Comentários e Respostas às Reviews:
Eu falei que ia ser engraçado, mas esse começo não é lá muito engraçado. Depois fica mais. :D
Marck Evans: Aaaaah... assim você me tira o fôlego, e eu me desconcentro...
Baby Potter: Os dois estão meio confusos porque, na verdade, ambos são inseguros e inexperientes nesses assuntos. Você vai começar a entender o Severus melhor agora, pois vamos "entrar na cabeça dele". Obrigada, lindinha!
Paula Lirio: Cuidado com ele, Paulinha. Ele é sedutor, mas perigoso...
Youko Julia Yagami: Tá bom, tô indo! Este capítulo ficou meio curto, né? Mas eu atualizo amanhã mesmo, se der.
Fabi Chan: Eu também espero que ele não vá preso, mas estou começando a ficar preocupada! :D Obrigada pelo estímulo, Fabi!
Bárbara G.: Aí vai ele! Como eu já disse, esse começo até que não é muito engraçado, mas amanhã tem mais.
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO 4
"Não fale como se fosse algo sujo", ele diz. Não, não é sujo. Mas é errado. Terrivelmente errado. Não por causa da diferença de idade — afinal, comparado ao tempo de vida total de um mago, vinte anos não é muito —, mas porque ele é muito jovem. Quase uma criança. E meu aluno. Além disso, eu sou um duplo espião, e meus dois mestres são hábeis legilimentes. Se Dumbledore descobrir, não sei. Não creio que me entregaria ao Ministério, mas provavelmente me afastaria de Hogwarts. Se o Lord das Trevas descobrir, minha vida e a de Harry correrão perigo. E se mais alguém descobrir, Azkaban será o meu futuro.
Ainda não consegui cair na realidade, acreditar que realmente aconteceu. É difícil manter os pés no chão e não esquecer que isso é algo fadado a morrer. Que só aconteceu porque estamos aqui sozinhos e, bem, ele tem dezessete anos. E que logo ele será mandado para outro lugar e a vida prosseguirá como era antes. Se é que isso que vivemos pode ser chamado de vida.
Estamos na horta da cabana de Hagrid, e eu explico a ele quais são as plantas de que preciso, e como colhê-las. Ele me olha com atenção. Quem diria que Harry Potter ainda iria prestar atenção no que eu digo! Que ironia.
— Vista a luva, Potter.
— Tem de me chamar assim?
— Como quer que eu o chame?
Ele me olha com impaciência. Não o culpo. Contenho a vontade de rir e estreito os olhos para ele, com a minha expressão mais ameaçadora. Desanimado, ele baixa os olhos. Meus braços — traiçoeiros — quase se estendem para ele, e minha garganta parece sufocar com a palavra que não ouso pronunciar: "Harry". Não posso me dar ao luxo de me acostumar com isso, de tratá-lo pelo primeiro nome. Simplesmente não posso, é perigoso demais. Retomo o tom professoral.
— Vista a luva ou fique longe da Beladona e da Alihotsy. Você sabe qual dessas plantas é a Beladona e qual é a Alihotsy, não sabe?
Ele suspira. Embora o assunto seja Herbologia, sinto-me outra vez na aula de Poções. Eu poderia ir mais longe, humilhá-lo um pouco mais, mas acho que estou "amolecendo". Ha. Ele veste a luva e eu lhe mostro quais são as melhores folhas de beladona para se colher, e como cortá-las.
— Professor...
Estremeço ao ouvir esse tratamento. Está certo, se eu o chamo de Potter e o trato como a um aluno, ele deve me chamar de professor. No entanto, é difícil conciliar esse tratamento com a intimidade que começo a associar ao menino. Faz com que eu me sinta um pervertido.
— Não me chame assim — eu digo, bruscamente.
— Mas...
— Eu sei. Está bem. Eu vou tratá-lo pelo primeiro nome. Mas só enquanto você estiver aqui, aos meus cuidados. E nunca na frente de outra pessoa.
Ele sorri. Harry Potter venceu outra batalha. Sinto-me arrasado.
— Severus... — diz ele, como que experimentando a pronúncia. — Quando... quando é que vou poder usar de novo minha magia?
Devo reconhecer que ele vem se comportando exemplarmente quanto a isso, que nunca mais tentou nenhum feitiço desde que eu o proibi.
— Acho que você já está pronto para recomeçar a treinar. Vou lhe devolver sua varinha, com a condição de que você comece pelos feitiços que aprendeu no primeiro ano, e só depois que os tiver dominado passe para outros mais complexos.
Eu tiro a varinha dele do lado direito das minhas vestes (a minha eu guardo do lado esquerdo) e entrego a ele. Ele a pega, fascinado. Deve ser uma emoção especial reencontrar a própria varinha depois de mais de uma semana.
— Do primeiro ano? — pergunta ele.
— Em Feitiços, comece com Wingardium Leviosa e vá em frente. Pegue seus livros do primeiro ano. Em Transfigurações, comece com coisas pequenas. Transforme botões em grilos e coisas assim. Poções eu acho que você nem vai querer treinar, porque você não vê utilidade nenhuma nisso. Afinal, no meio de um duelo você não pode picar salamandras e mexer um caldeirão, não é?
Ele franze as sobrancelhas para mim. Sabe que estou sendo irônico, mas não sabe o que dizer, já que o que estou dizendo é a mais pura verdade. Ele não vê muita utilidade em Poções. Então eu prossigo:
— Se tiver dificuldade com algum feitiço, não tente de novo em seguida. Isso pode esgotar suas forças, e será pior. No dia seguinte você tenta outra vez.
oOoOo
— Você acha que poderá voltar a espionar Voldemort, depois de tudo o que aconteceu? — o menino me pergunta durante o almoço.
O menino. Tento pensar nele de outro jeito, mas é complicado. Pensar nele como "Harry" continua sendo arriscado. E como "Potter"... bem... já não consigo mais, essa é que é a verdade. Eu o chamava mentalmente de "Potter" porque o associava a seu pai. Agora vejo como estava errado. Harry Potter pode ter muitos defeitos, mas não parece em nada com James.
Por que ele estará me perguntando isso? Será só curiosidade ou também... uma ponta de preocupação? Bobagem. Ele só está tentando puxar conversa.
— Nunca se pode ter certeza nesses casos — respondo, de forma bastante vaga.
É óbvio que a resposta não o satisfaz.
— O que aconteceu... no dia da batalha... em que me feri?
Ahn. Certo. Então chegou a hora. Não vejo como fugir totalmente da resposta.
— Como espião eu... não posso participar desse tipo de ação.
Ele me fita, intrigado. Então um raio de compreensão parece atingi-lo.
— Oh, é verdade. Você nunca participou de nenhuma batalha!
— Não é esse o meu papel — declaro.
Ele deve pensar que eu sou um covarde. Tem dezessete anos, não pode entender.
— Certo. Quer dizer que... você não viu nada? Não sabe de nada? Quem me trouxe para cá?
— Seus amigos o encontraram. Eles entraram em contato com o Diretor e este os mandou trazerem você para cá.
— Ron e Hermione?
— E Longbottom — digo, por entre dentes cerrados.
— Oh! — Ele pensa um pouco, antes de insistir. — Mas Voldemort devia esperar que você entrasse em contato com ele depois da batalha, nem que fosse para saber se ele estava vivo, não é?
Afasto o prato e tomo um gole de cerveja amanteigada. Não é minha bebida favorita, mas com certeza é melhor do que suco de abóbora. Estou tentando ganhar tempo. Enfim, desisto. Parece que Harry Potter vai vencer mais uma batalha.
— Eu tenho um contato entre os Comensais da Morte. Encontrei-o depois da batalha, e ele me mandou voltar a Hogwarts e... descobrir qual a sua verdadeira situação.
— Então você... está me espionando para os Comensais da Morte?
Meus lábios se curvam em um de meus sorrisos mais irônicos.
— Não é uma situação interessante?
— Mas o que você vai dizer a eles quando os encontrar? E como vai explicar o motivo de não ter atendido aos dois últimos chamados de Voldemort?
— Eu vou lhes dizer que você está perfeitamente bem, que não sofreu nem um arranhão. E que Dumbledore estava me vigiando de perto, por isso não pude comparecer. Não será a primeira nem a última vez que terei de me desculpar.
— E Voldemort costuma aceitar essas desculpas?
— Ele não tem alternativa. Eu sou muito útil a ele.
Ele me fita de olhos arregalados. Parece assustado. Eu também estaria, no lugar dele. Ou pior: eu também me assusto comigo mesmo.
oOoOo
— Severus!
Anos de treinamento fazem com que minha reação externa seja mínima, mas meu coração dispara. O rosto de McGonagall surgindo por entre as chamas da lareira, no entanto, me tranqüiliza. Está tudo bem, foi só o susto de ver que... não estou mais a sós com ele aqui. Mais uma razão para não facilitar as coisas com ele. É preciso ter muito cuidado.
Chego mais perto da lareira.
— Minerva.
— Como vai, Severus? E Harry? Vejo que conseguiram resistir ao impulso de pularem um no pescoço do outro, já que estão vivos, os dois!
Muito engraçada. O convívio com Albus ensinou a ela aquela ironia brincalhona tão exasperante. Não respondo nada, apenas arqueio uma sobrancelha. Ela sorri, com aquele seu narizinho empinado de sempre.
— Venham até o meu escritório, preciso conversar com vocês.
TBC
