N/a: Fiz um bocado de pesquisa para os fatos deste capítulo, mas não sou especialista no assunto. Espero que nada esteja fora do esperado para a família de um comerciante no início do século XIX. :) Maria Teresa C, DW.618 e guest: muito obrigada pelos reviews! Estou adorando ouvir suas suposições e curiosidades. Deixei mais informações sobre o casamento de Elizabeth aqui, mais para frente abordarei o assunto da misteriosa esposa de Darcy também. Abraços, boa leitura!
Capítulo 6 - Miss Georgiana Darcy
Na semana seguinte eles partiram de Kent. Elizabeth decidira que era tempo de voltar para casa e enfrentar a temporada em Londres. Talvez, pensou ela, voltar a frequentar eventos sociais lhe fizesse bem. As conversas com o coronel Fitzwilliam a fizeram perceber que seria bom ter companhia novamente, alguém com quem dividir ideias e impressões. Ela não se empolgava com o prospecto de sair à caça de um marido, mas decidiu que iria aproveitar sua situação. Ela não era mais uma jovem sob os cuidados do pai, ela tinha certa experiência e posição agora.
Jane, apesar de manifestar o desejo de ir com a irmã para Londres, decidiu por voltar para casa. Elizabeth havia planejado aproveitar a companhia da irmã durante a temporada, sabendo que ela ofereceria suporte, mas também que isso a faria parar de pensar em Bingley. No entanto, Jane insistiu que ficaria melhor de volta a Longbourn. Elizabeth não contara à irmã o que descobrira a respeito de Darcy, imaginando que faria mais mal do que bem. Ela não teve tempo de lamentar a solidão, no entanto, já que o dia que Charlotte se juntaria a ela na cidade não tardou a chegar.
Em uma tarde quente de primavera as duas saíram para comprar vestidos de verão para Lucy, já que os do ano anterior não lhe serviam mais. Estavam para atravessar a rua quando Elizabeth ouviu alguém chamá-la.
-Lord Henry! - ela disse com surpresa. O cavalheiro, sempre muito elegante, se aproximou delas fazendo uma mesura educada.
-Lord Henry, minha amiga, Miss Lucas. Charlotte, este é Lord Henry, parente de meu falecido marido.
-Sim, nosso querido James. Quem diria que ele seria tomado de nós tão cedo? - ele disse, olhando de uma para outra e fazendo uma expressão triste. - Já faz quase um ano, não?
-Já fez um ano. - disse Elizabeth.
-Meu Deus, como o tempo passa! Imagino que a senhora já esteja de olho em um novo marido, não Mrs. Sheffield? Nosso James não iria querer que você e a pequena ficassem desamparadas.
-Estamos nos virando muito bem sozinhas, agradeço a preocupação. - ela disse, firme.
-Mas e quanto aos negócios de James? Quem está dando conta da administração?
-Consegui entrar em um acordo com os sócios dele, e as coisas estão indo bem.
Elizabeth viu o homem estreitar os olhos por alguns curtos segundos. Logo sua expressão estava leve, e o sorriso, de volta ao rosto.
-Entendo. Bom, realmente preciso ir andando. O melhor para você e sua filha, Mrs. Sheffield. Miss Lucas, um prazer conhecê-la.
Ele se afastou a passos rápidos e Charlotte olhou para a amiga.
-Você foi fiel em sua descrição dele, Lizzy. Ele é sempre muito educado e afável, mas há algo em seus modos que parece não combinar com o resto.
-Não confio nele, Charlotte. Por várias vezes ele disse algo a James para então fazer o contrário e fingir não se lembrar de ter feito uma promessa. Temo que ele esteja tramando alguma coisa.
-O que ele poderia fazer contra você? A herança de Lucy está segura, não? - ela disse, segurando o braço de Elizabeth enquanto as duas voltavam a caminhar.
-Temos registrado o desejo de James de que eu recebesse 2 mil ao ano em nome de Lucy, até que ela complete a maioridade, além da quantia destinada a mim. Esse dinheiro vem dos negócios e eu tive que garantir que seus sócios respeitariam a sua vontade. No entanto, eu acredito que o grande interesse de Lord Henry não seja esse, mas Portland Place.
-Sua casa em Londres? Por quê? Ele já não tem uma?
-Sim, uma casa menor e em uma localidade não tão boa, e que não está na família há gerações.
-Espere, Portland Place pertencia à família de Henry?
-Sim. Mas o pai de Lord Henry a perdeu.
-Como?
-Há várias gerações que os bens da família não vinham sendo bem administrados, então o homem já herdou o estado cheio de dívidas. Mas ele era irresponsável, e nunca aprendeu a administrar uma propriedade. As dívidas o obrigaram a vendê-la.
-E como ela foi parar nas mãos de Mr. Sheffield?
-Quando o negócio dele começou a prosperar, ele decidiu que precisava de uma residência fixa em Londres. Sua mãe sempre lhe falara da casa dos tios, que visitava na infância, com carinho. Então ele decidiu comprá-la. Foi pouco antes da mãe dele morrer.
-Imagino que Lord Henry tenha acreditado que Mr. Sheffield lhe deixaria a casa como herança.
-Sim, também acredito nisso, Charlotte. Mas além da propriedade em Londres James só tinha a casa em Norfolk. Ele sempre falava em adquirir uma propriedade no interior, mas sempre adiava os planos, ocupado com seu trabalho. De qualquer forma ele sabia que eu não moraria em Norfolk, por isso nos deixou a propriedade aqui.
Charlotte parou de andar, segurando a mão da amiga.
-Lizzy, existe algum risco de vocês perderem Portland Place?
-Não. - ela disse rápido, então parou para pensar. - Quero dizer, ele pode tentar fazer a requisição baseado no fato de que James não tem um herdeiro, e de que a casa pertenceu à sua família. Mas a carta de James com sua vontade expressa, que está segura com meu advogado, é suficiente para rebater a requisição. Ao menos até que Lucy complete a maioridade.
~X~
-Você vai sair hoje?
-Tenho um jantar na casa da Mrs. Brent.
Elizabeth viu a filha imediatamente fechar a cara, cruzando os braços. Ela dispensou a empregada que estava terminando de arrumar seu cabelo e se virou para a pequena.
-Qual o problema, Lucy?
-Achei que quando voltássemos para casa você me daria atenção.
-Sobre o que está falando? Eu lhe dou atenção.
-Isso não é verdade. Se eu fosse tão interessante, você não sairia para festas todas as noites.
-Festas no horário em que você deveria estar na cama. - disse Elizabeth, deixando um beijo em sua bochecha. - Amanhã de manhã podemos ir ao parque juntas.
A menina saiu do quarto, os braços ainda cruzados e a expressão fechada. Ela riu baixinho, a postura a fazendo lembrar de Mr. Darcy em uma sala cheia de convidados.
Ela estava feliz que não havia ouvido mais falar nele, mas essa felicidade não durou muito. Certo dia, ela havia saído com Charlotte e os tios para caminhar no parque. Lucy e os filhos de seus tios os haviam acompanhado. As crianças se davam muito bem, e ver a filha correr e rir com os primos deixava seu coração mais leve. Nos últimos dias ela deixara de ir a algumas festas pois o comportamento da menina a preocupava. Ela passava tanto tempo quanto possível perto de Elizabeth e se desesperava sempre que ela se afastava. Precisava ser assegurada de novo e de novo de que era amada e de que não seria mandada para lugar algum.
Naquele momento a menina veio correndo até ela, lhe entregando uma flor com um sorriso. Elizabeth retribui o sorriso e disse para a menina voltar a brincar. Ergueu os olhos, pretendendo comentar com a tia algo que lembrara, quando notou um homem parado a poucos metros dela.
-Mr. Darcy! - disse ela surpresa.
-Mrs. Sheffield. - ele olhou para o casal que a acompanhava, e ela se apressou em apresentá-los.
-Mr. e Mrs. Gardiner, meus tios. Acredito que o senhor já conheça Miss Lucas.
As mesuras foram trocadas, e ela olhou para o homem parado com sua bengala e chapéu, parecendo apressado. Ela imediatamente se arrependeu de não terem ido a um parque mais perto de casa - mas nunca imaginou que iriam cruzar o caminho com ele!
-Não sabia que apreciava caminhar no parque, Mr. Darcy.
-Estou apenas de passagem. Espero que sua irmã e filha estejam bem, Mrs. Sheffield.
-Elas estão, obrigada. Jane não quis vir comigo para Londres, preferiu voltar para casa. - o comentário a fez lembrar do que o coronel Fitzwilliam havia dito, e seu humor, que estivera leve, azedou um pouco.
Ele não disse nada e Elizabeth olhou para a tia, se esforçando para não rolar os olhos.
-Não vamos tomar mais do seu tempo, senhor. - disse ela, já se curvando para se despedir. Quando ela ergueu os olhos, ele mexia no bolso do sobrecasaco.
-Meu cartão, senhora. Seria uma honra se vocês nos fizessem uma visita. Tenho certeza que minha irmã apreciaria a companhia, ultimamente não tenho sido uma das melhores.
Dessa vez foi ela quem não soube o que dizer. Sua tia tomou as rédeas da conversa, sorrindo para ele.
-Agradecemos imensamente o convite, Mr. Darcy. Tenho certeza de que sua irmã é uma pessoa aprazível.
O lábio dele se curvou minimamente para cima, a primeira vez que Elizabeth presenciava tal fenômeno. Ele fez uma mesura curta para Mrs. Gardiner.
-Ela certamente é. Não tomarei mais do seu tempo. Mrs. Sheffield. Mr. Gardiner. Miss Lucas.
Ele se afastou a passos rápidos, e Mrs. Gardiner se virou para a sobrinha.
-Ele me parece um cavalheiro, da forma como Jane o descreveu.
Elizabeth olhou para a tia, na dúvida se compartilhava as informações que tinha a seu respeito que não lhe eram tão favoráveis. Ao menos naquele encontro ele não tivera tempo de notar Lucy. Ela tinha a impressão de que sempre que ele via ela e a filha, os julgava em silêncio. Charlotte, a quem Elizabeth havia narrado grande parte dos acontecidos em Rosings, pegou em seu braço, lhe lançando um olhar compreensivo.
Elizabeth adiou a decisão por semanas, mas finalmente decidiu que seria pouco polido de sua parte não visitar Mr. e Miss Darcy após o convite. Em uma tarde quente ela o fez, acompanhada de Charlotte.
Georgiana não era o que Elizabeth imaginara. Ao pensar em uma irmã para Mr. Darcy, a imagem mental que projetou foi de uma pessoa altiva e orgulhosa, assim como o irmão. Mas ambos eram muito diferentes, tanto fisicamente quanto na forma como se portavam. Ela mal ouviu a menina pronunciar duas palavras depois das apresentações, o que deixava ela e Charlotte quase que totalmente responsáveis pela conversa. As duas navegaram bem pelos assuntos costumeiros, como o tempo, as vantagens e desvantagens da vida em Londres comparada à vida no campo, e planos para o verão. Os dois irmãos respondiam às perguntas de forma educada, mas sem que isso levasse a conversa à frente.
-Você prefere sua casa aqui em Londres ou Derbyshire, Miss Darcy? - Elizabeth perguntou.
Ela olhou para Elizabeth assustada, então para o seu irmão, antes de responder.
-Londres tem seu charme, é claro. Mas nada se compara às vistas de Pemberley.
Elizabeth mirou a menina com atenção, se perguntando de onde vinha a sensação de familiaridade que tinha ao olhar para ela. Talvez de Lady Catherine?
-Eu estava lá, até algumas semanas atrás. Mas meu irmão tem passado muito tempo longe de casa, e consegui convencê-lo a me trazer para Londres com ele.
Elizabeth olhou para Darcy, se perguntando se esses eram os assuntos urgentes que ele tivera para resolver, se havia mais além do que Georgiana mencionara. Se surpreendeu ao notar que ele já a observava com atenção e rapidamente desviou o olhar, fazendo uma nova pergunta à Georgiana para que a conversa seguisse.
-Miss Darcy é uma garota adorável. - disse Charlotte naquela noite, quando ela e Elizabeth estavam sentadas na sala de visitas depois do jantar. -Ela é tímida, mas extremamente articulada, e tão educada!
-Sim, concordo.
-E Mr. Darcy… vi ele falar mais do que durante todo o tempo em que esteve em Hertfordshire.
As duas riram. Elizabeth deixou o bordado de lado, olhando nos olhos da amiga.
-Você também sentiu algo estranho na conversa dos dois… ou será que o que vimos é exatamente a forma como os dois se portam um com o outro?
Charlotte pensou por alguns segundos.
-Acho que sei a que se refere, Lizzy. Mas acredito que, dado o fato de que Darcy é extremamente calado e sua irmã, tímida, o relacionamento dos dois não deve ser nada parecido com o que você tem com suas irmãs, ou o que eu tenho com meus irmãos.
Elizabeth concordou, tentando imaginar Darcy e a irmã em uma discussão acalorada sobre quem comeria o último pedaço de torta, como ela vira Charlotte tê-lo com um de seus irmãos certa vez. Quando ela descreveu a imagem mental à amiga, Charlotte riu.
-Não seja tola, Lizzy. Se os dois se deparassem com tal problema, um empregado com certeza se encarregaria de trazer uma torta inteira para cada um deles.
As duas riram por vários minutos, chegando a ficar sem fôlego. Quando estavam em silêncio novamente e Charlotte voltara a atenção para seu bordado, Elizabeth perguntou:
-Por que você acha que ele nos convidou à casa dele?
-Para conhecermos a irmã dele, com certeza. Ele está ajudando-a a conhecer pessoas, e isso é adorável.
-Mas não estamos muito abaixo dos padrões deles?
-Com certeza. Talvez Miss Darcy tenha se cansado de conversar com Caroline Bingley?
Elizabeth olhou para os pontos do próprio bordado por vários segundos. Ela não havia contado a Charlotte o que o Coronel Fitzwilliam lhe dissera sobre Darcy intervir no relacionamento de Jane e Mr. Bingley. Ela ergueu os olhos para a amiga, que bordava. Confiava totalmente nela, e talvez discutir o assunto a ajudasse a resolver a charada que era Darcy.
-O primo dele disse claramente, nos últimos meses? - perguntou Charlotte, depois que a amiga lhe contou a história.
-Sim.
-E não mencionou nomes?
-Não. Ele pareceu falar disso com certo orgulho. Acho que queria provar que Darcy é um amigo fiel.
-Sim, sem dúvida. - Elizabeth viu que a amiga estava pensando - Mas Jane não estava com você em Kent? E ao contar a história ao primo, Darcy não mencionaria que era ela exatamente a pessoa sobre quem as alegações pairavam?
-Talvez ele tenha contado a respeito antes de Rosings, em uma carta? Imagino que ele não sabia que Jane era irmã de Mary. Ele se mostrou extremamente surpreso quando fomos apresentadas, em Rosings.
-E o primo dele não inventaria ou aumentaria a história?
-Conheço-o pouco, mas não me parece algo que ele faria.
-Então podemos declarar com segurança que Darcy separou Bingley e Jane de propósito.
-É o que parece, não?
-Você contou a ela?
-Não tive coragem. Sabe, Charlotte, o que me intriga é que o mesmo homem que fez isso para salvar o amigo de um casamento desastroso tenha nos convidado para sua casa em Londres.
-É intrigante, você tem razão, Lizzy. Teremos que prestar atenção à ela da próxima vez que o virmos.
-Da próxima vez?
-Oras, tenho certeza de que mais convites se seguirão.
