Amizade
Jabu corria pela praia como todas as manhãs. Gostava daquela calma e tranqüilidade, sentir o sol lhe aquecendo, a brisa suave que vinha do mar bater em seu rosto. Procurava afastar de sua mente todos os pensamentos desagradáveis que pudesse ter. Naquele momento, tudo o que queria era esquecer seus problemas e relaxar. Viu-a sentada na areia, abraçando os joelhos. Já a tinha visto antes, mas não tivera coragem de se aproximar. Nunca tivera muito contato com Mino. Não eram necessariamente amigos. Conheciam-se de vista. Encontraram-se em poucas ocasiões e cumprimentavam-se apenas, não tendo, até aquele dia, uma oportunidade para conversarem.
A última vez que a vira era uma lembrança vívida em sua mente. Passara-se apenas duas semanas daquele dia. E agora, vendo-a ali, pensava em como ficara impressionado com ela na ocasião. Que mal tinha se aproximar e conversar?
Mino estava sentada na areia, sentia a água do mar lamber-lhe os pés. Seus olhos perdidos no horizonte. Abraçou os joelhos. Enquanto as crianças no orfanato, ainda dormiam, ela escapava por alguns minutos para ir à praia e sentava-se na areia. Sentia uma sensação de paz e liberdade. Adorava ficar ali, apenas sentindo aquela brisa suave acariciar-lhe o rosto.
- Mino... – virou-se assustada, ao sentir leve toque em seu ombro. Relaxou ao reconhecê-lo.
- Jabu... – suspirou, levando a mão ao peito e sorrindo.
- Oi Mino. – cumprimentou-a. – Desculpe, não pretendia assustá-la. – disse com um sorriso divertido.
- Tudo bem, eu estava distraída.
- Posso me sentar aqui com você? – perguntou.
- Claro, Jabu. – Jabu se sentou e ficaram algum a contemplar o mar, até que a voz levemente rouca de Jabu cortou o silêncio.
- É estranho... – Mino se virou para ele curiosa:
- O que é "estranho"? – perguntou. Jabu a encarou surpreso. Não reparara que dissera aquilo em voz alta.
- Não... é que eu estava pensando... é estranho... que apesar de já nos conhecermos há anos, nunca tenhamos tido uma oportunidade para conversar. – concluiu. Mino sorriu.
- Tem razão. – disse. – Nos encontramos em tantas ocasiões e nunca pudemos passar de um "oi", não é mesmo? – Jabu acenou com a cabeça, confirmando e sorriu.
- Como vão as coisas no orfanato? – perguntou.
- Está tudo bem. – ela respondeu sorrindo. – Você deveria ir até lá. – disse ela. – As crianças adorariam que as visitasse. Elas são fascinadas por vocês, Cavaleiros. – disse sorrindo. Jabu apenas baixou a cabeça, sorriu tristemente. Não, ele não se sentia parte desse seleto grupo, não estava à altura dos outros Cavaleiros. Mino olhou para o relógio e depois encarou Jabu. - Jabu. – chamou-o. O rapaz olhou para ela.
- Sim?
- Preciso voltar para o orfanato. – disse. Jabu sorriu.
- Pelo menos desta vez passamos de um "oi", certo? – comentou levantando-se e oferecendo a mão para ajudá-la, aceitando a mão de Jabu.
- Tem razão. – respondeu ela sorrindo - Você corre por aqui todos os dias? – perguntou Mino.
- Sim. Sempre nesse horário.
- Inacreditável que eu nunca tenha te visto. – comentou. Jabu coçou a nuca e sorriu sem graça.
- Eu vou confessar Mino. Já a tinha visto por aqui... mas... como nunca tivemos muito contato... fiquei sem-graça de me aproximar. – Mino achou engraçado o constrangimento de Jabu.
- Tudo bem, Jabu. Eu entendo. – disse ela. - Mas agora que sei que você corre por aqui todos os dias e que você sabe que eu venho aqui todos os dias também, não faltarão oportunidades para conversarmos.
- Tem razão. – caminharam lado a lado até a entrada do orfanato.
- Então... tchau, Jabu. Até amanhã? – Jabu sorriu.
- Até amanhã, Mino. – disse e Mino entrou rapidamente no orfanato. Logo as crianças acordariam. Mino preparava o café, enquanto esperava que Eire e June chegassem. Os poucos minutos de conversa que tivera naquela manhã com Jabu, voltara à mente de Mino. Pensava no rapaz com curiosidade.
Nunca pensou que Jabu fosse tão gentil... As únicas coisas que sabia sobre ele era o que Seiya lhe contava.
Quando crianças Seiya e Jabu não se davam bem. Estranhamente o motivo era Saori. Enquanto Seiya não se submetia às vontades da menina, Jabu fazia o que ela pedia e brigava com Seiya por causa de seu comportamento arredio contra a pequena milionária. Ele sempre dizia que Jabu era arrogante e "capacho" de Saori. Depois que ficara mais velho, Seiya já não criticava tanto Jabu e quando o fazia era por motivos totalmente diferente dos que tinha quando criança. Ciúmes. Seiya só deixou de sentir ciúmes de Jabu quando Saori aceitou seus sentimentos e retribuiu-os intensamente. Passou a respeitar o Cavaleiro de Unicórnio, recebendo do mesmo igual tratamento. A picuinha dos tempos de crianças fora completamente esquecida. Mas não chegaram a se tornar amigos. Apenas respeitavam-se.
Jabu chegou em seu apartamento. Estava atrasado para o trabalho. Acabara se excedendo na conversa com Mino... mas valera à pena. Ficara encantado com a moça. Sempre tivera uma boa impressão sobre ela e, também ficara impressionado com sua atitude na festa de casamento de Saori. Admirou-a, pois tinha plena consciência do quanto aquele dia fôra difícil para ela. Sempre que pensava com tristeza naquele dia, a lembrança de Mino o tocava e, de alguma maneira, o confortava.
Ficara impressionado com a atitude de Mino na festa de casamento de Saori. Admirou-a, pois tinha plena consciência do quanto aquele dia estava sendo difícil pra ela. Sempre que pensava com tristeza naquele dia, a lembrança de Mino o tocava e, de alguma maneira, o confortava.
Gostara muito dos poucos minutos que tivera de conversa com ela naquela manhã... e não via a hora de reencontrá-la novamente.
Aquele encontro se tornara rotineiro. Os dias foram passando e Mino e Jabu estavam cada vez mais próximos. Passaram a se encontrar todos os dias logo de manhã, na praia. Jabu adiantou o horário de suas corridas, para dessa forma poder ficar mais tempo para conversar com Mino. Os dois descobriram muitas afinidades e a amizade, de já alguns meses, foi se tornando cada dia mais sólida.
E em momento algum, em nenhum dos dias em que se encontraram, tocaram no assunto Seiya-Saori. Estes pareciam completamente esquecidos.
Finalmente, as festas de Fim de Ano estavam chegando e com elas e verba anual da Fundação GRAAD para realizar as festas no orfanato. Com essa verba era comprada a ceia, os enfeites, os presentes para a tão esperada noite.
Mino acordou cedo naquela manhã. Ajudou Eire e June a preparar o café das crianças que estavam excitadíssimas por causa do passeio. Iriam passar o dia em uma casa no campo. Era uma casa grande, com um enorme jardim; pomar; uma piscina; quadra poli Esportiva; um parquinho, quadra de tênis, um lago onde poderiam nadar e pescar... O sonho de qualquer criança. Os pequenos levantaram cedo e já estavam sentados à mesa, apenas esperando que o café fosse servido. Eire tinha dificuldade em conter a pressa com a qual as crianças estavam comendo.
Depois de toda a algazarra, finalmente o ônibus que os levaria a tal casa tinha partido.
Mino subira para seu quarto para trocar de roupa, enquanto Eire e June arrumavam toda a bagunça. Ela foi até o escritório onde, pegou na gaveta da escrivaninha, o cheque da verba doada por Saori. Mino ficara responsável por comprar os presentes. Tudo tinha que ser preparado com discrição e antes de as crianças voltarem do passeio. Ela desceu as escadas, despediu-se de Eire e June e saiu pra cumprir sua importante missão.
Andou durante horas procurando brinquedos e roupas. Já tinha comprado muita coisa, mas não tudo e não podia se arriscar. Esse era o dia em que as crianças estavam passeando e não a veriam chegar com aquele monte de pacotes. Não podia desperdiçar a oportunidade, tinha comprar tudo naquele mesmo dia.
Estava saindo da loja de roupas tentando equilibrar todos aqueles pacotes... Os embrulhos lhe atrapalhavam a visão e ao sair... Acabou trombando em alguém...
- Desculpe-me! – disse uma voz masculina. Mino olhou para o rapaz a sua frente. – Ah... Olá Mino! Não esperava vê-la por aqui. – cumprimentou Jabu abaixando-se para recolher os pacotes que ela tinha derrubado.
- Olá Jabu. Se tivéssemos marcado, não teríamos conseguido nos encontrar. – disse ela sorrindo, se abaixou também recolhendo os pacotes.
- Tem razão. – disse olhando ao redor. A loja fervilhava. Todas as pessoas do Japão pareceram escolher aquele mesmo dia para ir às compras. Ela ficou de pé e estendeu um dos braços para pegar os embrulhos que Jabu tinha recolhido do chão. Jabu a olhou divertido: - Acho que você não vai conseguir carregar tudo isso sozinha. – disse ele. Mino olhou para os pacotes em seus braços e para os que estavam nos braços de Jabu e depois olhou para o rosto do rapaz pensando nas coisas que ainda precisava comprar. Ficou um pouco desanimada. O rapaz sorriu da expressão no rosto dela:
- Eu preciso comprar tudo hoje... – disse. – Aproveitar que as crianças estão fora para preparar os presentes.
- Como você vai levar tudo isso? – perguntou Jabu – Você está de carro?
- Eu vim a pé, mas posso voltar de táxi. – respondeu ela.
- Nada disso! – disse ele pegando as sacolas que estavam penduradas nos braços de Mino, deixando com ela apenas os pacotes menores. – Tem mais alguma coisa pra comprar aqui? – perguntou ele. Mino o olhou interrogativamente.
- Não...
- Ótimo! – disse ele - Venha... Meu carro está no estacionamento. - Mino não conseguiu dizer mais nada, pois Jabu começou a andar para fora da loja.
- Jabu... Não é necessário... – tentou dizer, mas Jabu apenas olhou pra ela e sorriu continuando a andar até seu carro. Ele abriu o porta-malas de seu Toyota preto, arrumou os pacotes e sacolas que trouxe consigo e pegou os que estavam com Mino.
- Quanto tempo você ainda tem antes que eles voltem do passeio? – perguntou ele fechando o porta-malas e se voltando para encará-la. Mino o encarou por alguns instantes.
- Eles voltarão amanhã na hora do almoço. – respondeu ela finalmente.
- Então temos tempo pra comprar tudo... Ainda não são duas horas. – disse ele olhando para o relógio em seu pulso.
- Temos...? - ela pensou ao ouvir o que ele falou - Jabu... – ele passou por ela e abriu a porta para que ela entrasse no carro. Fez uma pequena reverência e estendeu e mão para ela. Mino olhou para a mão dele e depois voltou a olhá-lo no rosto e sorriu aceitando o gesto. Entrou no carro e Jabu fechou a porta e deu a volta entrando em seguida.
- Pra onde? – perguntou dando a partida.
- Jabu... Não precisa se incomodar...- Mino sabia que Jabu estava enrolado com os trabalhos da faculdade. Trabalhar e estudar não era nada fácil.
- Mino... Comprar brinquedos não é um incomodo... É diversão. – disse saindo do estacionamento. Mino balançou a cabeça e sorriu.
Eles conversaram animadamente durante todo o caminho. Jabu parou o carro em frente à loja de brinquedos. Eles desceram do carro e entram na loja que era enorme. Os dois ficaram perdidos ali dentro. Jabu e Mino se entreolharam e sorriram. Mino olhava a sua volta. O dinheiro que receberam daria pra comprar ótimos presentes.
Iam caminhando por entre as gôndolas. Na loja tinham prateleiras só com bichos-de-pelúcia, de todos os tamanhos, tipos e cores; uma só com bonecas e acessórios; outra com materiais esportivos; na vitrine da loja estava montado um lindo autorama, e na prateleira vários modelos de autorama e ferrorama; jogos e passatempos. Qualquer criança se sentiria num mundo de sonhos ali dentro.
Mino olhava em volta, completamente perdida. Resolveu aceitar a ajuda de Jabu para comprar os brinquedos, pois tinha certa dificuldade na hora de escolher brinquedos para os meninos... Levar carrinho de controle remoto todo o ano não dava.
Andaram de um lado para o outro, escolhendo o que seria melhor para cada criança, dependo da idade de cada um. Passaram quase quatro horas naquela loja, e conseguiram comprar tudo o que precisavam.
– Que tal um lanchinho? – perguntou Jabu quando terminaram de arrumar os brinquedos que tiveram que ser colocados no banco de trás, pois não couberam todos no porta-malas.
- Eu não quero incomodá-lo... – Jabu se voltou para ela.
- Por que você insiste que está me incomodando? Eu estou me divertindo muito, sabia? – disse ele sorrindo. Mino sorriu. – E então? Que tal um lanche? – perguntou novamente.
- Tudo bem. – disse ela, não mais resistindo. Conhecia-o o suficiente para saber que não adiantaria argumentar com ele.
-Ótimo! – Jabu pegou a mão de Mino. O toque causou uma sensação de eletricidade e conforto em ambos e por um instante ficaram apenas se encarando.
Jabu já tinha percebido que seus sentimentos por Mino haviam mudado. Estavam mais fortes, mais intensos. Sentia-se imensamente triste quando não conseguiam se encontrar, como acontecera naquela manhã. Tristeza que sumira repentinamente ao encontrá-la na porta daquela loja. Perdeu-se em pensamentos por alguns instantes, enquanto mantinha a mão delicada presa entre seus dedos.
Mino estranhou o olhar de Jabu. Percebeu um brilho diferente nos olhos azuis e então, ela teve a impressão de que ele se perdera em pensamentos. Os olhar dele a estava deixando encabulada, e ao mesmo tempo... tinha uma sensação que não conseguia explicar... Mas era muito bom.
Jabu se recompôs e sorriu, enquanto a puxava suavemente para a lanchonete do outro lado da rua.
Eles entraram na lanchonete e Jabu mostrou uma mesa perto da uma janela. Sentaram-se e conversaram por alguns instantes até que uma jovem veio atendê-los. A atendente pôs seu melhor sorriso e se aproximou da mesa.
- Pois não? – disse ela toda simpática com Jabu. A moça era bonita. Alta, ruiva, corpo perfeito, olhos verdes e fitava Jabu intensamente.
- Olá. – disse Jabu pegando o cardápio. – E então Mino, o que vai querer? – Mino pegou a carta de lanches sobre a mesa e deu uma olhada.
- Eu... Um sanduíche de filé de frango grelhado, salada, pouca maionese... – fez uma pausa e olhou para a garota que fitava Jabu que estava entretido escolhendo sua refeição. – Senhorita...? – a moça olhou para ela e Jabu a encarou também. – Não vai anotar meu pedido? – disse ela. A moça não respondeu, olhou-a e Mino repetiu seu pedido.
- E você? – perguntou se virando para Jabu. Ele olhou para ela.
- Eu... Hum... Vou querer o mesmo que Mino pediu, e ao invés da maionese... Eu gostaria de molho de pimenta. – ele olhou para Mino. – Só isso? – perguntou.
- Acho que sim... - a moça anotou o pedido.
- E o que vão querer beber? – perguntou ela.
- Suco de laranja. – disse Mino.
- Pra mim... Uma limonada, por favor.
- Com licença. – disse ela com um sorriso dirigido a Jabu.
- Acho que você tem uma fã... – disse Mino.
- O que?
- Você tem uma fã... – repetiu apontando com a cabeça em direção a moça. Ele olhou na direção que ela apontava e depois voltou a olhar pra ela com uma sobrancelha levantada e deu de ombros, mudando completamente de assunto.
- Aqueles presentes que você comprou...
- São para a festa de Natal no orfanato. Eu precisava comprar tudo hoje... Para que eles não percebam nada. – Mino e Jabu já estavam conversando há dez minutos quando o lanche veio. A garçonete serviu-os e ao se retirar deu uma piscadela sedutora direção a Jabu. Ele olhou para Mino que o encarava com um olhar de "eu não disse?" e corou. Mino sorriu ao vê-lo tão constrangido. Eles começaram sua refeição e continuaram a conversar.
- Sobremesa? – perguntou olhando para Mino.
- Hum... Sim. – respondeu ela. Jabu fez sinal para a garçonete e que veio velozmente para atendê-lo.
- Pois não?
- O que vocês têm de sobremesa? – perguntou olhando para a moça.
- Bem... Temos todos os tipos de sorvetes, torta de morango, de chocolate, bolos...
- Acho que eu vou querer um pedaço da torta de morango, então. – disse ele.
- Torta de morango... – disse ela anotando o pedido – Mais alguma coisa? – perguntou encarando-o com um sorriso pra lá de simpático.
- Tem sundae de chocolate? – perguntou Mino. A moça olhou-a, o sorriso desaparecendo.
- Óbvio. – respondeu. Mino estreitou os olhos ante ao tom um tanto... antipático. Ela estava se sentindo desconfortável... desconfortável não... Ela estava ficando furiosa com a rispidez daquela garota.
- Ótimo! Eu vou querer um sundae de chocolate com muita calda e castanhas... – fez uma pausa, enquanto a moça a encarava. -... Se é que você é capaz de providenciá-lo pra mim. – disse recostando-se à cadeira e encarando a garçonete seriamente. Jabu olhou-a surpreso. Tinha tido a impressão de que predominava uma inexplicável agressividade entre as duas moças, mas até aquele comentário atravessado de Mino, pensou que era apenas impressão.
- Com licença. – disse secamente a ruiva se retirando. Depois de mais dez minutos, a garçonete voltou com as sobremesas. Colocou-as sobre a mesa e se retirou. Jabu olhou para Mino que sorriu.
Os dois terminaram a sobremesa e Jabu chamou a garçonete outra vez.
- A conta, por favor. – pediu e cinco minutos depois a moça voltou com a conta. Jabu pegou a carteira no bolso de trás de seus jeans e Mino retirou a sua de dentro da bolsa. Jabu olhou-a intrigado. – O que está fazendo? – perguntou. Mino o encarou indecisa.
- Como? – perguntou confusa.
- Eu pago Mino. – disse ele, encarando-a.
- Nada disso. Eu não vou deixá-lo pagar a conta sozinho. – rebateu ela.
- Mas fui eu quem a convidou para o lanche, lembra? – argumentou o rapaz.
- Eu faço questão, Jabu.
- Mas Mino...
- Me sentirei ofendida. – disse ela. Jabu balançou a cabeça e sorriu. Essas mulheres modernas... e em se tratando de Mino... teimosa.
- Longe de mim, querer ofendê-la. – eles dividiram a conta e a garçonete veio para pegar o dinheiro e aproveitou para entregar um bilhete a Jabu. Ele olhou para a garçonete que já se afastava e abriu o bilhete, lendo-o. Mino acompanhava seus movimentos.
- Vai ligar pra ela? – Mino perguntou impulsivamente.
- O que?
- A garçonete. Vai ligar pra ela? – Mino repetiu a pergunta, sorrindo quando viu Jabu ficar vermelho novamente.
- Talvez. – disse simplesmente dobrando o papel e guardando-o no bolso da calça. Mino sentiu um aperto inexplicável no peito ao ouvi-lo dizer essas palavras. – Vamos? – eles se levantaram e deixaram a lanchonete, dirigindo-se para o carro do outro lado da rua.
Quinze minutos depois, Jabu parava o carro em frente ao orfanato e ajudava Mino a retirar os presentes. Ele pegou as sacolas e embrulhos maiores e seguiu Mino, que estava com os braços repletos de pequenos pacotes, para o pátio do orfanato. Eire e June viram quando eles chegaram. As duas amigas trocaram olhares marotos e se aproximaram dos dois.
- Olá! – cumprimentou June.
- Oh... Olá! – disse Mino. Ela olhou para Jabu – Vocês se lembram do Jabu, né? – as duas acenaram com a cabeça.
- Como vai Jabu? – perguntou Eire.
- Bem e vocês? – perguntou Jabu olhando de June para Eire.
- Estamos bem. – Eire respondeu.
- Isso é tudo? – perguntou June olhando para Mino, se referindo aos pacotes.
- Ainda tem mais no banco de trás. – respondeu Jabu que imediatamente voltou a seu carro para tirar o restante dos brinquedos. Eire e June o seguiram acompanhando Mino.
- Voltou muito bem acompanhada hein, senhorita Mino... – sussurrou June. Mino olhou para a amiga.
- O que? – perguntou.
- Ela disse que "voltou muito bem acompanhada". – repetiu Eire provocando.
- O que vocês estão insinuando?
- Você não faz nem idéia, não é Mino? – disse Eire sorrindo, olhando marotamente em direção a Jabu. Mino corou.
- Sai sozinha e volta com um belo acompanhante... – June fez uma pausa – O que você acha que estamos insinuando Mino? – Mino ia responder quando Jabu voltou com os embrulhos em seus braços. Ela olhou para ele e não pôde evitar ficar corada novamente. Jabu a encarou com curiosidade, pois o fato não lhe passou despercebido. Eire e June se entreolharam e sorriram. Talvez aqueles dois tivessem uma chance juntos e naquele momento passou pela cabeça das duas amigas fazer de tudo para dar uma mãozinha para o Destino que havia feito com que o caminho daqueles dois solitários e desiludidos se encontrasse.
- Bem... Acho que isso é tudo, não? – disse Jabu arrumando o banco.
- Você não quer ficar para o jantar? – perguntou Mino, quando Jabu entrou em seu carro.
- Obrigado, Mino, mas eu tenho um trabalho da faculdade pra terminar e precisa ser entregue amanhã de manhã, mas obrigado pelo convite.
- Obrigada a você, por me ajudar nas compras hoje. Seria bem mais complicado fazer tudo sozinha.
- Não precisa agradecer. Há muito tempo que eu não me divertia tanto. E eu pude compensar por não ter podido vê-la esta manhã. Senti falta de conversar com você. Gosto muito de sua companhia. – Mino ficou ruborizada.
- Também gosto de sua companhia, Jabu. Fiquei muito feliz que tenha podido me acompanhar nas compras hoje. Espero não ter te atrapalhado com seu trabalho de faculdade.
- Ora, Mino... não se preocupe com isso. Você não me atrapalhou em nada. Eu me diverti bastante. – Mino sorriu e depois de alguns instantes de silêncio, Mino tornou a falar:
– Onde vai passar o Natal, Jabu? – Jabu olhou-a surpreso. Não esperava a pergunta. Encarou-a por alguns instantes para em seguida desviar o olhar.
- Sozinho em casa... – ele sorriu, mas então sua expressão tornou-se melancólica de repente e ele focalizou os olhos na rua a sua frente – Como todos os anos desde que voltei do meu treinamento na Argélia. – percebeu que exterioriza seus sentimentos, "pensando" em voz alta e sentiu-se constrangido. Ele olhou para Mino e sorriu novamente, tentando esconder seu embaraço ao expor tais pensamentos. As palavras dele tocaram Mino e ela percebeu, que apesar do sorriso, seus olhos não escondiam sua tristeza.
"Sozinho... como todos os anos..."
Já fazia pelo menos oito anos desde que os aspirantes a Cavaleiros tinham voltado com suas respectivas armaduras. O coração de Mino se apertou e ela não conteve o impulso:
- Não gostaria de passar o Natal aqui, conosco? – perguntou ela. Jabu encarou-a ainda mais surpreso.
- Acho melhor não... e... – foi interrompido por ela.
- Jabu... Esta festa será realizada graças a sua ajuda. – pediu Mino tocando suavemente o braço dele. – Nada mais justo do que você participar dela também.
-... Mino, eu...
- Por favor, Jabu. Eu ficaria muito feliz se você viesse. – Mino sorriu – E pode ter certeza que sozinho você não vai ficar. –Jabu balançou a cabeça e sorriu, cobrindo a mão de Mino com a sua. Ele tornou a olhar para ela que o encarava me expectativa.
- Está bem então. Eu venho passar o Natal aqui, com vocês.
- Ótimo! – disse ela animada. Jabu balançou a cabeça e sorriu.
- Agora eu tenho que ir... – disse ele.
- Ah... claro. - disse Mino. – Mais uma vez... obrigada pela ajuda.
- Não tem de quê, Mino. Diverti-me muito.
- Estarei te esperando no Natal. – Mino se inclinou e trocaram o já costumeiro beijo no rosto.
– Pode ter certeza de que não a desapontarei. – disse ela quando ela se afastou. - Tchau Mino.
- Tchau Jabu. – respondeu ela... Por alguns instantes... Eles ficaram perdidos no olhar um do outro. Mino soltou a mão de Jabu suavemente e este deu partida no carro. Ele acenou para as duas amigas de Mino que estavam no pátio e deu mais um sorriso para a amiga antes de partir. Mino soltou um suspiro e acompanhou o carro até que este dobrou a esquina, desaparecendo de sua vista.
Mino e Jabu ficaram conversando por mais alguns instantes. Estava escurecendo quando o rapaz foi embora. June e Eire viram quando os dois trocaram um beijo. Nunca tinham visto os dois juntos e Mino, sendo tão tímida, já devia manter uma amizade com Jabu há algum tempo. Quando perceberam a amiga voltando, as duas entraram. Mino encontrou as amigas se preparando para irem embora.
- Ficaram conversando por um bom tempo, não? – perguntou Eire vestindo o casaco.
- É... – disse ela reticente.
- Você devia tê-lo convidado pra passar o Natal aqui. – disse June.
- Eu convidei... – as amigas ficaram surpresas. Quando viu o sorriso no rosto de June e Eire, Mino tentou se explicar: - Ele disse que passaria o Natal sozinho... Ele não tem família... Por isso...
- Calma, Mino! – disse Eire sorrindo.
- É... Você não precisa se explicar... – sorriu June.
- Eu só estou... – June e Eire a encararam divertidamente. Mino não pôde evitar sorrir. – Vocês são incorrigíveis...
- Nós temos que ir. Boa noite Mino. – disse June abraçando a amiga.
- Boa noite June. Mande um abraço pro Shun. – disse ela.
- Pode deixar. – ela sorriu.
- Tchau amiga. – Eire a abraçou.
- Tchau Eire. Mande um abraço pro Hyoga também. – sorriu.
- Eu mando sim. – June e Eire foram embora e Mino foi para a cozinha preparar um lanche.
Foi até a geladeira e pegou um tomate, um pé de alface, vidro de maionese, uma vasilha com o queijo fatiado e outra com presunto. De dentro do armário pegou um pacote de pão de forma e foi preparar seu lanche. Mino foi até a geladeira e pegou a jarra de limonada que June e Eire deixaram e foi até a mesa da cozinha. Odiava quando o orfanato ficava assim, vazio, silencioso. Levou o copo à boca, tomando um gole do suco e mergulhou em pensamentos.
Esses dias, quando as crianças ficavam fora, cada ano viajando para um lugar diferente... Mino se sentia muito sozinha. Até cinco anos atrás, Eire lhe fazia companhia, morava com ela. Conversavam até altas horas. Mas... Depois que Eire se casou com Hyoga e logicamente foi embora, Mino ficou sozinha.
Jantar sozinha era muito ruim. Aquela casa silenciosa daquele jeito chegava a ser assustador. Embora tivesse que assumir que mesmo com a presença de Eire, ou com as crianças, Mino também se sentia sozinha vez ou outra. Às vezes a presença de um amigo não é exatamente o que se busca.
Sempre pensava em Seiya nessas ocasiões, mas já fazia algum tempo que um rosto diferente lhe vinha à mente quando se sentia sozinha. Não foram os cabelos rebeldes castanhos escuros que apareceram a sua frente, mas sim cabelos igualmente rebeldes, mas castanhos claros; não foram os olhos castanhos, mas olhos azuis como o mar; não fora o sorriso maroto, mas sim o sorriso às vezes triste. Jabu...
Lembrou de como sua expressão havia se tornado melancólica quando disse que passaria o Natal sozinho: "Como todos os anos". Ele não tinha qualquer parente. Era órfão, assim como ela, Seiya, os demais Cavaleiros, mas também não tinha muitos amigos. Nos últimos meses, conheceu-o melhor e percebeu que ele mantinha-se afastado, como se essa fosse uma forma de defesa inconsciente, mas uma defesa, que como ela percebeu, machucava.
Sozinho... Enquanto ela, no resto do ano tinha quase trinta crianças a sua volta todo o santo dia. Do que estava reclamando? Uma imagem de um Jabu voltando para seu apartamento... Sempre vazio se formou em sua mente... Bem... Talvez nem sempre vazio... Com certeza ele devia ter muitas garotas como aquela garçonete querendo tirá-lo de sua solidão.
Esse pensamento a fez ter uma sensação estranha... Ela teve um sobressalto quando pensou sobre tal sentimento...
- Ciúmes? Não, não posso estar com ciúmes de Jabu! Somos amigos! - outro pensamento a acometeu... - E se ele ligar praquela garota e a trouxer para a festa de Natal? Será que eu conseguiria suportá-la? Teria que fazer um esforço tremendo pra isso, pois aquela garota antipatizou comigo à primeira vista. Será que Jabu simpatizou com aquela garçonete? Que homem não simpatizaria...? Ruiva, alta, olhos verdes, um corpo perfeito, educada... Com quem lhe convém... Com certeza ela impressionara Jabu. - Mino suspirou, sem mesmo perceber.
Ela terminou o lanche, tirou as poucas coisas que estavam sobre a mesa e tratou de lavar a louça. Tudo pronto.
Quase tudo...
Mino foi até a sala e terminou de arrumar os enfeites que Eire e June não tiveram tempo organizar. Era uma distração. Trabalharia até desmaiar, literalmente, de sono e para, dessa forma, não ficar pensando em tolices.
Ela se sentou na sala e começou a empacotar os presentes, colocando o nome de cada criança nos embrulhos. Papéis brilhantes e coloridos, com temas natalinos, papéis dourados, adornados com fitas de cetim. Um pequeno presépio estava montado sobre uma estante.
Mino fazia os pacotes, e admirava a árvore que já estava armada há alguns dias. As luzes piscavam iluminando a sala.
Depois de tudo arrumado e todos os presentes devidamente empacotados, Mino levou-os até um quartinho que ficava dentro de seu quarto. Esconderia os presentes ali. Era um local seguro, apesar de as crianças não mexerem onde não deviam, aquele quartinho tinha chave e ficaria trancado até que chegasse o Natal.
Duas horas depois, estava tudo pronto e Mino estava exausta. Foi para o banheiro, despiu-se entrou debaixo do jato de água morna, sentindo fazê-la relaxar. Tomou um banho rápido, vestiu seu pijama e tombou na cama, adormecendo quase que imediatamente.
Jabu entrou em seu escuro e vazio apartamento. Ele acendeu a luz da sala e colocou as chaves do carro penduradas em um chaveiro na parede, perto da porta. Ele tirou a jaqueta e colocou-a no encosto de uma poltrona. Foi para o banheiro. Um longo e relaxante banho seria bom. Despiu-se e entrou sob o jato morno. A água deslizando suavemente por seu corpo como uma delicada carícia. O banho durou quinze minutos. Ele saiu do banheiro já vestindo a calça do pijama e uma toalha sobre os ombros, os cabelos ainda úmidos.
Foi para cozinha e deu uma olhada na geladeira. Comida congelada... De novo. Ele pegou o pacote e levou-o ao microondas, programou-o. Quando é que poderia comer comida de verdade? Aquela coisa parecia ter gosto de... Um gosto estranho. Mas... Como não tinha tempo para cozinhar... Ia ter que encarar a comida congelada mesmo.
Enquanto a comida descongelava, ele foi até o banheiro, pegou a calça que ficara pendurada atrás da porta.
- Lavanderia... - remexeu os bolsos, tirou sua carteira, algumas moedas... Que na pressa nem se preocupara em guardar dentro da carteira. Fuçou os bolsos da frente e encontrou um pequeno papel dobrado. Não se lembrava o que poderia ser. Abriu-o e viu o nome e o telefone da garçonete que o paquerara mais cedo. Lembrou-se da garota: uma mulher muito bonita sem dúvida, atraente... Mas algo o desagradou... Era um tanto agressiva demais para seu gosto e também não gostara da forma como a moça tratara Mino...
Sem pensar duas vezes, amassou o bilhete e jogou-o no lixo. Estava sozinho sim, queria encontrar alguém, mas não estava tão desesperado a ponto de procurar envolvimento com a primeira que lhe desse bola. Essa fase já tinha passado. Ele não era mais um adolescente, que se envolvera algumas vezes na esperança de esquecer um amor não correspondido, mesmo que fosse por apenas algum tempo. Ele era um homem, adulto, responsável e que estava querendo dar um rumo definitivo em sua vida e... Com certeza aquela garota não estava incluída nesses planos. Uma garota que com certeza só lhe traria aborrecimentos. Sem sequer conhecê-lo já demonstrara uma possessividade anormal... Realmente... Nem pensar. Queria amor, paz e não dor de cabeça. Já bastava a que seu trabalho, unido à faculdade, lhe infligia.
A comida finalmente estava pronta. Ele a retirou de dentro do microondas e colocou o prato sobre a mesa de vidro na sala de jantar. Foi até a geladeira e pegou uma jarra de limonada. Sentou-se e se serviu. Enquanto comia, pensava no convite que Mino lhe fizera.
Será que fora uma boa idéia aceitá-lo? Passara o Natal dos últimos oito anos sozinho. Não era uma pessoa desagradável, mas também não era lá muito sociável. Lembrava-se bem de como ele se desentendia com os outros garotos do orfanato, implicando o tempo todo. Durante seu treinamento, não teve muito tempo para amizades e só tinha uma coisa na cabeça: Trazer a armadura de bronze para impressionar Saori. A única pessoa que se aproximara dele nos últimos tempos... Fôra Mino.
Com certeza o Natal no orfanato contaria com a presença dos Cavaleiros de Bronze e seus respectivos pares. Apesar de terem se entendido, não tinha certeza se seria bem-vindo numa festa como aquela, tão íntima, entre amigos... Não sabia se poderia se considerar como tal. Estava pensando seriamente em procurar Mino e recusar o convite. Inventaria alguma coisa.
Mas, lembrava-se dela e da tarde maravilhosa que passaram juntos, de tantos outros momentos agradáveis desde que tinham se aproximado... Não teria coragem de recusar.
Terminou o jantar, arrumou a cozinha. Foi para a sala terminar o trabalho para a faculdade. Teria que ser entregue no dia seguinte. Ainda bem que já estava bastante adiantado.
Estava decidido: Não recusaria ao convite. Passaria o Natal no orfanato. E esperava que os outros não ficassem incomodados com sua presença.
Oi pessoal! Mais um capítulo pra vocês! Pretendo cumprir minha promessa e postar esta fic até o Natal! Este é o penúltimo capítulo.
Aproveito para comentar uma pequena alteração que fiz no capítulo anterior: O primeiro oponente de Jabu não foi o Shun, e sim o Geki, mas como esse último é um personagem meios apático na história, eu preferi deixar como sendo o Cavaleiro de Andrômeda mesmo.
Espero que tenham gostado deste capítulo e que não esqueçam de comentar, mesmo que seja pra dizer que está horrível.
Obrigada a todos que estão acompanhando esta fic e até o próximo capítulo!
Agradeço aos comentários de:
Ada Lima: Obrigada, espero que goste deste capítulo! Beijos!
Jezreel: Muito obrigada pelo seu comentário! Fico feliz que tenha gostado do capítulo anterior e espero que goste deste também! Besos!
