar aqui?" Inquiriu Megumi, que se encontrava em uma grande poltrona, sentada elegantemente, ao lado de Miyu.
Yumi a olhou um pouco aborrecida. Uma elegante sobrancelha arqueou-se. "Não se preocupe Megumi, ela estará aqui em algum tempo. Se tiver a capacidade de recapitular algo, o próprio Soujirou foi busca-la." Disse com um ar venenoso, um sorriso malicioso percorrendo seus delicados lábios.
Megumi olhou-a com controlado ódio. Mordeu levemente o seu lábio, evitando argumentar. "É verdade. Como pude esquecer." Disse, aleatoriamente, enquanto desviava seu olhar de Yumi.
O silêncio tomou conta do ambiente depois do pequeno distúrbio causado pela maliciosa pergunta.
Alguns passos puderam ser escutados, e Yumi olhou para o lado, onde estava a passagem para o salão em que todas se encontravam. "Soujirou?" Yumi chamou, imaginando se o seu tão esperado tesouro já havia chegado.
Soujirou passou pelo grande arco em estilo francês que dava a passagem para o salão, acompanhado de uma bela garota. "Sim, Yumi-dono." Disse, enquanto parava. "Perdoe-me pela demora." Desculpou-se, enquanto virava seu rosto, procurando por Kaoru, que logo apareceu ao seu lado.
Todas as mulheres do salão continham seus olhares sobre Kaoru. Tudo que continha naquela garota parecia chamar a atenção. Desde o seu tradicional quimono, azul escuro, em pura ceda, até o modo com que seus delicados dedos se entrelaçavam.
Um maravilhado sorriso espalhou-se pelo o rosto de Yumi, que irradiava contentamento. "Oh, Kaoru-san." Disse cuidadosamente, enquanto levantava-se, e caminhava graciosamente em direção a Kaoru.
O olhar de Kaoru caiu sobre Yumi que já se encontrava em sua frente, e logo depois vagou sobre o grande e luxuoso salão, caindo finalmente sobre as outras quatro mulheres que ainda a olhavam.
Yumi pegou uma das delicadas mãos de Kaoru, e emoldurou-a comas suas. "Oh minha Querida." Disse alegremente, enquanto guiava Kaoru ao sofá em que ela estava anteriormente sentada. "Por favor, sente-se." Pediu, mostrando-lhe o grande sofá.
Kaoru balançou a cabeça e sorriu grata. "Obrigada." Agradeceu delicadamente, enquanto sentava-se.
Yumi sentou-se ao lado de Kaoru, e logo depois olhou para Soujirou que se encontrava ainda parado do lado do grande arco. "Sente-se conosco Soujirou." Disse, gesticulando uma poltrona que jazia ao lado do sofá.
Soujirou hesitou por um instante, mas logo se apressou, ao ver que não teria muita escolha a não ser obedecer Yumi. "Claro." Disse, enquanto acomodava-se na poltrona.
O salão tornou-se silencioso, uma certa apreensão pairava no ar. Yumi olhou ao redor, prestando atenção em cada fisionomia. Ela podia perceber o olhar das outras mulheres sobre Kaoru, que permanecia silenciosa, ao seu lado.
Yumi cruzou uma de suas longas pernas, o quimono verde escuro caindo levemente sobre o seu ombro. Um sorriso pairou em seus lábios. Ela virou-se gentilmente para o lado de Kaoru. "Minha Querida..." Começou, enquanto pegava uma das mãos de Kaoru. "Como foi a sua viagem?" Yumi perguntou, uma de suas mãos segurando a de Kaoru delicadamente.
Kaoru olhou e sorriu. "Foi regular." Respondeu em uma voz aveludada. "Um pouco cansativa devo dizer, mas foi tranqüila." Adicionou.
Yumi balançou a cabeça em plena concordância. "Imagino... Vir de tão longe. Não é para menos." Disse, deixando a mão de Kaoru repousar mais uma vez sobre o colo desta. "Como está cansada, gostaria muito que fosse descansar, para que depois possamos conversar mais abertamente sobre os arranjos da sua estadia." Disse amenamente, descruzando uma das pernas.
Kaoru ergueu uma de suas elegantes e bem torneadas sobrancelhas. "Mas, Yumi-san, eu imaginei que hoje..." Ela parou, evitando falar as suas próximas palavras. Não sabia ao certo como aquelas mulheres levavam o seu tipo de diálogo, teria que aprender.
As mulheres que ainda estavam no salão tornaram seus olhares para Yumi, que havia silenciado-se. Certamente a garota teria que trabalhar na mesma noite. Poderia receber um tratamento melhor do que elas, mas mesmo assim imaginavam que Yumi não iria poupa-la.
Uma leve risada ressoou sobre o salão. Yumi balançou a cabeça negativamente. "Ora minha querida, não se preocupe com isso." Disse, enquanto levantava-se e olhava de relance para Soujirou. "Você não terá que trabalhar hoje." Comentou, mas continuou a sorrir, mesmo diante os audíveis arfadas que podiam ser escutadas das outras mulheres. "Obviamente eu irei fazer uma comemoração, mas a sua brilhante aparição não será hoje, pode ter certeza." Confirmou-lhe, com um olhar gentil.
Megumi olhou para Kaoru mais uma vez, e logo depois olhou para as outras mulheres, que haviam mantido seus olhares baixo, guardando-lhe o máximo de dignidade que ainda poderia restar para elas.
Kaoru sentiu uma das mulheres olhando-a. Novamente. 'Como pode?' Kaoru pensou um pouco irritada. Havia viajado por muito tempo, e era obvio que ela deveria receber tal tratamento. 'Sempre recebi, e sempre receberei.' Pensou, enquanto levantava-se.
Yumi já a muito havia desaparecido, mas sem antes falar com Soujirou.
"Kaoru-san, poderia me acompanhar por gentileza?" Soujirou perguntou-lhe, enquanto caminhava em sua direção.
Kaoru sorriu graciosamente e gratamente. Poderia dormir dias, e ela sabia que ninguém iria incomodá-la. "Com gosto." Disse, caminhando elegantemente até a estendida mão de Soujirou.
Enquanto caminhava, seu olhar repousou sobre Megumi, que ainda olhava desconfiada, magoada possivelmente. "Tenham uma boa tarde." Kaoru disse, seu olhar rapidamente repousando em cada mulher. Com passos cuidadosos e graciosos deixou o salão, junto a Soujirou.
Megumi deixou um longo suspiro sair de seus lábios. Relaxou sobre a cadeira, e olhou as suas colegas, que pareciam também mais relaxadas depois de ambas Kaoru e Yumi terem se retirado.
"Ela realmente vai receber um tratamento especial..." Megumi murmurou.
Miyu que estava sentada ao seu lado franziu levemente a testa. "Não há como não. Ela é maravilhosa... Imagino que Yumi-san deve estar muito feliz com a chegada dela." Disse, tentando parecer menos abalada.
Megumi apenas arfou. Poderia ela dizer algo contrário?
Misao levantou-se do lado de Tomoe, um ar melancólico repousava sobre a sua pessoa geralmente alegre. "Não adianta ficarmos invejando o tratamento que ela irá receber... Ela visivelmente é mais adequada do que nós." Disse levemente.
Tomoe tocou o braço de Misao levemente, levantando-se também. "Você está certa Misao-san. Não há porque invejarmos Kaoru-san. Deveríamos acolhe-la, afinal ela estará trabalhando junto a todas nós. Seria extremamente rude de nossa parte se a deixássemos sozinha." Disse seriamente, enquanto fazia o seu caminho até uma irritada Megumi.
"Seria tão difícil Megumi-san?" Tomoe perguntou-lhe, tocando levemente a mão de Megumi.
Megumi olhou-a seriamente, mas logo relaxou seus olhos e manejou um sorriso em seus lábios de rubi. "Não sei ao certo Tomoe. Ela me parece um tanto segura de si. Excessivamente eu diria."
Tomoe balançou a cabeça entendendo o ponto de Megumi. "Enfim, deixemos isso de lado." Tome disse, andando em direção ao grande arco. "Ela não terá que trabalhar, mas nós teremos." Disse, enquanto esperava pelas outras mulheres a acompanharem. "Yumi-san havia dito que iria fazer uma celebração. Devemos estar preparadas para ela então."
Megumi levantou-se da cadeira, e elegantemente colocou seus longos cabelos para de trás. "Então vamos, não queremos deixar a nossa sorte escapar tão rapidamente de nossas mãos."
Misao e Miyu já se encontravam de pé, e sorriram apesar dos recentes acontecimentos. Poderiam se acostumar com a nova situação, ao menos com o tempo. Brincar com a fraca sorte que continham seria muita ousadia.
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Yumi balançava o pé incessantemente. "Eu ainda não consigo acreditar Sou." Disse, tentando conter a evidente alegria em sua voz. "Depois de tanto... Finalmente!" Exclamou, batendo as duas mãos levemente.
Soujirou de sua posição sorriu apenas, como o usual. "Ela estava extremamente desconcertada não é mesmo?" Soujirou perguntou, um pouco confuso, enquanto lembrava-se do comportamento de Kaoru. "Eu pensei que ela fosse um pouco diferente das acompanhantes que temos aqui." Disse, olhando incerto para Yumi.
Yumi levantou-se, um riso de zomba em seu rosto. "Você realmente nunca ouviu falar na grande meretriz Parisiense não é?" Yumi perguntou-lhe, colocando uma de suas mãos sobre o ombro de Soujirou.
Uma sobrancelha arqueou-se ao comentário. O que deveria ele saber?
"Ela é extremamente educada Soujirou. Muito refinada." Disse, circulando-o. "Kaoru é muito conhecida por seus dotes... Por seus olhos... Por seu tom sedutor..." Parou. Rapidamente virando Soujirou, para que ficasse frente a frente a ela. "Mas o mais importante... Ela é conhecida pela sua fragrância." Disse por fim, misteriosamente ainda.
Soujirou a olhou incrédulo e confuso. "Mas, as meretrizes podem apenas usar um tipo de perfume. O perfume das Ameixas Brancas, esse é o modo de se diferenciar as mulheres de boa índole das de má índole." Parou mais uma vez confuso. "Então não poderia ser um dom dela." Disse diretamente, menos confuso.
Yumi silenciou-se por algum tempo, e sorriu maliciosamente. "Isso é o que a faz mais especial." Disse suavemente. "O seu perfume de Jasmim junto ao seu jeito de cetim, como seda, lhe dão a devida fama."
Soujirou olhou-a, reconhecimento vindo a sua cabeça. "Eu não sabia que era ela..." Sussurrou.
Yumi sorriu ao reconhecimento. "Por isso, eu aguardei ansiosamente pela chegada dela." Disse, enquanto fazia o seu caminho em direção ao sofá em azul aveludado. "Ela é conhecida como Satine." Disse enquanto sentava-se. "Ou Cetim de Jasmim."
Soujirou engoliu com dificuldade. "Não posso negar que eu havia percebido o doce cheiro de Jasmim... Mas não imaginei que realmente fosse o perfume que ela costuma usar." Disse um pouco surpreso com sua ignorância. "Mas ao mencionar o nome... Não posso negar o conhecimento de..." Ele parou, não querendo continuar a sua fala.
Yumi riu levemente. "Vamos ter uma comemoração aqui hoje como você já deve saber." Disse, um espelho em sua mão. "Katsura-san estará aqui... Então, acredito que possivelmente possamos ter uma outra companhia." Disse maldosamente.
Soujirou apenas concordou balançando a sua cabeça, levemente distraído.
"Bem, me dê licença Sou, devo me retirar agora e descansar um pouco antes do espetáculo." Disse depositando o espelho sobre o sofá e levantando-se." Sugiro que faça o mesmo." Disse passando por Soujirou, dando-lhe um leve aperto sobre seu ombro.
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O quarto era espaçoso, de certa forma muito parecido com o anterior. Mas algo faltava ali. Ele faltava. Todavia, como ela havia desejado, tudo aquilo havia ficado para traz, junto com seus sentimentos tolos.
Kaoru jazia em seus trajes noturnos, onde geralmente os usava para uma noite de sono. Adequadas, mas não muito puritanas. Afinal não seria apropriado posar-se de algo que realmente sabia que não era. Mas, não fazia diferença.
Seu corpo lentamente repousou sobre a cama, a exaustão dos longos dias escritos em seu corpo, profundamente. Seus longos cabelos negros, como seda ao toque, espalhavam-se ao redor de seus grandes e confortáveis travesseiros. "Ao menos, não há motivos de se dormir em futons. Seria um infortúnio." Disse aliviada, virando-se em sua vasta cama.
Seus olhos lentamente pediam para ser fechados, mas ainda desejava manter-los abertos. A muito tempo não vinha ao Japão. Na verdade, a muitos anos. Parecia uma eternidade enquanto morava em seu país de origem, mas ao morar em Paris, o tempo parecia voar, levando consigo a inocência que uma vez havia possuído. Mas nem tudo pode se manter intacto. E isso era algo que a vida iria levar consigo, em seu tempo.
Mas então, havia sido o seu tempo?
Kaoru soltou um lamento. Em sua vida muitas coisas não havia mais modo de reparar, mas ao menos gostaria de poder reparar algo que a muito tempo havia deixado para trás. Mas se ao menos tivesse a coragem. Se ao menos pudesse mudar essa parte que era algo lamentável... Mas não tinha o poder para mudar o que havia feito. O Passado é imutável. O presente é apenas vivido. E o futuro é aguardado com apenas um pouco de esperança, pela criança que ainda residia internamente em si, sendo o pilar que ainda lhe sustentava.
Mas ainda sim, os pilares, podem falhar.
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Uma figura sombreada mexeu-se, um pouco inconfortável em seu assento. Uma tremula mão segurou um pequeno copo de chá, logo bebendo dele.
"É positivo." Disse um figura que se aproximava lentamente.
A figura que segurava o chá congelou, surpreso. "Não imaginava..."
A outra figura permanecia ao lado do shoji, e calmamente deslizou até a outra figura, seu braço circundado a parada figura, gentilmente. "Já pensou no que irá fazer?" Perguntou-lhe, deixando-o lentamente, e sentando-se ao seu lado.
A figura olhou para o seu lado. "Fazer? Não há o que fazer Naoko-san." Disse, voltando com mãos tremulas a segurar o copo de chá até a sua boca.
Naoko suspirou e levantou-se novamente. Seguiu até a porta do shoji e abriu-a, retirando-se do quarto.
A figura permaneceu escondida sobre as sombras no quarto, colocando o intacto chá de volta ao seu lado. O cheiro de jasmim exalava fortemente do recipiente, trazendo-lhe uma memória, que por mais que tentasse apagar, ao passar dos anos parecia apenas piorar.
"É o seu direito... Foi você quem escolheu." Disse em lastima. "Desculpe..."
Do outro lado, a figura de Naoko sorriu fracamente, tentando encobrir o pesar de seu coração.
Uma vida não pode ser mudada. Mas, ao menos pode ser perdoada.
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(Continua.)
Notas:
O que acharam? Sem ação, mas está como eu planejo. O capitulo serviu como introdução aos personagens, e até mais um pouco ao conhecimento do enredo.
Eu devo lhes avisar, que quando eu coloquei o perfume de 'ameixas brancas (hakubai-kou)' como sendo o usado pelas prostitutas, eu não o fiz com intenção de magoar, muito pelo o contrário. É de conhecimento que o perfume das ameixeiras era usado como um perfume próprio para as chamadas mulheres da vida. Por isso, não me critiquem, que não inventei isso para magoar os fãs da Tomoe (até porque eu também gosto dela.) ou de qualquer personagem que use o devido perfume, são dados históricos que eu li.
Em relação ao perfume de Jasmim da Kaoru. Bem, muitas pessoas relacionam a Kaoru ao perfume de Jasmim (e ao das cerejeiras.), mas como eu havia visto em uma das capas do mangá a Kaoru segurando flores brancas, iguais ao jasmim, eu liguei diretamente. Sem falar que em todas as estórias que eu leio, o perfume é direcionado a ela. - Uma nota especial - Kaoru quer dizer Perfumada.
Em relação ao nome Satine - O nome para mim, seria a junção de Satin com Jasmine. Como se eu fizesse de outra forma, iria ficar estranho, então o nome Satine quer dizer exatamente (no meu contexto) - Cetim de Jasmim (no português) - Em uma forma 'redonda' e reduzida.
Em relação aos dados históricos.
- O auge da revolução se deu exatamente no ano de 1866(verdadeiro). Mas, como isso é um fiction, eu estou colocando um certo intermédio, para que possa existir uma história.
- Bakumatsu ->final do Xogunato.
Enfim, espero que tenham gostado.
Kaiora
