Noite de Natal
Quatro dias depois, Natal.
A festa estava muito agradável. As crianças estavam eufóricas. Não viam a hora de o "Papai Noel" entregar os presentes. June e Eire vieram acompanhadas por seus respectivos maridos: Shun e Hyoga. Shiryu e Shunrei vieram da China há algumas semanas para morarem no Japão, e Shiryu queria mostrar a esposa a cidade onde crescera e o orfanato que era um lugar que se tornara o "xodó" de todos os Cavaleiros, pois compreendiam e viam na história de cada uma daquelas crianças sua própria infância. Shunrei estava encantada com as crianças. A gravidez deixando-a muito sensível.
Saori também não poderia faltar à festa, pois era ela quem ajudava o orfanato com suas doações, e Seiya que passara boa parte de sua vida ali, com sua irmã, e ambos tinham um carinho especial pelas crianças.
Mino já não sentia mais aquela sensação incomoda ao ver os dois juntos. Ficava feliz por eles. Saori era uma boa pessoa, e fazia Seiya muito feliz. Os dois pertenciam um ao outro.
Ikki e Seika não demoraram a chegar, cumprimentaram os amigos. Estavam felizes por estarem juntos de seus familiares e também dos amigos. Acabaram de voltar de lua-de-mel e não tiveram muito tempo para rever os amigos e parentes. Mas, apesar da saudade que sentiram ao estarem longe, Ikki a fizera prometer que assim que os presentes fossem entregues e terminassem a ceia iriam embora. O Cavaleiro de Fênix nunca fora muito sociável, mesmo. Uma reunião a dois estava de bom tamanho na sua opinião.
Mino estava estranhamente ansiosa. Já eram 21:15h e Jabu ainda não viera. Talvez tivesse mudado de idéia, fizera outros planos... A imagem daquela garçonete lhe veio à mente e Mino soltou um suspiro e foi para a cozinha. Talvez ele já estivesse muito bem-acompanhado esta noite.
Jabu estava em seu apartamento num dilema terrível. Já perdera meia hora na escolha da roupa. Decidira-se por uma calça de brim preta, uma camisa azul escura e um suéter branco, estava frio lá fora. Estava satisfeito com seu visual e agora encarava o presente que comprara para Mino, pousado sobre sua cama. Achara chato chegar à festa de mãos vazias... Mas não tinha certeza de já ter intimidade suficiente com ela para dar-lhe um presente.
Será que ela se ofenderia? Ofender... Não. Mas poderia constrangê-la. Talvez fosse melhor guardar aquele embrulho e entregá-lo em outra oportunidade.
Andava de um lado para outro em frente ao guarda-roupa, ainda encarando pequeno pacote. Olhou para o relógio e assustou-se. Já eram 21:20h... De seu apartamento até o orfanato levaria quarenta e cinco minutos. Decidiu-se. Pegou o embrulho, e ao passar pela sala, pegou as chaves do carro. Trancou o apartamento e foi até a garagem. Caminhou rapidamente até o carro. Deu a partida e arrancou rumo ao orfanato. Esperava que Mino não se sentisse ofendida pela ousadia.
Mino passou por seu quarto e viu o pacote sobre a cômoda. Será que tinha sido ousadia sua comprar um presente pra ele? Ainda não se decidira a entregar. Comprara o presente num impulso. Achava que seria desagradável Jabu ir à festa e não receber presente algum. Seria realizado um Amigo Secreto e, como Jabu fôra convidado em cima da hora... Não deu tempo de incluí-lo na brincadeira. Comprando o presente, Mino achava que ele ficaria mais à vontade e não se sentiria tão deslocado.
Mas os minutos iam passado e ela começava a pensar na possibilidade de não ter a oportunidade de entregar o presente a ele. Deu mais uma olhada no pacote e suspirou. Talvez em outra oportunidade. Fechou a porta do quarto e desceu para a sala.
Enquanto dirigia, Jabu observava as decorações de Natal. Nos prédios residenciais cada janela estava enfeitada de forma diferente. Numa delas, luzes brancas caiam como uma cascata brilhante; em outra, luzes coloridas enfeitavam as grades da sacada; Nas lojas, as árvores de Natal nas vitrines eram enfeitadas de formas variadas: em uma delas, os enfeites eram todos prateados e vermelhos; na outra, os enfeites pareciam pequenos presentinhos pendurados nos galhos; outra, estava enfeitada com pinhas pintadas de dourado... A cidade toda estava enfeitada: luzes brancas enfeitavam os troncos das árvores; faixas com desenhos natalinos cruzavam todas as ruas de Tókio. As crianças brincavam na frente de suas casas... A noite, apesar de muito fria, apresentava um céu fabuloso. As estrelas brilhavam intensamente, acompanhando uma lua cheia e brilhante, Jabu conseguia distinguir sua constelação protetora entre elas.
Finalmente, chegara.
Ele parou o carro em frente ao portão do orfanato. Desceu com o pequeno embrulho escondido no bolso de seu casaco e caminhou até o portão, que estava entreaberto, mas ele achou melhor se anunciar. Tocou o interfone e aguardou.
Mino ouviu o interfone e como estava perto da porta da sala, saiu para espiar. Abriu um belo sorriso ao ver quem era.
Jabu sorriu também e acenou pra ela.
Mino veio atendê-lo, enquanto tentava esconder sua ansiedade. Jabu ficou encantado ao vê-la. Mino usava um corpete tomara-que-caia violeta bordado com vidrilhos e contas e uma saia pregueada também violeta. Os cabelos presos num coque, com alguns fios soltos, emoldurando o rosto delicado, uma maquiagem leve. Ela estava mais linda do que ele se lembrava. Mino também ficou impressionada com o visual de Jabu. A roupa parecia ter destacado o azul profundo dos olhos dele.
- Por que não entrou Jabu? – perguntou ela ao se dar conta de que o portão estava aberto.
- Achei chato ir entrando assim. – respondeu ele sorrindo constrangido. Mino sorriu e impulsivamente pegou a mão dele puxando-o consigo. Jabu ficou surpreso, mas se deixou levar. Caminharam lado a lado, conversando até chegarem à porta.
Entraram na sala e a primeira cena que viram foi o beijo carinhoso trocado por Seiya e Saori. Mino ficou apreensiva. Como Jabu reagiria em ter que passar aquela noite inteira vendo o casal trocar carinhos na sua frente?
Jabu já esperava ter que passar por essa situação, mas estranhamente, ele não se incomodou. Mino olhou para ele e se surpreendeu. Jabu não parecia magoado ou chateado... mas ele também não perecia à vontade... Cumprimentou a todos os presentes, sentindo-se ainda como um intruso.
- Jabu... Eu preciso ver as coisas na cozinha. – disse ela se voltando pra ele, indecisa se devia realmente deixá-lo sozinho. – Eu volto logo.
- Não se preocupe comigo Mino. – disse ele. Mino foi para a cozinha e Jabu se encostou a um dos cantos da sala. June e Eire se retiraram e se dirigiram à cozinha para ajudarem Mino com a ceia. Saori e Shunrei foram atrás delas oferecer ajuda, que foi muito bem-vinda.
Jabu ficara encostado num canto. Não sabia como iniciar uma conversa com os presentes. Tinha receio de como seria recebido. Olhava a agitação, a correria das crianças pela casa. Hyoga olhara para Jabu e resolveu incluí-lo na festa. Se aproximou do isolado Cavaleiro de Unicórnio e iniciou uma conversa. Logo Shun, Seiya, Ikki e Shiryu se juntaram a eles. Os seis rapazes riam e conversavam animadamente. Jabu estava aliviado. Fôra aceito.
Mino se surpreendeu ao ver o rapaz conversando com Seiya de forma tão natural. Essa festa prometia ser muito agradável.
Como as crianças participariam do Amigo Secreto, graças à ajudazinha financeira dos adultos a brincadeira seria antecipada para antes da meia-noite.
A troca de presentes fôra muito divertida. Jabu observava a brincadeira com um sorriso. Estava se sentindo à vontade. A iniciativa dos rapazes de virem conversar com ele lhe tirou um peso dos ombros. Eles não estavam incomodados com sua presença, pelo contrário. Aceitaram-no imediatamente
Olhou pela janela e viu uma menina de uns quatro anos sentada no pequeno balanço no pátio. Estranhou vê-la isolada num dia de festa como aquele. Incomodado, saiu da sala em direção ao pátio. Era uma noite fria e um vento cortante fustigava-lhe o rosto. Aproximou-se da menina e ouviu um soluço. A pequena estava chorando. Aproximou-se apreensivo. Lembrava-se das inúmeras noites que passara chorando quando era criança, sentindo falta de sua família.
- Oi. – disse ele suavemente. A menina ergueu a cabeça e mirou os olhos verdes no rosto de Jabu. Fungando, ela respondeu num sussurro:
- Oi... – e baixou a cabeça novamente. Jabu se postou atrás do balanço e impulsionou-o levemente. A menina olhou pra ele que sorriu. Continuou empurrando o balanço.
- Por que você está chorando? – perguntou suavemente. Viu-a baixar a cabeça novamente e não respondeu – Você não precisa responder se não quiser... – depois de alguns instantes de hesitação ela finalmente falou:
- Tenho saudades dos meus pais... – disse ela com a voz trêmula. Jabu continuou balançando-a por mais algum tempo, então finalmente se afastou do balanço e sentou no chão à frente dela. Ela o olhou, seus olhinhos brilhantes por causa das lágrimas. – Eles morreram... – continuou, mais lágrimas escorreram de seus olhos. Jabu soltou um suspiro.
- Eu sei como você se sente... – disse ele. A menina o olhou surpresa.
- Sabe?! – perguntou enxugando os olhinhos com as costas da mão.
- Eu também perdi meus pais. Eu tinha quatro anos quando eles morreram. – Jabu desviou os olhos para o céu escuro, quase negro, pontilhado por brilhantes estrelas e adornado com uma enorme lua cheia. – Eu não me lembro direito deles. – ele tornou a olhar para a pequena. – É estranho... Eu não me lembro do rosto da minha mãe, mas lembro do perfume que ela usava. Também não me lembro de meu pai, apenas de sua voz grave e rouca quando ele contava histórias para eu dormir.
- Olha... – disse a menininha tirando e estendendo a ele uma foto que já estava até meio amassada, pois andava com ela pra cima e pra baixo. Jabu pegou a foto da mão dela. – Meus pais... – murmurou ela. Jabu examinou a foto. Um casal, ambos muito bonitos. O homem devia ter uns vinte e oito anos, cabelos castanhos-dourados, revoltos, caindo sobre a testa. Seus olhos de um verde esmeralda magnífico. Um sorriso luminoso nos lábios, enquanto passava o braço esquerdo sobre o ombro de uma jovem mulher e segurava a mãozinha de um bebê com a mão direita. A mulher devia ter por volta de vinte e cinco anos, cabelos ruivos, encaracolados, a franja jogada para o lado, enquanto alguns finos fios caiam sobre sua testa. Os olhos violetas brilhantes. Sorria. Carregava o bebê em seu colo. O pequeno bebê tinha os olhinhos fechados, a boquinha pequena e vermelha, as bochechas rosadas, os cabelos fininhos, mais parecendo uma penugem castanha-clara. A mãozinha pequena segurava o polegar do homem.
- Uma família perfeita. - pensou Jabu. Ele olhou para a menina que apontou para a criança na foto.
- Sou eu. – disse ela, sorrindo. Jabu também sorriu.
- É uma foto muito bonita. – disse ele devolvendo a foto para a menina.
- Sinto falta deles... – ela disse. Sua voz embargada. Jabu acariciou os cabelos castanhos-dourados, como os do homem na foto. A menina levantou os olhos violetas pra ele. Só agora ele percebera a cor dos olhos dela. Eram iguais aos da mulher no retrato.
- Hei... Não chore. – Jabu não sabia o que dizer para consolar a pequena. Num impulso, ele estendeu os braços pra ela. A menina hesitou por um momento e então se aproximou, aconchegando-se ao peito dele. Jabu a recebeu em seu colo, enquanto afagava-lhe os cabelos. Tinha que dizer alguma coisa. – Eu... eu tinha a sua idade quando meus pais morreram, também chorava de saudades deles. – a menina fungou. – Eu não vou mentir pra você e dizer que essa saudade vai passar. Eu ainda sinto saudades deles, dói menos, mas eu ainda sinto. – mais uma fungada. – Você não pode ficar assim, sozinha. Tem que brincar, procurar a companhia das outras crianças. Isso vai ajudar você a superar. – Jabu se lembrava de que só nos momentos em que estava brincando é que conseguia esquecer um pouco daquela saudade. Quando a noite chegava é que a dor apertava. Ele baixou a cabeça e tocou o queixo da menina, erguendo seu rosto e fitando-a. – Vamos lá. Seus amiguinhos já estão se preparando pra dormir. – ele passou os dedos pelo rosto dela secando-lhe as lágrimas. – Você sabe que o Papai Noel não virá enquanto estiver acordada. – ele viu os olhinhos da menina brilharem e ela sorriu. Levantou-se do colo dele e ficou de pé a olhá-lo com um sorriso.
- Qual o seu nome? – perguntou ela, curiosa.
- Jabu. – respondeu ele.
- Jabu... – disse pensativa, em seguida sorriu. - Que nome engraçado. – Jabu riu. – O meu é Ariadne.
- Prazer em conhecê-la, Ariadne. – disse Jabu estendendo a mão pra ela. A menina apertou a mão dele. Então se aproximou dele e beijou-lhe o rosto.
- Boa noite, Jabu. – disse saindo correndo em seguida. Jabu sorriu e se levantou. Limpou a areia das calças quando ouviu o som de passos pelo jardim. Olhou para lado e viu Mino se aproximando com um sorriso.
- Você tem jeito com crianças. – disse ela. Jabu sorriu, estranhamente encabulado. – Ariadne não costuma confiar com tanta facilidade nas pessoas.
- Ah... Eu só... Conversei um pouco com ela. – Mino sorriu do constrangimento dele. Ele ergueu a cabeça e seus olhos se encontraram. Mino vacilou. Tinha procurado Jabu durante um bom tempo depois do Amigo Secreto. Demorou mais de quinze minutos para encontrá-lo e agora se sentia nervosa. Jabu a encarava e impulsivamente levou a mão ao bolso. Seria o melhor momento para entregar aquele presente? Devia entregá-lo?
Mino respirou fundo.
- Jabu... – começou ela. Jabu foi tirado de seus pensamentos pela doce voz de Mino. – Eu... Bem... Quando eu o convidei para a festa de Natal... e... – estava toda atrapalhada. – Eu resolvi comprar um presente pra você. – disse ela estendo a mão que escondera às costas e revelando a ele uma caixa arredondada. Jabu olhou para a mão de Mino e depois para seus olhos. Mino corara e desviara o olhar. Jabu pegou a caixa de sua mão e olhou para Mino antes de abri-la. – Eu... Achei... que você se sentiria deslocado se viesse à festa e não ganhasse presente algum... Mas como não sei exatamente do que gosta... Bem... Espero que seja do seu agrado. – Jabu pegou a caixa e sorriu. Seus olhos buscaram o rosto de Mino que estava com a cabeça baixa. A garota, percebendo que o rapaz não abria a caixa, olhou para ele e viu um brilho em seus olhos que a deixou extasiada. E ele nem tinha visto o que tinha dentro do pequeno embrulho.
- Eu nunca ganhei um presente antes... – disse ele sem pensar. Sua declaração deixou Mino surpresa. – Eu ganhava algumas coisas no orfanato, mas... Fazia parte da festa... Era mais como uma obrigação. Nunca ninguém comprou nada para mim espontaneamente... – quando viu a expressão surpresa no rosto de Mino, ele sorriu. Voltou sua atenção à caixa em sua mão e abriu-a. Havia um lindo relógio prateado, os ponteiros e os números eram dourados.
- Não é nenhum roléx, mas... – Jabu a interrompeu.
- É muito bonito. – disse sorrindo com um sorriso luminoso. - Obrigado, Mino. – ele tirou o relógio da caixa e pôs em seu pulso esquerdo. Olhou-a e sorriu. Sentiu-se aliviado. Toda sua apreensão com relação ao presente que comprara para ela tinha evaporado. Lógico... Não sabia se ela ia gostar, mas estava mais à vontade para lhe entregar o presente. – Eu... – ele começou, enfiando a mão no bolso. – Eu... Tomei a liberdade de... Comprar-lhe... – ele mostrou a ela o pequeno embrulho em sua mão. – Um presente também. – Jabu mantinha seus olhos fixos no rosto dela. Mino olhou para sua mão e depois para seus olhos. Sorrindo, ela pegou o embrulho das mãos dele. – Eu não sabia o que te dar de presente... – Mino abriu o embrulho e ofegou. -... Espero que tenha gostado.
- São lindos! – disse ela. Tocando o conjunto de brincos e um cordão. Os brincos tinham pingentes em forma de uma gota em um tom dourado escurecido, enfeitado com o que pareciam filetes de um dourado mais claro. O pingente do cordão era igual ao dos brincos. – Jabu... Eu nã... – ele a interrompeu.
- Eu os vi... E achei que combinavam com você. No momento em que me convidou para passar o Natal aqui, eu pensei em trazer-lhe um presente, mas não tinha nem idéia do que dar a você. Sempre a vi com brincos não muito grandes e a julgar por eles, cheguei à conclusão de que você não devia gostar de jóias grandes, nem muito pequenas, por isso... – disse ele pegando o cordão de dentro da caixa se encaminhando para as costas de Mino. Ele abriu o fecho do cordão e passou pelo pescoço dela. Mino sentiu um arrepio delicioso quando os dedos de Jabu roçaram suavemente sua nuca. A garota tocou o pingente e sorriu. – Gostou? – perguntou Jabu, colocando as mãos nos ombros dela e olhando em seu rosto. Mino olhou para ele e seu sorriso aumentou.
- Eu adorei... É o presente mais lindo que eu já ganhei. – seus olhos se encontraram. – Obrigada... – ficaram presos ao olhar um do outro. Fitavam-se, hipnotizados, alheios ao que acontecia à sua volta. Admiravam-se abertamente. Jabu mantinha suas mãos sobre os ombros de Mino, sentindo-se bem ao estar perto dela.
Afastaram-se com um sobressalto quando um rojão explodiu em brilhantes fagulhas coloridas. Os dois olharam para o céu, enquanto tentavam se acalmar. A intensidade daquele breve momento ainda mexia com as emoções de ambos.
- FELIZ NATAL! – olharam em direção a casa ao ouvirem a voz de Seiya. Jabu e Mino se entreolharam, enquanto os rojões continuavam a explodir no céu. O embaraço e o susto passaram. Mino se virou para ele e se aproximou, estendendo os braços timidamente. Jabu sorriu e aproximou-se da moça, envolvendo-a em seus braços. Sentiu quando as mãos dela se apoiaram em suas costas, e a cabeça recostou em seu ombro esquerdo. Sentiu o suave perfume que emanava dos cabelos sedosos de Mino.
- Feliz Natal... Jabu. – Mino disse ao ouvido dele. Jabu abriu um sorriso. Pela primeira vez em sua vida estava tendo um Natal feliz de verdade.
- Feliz Natal Mino. – respondeu. Afastaram-se ligeiramente, ainda nos braços um do outro. Encaravam-se, o olhar de Mino preso ao de Jabu. Ela nunca se sentira daquela forma antes. A proximidade fazia seu coração disparar, sentia um calor tomar-lhe o corpo ao mesmo tempo em que sentia arrepios. Nem quando estava perto de Seiya ela se sentira assim.
Jabu sentia o coração bater acelerado, o sangue correr quente nas veias, um tremor percorrer-lhe o corpo todo. Nunca sentira nada assim antes. Ao mesmo tampo que se sentia forte, também se sentia vulnerável. Era assustador.. e excitante.
Estavam presos no olhar um do outro. Estavam hipnotizados. Os olhos de Jabu se desviaram para os lábios vermelhos e tentadores de Mino. Inconscientemente, seus rostos foram se aproximando... Mino sentiu o suave perfume de sua loção, sentindo-se inebriada. Não conseguia se afastar dele. Estava paralisada, envolvida por aqueles olhos azuis... Seus lábios separados por apenas alguns centímetros, mas...
- Mino...! – June veio chamar a amiga para a ceia. Jabu e Mino afastaram-se assustados. June apareceu no pequeno parque e percebeu que os dois pareciam nervosos e envergonhados. Seus lábios se curvaram num sorriso malicioso. – Interrompi alguma coisa? – Mino e Jabu a olharam, surpresos.
- Claro... Claro que não, June! – respondeu Mino com a voz ligeiramente trêmula. O sorriso de June cresceu.
- Bem... Eu vim chamá-los para ceia. – disse fingindo indiferença.
- Claro... Já estamos indo. – respondeu Mino. June começou a se afastar e Mino se virou para encarar Jabu, mas assim que seus olhos se encontraram... Ela corou. Jabu também estava um pouco constrangido. – Va... Vamos cear? – perguntou num sussurro.
- Claro... – Jabu pensara em ir embora, mas acabara por desistir.
Depois do ocorrido no pátio do orfanato, Jabu e Mino pareciam constrangidos na presença um do outro. Seus olhares se cruzavam às vezes, deixando-os levemente ruborizados.
June cutucara Eire, e as duas passaram a prestar atenção a todas as reações dos dois.
À noite de Natal fora prazerosa e cheia de revelações.
Quando Jabu decidiu ir embora já passavam das três da manhã e Mino o acompanhou até o portão.
- Tchau Mino... – disse ele olhando-a com ternura. – Obrigado por me convidar a vir... Eu me diverti muito.
- Não precisa agradecer, Jabu. Gostei muito que você tenha vindo. – disse ficando ruborizada, desviou o olhar.
- Ah... – Mino olhou pra ele, que disse olhando e deslizando os dedos suavemente pelo relógio em seu pulso, antes de tornar a olhar nos olhos dela – Obrigado pelo presente.
- Que bom que gostou... – ela, inconscientemente deslizou os dedos pelo pingente preso ao cordão em seu pescoço, baixando a cabeça. Jabu acompanhou o movimento dos dedos dela, para em seguida fitar seu rosto. – Muito obrigada pelo presente... É lindo. – ela tornou a olhar pra ele e seus olhos se encontraram. Jabu se aproximou, tocou o rosto de Mino, sorrindo e beijou-a na testa, afastando-se em seguida, deixando-a a garota surpresa. Ele entrou em seu carro e acenou antes de dar a partida e desaparecer madrugada afora.
Mino estava com a mão sobre o peito, como se dessa forma pudesse acalmar seu coração que estava disparado. Não era possível... Era muito cedo pra isso... Sua amizade com Jabu estava cada dia mais forte, mas... ainda era cedo para desenvolver qualquer outro sentimento por ele... Não podia ter se apaixonado por ele tão rapidamente... ou poderia?
Respirou fundo e tentou se controlar. A casa ainda estava cheia e a maioria pernoitaria por ali. Sua mão, ainda estava sobre o peito e seus dedos tocaram o pingente. Sentira-se muito feliz por Jabu ter se lembrado de comprar algo para ela. Um presente tão lindo e delicado. Sorriu levemente, ao lembrar-se do arrepio que o roçar dos dedos dele sobre a pele de sua nuca provocou, das sensações despertadas pelas mãos repousadas sobre seus ombros. O quase beijo que trocaram naquele momento.
Mino fechou os olhos, e com um suspiro feliz, ela voltou para dentro da casa. O enorme sorriso e aqueles olhos brilhando não passaram despercebidos. Eire e June se entreolharam e sorriram em cumplicidade. As duas amigas já estavam de olho em Mino e Jabu e aquela era a oportunidade perfeita para conversarem com a garota.
- Mino? – disse Eire se aproximando da amiga, acompanhada por June. Mino estava distraída olhando para o céu estrelado, no qual os rojões ainda explodiam, provocando uma chuva de faíscas brilhante s coloridas, enquanto pensava nos bons momentos que tivera naquela noite. Estava tão absorta em seus pensamentos que nem se deu conta da presença das amigas.
- Mino! – chamou June. Mino despertou com um sobressalto e encarou as amigas.
- Querem me matar de susto?! – disse repreendendo-as. Eire e June sorriram.
- Nunca te vimos tão distraída... – disse Eire.
- Eu... eu... – Mino gaguejava. Estava constrangida por ter sido pega desprevenida.
- Que conjunto bonito Mino! – June se aproximando para olhar os brincos e o pingente de perto. Eire a olhou atentamente.
- Realmente! São lindos! – disse ela. - Você não estava com eles no início da festa... – Eire a olhou. Mino baixou a cabeça e corou.
- Eu ganhei um pouquinho antes da ceia. – comentou Mino erguendo a cabeça e encarando as amigas.
- Foi presente do Jabu? – perguntou Eire sorrindo maliciosamente. Mino ficou encabulada.
- Mas que coisa vocês duas! Foi presente dele, sim! – respondeu encarando as amigas que a olharam surpresas com a explosão. – Tem algum mal nisso? – Eire e June sorriram e se aproximaram de Mino, abraçando-a.
- Claro que não Mino. – disse June.
- É, Mino. Estamos felizes por vê-la feliz. – fala Eire. – Quem sabe não é ele o homem da sua vida, hein?
- Ora, não digam bobagens. Nós só nos aproximamos há apenas alguns meses... – foi interrompida por Eire.
- Isso não quer dizer nada. Não se lembra de como Hyoga e eu ficamos juntos? Nos apaixonamos à primeira vista... e você já está em vantagem... – Mino a encarou confusa. – Você já o conhece há alguns anos.
- E pelo que eu e Eire pudemos perceber... vocês dois estão ficando bem próximos... – disse June com um sorriso. Mino as encarou por alguns instantes e então, voltou seus olhos para o céu estrelado e não pôde evitar um sorriso. Não podia mais negar, estava apaixonada pelo Cavaleiro de Unicórnio.
Jabu estava deitado em sua cama. A noite estava fria e ele se viu obrigado a tirar seu edredom do baú. O braço direito dobrado sob a nuca. Estava perdido em pensamentos sobre as últimas horas. Um sorriso enfeitou-lhe o rosto.
Lembrava-se de como fora bem-recebido, apesar de sua apreensão. Pensava nos bons momentos que passara no orfanato ao lado de seus amigos... agora tinha certeza de que poderia chamá-los assim; dos momentos que passara ao lado da pequena Ariadne e... Principalmente, dos momentos que passara ao lado de Mino.
Desde aquele dia, em que teve a feliz idéia de abordá-la na praia que não conseguia parar de pensar nela. Na verdade... Desde antes. No dia do casamento de Saori. Admirara-a naquele momento e vez ou outra, seus pensamentos vagavam pelos acontecimentos daquele, que deveria ter sido o pior de sua vida, mostrava-se agora, na verdade como o início dela.
Seus olhos se desviaram para o relógio que colocara sobre a cômoda ao lado da cama. Seu primeiro presente de verdade.
Jabu estava assustado com o que estava sentindo. Nunca pensou que se apaixonaria novamente. O mais assustador... Era que o que estava sentindo não se assemelhava nem um pouco ao que sentira uma vez por Saori. Ele agora tinha certeza de que seus sentimentos por Saori não passaram de uma paixonite... Coisa de criança.
Pessoal, pessoal! Gostaram???? Eu sei que prometi que terminaria esta fic hoje... mas, sabem como é né? Este capítulo estava muito grande e como o "Gran Finale" aconteceria no Ano-Novo, então... eu vou postá-lo na semana do Ano-Novo. Não me matem, por favor. Espero que estejam gostando da fic. Desejo a todos que a estão acompanhando um Feliz Natal, muita Paz, muita Saúde e muito Amor. Beijos a todos e até o próximo capítulo!
