Notas do Autor
Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.
Capítulo 1 - Conferência de Imprensa
Toda a magia se foi, assim que Voldemort morreu. Isso mesmo. No momento em que Harry Potter venceu seu duelo contra o Lorde das Trevas, a magia evaporou da face da terra.
Algumas pessoas dizem que foi uma maldição. Outros afirmam que isto aconteceu para se cumprir uma profecia antiga. Ainda havia alguns que diziam ser um castigo enviado pelos deuses — sejam eles quem forem — que tinham concedido o dom da magia aos humanos e estavam desgostosos com a forma com que esses dons estavam sendo utilizados. Não sei em qual dessas teorias eu acredito. O que eu sei é que hoje, nós bruxos, vivemos em um novo mundo.
Neste novo mundo, a magia das pessoas que tinham os dois pais bruxos, sejam eles sangue puro ou mestiços, foi extinta. Se o bruxo tinha um dos pais Trouxa, sua magia foi drenada e hoje correspondia apenas a metade do potencial total de magia que um dia esse bruxo já possuiu. E havia a categoria onde eu me encaixava: os nascidos-trouxas.
Nós, que fomos desprezados por gerações inteiras de bruxos puro-sangue e massacrados nas guerras dos supremacistas da pureza de sangue, hoje em dia, éramos os únicos bruxos que não tiveram suas capacidades mágicas alteradas. Na verdade podíamos afirmar que nossa magia foi até fortalecida. E isso é uma baita de uma ironia.
Quem poderia imaginar que hoje, quatro anos após aquele dia onde tudo se modificou, nós éramos os bruxos mais poderosos do mundo?
Outro fato deste novo mundo é que nenhuma criança apresentou sinais de magia depois da Batalha de Hogwarts. Não nasciam mais crianças mágicas. A pena enfeitiçada que registrava os nascimentos das crianças bruxas nas escolas de magia pelo mundo afora, estava intacta desde o dia 02 maio de 1998. Alguns estudiosos diziam que a magia renasceria depois de um tempo. Mas enquanto isso não ocorria, nós fomos considerados a última ― ou a primeira, dependendo de como a magia se comportaria ― geração de bruxos com plenos poderes.
oOoOoOo
Um piscar de olhos. Então, eu pisquei um pouco mais.
― O que você disse?
A mulher sentada do outro lado da mesa se repetiu. Ainda assim, olhei para ela. A ouvi corretamente na primeira vez. Ela foi alta e clara. Sem problemas. Mas meu cérebro não poderia envolver-se em torno da frase que tinha saído da boca dela. Eu entendi todas as palavras individuais na sentença, mas colocá-las juntas naquele momento era o equivalente a dizer a um cego para ver algo rápido. Basicamente, isso não ia acontecer.
― Preciso de você, Hermione.
Minha antiga diretora de Casa, hoje minha mentora no Mundo Mágico, Minerva McGonagall, a mulher que estava me pedindo o impossível, insistiu. Ela sentou-se de volta contra a cadeira no seu escritório e arrumou o seu cabelo prateado, seu rosto enrugado ainda era severo, e hoje ela estava usando uma grossa túnica verde escura. Apesar de ser uma das bruxas que havia perdido metade dos seus poderes, ela ainda era intimidadora. Demente e fora-da-sua-maldita mente, mas intimidadora, no entanto.
Fique calma, tome uma respiração profunda e assimile isso junto, Hermione. Foco.
Eu precisava me concentrar em outra coisa para relaxar. Observei as paredes do escritório. Uma linha de diplomas pendurados à sua direita. Em ambos os lados estavam fotos, agora todas estáticas, de amigos e familiares e algumas até do nosso grupo de orientandos de Hogwarts ao longo dos anos. Minha favorita era uma tirada no último ano, quando tínhamos viajado para Durmstrang e vencido uma versão atualizada do Torneiro Tribruxo. Ela estava no meio do grupo com o troféu do torneio, e eu estava ao seu lado com meu braço em torno dos ombros de Jess, uma companheira da minha equipe. Eu tinha a mesma imagem em meu apartamento, uma lembrança constante dos doze anos da minha existência no Mundo Bruxo.
— Hermione — Minerva disse o meu nome novamente. — Você nunca me decepcionou antes. Vá lá.
Ela me pediu gentilmente, o que deu a impressão que ela estava me dando uma escolha. Mas não estava. Só de pensar no que ela queria que eu fizesse, meu coração disparou. Meu sistema nervoso tinha abrandado no minuto em que ela disse as palavras 'você' e 'entrevista' na mesma frase, só um minuto antes. Então, quando ela disse a palavra 'hoje,' meu cérebro me desejou boa sorte e se desligou. Eu não sei o que fazer além de olhar para ela sem expressão. Uma coletiva de imprensa comigo. Hoje. Eu prefiro ter um órgão meu arrancado.
Eu não pensei muito em Minerva chamando-me na noite anterior. Não pensei duas vezes quando ela me pediu para vir a seu escritório porque havia algo que ela queria falar em pessoa. Eu deveria ter reportado um caso de intoxicação alimentar para me safar, mas obviamente é tarde demais agora. Tinha caído na armadilha dela, fisicamente e emocionalmente.
O Mundo Bruxo precisou se adaptar com muitas tecnologias Trouxas, já que mais da metade da sua população, agora que não tinham seus poderes, eram praticamente humanos comuns. Isso significava que numa coletiva de imprensa haveria câmeras. Muitas câmeras.
Oh Deus, eu iria vomitar ao pensar sobre isso. Meu pensamento inicial foi: não. Por favor, não. Algumas pessoas tinham medo de escuro, aranhas, cobras… Eu nunca ri de alguém quando eles estavam com medo das coisas. Mas esse medo horrível que eu tinha de falar na frente de uma câmera com um grupo de pessoas assistindo, me fez ser chamada de covarde pelo menos uma centena de vezes, principalmente por meus melhores amigos.
— Você vai me dizer que não pode fazer isso? — Minerva me olhou severamente por cima de seus óculos, cimentando o fato de que ela não estava me dando uma escolha, e também me ameaçando com palavras, que ela sabia que eu não poderia recuar.
Eu estava em seu escritório às dez da manhã, porque ela me queria, ninguém mais. Se eu fosse uma pessoa mais fraca, meu lábio inferior começaria a tremer. Eu mesmo poderia ter piscado e golpeado meus olhos para não chorar porque estávamos bem cientes do fato de que eu não poderia dizer-lhe não. Mesmo que me matasse, eu faria o que ela queria.
Ela estava contando com isso, também. Porque eu era a idiota que não recuava de uma provocação. Uma perna quebrada, depois que alguém disse que eu não podia subir numa árvore maciça quando eu tinha 10 anos, deveria ter me ensinado esse recuo de vez, era a coisa certa para o meu próprio bem, mas não.
— Eu vou fazer isso. — Fiz careta, olhando como se eu estivesse com um enema. — Mas… professora, por que Justin não está fazendo isso? Ou Dean? Eles geralmente fazem todas as entrevistas e coisas.
Porque eu certo como o inferno, evito ao máximo estar diante de uma câmera.
— Eu não perguntei a Justino porque acho uma boa ideia você fazer isso. — Explicou ela, referindo-se ao outro veterano da equipe, Justino Finch-Fletchley. — E o Sr Thomas não está de volta até domingo.
Eu pisquei um pouco mais para ela, a ponto de vomitar. Minha perna já tinha começado a tremer e eu a segurei, tentando fazê-la parar. Minerva sorriu ternamente, inclinando-se através de sua mesa, mãos entrelaçadas.
— Você não me perguntou a que a coletiva destina-se.
Como eu iria? Pode até ser porque alguém finalmente tenha encontrado uma fórmula de trazer a magia de volta que não me importo. Meu coração começou a bater mais rápido com a menção da coletiva, mas forcei-me a parecer que não estava evitando um ataque de pânico.
— Tudo bem, sobre o que se trata? — Perguntei lentamente.
Nossas aulas recomeçam em uma semana e meia, então eu acho que eu iria subconscientemente supor que era por isso. Mas a pergunta mal tinha deixado a minha boca, quando Minerva começou a sorrir, seus olhos verdes ampliando-se. Ela inclinou-se e disse algo que foi tão ruim, se não pior, do que me pedir para fazer uma coletiva de imprensa. Dezenove palavras que eu não estava preparada para ouvir. Dezenove palavras que eu não tinha ideia que estavam prestes a mudar a minha vida.
— Tive a confirmação de que Severus vai assumir o cargo de orientador adjunto da equipe de agora em diante. — Minerva explicou, seu tom implicando que isso 'é a melhor coisa que já aconteceu.'
Minha expressão respondeu por mim. Levou um minuto inteiro para o sorriso cair do rosto da diretora e um olhar confuso assumir, mas aconteceu. Ela me deu um olhar.
— Por que você está fazendo essa expressão?
Eu tinha onze anos na primeira vez que vi Severus Snape em Hogwarts. Lembro do exato momento em que ele cruzou seu olhar com o meu. Lembro de tudo que passei sob a supervisão dele como meu professor durante todos os meus anos de estudos. E claro como o dia, posso visualizar na minha cabeça, o momento em que ele foi atacado mortalmente por Nagini na Casa dos Gritos.
Lembro de cada detalhe das memórias que ele doou para Harry daquela noite. Ele foi um herói. Ele tinha feito o que ninguém acreditava que ele faria. Ele tinha sido um homem de Dumbledore até o fim. Assistir suas lembranças foi um daqueles momentos que levanta o espírito de uma pessoa. Porque tudo o que ele passou foi perigoso e absolutamente inspirador. E eu fiquei com a impressão de que poderia fazer qualquer coisa. Porque ele fez. Eu sei que eu fiquei horas chorando por ele, depois que assisti aquelas memórias. E principalmente, eu pensei que Severus Snape, que inúmeras vezes tinha sido chamado de traidor e covarde, era o bruxo mais incrível do mundo. Por que ele fez o que ninguém acreditava: ele sobreviveu.
E agora, como adulta, posso olhar para trás e entender por que ele teve esse efeito em mim. Faz total sentido. As pessoas ainda falam sobre ele quando lembram da Batalha de Hogwarts.
Qual foi o ponto, quando senti que eu o admiraria para sempre? Naquele momento. Era um fato que eu já o admirava, mas meu julgamento foi maculado pela morte do diretor Dumbledore no meu sexto ano. Mas assistir aquelas lembranças, mudou tudo. Foi o momento que assumi para mim mesma, que eu queria ser como aquele bruxo, um herói.
E quando me vi sendo uma das poucas bruxas que continuou com plena magia, eu dediquei minha vida, meu tempo e minha mágica para ser a melhor, por causa do bruxo que eu cresci acompanhando. Ao longo dos vinte anos desde a primeira guerra contra Voldemort, ele se tornou o melhor, e o mais odiado bruxo de Hogwarts. Eu mesma já o julguei errado. Eu coloquei fogo em suas vestes, assaltei seu estoque particular de ingredientes. Mas eu também o defendi, quando os meus amigos o julgaram. Eu chorei pelos insultos que ele me fez. E também chorei POR ele. Droga, eu já até sonhei casando com ele. Minerva não sabia de nada disto, é óbvio.
Sentei-me em linha reta na cadeira em frente a minha mentora, com quem eu vinha trabalhando pelos quatro últimos anos e dei de ombros. Porque eu estava assim? Como se não estivesse animada em tudo?
— Minerva, você lembra toda a animosidade entre ele e o trio dourado, certo?
Nesse ponto, acho que eu estava esperando que ela não lembrasse, porque ela tinha sido muito animada para dizer-me sobre Severus Snape ser contratado. Mas ela assentiu com a cabeça e os ombros, seu rosto ainda era uma tela de confusão.
— Claro que eu me lembro. Isto é o motivo de você ser a pessoa perfeita, para fazer parte desta entrevista, Hermione. O Sr Potter e o Sr Weasley não possuem mais dons mágicos, isso faz de você a única remanescente do trio que possui magia. Além, é claro, de ser a integrante mais conhecida e querida da turma.
— O professor Snape nos insultou…
— Eu sei o que ele fez, mas ninguém quer que este treinamento seja uma novela. E você estar na frente da câmera, sorrindo, é exatamente o que Hogwarts precisa. Isto não é um grande negócio, e todo mundo precisa estar a bordo, para que o foco seja sobre a escola e não um drama de anos atrás. Vão ser dez, talvez vinte minutos, no máximo. Você, eu e ele. Você vai responder algumas perguntas e é isso. Eu não vou fazê-la passar por isto novamente, prometo.
Meu pensamento inicial foi simples: isto foi culpa de Harry, tudo é culpa dele.
Eu queria bater minha cabeça contra a mesa que me separava de Minerva, mas não consegui. Em vez disso, o temor se transformou em um lago sangrento na minha barriga. Ele me deu cãibras e eu tive que pressionar uma mão por cima, assim ajudaria a aliviar o meu sofrimento. Depois suspirei novamente e aceitei a realidade por trás das palavras de Minerva.
Hogwarts estava reduzida a um mínimo de magia, e eu era uma das peças principais dela. E talvez a reunião com Snape mesmo antes de uma conferência de imprensa era exatamente o que eu precisasse.
— Entendi. — Eu gemi e deixei cair minha cabeça para trás para olhar para o teto. — Eu vou fazer isso.
— Essa é minha garota!
Apenas mal ganhei uma luta, travei outra para não chamá-la de sádica por forçar-me a fazer algo, que quase me faz quebrar todas as minhas barreiras.
— Não posso prometer que eu não gaguejarei durante a entrevista ou vomitarei na primeira fila, mas eu vou fazer meu melhor.
Então eu ia socar Harry na primeira chance que eu tivesse.
Você pode fazer isso, Hermione. Você pode.
Quando eu era mais nova e Harry e Ron me pediam para fazer alguma coisa que eu não queria, o que sempre acontecia, se era algo que eu estava horrorizada, por exemplo algo que fosse nos expulsar da escola, eles apelavam para meu senso de justiça. Então, mesmo se eu lamentasse enquanto ia com eles, eu o fazia, apesar de não querer.
'Eu posso e farei o certo' tinha sido o lema que eu segurei mais próximo ao meu coração o tempo todo. Eu não gosto de pessoas me dizendo que eu não podia fazer algo, mesmo que eu não quisesse fazê-lo. Isto era como Minerva tinha me feito dizer que faria a entrevista. Poderia fazê-lo. Eu poderia estar na mesma sala que Severus Snape. Mesmo a primeira vez sendo na frente de vários repórteres. Não tem problema.
Por dentro, eu me enrolei em uma bola como uma aranha morta e perguntei por favor, posso dissolver-me em poeira, cedo ou tarde? Esse terror, essa fobia, era tão absurda. Ninguém diz isso, o medo não tem lógica. É estúpido e irracional.
— Pronta? — Minerva perguntou enquanto esperávamos pelo o início da conferência de imprensa.
Os jornalistas e repórteres falando tão alto na outra sala estavam me deixando doente.
Eu era a bruxa da nossa equipe que era mais solicitada para estas publicidades e eventos por um motivo. Era a única que sobrou do trio com magia. Mas eu odiava entrevistas. Minhas mãos se sentiam como se eu tivesse esfregado nas costas após uma corrida longa, minhas axilas estavam suando... E minha perna tremia. Ambas as pernas estavam tremendo. Mas ao invés de admitir que eu estava nervosa, coloquei minhas mãos nos bolsos, agradeci a Merlin que as calças que eu vesti naquela manhã eram largas o suficiente para que ninguém pudesse dizer que minhas pernas tinham uma mente própria e forcei um sorriso no meu rosto.
— Pronta. — Eu menti através de meus dentes.
E felizmente, ela me conhecia bem o suficiente para reconhecer o fato que eu não estava preparada, porque Minerva riu. Uma mão desceu no meu ombro e ela me deu uma sacudida.
— Você é uma péssima mentirosa, querida. Mas vai ficar tudo bem. Estarei com você o tempo todo.
Franzi a testa por um segundo antes de tentar desaparecer de vez. Eu não podia fazer isso. Uma tosse seca depois e eu disse a mim mesma: Eu posso fazer isso. Eu realmente posso. Minha perna só balançou mais forte à medida que alguém veio com um microfone na outra sala.
— Precisamos de um minuto, por favor. — Ó céus!. — Acho que acabei de vomitar na minha boca um pouco. — Eu murmurei mais para mim do que para Minerva.
— Vai ficar tudo bem. — Ela assegurou-me com um sorriso simpático.
Eu limpei a minha garganta e acenei com a cabeça para ela, implorando-me para acalmar. Inalei e expirei algumas vezes antes de respirar fundo e segurar o ar, como eu sempre fiz quando estou muito empolgada antes de um exame. Sim, não ajudou. Minha barriga inchou com náuseas e eu tive que engolir bile de volta.
— Cadê ele, afinal? — Eu perguntei.
Minerva realmente olhou ao redor, como se a pergunta a surpreendesse.
— Eu não tenho ideia. Será que o colocaram em uma sala diferente?
Tivemos a resposta um segundo mais tarde, quando Sr Filch entrou na sala, o canto de sua boca torceu para baixo.
— Temos um problema.
oOoOoOo
— Mione, não.
— Sim.
— Hermione, eu não estou brincando. Nem sequer um pouco. Por favor. Por favor. Diga que está brincando.
Eu coloco a cabeça para trás contra a cabeceira da cama e fecho os olhos, dando-me um sorriso sinistro de derrota. Tudo estava perdido. Esta tarde tinha sido real, e não havia nenhuma escapatória. Então eu disse a verdade a Dean.
— Sim, aconteceu.
Ele gemeu.
Dean era um amiga de verdade, como aquele que sente o pior de sua dor por você, sofrendo junto com você; ele soltou um gemido que eu sentia a mais de mil milhas de distância. Minha humilhação era sua humilhação. Dean Thomas e eu nos tornamos melhores amigos desde o momento em que toda a magia desapareceu e nos vimos como os nascidos trouxas mais poderosos de Hogwarts, há quatro anos.
— Não. — Ele gemeu novamente. — Não!
Eu suspirei e revivi os vinte minutos na frente das câmeras naquela tarde. Eu queria morrer. Eu não iria muito longe como dizer que foi a pior coisa que já me aconteceu, afinal eu já estive em uma guerra, mas foi definitivamente um daqueles poucos momentos que eu desejei que pudesse voltar atrás e refazer de forma diferente. Ou pelo menos ter coragem de apagar a minha própria mente e fingir que nunca aconteceu.
— Vou tingir meu cabelo, mudar meu nome e ir morar no Brasil. — Eu disse deprimida.
O que ele fez? Ele riu. Riu e então bufou e depois riu um pouco mais. O fato de que ele não tentou me dizer que estava tudo bem significava que eu não estava exagerando os eventos que tinham acontecido horas antes.
— Quais são as chances que tenho de que ninguém tenha visto a coisa toda?
Dean fez um barulho que deu a impressão que ele na verdade estava colocando algum pensamento por trás da pergunta.
— Acho que você está sem sorte. Me desculpe.
Minha cabeça pendurou e meu peito se estufou em sofrimento.
— Numa escala de um a dez, quão ruim foi?
Não havia uma resposta lá. Uma risada alta deixou-me saber que Dean estava se divertindo. Ele estava rindo como fez todas as outras vezes que eu tinha feito algo incrivelmente embaraçoso. Como quando eu derrapei no piso molhado e me espatifei no chão e ele me perguntou se eu tinha desaprendido o primeiro feitiço que aprendemos em Hogwarts: Wingaurdium Leviosa. Eu não devia esperar nada diferente.
— Mione, você realmente...?
— Sim.
— Na frente de todos?
Eu resmunguei. Eu mal podia pensar no assunto sem tentar pegar meu estoque de biscoitos e tentar encontrar uma caverna para hibernar para sempre. Minerva disse que eu estava exagerando, que tinha acabado e a vida iria continuar, " daqui a dez anos ninguém vai lembrar" mas... Eu iria. Eu me lembraria. E Dean, Dean também lembraria, especialmente se ele já encontrou a filmagem. E ele ia, eu sabia que ele faria.
— Você poderia parar de rir?
Ele riu ainda mais difícil.
— Um dia!
— Eu vou desligar agora, sua idiota.
Houve uma risada ainda mais alta, seguida por outra e então um riso mais penetrante.
— Me… dê… Um… Minuto. — Ele gemeu.
— Você sabe, eu te liguei porque você é a pessoa mais legal que conheço. Pensei quem não iria me zoar? Dean, Dean não vai. Mas aí está você! Muito obrigada!
Ele engasgou, e então riu ainda mais. Não havia dúvida em minha mente que ele estava revivendo os eventos do meu dia na cabeça dele e finalmente apreciou o humor neles, humor que alguém pode ter quando não eram eles que tinham se envergonhado diante da mídia. Eu puxei o telefone da minha cara e mantive meu dedo sobre o botão vermelho, imaginei-me desligando a chamada.
— Ok, ok. Estou bem agora. — Ele fez estes exercícios de respiração estranhos para se acalmar antes de finalmente continuar. — Ok, ok. — Um estranho barulho de chiado saiu do nariz dele, mas só durou uma fração de segundo. — Ok. Então, ele não apareceu? Disseram porquê?
Snape. Toda a tarde tinha sido culpa dele. Tudo bem, isso foi uma mentira. Tinha sido culpa minha.
— Não. Só disseram que ele teve alguns problemas com a chave de portal internacional, algo assim. E por isso eles convenceram Minerva e fizeram a conferência com apenas nós duas.
Segurei meu soluço imaginário.
— Isso soa muito estranho. — Observou Dean, quase soando normal. Quase. Eu já podia vê-lo beliscando o nariz dele e segurando o telefone longe do rosto, sufocando o próprio riso. Idiota. — Eu aposto que ele foi se embebedar.
— Ou foi olhar imagens antigas e criticar a própria imagem.
— Ou está contabilizando seu estoque de ingredientes.
— Ele provavelmente estava sentado em uma banheira, lendo sobre si mesmo.
— Essa foi boa! — Eu ri, parando somente quando o telefone clicou duas vezes. Um número de dígitos longos com um DDD diferente, pinçando através do visor e só levou um segundo para eu perceber quem estava ligando.
— Ei, preciso te deixar ir, mas vou ver você no castelo na segunda-feira; é o meu herói favorito chamando.
Dean riu.
— Ok, diga que eu disse oi.
— Digo sim.
— Tchau, Hermione.
— Até mais. Tenha cuidado na volta da viagem. — Eu disse, bem antes de clicar em mais para responder a chamada de entrada. Não tive a chance de dizer uma palavra, antes que a voz masculina na outra linha disse.
— Hermione. — Ele estava falando sério. Foi o jeito que ele disse isso, mas se engasgou ao invés de enunciar, em vez de seu habitual "Mione!". — Isto é um sonho? Estou sonhando?
Não pude deixar de rir. A primeira coisa que eu disse a ele foi.
— Não. Você é louco.
Ele era louco, e hoje em dia ainda mais. Harry Potter hoje em dia, era um fã assumido de Severus Snape. Ele mencionava Snape mais frequentemente do que alguém com dois filhos, e sendo era o bruxo que matou o Lorde das Trevas, deveria.
— Eu estava sentado aqui comendo, quando Ron entrou correndo dentro de casa e me disse para ligar a TV e sintonizar no canal bruxo. Porque você não me disse nada?
— Eu não sabia, Só descobri minutos antes deles me empurrarem para a conferência de imprensa.
Harry disse algo que soou como 'Santo Merlin' sob a sua respiração. Em um sussurro baixo ele perguntou:
— Você fez uma coletiva de imprensa?
Ele não podia acreditar. Ele não tinha visto. Obrigado, Merlin.
— Foi tão ruim como você está imaginando. — Eu avisei.
Harry fez uma pausa novamente, absorvendo e analisando o que eu estava dizendo. Aparentemente, ele decidiu deixar a notícia da minha estupidez na frente da câmera de lado, por enquanto.
— É verdade? Ele é o seu novo orientador? — Ele fez a pergunta hesitante, tão lento, quanto possível, eu amei ainda mais o meu melhor amigo, isso foi um fato.
— Sim, é verdade. Ele vai ser co-orientador juntamente com a Minerva.
Em um estranho exalo, Harry murmurou "Eu vou desmaiar."
Comecei a rir ainda mais, ao mesmo tempo que um bocejo tentou subir em mim.
— Você é o rei do drama, Harry.
— Ron, Hermione, ele é o rei do drama. — Ele reclamou. — Você não está mesmo mentindo?
Eu gemi, empurrando os lençóis ainda mais para baixo da cintura.
— Não, Harry. É verdade. Lore Bagman, o supervisor, aquele idiota que te falei, enviou uma correspondência para a turma. — Expliquei.
Harry estava quieto por um momento. Eu estava morrendo um pouco esperando por sua reação. Quer dizer, eu não estava surpresa que ele tinha sua própria versão de um ataque. Harry torcia pela reinserção de Snape no Mundo Mágico há anos.
— Me sinto tonto.
Todo o meu corpo tremia de tanto rir.
— Pare.
— Hermione… Vou chorar.
Meu estômago estava em cólicas de tanto tentar segurar o riso.
— Harry, pare.
Não consegui parar de rir porque eu conhecia Harry desde que tínhamos onze anos, ele estava sendo totalmente honesto. Harry não era um chorão. Mas eu sabia o quanto significava para ele que Snape voltasse como um herói para o Mundo Mágico. Era uma reparação histórica para um homem que foi tão mal julgado. Pelo próprio Harry. Por todos. E o senso de justiça de Harry era algo astronômico.
— Ele vai ser o seu mentor. — Ele guinchou, e quero dizer realmente guinchou.
— Eu sei. Recebi mais de dez corujas de pessoas que eu conheço me perguntando se isso era verdade. Vocês são todos loucos.
Harry simplesmente repetiu-se. — Ele vai ser o seu mentor.
— Eu vou te avisar quando começam as aulas, então você pode vir até aqui para encontrá-lo.
Então ele fez isso, ele cruzou a linha novamente.
— Hermione, não conte a ninguém, mas você é minha favorita.
Meu Deus. — Harry!
Houve um grito no fundo que parecia Ron e foi seguido, pelo que eu só poderia assumir, era Harry segurando o telefone longe do seu rosto quando ele gritou. — Estava brincando!...Você me disse que me odiava ontem, certo? Por que você vai ser meu favorito quando você diz que desejava que eu não fosse seu cunhado? — Em seguida, mais gritos de Ron, até que Harry voltou a linha com um suspiro resignado. — Ron, eu realmente não sei o que fazer com ele.
— Sinto muito.
Eu sentia, pelo menos parcialmente. Não podia imaginar como era difícil para Ron ser um bruxo puro-sangue e ter perdido cada gota de sua magia. Sentei, com o telefone ainda no meu rosto, deitada na minha cama, imersa na ideia de aprender novamente com Severus Snape. Eu engoli o nervosismo e a expectativa para baixo. Não é grande coisa, murmurei para mim mesma. Certo. O que eu preciso fazer é me concentrar em absorver tudo que ele tiver a me ensinar.
E com esse pensamento, eu terminei minha conversa com Harry.
— Vá para cama, já é tarde.
Meu corpo precisava disto. Só levei mais dez minutos olhando fixamente para a parede, para decidir realmente que, se pudesse mostrar todo o potencial da minha magia para Snape, já seria ótimo. Eu adormeci com a imagem do rosto de Severus Snape na minha memória. E eu tive o mesmo sonho de quando eu era uma adolescente: eu casei com ele.
Notas Finais
Novo projeto: Long fic e queima lenta. Quem topa?
