Título: Um Amor Impossível
Autora: Ptyx
Casal: Snape/Harry
Classificação: R
Gênero: Romance, Angst
Resumo: A história clássica: Harry é ferido, e Snape tem de cuidar dele. Slash.
Disclaimer: Os direitos pertencem a J. K. Rowling, Bloomsbury, Scholastic, Warner Brothers, etc. Eu não ganho um tostão - só me divirto com eles.

Esta foi uma de minhas primeiras histórias que eu publiquei em inglês, com um outro pseudônimo. Estou traduzindo agora aos poucos para o Marck Evans como um presente de Natal. É uma história mais "solta" do que as minhas outras, porque eu escrevi apenas para me divertir e aprender a escrever em inglês.

Um Amor Impossível

Aos poucos as imagens iam ganhando foco. As velhas paredes de pedra. Arcadas. A fria umidade que impregnava os ares. Onde estava? Virou-se lentamente na cama, e tudo ao seu redor girou. Teve de fechar os olhos novamente. Então sentiu uma presença, algo vivo se aproximando. Abriu os olhos lentamente. Um vulto negro estendia-se diante dele.

— Potter.

— Ahn... Quem...

— Enfim está acordando!

— Professor... Snape? — perguntou Harry, tentando se erguer apoiando-se nos cotovelos.

O professor o deteve, empurrando-lhe os ombros contra a cama com firmeza.

— Não tente se levantar. Você está muito fraco. Fique quieto.

— Mas o quê...

— Você se feriu no último combate contra o Lorde das Trevas. Agora está se recuperando.

— Ele... ele sobreviveu?

— Não sabemos, Potter.

— E... os meus amigos? Ron, Hermione? E Remus?

— Estão todos vivos, pelo que sei. A guerra continua, e chegam notícias de baixas a toda hora.

— Oh! E eu aqui, sem fazer nada!

— Você estava desacordado, como poderia fazer alguma coisa? Não seja tolo. O que você precisa fazer é descansar para se recuperar.

— Estou com sede...

— Potter, nos últimos dias eu o tenho hidratado magicamente. A sede que sente é psicológica, não é real.

O senhor está cuidando de mim? — Harry encarou o professor com cara de estranheza. Snape apenas ergueu uma sobrancelha. — Há quanto tempo estou aqui?

— Quatro dias.

Harry suspirou.

— O que eu faço com essa sede psicológica, então?

Foi a vez de Snape suspirar.

— Você está muito fraco para se sentar. A única forma de você tomar água real seria com uma mamadeira.

Harry fez uma careta.

Snape invocou uma garrafa plástica de água pequena e um tubo de cerca de 50 cm de comprimento, também de plástico. Colocou uma das extremidades do canudo dentro da garrafa. Então aproximou a outra extremidade dos lábios de Harry, e segurou a garrafa, apoiando-a sobre a cama.

Ainda com o canudo na boca, Harry deixou-se uma vez mais vencer pelo sono.

oOoOo

Desta vez, ao acordar, a primeira coisa que Harry percebeu foi o cheiro forte de ervas que o cercava. As masmorras. O quarto de Snape, junto ao seu laboratório de poções.

Tentou se erguer, mas uma dor lancinante na região das costelas o deteve e o fez gemer alto.

— Potter — disse Snape, em tom severo, como que deslizando em sua direção. — Eu não lhe disse para não tentar se levantar?

— Ai!

Snape contornou a cama e foi até uma cômoda sobre a qual havia diversos frascos. Pegou um deles e voltou para junto de Harry. Removeu os cobertores da parte superior do corpo do garoto e abriu-lhe a camisa do pijama. Harry assistia a tudo com espanto e impotência. Viu Snape abrir o frasco e despejar um pouco do produto verde e viscoso em sua mão. Então Snape esfregou o produtos sobre o tórax de Harry e massageou-o com movimentos vigorosos. Harry fechou os olhos. Aquilo era... bom. E estranho. Pela primeira vez, associava o professor de poções a uma sensação prazerosa. Argh. Melhor não pensar naquilo. O cheiro do produto o deixou ainda mais desorientado. Quando Snape parou de massageá-lo, fechou-lhe a camisa e cobriu-o novamente, Harry adormeceu outra vez.

oOoOo

Harry passou os dois dias seguintes nesse mesmo estado, quase sempre dormindo, com alguns períodos de semi-vigília e raros períodos realmente desperto. Todos os dias, Snape o acordava para lhe dar uma poção. Naquele dia, semi-acordado, Harry avistou o professor de poções entrando no quarto.

— Você está acordado. Parece melhor. Talvez hoje já consiga se sentar e comer comida de verdade — sentenciou Snape.

Harry arregalou os olhos. Sentar-se. Parecia uma conquista heróica. Voltar a viver! Quase sentiu medo de tentar. Quase não, sentiu mesmo.

Wingardium Leviosa — disse Snape, fazendo o corpo de Harry levitar poucos centímetros acima da cama. Então o professor ajeitou o travesseiro para servir de encosto ao menino e o baixou lentamente, segurando-lhe a parte superior do corpo e ajudando-o a sentar-se.

Harry sentiu uma tontura e fechou os olhos, agarrando-se a um dos braços do professor. Este segurou-lhe os ombros com firmeza.

— É normal que sinta tontura. Você está deitado há quase uma semana. Era preciso; seus ossos ainda não estavam solidificados.

— Você usou Skele-Gro?

— Obviamente.

— E eu... Er... Se eu não posso levantar para ir ao banheiro...

— Coloquei um encanto de autolimpeza na cama em que está e nos lençóis. Não precisa se preocupar com isso.

O rosto pálido de Harry tingiu-se de vermelho. Os olhos verdes procuraram os negros.

— Por que está cuidando de mim? Por que não está dando aulas? Por que não está espionando Voldemort a uma hora dessas?

Snape largou-o e se afastou um pouco, empertigando-se.

— As aulas estão suspensas por causa do acirramento da guerra; os alunos foram enviados para suas casas. Era muito perigoso manter todos aqui. Há risco de um ataque a Hogwarts. E eu estou cumprindo o papel que me foi designado.

— Dumbledore mandou você cuidar de mim?

O velho mago devia estar cada vez mais gagá, pensou Harry. Entre todas as pessoas, escolher Snape para cuidar dele?

— Potter, eu era a única pessoa que poderia cumprir esse papel. Ninguém mais conhece a poção que pode curá-lo. E Pomfrey está sobrecarregada, atendendo a todos os feridos da Ordem.

— Oh! Há muitos feridos?

— Muitos, e a cada dia chegam mais.

— E eu aqui, parado! Quando vou poder voltar à minha vida normal?

Snape deu um sorriso irônico.

— E quando é que você teve uma vida normal?

Harry abriu um sorriso triste.

— Nunca, é verdade. Mas responda à pergunta que lhe fiz!

— Acha que eu sou obrigado a responder? Que sou seu escravo?

— Não! Me desculpe. Eu... Puxa, me desculpe. Você me odeia e teve de ficar cuidando de mim esse tempo todo. Deve estar muito zangado com o Diretor por ter-lhe pedido isso, não? Mas é que eu quero saber quando vou poder voltar a lutar.

— Se eu soubesse, lhe diria. Estou fazendo o possível.

Harry suspirou e calou-se. Snape cruzou os braços diante do corpo.

— Vou pedir aos elfos domésticos para lhe trazerem uma canja.

— Uma canja?

— Você precisa se acostumar lentamente com a comida. Eu o alimentei através de injeções durante toda essa semana.

— Tudo bem. Eu até gosto de canja.

oOoOo

— Professor!

Snape apareceu rapidamente à porta do quarto. Harry estava sentado à cama.

— O que é, Potter?

— Eu estava com frio e tentei invocar o cobertor — Harry apontou para um cobertor cuidadosamente dobrado sobre uma cadeira diante da cômoda. — Eu n-não... consegui.

— Por que não me chamou, menino idiota? Não deve usar magia até estar totalmente recuperado.

— Mas... eu vou recuperar minha magia? — Harry quase soluçou. — Não quero ser um Squib.

— É claro que irá recuperar sua magia. — Snape invocou o cobertor e cobriu Harry com ele. — Agora me deixe voltar ao trabalho.

— Estou cansado de ficar aqui sozinho, sem fazer nada.

— E o que eu posso fazer?

Harry baixou os olhos, desconsolado.

— Além de nós, de Filch e dos elfos, a única pessoa que está no castelo hoje é McGonagall. Quer que eu peça a ela para vir conversar com você? — indagou Snape.

Harry sacudiu a cabeça.

— Não tenho nada pra conversar com ela.

— Você era... amigo daquele elfo dos Malfoy, não era?

— Dobby? Não, não quero falar com ele também. Ele é muito desastrado, não tenho energia para lidar com ele agora.

— Quer ler alguma coisa?

— Se não forem livros de poções...

Snape deu-lhe as costas e saiu. Harry pensou que, talvez, ele tivesse ficado ofendido. Ou, simplesmente, se cansado dele. Mas alguns minutos depois o professor voltou, trazendo um volume encadernado em capa dura: "Assassinato no Corujal", de Emerald Elyod.

— Os Muggles se vangloriam de um tal de Sherlock Holmes, dizendo que é um mestre da lógica e da dedução, mas Emerald é uma escritora muito melhor. E esse é um de seus melhores livros. Quem sabe Perseus Evans não lhe ensina um pouco de lógica, sr. Potter.

— Perseus Evans?

— O detetive mais famoso de Emerald.

Oba, pensou Harry. Uma história de detetive. Pela primeira vez em sua vida, Harry sorriu nas masmorras.

— Obrigado, professor.

oOoOo

Ao final daquele dia, quando Snape entrou para levar o jantar, Harry já estava nos capítulos finais do livro.

— Potter! É a terceira vez que o chamo.

— Ahn.

— Então, já sabe quem é o assassino? — perguntou o professor, em tom irônico.

Harry ergueu os olhos do livro.

— Tenho quase certeza de que é o dr. Snark. O cara é um canalha.

oOoOo

Uma hora depois, Snape foi levar-lhe a poção. Harry estava olhando para o teto. O livro, largado sobre a mesa de cabeceira.

— Então? O culpado era o dr. Snark?

— Não! Era uma pista falsa. Eu achei que era ele porque Hurrings...

— Hurrings é o assistente de Perseus. Nunca deve confiar no assistente do detetive, Potter. Essa é a regra número um dos livros de detetive — sentenciou Snape, com cara de sabido.

Harry lhe fez uma careta.

— O pior é que estou morrendo de dor de cabeça — queixou-se.

— É claro. Você pegou o livro e não largou mais. Leu o livro todo em um só dia. Isso não faz bem.

— Mas o que mais eu posso fazer aqui? Não tenho ninguém para conversar!

Os olhos normalmente inexpressivos de Snape revelaram uma emoção que Harry jamais vira neles. O que era aquilo, mágoa? Harry já vira mágoa nos olhos de Snape, mas sempre mesclada à raiva. Naquele momento, no entanto, ele não via raiva nos olhos de Snape. Apenas aquela expressão de cansaço e derrota.

TBC