Respostas às Reviews:

Marck Evans: E você sempre consegue resumir minhas histórias com perfeição, captando o que é mais essencial em tudo!

FabiChan: Boa pergunta! Pra te falar a verdade, nem eu sei a resposta...

CAPÍTULO 5

Ela pede detalhes do estado de Harry, e eu lhe faço um relato completo. Ou melhor, quase completo. Ela se oferece para ajudá-lo nos treinamentos de Transfigurações, e programa uma agenda de aulas com ele.

— Se Harry já está bem, então ele não precisa mais ficar nas masmorras. Pode voltar ao seu dormitório na torre de Gryffindor — sentencia a vice-diretora.

Sinto um frio no estômago. Com o canto dos olhos, observo Harry. Merlin. Parece que alguém disse a ele que o Natal foi cancelado este ano. Não sinto mais aquele frio no estômago, ao contrário. Mas será verdade? Será possível que ele não fique feliz por se ver livre de mim, de minhas masmorras frias, úmidas, sombrias?

Harry se remexe, inquieto. Levanta-se.

— Professora... Eu estou tendo pesadelos... com Voldemort. Tenho medo que... ele tente me possuir de novo.

Minerva o fita de olhos arregalados.

— Mesmo? Isto é muito grave! — O olhar dela se volta para mim. — O Diretor já foi avisado?

— Foi. Ele me disse que, em hipótese alguma, Potter deve ser deixado a sós enquanto não recuperar plenamente sua magia.

— Ah, bem. Então é diferente. Se você não se importa, então, Severus, Harry deve ficar mais algum tempo aos seus cuidados.

Sinceramente, não sei se devo rir ou chorar. A minha vida é mesmo uma grande piada.

oOoOo

À noite, depois do jantar, no laboratório, eu tento me concentrar nas poções e não pensar em... onde vou dormir esta noite. Ele levita escamas de dragão, treinando o Wingardium Leviosa. Depois o vejo levitando um casco de tartaruga. O menino está recuperando rapidamente seus poderes. De vez em quando ele me olha, à distância, e eu finjo que não vejo. É ridículo, eu sei. Parece que o adolescente sou eu e não ele.

Enfim ele se cansa e desaparece dentro do quarto. Um pouco depois, apaga a luz.

oOoOo

Algo está errado, eu sinto. Presto atenção para ver se escuto algum ruído vindo do meu quarto, onde Harry está dormindo. Ouço claramente um gemido, e corro em sua direção.

Entro no quarto, e vejo seu vulto se debatendo. Acendo a luz e me ajoelho a seu lado.

— Harry!

— Aaaaaahn.

— Harry, acorde, você está tendo outro pesadelo.

— Severus... Oh. Ainda bem que foi só um pesadelo.

Sento-me ao pé da cama.

— Conte-me o que viu.

Ele se senta também.

— Eu estava em um orfanato... Cheio de crianças esfarrapadas. Umas crianças me cercaram e começaram a zombar de mim, gritando que eu era um bruxo e que elas iam me queimar na fogueira. Eu estava com muito medo e ódio, e pensava que um dia ainda ia me vingar delas, uma por uma, por tudo o que estavam me fazendo passar lá. Depois... não sei bem como, eu fui parar em um porão, cercado por ratos, mas eles não iam me atacar. Estavam com medo de mim. Aí eu comecei a deslizar na direção deles, e ia saltar em cima deles quando você me acordou.

Tento juntar as peças do quebra-cabeça. Reflito por alguns instantes.

— Parece que você está relembrando cenas da vida de Tom Riddle. O orfanato, e o tempo em que ele estava sem um corpo físico e encarnava em outros animais, especialmente cobras. Aqueles outros pesadelos que você teve alguns dias atrás também devem ser imagens da vida de Riddle. Cenas de encontros de Comensais da Morte, de ataques a Muggles.

Harry me fita de olhos arregalados.

— O que isso quer dizer? Ele está dominando minha mente?

— Não, Harry. Parece-me que não é algo voluntário. Talvez ele tenha sofrido algum dano cerebral naquela batalha, e esteja em uma espécie de coma. Provavelmente ele está em um estado de consciência alterado. O que é estranho é que ele tenha conseguido me chamar pela marca... Talvez tenha sido involuntário, também. Ao relembrar uma cena, ele invocou a marca. É... O fato de você ter uma influência sobre a marca também se encaixa nessa hipótese. Nesse estado alterado, ele está tendo esses pesadelos, ou reminiscências, e como há um forte vínculo entre vocês, devido à sua cicatriz e ao fato de que a poção que lhe devolveu o corpo foi feita com o seu sangue, você vê as mesmas imagens que ele em sonhos. Involuntariamente, o cérebro dele entra em sintonia com o seu.

— Argh. É horrível. Não tem um jeito de parar com isso?

— Você precisa voltar a treinar Oclumência, e evoluir depois para um treinamento que empregue ao mesmo tempo auto-hipnose e Oclumência, para que você consiga controlar seus pensamentos mesmo quando dorme.

— Você me ensina? — pergunta ele, ansioso.

Levanto-me e olho para ele de cima para baixo.

— Quem diria, não é, sr. Potter, que um dia iria me pedir para retomar as aulas de Oclumência.

Ele me olha com um brilho furioso nos olhos. Apago a luz, puxo as cobertas e deito-me ao lado dele, finalmente.

Desta vez sou eu que tomo a iniciativa, porque ele está mesmo furioso comigo. E eu nem disse nada de tão ruim assim. Em todo o caso, quando insinuo minha mão por dentro da calça de seu pijama, ele geme, vira-se para mim e me agarra como se sua vida dependesse disso.

oOoOo

Já faz quatro dias que estamos... dormindo juntos. Todos os dias eu digo a mim mesmo que aquele é o último dia, que isso não pode se repetir.

Todos os dias eu tento ser duro com ele, cruel, mas ele é um completo Gryffindor, teima em insistir. E eu cedo. É, isso não é nada Slytherin da minha parte. Mas ninguém consegue ser Slytherin o tempo todo, consegue? Ahn. Lucius consegue, é verdade. Maldito Lucius. Nem os Dementadores conseguiram acabar com todo aquele orgulho e frieza, no pouco tempo em que ele ficou em Azkaban.

Pensar em Lucius me lembra de todas as minhas obrigações de espião, adiadas. Talvez eu devesse entrar em contato com Lucius e dar alguma explicação. Não. Melhor esperar mais uns dias.

Além das aulas de Oclumência e auto-hipnose, Harry — Sim, Harry. Ele venceu nisso também. Agora não consigo mais não pensar nele senão como "Harry" — já está treinando encantamentos do quarto ano. Ontem ele me perguntou se já podia voar de novo, e eu disse que não, que era perigoso. Ele protestou que voar é uma de suas habilidades naturais, e que ele voava desde o primeiro ano em Hogwarts. Eu sei disso muito bem! (Maldita McGonagall e suas trapaças pró-Gryffindor.) Acabei prometendo a ele que no dia seguinte, hoje, voaria com ele.

oOoOo

Dizem que, uma vez que se tenha aprendido a voar de vassoura, nunca se esquece. Para Harry, isso é claramente verdade. Tento acompanhá-lo em seus mergulhos e quase fico tonto. Nem parece que faz duas semanas que ele não voa, e que ainda há uma semana ele estava preso a uma cama.

— Ei, Sev, você consegue fazer um looping como esse? — ele me grita de longe.

"Sev". Em quatro dias, eu já virei "Sev".

Aceito o desafio e imito o looping vertiginoso do menino impossível. Meu estômago quase vai parar na boca, mas eu finjo que nada acontece.

Então ele tira uma caixinha do bolso e liberta um pomo dourado!

— Agora eu quero ver se você sabe jogar Quadribol — ele me desafia.

Eu mergulho a toda velocidade atrás da bolinha dourada, como uma criança. Vou vencer Harry Potter ou não me chamo Severus Snape.

Ele também mergulha a toda. Estamos convergindo para o mesmo ponto. O pomo está a um passo de distância. Eu seguro a vassoura com firmeza e a dirijo para o centro da vassoura de Potter. Blam! Ele quase perde o controle. Eu o empurro e tento passar à sua frente, mas ele resiste. Nem eu nem ele nos destacamos pela força física, mas no momento eu sou mais forte do que ele. Afinal, ele estava doente até uma semana atrás.

Ahn, o que estou fazendo? Não posso derrubar Harry Potter. Eu estou aqui para ajudar na recuperação dele, não é?

O meu vacilo é o suficiente para ele recuperar o equilíbrio, estender a mão e agarrar o pomo.

Tudo bem. Eu não me chamo mais Severus Snape. Como será que me chamo agora? "Sev"?

oOoOo

Odeio esse cara. Ele é cool demais. O corpo atlético, os ombros largos, os cabelos longos, presos em rabo de cavalo e um traseiro de parar o trânsito. E o jeito como ele olha para Harry! Ninguém vai me convencer que esse cara não é gay. Tudo bem, ele namorou a veela, mas qualquer um namoraria uma veela se ela desse uma chance. Bem, eu não. Nunca vi graça nenhuma nas veelas.

Eles conversam no sofá, no meu laboratório, enquanto eu mexo uma poção, a uns três metros de distância. Não consigo escutar o que dizem, mas ouço as risadas, e vejo o jeito como ele olha para Harry, devorando-o com os olhos. E como, às vezes, ele dá um jeito de tocar em Harry, segurando-lhe o ombro, ou simulando um golpe, fingindo que é só uma brincadeira.

Ele tem a idade certa para Harry, só alguns anos mais velho. Quantos? Oito anos? Se me lembro bem, é isso. Ele é perfeito. Quem iria preferir um velho com um narigão, cabelos sebosos e pele esverdeada a um gato como esse?

— Professor?

Estremeço, saindo do transe. Harry me chamou de "professor". É prudente, da parte dele, mas ao mesmo tempo acentua a distância entre ele e eu, e o aproxima do "mauricinho". Eles são iguais, eu sou o que está por fora.

— O que é, Potter? — respondo, de má vontade.

— Bill e eu vamos treinar um pouco no campo de Quadribol, tudo bem?

Fulmino-o com os olhos, mas o que posso fazer? O que poderia alegar para proibi-lo?

— Tome cuidado, não se canse — eu lhe digo.

Falo como se fosse a mãe do menino. Ao que fui reduzido agora!

Eles saem, lado a lado, animados. Fico imaginando os dois voando juntos, se divertindo, rindo. Não, eu não vou sair lá fora para ver isso.

Maldito Albus. Por que mandou esse mauricinho aqui?

TBC