CAPÍTULO XXI

Três dias depois do parto, Pansy e James foram para a casa de Harry. Surpreendentemente ainda não tinha surgido nada nos jornais sobre o nascimento da criança. Harry pensava que era melhor assim, faria um anúncio oficial sobre a chegada de seu filho quando Pansy aceitasse ser sua esposa. Ele ainda aguardava uma resposta dela e vinha se esforçando para mostrar que poderia ser um bom marido e pai.

Os dias foram passando, e logo se transformaram em semanas. Pansy estava confortável com essa nova situação. Ela tinha toda a sua atenção focada no bebê. Por isso não se importava com o que Harry fazia ou deixava de fazer, embora ela pudesse dizer que Harry estava visivelmente feliz com James. Ele fazia questão de estar em casa a maior parte do tempo e sempre junto ao bebê.

Rony e Hermione visitavam o pequeno James todos os dias, encantados com a criança. E Pansy gostava disso. O que Pansy não gostou foi de sua vindo passar uns dias com ela e o bebê. Fiona sempre se intrometia, não em como ela cuidava do filho, mas em como se relacionava com Harry.

- Está tentando afastar aquele homem? - in dagou Fiona, seguindo a filha até a cozinha.

- Mamãe, estou cansada. Então, se quiser bri gar, pode esperar até mais tarde? - Pansy olhou para a mãe, com ar resignado.

Fiona não viera logo após o nascimento de James, seis semanas atrás. O que Pansy agradecia, porque tinha apenas uma semana que sua mãe estava ali e a situação já estava ficando insustentável. Pansy sabia que deveria sentir-se agradecida, e se sentia, mas Fiona de saprovava abertamente a forma como estava sua relação com Harry e não tinha medo de manifestar seu desgosto. Pansy não queria a opinião da mãe, ela esperava decidir por si mesma o que faria em relação a Harry, mas ainda não se sentia pronta para isso.

- Então, quer dizer que está feliz por ele estar circulando por aí em companhia daquela... mulher?

- Isso não me incomoda. Não tenho nenhum monopólio sobre Harry e o que ele faz. Ele está sem pre por perto para me ajudar com James.

Harry a tinha pedido em casamento e ela ainda não tinha dado uma resposta. Ele dissera que seria fiel, que se dedicaria ao casamento, cumprindo-o como devia ser. No entanto, ela tinha certeza de que a fidelidade dele teria início apenas quando estivessem casados. Enquanto isso, ele frequentava alguns eventos em companhia de Ginny Weasley, como fizera quando estavam na vinícola. E Pansy não queria pensar sobre isso.

- E isso é suficiente?

- Terá de ser, mamãe. – Pansy suspirou, não querendo levar a conversa adiante.

A expressão de Fiona se suavizou, mas ela in sistiu no assunto com sua típica determinação:

- Não lhe ocorre que poderia ser um pouco mais... agradável com ele?

- O que sugere? - perguntou Pansy, exas perada.

- Ele a trata bem e tenta se aproximar, mas você...

- Eu o trato bem também. – Pansy se defendeu.

- Você fala o mínimo com ele, fica sempre distante, como se o estivesse evitando!

Pansy sabia que era assim, ela tentava ficar longe de Harry como uma forma de se proteger, proteger seu coração. Ela queria se convencer de que poderia entrar em um casamento onde não havia amor, apenas o compromisso com uma criança. Mas estava longe de se sentir assim. Vê-lo com outra mulher sempre a lembrava do quanto ela não era importante para ele, não mais do que a mãe de seu filho.

- Quer que eu faça o que? Que dance nua em frente a ele?

- Se funcionar...

- Mamãe!

- Bem, você poderia se preocupar um pouco mais com sua aparência, para começar.

- Obrigada pelo apoio moral...

- Não tenho paciência com essa sua atitude teimosa, Pansy. Você não olha mais para si mesma. Veja o que está vestindo! Pijamas, e isso a dias! E seu cabelo? Sempre emaranhado como se fosse um ninho. Você sempre foi vaidosa! Não pensei que a maternidade a deixaria assim!

- A maternidade não tem nada a ver com isso, apenas não vejo sentido em me arrumar quando poderia passar esse tempo com meu filho.

- Seu filho é importante, mas o pai dele também. Não adianta negar, Pansy, eu vejo como reage quando ele está por perto, como você o observa quando pensa que ninguém está vendo. Se quer o homem, qual o problema em deixá-lo saber disso?

- Eu não o quero!

- Ficar em negação não vai ajudar em nada. Você está apaixonada, não é?

- Não quero conversar sobre isso.

- Tudo bem, mas não diga que eu não avisei quando você perder todas as chances com ele e se arrepender por ter desistido como uma covarde. Você esqueceu quem você é.

Pansy estava ruborizada, irritada e pensativa, quando a mãe saiu da cozinha. Era claro que ela estava apaixonada, mas porque tinha que ser ela a ceder? Ela fizera isso durante todo o relacionamento deles! Harry não fazia nada para mudar aquilo, não era como se ele estivesse sendo romântico e atencioso, como se quisesse conquistá-la. Se ele a quisesse, que viesse atrás dela. Ela não iria, não dessa vez. Ela tinha seu orgulho.

- Quanto mais mamãe ficará? - Pansy per guntou a Harry, mais tarde, enquanto o observava embalar James no quarto do bebê. - Ela está me deixando louca. Sei que pareço uma ingrata, mas quero que ela vá embora.

Harry fitou-a, com ar zombeteiro.

- Problemas no paraíso?

- Ela me irrita com tantos comentários!

- Tente relaxar. Será mui to pior para James se a mãe estiver irritada quando cuida dele - ob servou Harry, com sabedoria.

Pansy anuiu.

- Nunca pensei que seria tão cansativo. - Ela admitiu.

- É só o começo. - Harry caminhou até a cadeira de balanço e se sentou. - Você deveria dormir um pouco. Se Fiona acordar James, de novo, eu a estran gularei e enterrarei no jardim.

O comentário fez Pansy rir.

- Sei que estou exagerando, mas nada do que faço está certo de acordo com mamãe, Harry.

- A sua avó, com certeza, fez a mesma coisa com sua mãe, Pansy. Chame isso de continuidade.

Pansy o fitou, surpresa, ante a cal ma que Harry aparentava. Poucas vezes ela o vira sair do sério.

- Acho que eu não teria suportado a tensão, sem você, Harry. Obrigada!

- Não acredito que esteja dizendo isso. - Ob servou ele, a expressão cautelosa. – Você tem me evitado.

- É verdade. Mamãe me perguntou sobre isso hoje.

- Mesmo?

- Sim, e ela perguntou quais eram nossos planos.

- E o que disse a ela?

- Que não conseguia pensar no futuro. - Pansy olhou para Harry, apreensiva, notando que a resposta não o agradara.

- Entendo...

- Eu ainda estou...

- Magoada? Apaixonada por Comarc?

- Magoada com você por acreditar nos boatos do escritório e pensar que eu tive algum envolvimento com Comarc.

- Pansy...

- Sei que temos de decidir o que faremos. Não poderemos ficar assim para sempre. Não seria jus to para nenhum de nós.

- Eu pedi você em casamento.

- De uma forma precipitada quando nosso filho nasceu. Você nem havia pensado sobre isso durante a gravidez. Nem sequer tinha um anel. - O coração de Pansy dis parou. - Como foi num momento muito emocionado, imaginei que, talvez, houvesse mudado de ideia. Você continua sempre com Ginny e...

- Isso não acontecerá quando nos casarmos.

- Eu sei, mas... Não sei o que pensar. Magicamente você deixará de vê-la? Sabemos que será impossível, porque ela faz parte da família Weasley, que é também sua família.

- Pansy, não haverá nada entre Ginny e eu. Não vou mudar de ideia.

- Por que você já não se afastou então? Por que continuar com ela se não considera um futuro juntos?

- Isso te incomoda! – Era uma afirmação, não uma pergunta.

- Claro que sim!

- Se você aceitasse logo o meu pedido, isso terminaria.

- Seria muito fácil, para mim, dizer sim pelos motivos errados. Não entende?

- A única coisa que entendo é que você quer deixar opções em aberto.

- O que quer dizer com isso?

- Que, agora que tem James, não há nada que a impeça de continuar de onde havia parado com McLaggen. - Ele a observava, com curiosidade.

A irracionalidade daquela acusação deixou-a furiosa.

- É muita ousadia sua, ainda mais após passar várias noites com Ginny antes do nascimento de James e depois disso! - Pansy tentou não se lembrar daquela fase ausente de Harry, mas a lembrança dolorosa es tava sempre presente. – É você quem quer ter opções, porque enquanto finge que espera minha resposta, continua com sua amante!

Um leve rubor coloriu-lhe as faces devido a irritação que sentia.

- Não é como você pensa. - Observou, com secura.

- Você nem se preocupa em se defender, não é?

- Não tenho o que dizer Pansy, você sabe o que aconteceu.

"Não chore, Pansy", pensou, engolindo um soluço e fechando os olhos "Não o deixe perceber o quanto está magoada."

- Sim, sei. E sei o que continua acontecendo.

- Eu lhe asseguro que serei fiel quando nos casarmos...

- Não importa Harry, não vê que o estrago já está feito? - Pansy ergueu o queixo. Harry se retesou diante do comentário. - Desde o início as coisas entre nós não deram certo. No casamento de Draco as coisas pareciam correr bem, isso até dormirmos juntos. Depois, no Ministério, você me acusou de ser uma prostituta, e para corroborar com a ideia que você faz de mim, você disse que tudo o que queria era meu corpo. Quando eu me demiti você logo estava com outra, Cho Chang, e quando descobriu da minha gravidez e me levou para a vinícola, esfregou Ginny na minha cara o tempo todo, inclusive, continua esfregando depois de ter me pedido em casamento. - Pansy não mais continha as lágrimas. – Não vê que nesse tempo todo, quem andou com várias mulheres, em outros relacionamentos, quem agiu de forma leviana foi você, e não eu!?

Harry ficou surpreso com a explosão dela, mas reconheceu que o ela dissera era verdade. Ele não considerou que pudesse fazê-la se sentir daquele modo. Sempre pensou que ela não se importasse com ele.

- Eu não quis magoá-la Pansy, mas eu me senti atraído por você. Fiquei cego por tudo o que ouvi e acabei...

- Não consigo perdoá-lo Harry! Não só por isso, mas porque você abandonou a mim e nosso filho quando eu mais precisei. Especialmente quando demorou o bastante para eu quase ter a criança sozinha na estrada enquanto você estava com sua amante.

Harry sentiu seu peito doer ao vê-la chorando.

- Você foi mesmo ao Ministério naquele dia encontrar Luna, não foi?

O inesperado da pergunta a fez empalidecer.

- Sim, eu sempre lhe disse isso.

- Tive uma conversa com Luna quando ela ligou, logo após o nascimento de James. Ela estava aliviada por tudo haver corrido bem e me disse que se sentia responsável por ter se atrasado naquele dia em que Comarc a atacou. Ela me garantiu que você não tinha um relacionamento com ele.

- E nada mudou, não é? Deixe-me adivinhar, porque era melhor continuar com sua amante.

- Ginny não é minha amante Pansy. Admito que na vinícola eu estive com ela, mas eu não toquei nela dessa forma depois que a pedi em casamento.

- E você espera que eu acredite?

- A verdade Pansy, é que tudo o que eu queria era você, desde que estivemos juntos. E como eu não poderia tê-la, ficar com Ginny foi uma forma de me distrair. E eu teria matado aquele canalha se soubesse a verdade naquela hora. - Com os punhos fechados, Harry parecia tomado por uma fúria violenta. - Quando penso no que ele poderia ter feito...

- Você sabia, só não quis acreditar! Cormac sempre me assediou - confessou Pansy - Todo o tempo em que trabalhei no Ministério ele fez isso. Naquele dia ele apareceu do nada e... Nunca imaginei que...

- Acredite em mim Pansy, como acredito em você. Eu não estive na cama de Cho, e com Ginny tudo terminou quando nosso filho nasceu. Elas não significaram nada. Eu desejo você desde o casamento do Malfoy.

- Não acredito em você! – Pansy o encarava com um olhar magoado.

- Eu estava cego pela rejeição Pansy. Nunca aceitei o fato de ter acordado sozinho depois do casamento.

- Então foi por isso? – Pansy o encarou com incredulidade. Todo esse tempo me tratando assim por que não aceitou que eu o deixei pela manhã? Eu fiz aquilo porque senti vergonha e imaginei todo o embaraço que seria...

- Vergonha?

- Sim, do que aconteceu... Eu não sou assim, nunca tinha tido um encontro casual.

- Sua experiência sexual, antes de mim, con sistia apenas de algumas relações com Draco, não é, Pansy?

Ela esboçou um frágil sorriso.

- Sim.

Harry fechou os olhos, meneando a cabeça.

- Por que não me contou?

- Isso importava? Naquela noite eu não pensei que algo assim aconteceria... Jamais imaginei que acabaríamos fazendo sexo no casamento de Draco. E depois disso, eu tentei te mostrar quem eu era Harry, eu te disse a verdade. Você não quis ouvir e escolheu acreditar nos boatos.

- Pansy...

- Acho que James precisa mamar. – Disse Pansy limpando as lágrimas e pegando o bebê de Harry.

Harry se levantou para ela se sentar e amamentar seu filho. Ele ficou ali, parado, pensando em como a tratara e tudo o que dissera a ela, em como as coisas poderiam ter acontecido de uma maneira diferente. Pansy poderia ter optado por um aborto devido as atitudes dele e talvez ele nem tivesse James hoje. Ou ela poderia ter se ido embora e jamais ter lhe contado sobre seu filho, como ela pretendera. Ele não conseguia evitar o enjoo que sentia consigo mesmo, nem a expressão agoniada em seu rosto.

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