Capítulo 2: Sonho na Toca (ou Sem Necessidade de uma cicatriz)
"- Não... Por favor... não me mate! - disse o estranho.
- Ora, seu trouxa... Fique feliz! Ao menos, você auxiliou o caminho do novo Lorde desse mundo! Avada Kedavra!
O trouxa caiu no chão... Uma risada ecoava no ar, junto com o barulho semelhante ao de um dementador sugando a alma do trouxa... Mas não era um dementador. Era uma forma disforme, que de certa forma lembrava Pirraça, mas ainda mais assustador. Foi a vez dessa forma rir, uma risada insana, infantil e infernal. As duas risadas ecoavam no ar, enquanto o trouxa estava caído no chão..."
... da mesma forma que Harry estava, com sua cicatriz em chama.
Harry Potter não sabia como chegara vivo e são (ou tão são quanto um bruxo pode ser) aos 15 anos de idade, se contasse todas as coisas que lhe aconteceram na vida. Já perdera ossos, fora mordido por cobras venenosas, e até mesmo sobrevivera ao mais mortal e maligno feitiço conhecido, a Avada Kedavra.
- Harry, teve mais um daqueles sonhos? - disse uma voz.
- Sim, Rony... Mas já passou. Pode ir dormir. - disse Harry.
- Nada feito! - disse a voz, virando sua cabeça e mostrando um rosto ruivo e sardento - A não ser que você me conte esse sonho, não vou dormir.
Rony Weasley era o melhor amigo de Harry, desde que, junto com o mesmo Harry, embarcou quase cinco anos antes no Expresso de Hogwarts, que levava os alunos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts para passarem o ano no Castelo da Escola. Ruivo, como todos os Weasley, e bruxo de sangue puro, Rony gostava de comer e jogar xadrez bruxo (igual ao xadrez trouxa, mas no qual as peças se mexiam, falavam e davam palpites no jogo), coisa a qual sabia fazer como poucos. Fã dos Chudley Cannons ("Vamos fazer figa e torcer pelo melhor!" era o seu lema), quadribol era um assunto o qual lhe fascinava, e a paixão por tal esporte de Rony só não era maior que a de Harry. Era alto e tinha um físico magro, igual ao de seu irmão Percy e diferente dos seus irmãos gêmeos Fred e Jorge (que tinham físicos bem fortes, mas eram mais baixos que o normal), e tinha cabelos bem arrumados (meio a contragosto, mas...).
Já Harry não parecia em nada com Rony. Ele era mais baixo e mais magro que Rony, tinha cabelos morenos e rebeldes e usava óculos que ocultavam dois olhos verde-vivos. Seus óculos sempre eram presos com fita adesiva, devido às inúmeras vezes em que seu primo, Duda, quebrara-os socando o rosto por trás dos mesmos. Harry, quando não estava em Hogwarts, morava com os seus tios, os Dursley, que só possuíam uma definição para Harry: "se precisassem de trouxas, os Dursley não serviam, pois eles são MUITO trouxas!". As únicas coisas que gostava em si próprio eram os olhos verdes vivos (como os da mãe, todos lhe diziam), e a cicatriz em forma de raio que tinha na testa. Aquela cicatriz, de certa forma, era a coisa mais bonita em Harry, que sempre foi raquítico e esquálido demais para ser bonito.
Se Harry tinha uma família, em seu coração ela era os Weasley: nunca tinham muito dinheiro para quase nada, mas mesmo assim davam um duro danado para colocarem seus filhos na melhor Escola de Bruxaria do mundo e ainda conseguiam encontrar espaço para dar carinho e amor a um bruxo órfão como ele. Os três irmãos mais velhos, Guilherme (o Gui), Carlos (o Carlinhos) e Percival (o Percy) já tinham terminado Hogwarts, todos pela mesma casa dos demais Weasley e de Harry, a Grifinória, e ajudavam a família no que podiam. O mais velho, Gui, trabalhava em uma filial do Gringotes no Egito, como desfazedor de feitiços. Carlinhos era um magizoólogo, e estudava dragões na Romênia. Já Percy galgava posições dentro do Ministério da Magia, sendo atualmente o coordenador geral do Departamento de Cooperação Internacional da Magia.
Os outros Weasley eram: o Pai, Arthur, um senhor alto e parcialmente careca, que tinha como hobby colecionar coisas dos trouxas, como tomadas e baterias de carro, e que trabalhava no Ministério da Magia, no Setor de Mal-Uso dos Artefatos dos Trouxas; a Mãe, Molly, uma senhora baixa e roliça, que era apenas uma típica bruxa-do-lar, embora isso fosse mais do que o suficiente para Harry amá-la como a mãe que nunca teve; e os demais irmãos de Rony, que ainda eram estudantes de Hogwarts: os gêmeos Fred e Jorge, que iam para o último ano, e Gina, que ia para o quarto. Fred e Jorge eram do último ano de Hogwarts: no final daquele período letivo, estariam livres para fazerem todas as "gemialidades" que quisessem. Já seriam bruxos maiores de idade, o que os daria liberdade para fazerem o que sabiam fazer de melhor, que era divertir os outros (e se divertir no processo).
Gina, ao contrário, tinha um longo caminho a percorrer, da mesma forma que seu irmão Rony. Ainda no quarto ano de Grifinória, ela ainda tinha muito o que aprender para se tornar uma bruxa capaz de usar seus poderes com sabedoria, como sua mãe. Sabedoria essa que lhe faltou no seu primeiro ano de Hogwarts, quando ajudou a libertar a "sombra passada" do grande bruxo do mal Voldemort. Apenas Harry salvara Gina, usando da principal arma que tinha: a coragem.
Essa coragem era a única coisa que podia esclarecer a Harry como ele tinha sobrevivido a tudo o que sobreviveu em Hogwarts. Mas os pesadelos constantes eram algo que o atormentava: quando não sonhava com a cena da morte de seus pais, via Voldemort tendo planos para dizimar todos aqueles a quem ele considerava "inferiores".
Mas o mais estranho nesse sonho, Harry pensou, é que ele ouviu uma outra risada. E não era uma risada bruxa, mas sim a de uma criança.
Uma criança sedenta de sangue.
E então decidiu contar a Rony tudo o que vira e ouvira em seu sonho. Mas quando reparou, não era apenas a Rony que contava tudo, mas a todos os Weasley, que acabaram caindo da cama junto com ele:
- ... e foi isso! - disse Harry, enquanto tomava seu chocolate quente Weasley, receita de família que Molly preparava com facilidade e cheia de sabor e magia.
- Estranho... - disse Arthur - Não temos tido relatórios de atividade de Vocês-Sabem-Quem ou dos Comensais a mais ou menos dois meses...
- Será que não é aquele palerma do Cornélio Fudge que está barrando as coisas tentando impedir que o Profeta Diário divulgue o retorno do Vocês-Sabem-Quem? - disse Fred, que fingia ler uma cópia surrada de "O Guia do Batedor", de Bruto Scumedgeon.
- Fudge não é um palerma, Fred! - defendeu Percy - Ele apenas está tentando proteger a população, não gerando pânico...
- Você é tão palerma quanto o Fudge, Percy! - disse furioso Jorge, arremessando longe o mais recente exemplar de "Qual Vassoura?" – Você não ouviu o que o Dumbledore disse: Fudge apenas deseja que as pessoas não saibam que ele é incompetente demais para enxergar que o Vocês-Sabem-Quem voltou! Ele já tava queimado por causa da fuga do Sirius de Askaban... Mais uma dessa, e o povo ia querer a cabeça dele em uma bandeja de prata!
- Vocês por acaso pensam que administrar um país bruxo é a mesma coisa que rebater balaços? - disse Percy, encarando os gêmeos, olho no olho.
- Talvez algumas pessoas devessem encarar bolas pretas, velozes, pesadas e com instinto homicida para aprenderem o que é coragem DE VERDADE. – disse Fred, cheio de ironia.
- O Fred tem razão! - disse Jorge - Você só é o "Percy Perfeito" porque foi o único de nós que não entrou no quadribol...
- Eu também não entrei! - disse Rony.
- Você tem chance! - disse Fred.
- E potencial, diferentemente de alguns aqui... - disse Jorge, numa ÓBVIA referência a Percy.
- Chega de briga, vocês três! - disse Arthur - Já temos problemas demais com o Vocês-Sabem-Quem lá fora esperando para matar a todos nós! Percy, Fred e Jorge estão certos. Por mais que trabalhe para Fudge, não posso dizer que ele seja um poço de coragem, e muito menos de sabedoria: Dumbledore disse-lhe que a melhor coisa a fazer era contar à população que Voldemort estava de volta, previnindo-a. Atualmente, sabe Deus quantos estão passando para o lado Dele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado... Ou antes, quantos não estão sendo torturados pelos homens Dele!
- Vocês tem lido o Profeta Diário... - disse Molly - Não demorará muito mais e repórteres como a Rita Skeeter vão mostrar a verdade...
- A Rita Skeeter é uma farsa! - disse Rony - Você viu as milhares de asneiras que ela escreveu sobre Harry e Hermione, mamãe... Rita Skeeter venderia até a mãe para o Vocês-Sabem-Quem se isso lhe desse uma chance de falar mal de Fudge.
- A grande verdade - disse Fred - é que o Fudge é um banana!
- Escuta aqui, Fred... - ia dizendo Percy.
- Pessoal. - todos ouviram alguém escutar.
Uma cabeça ruiva, tostada de sol e de queimaduras e com marcas de garras no rosto apareceu pela lareira.
- Carlinhos? - perguntou Gina, cheia de surpresa.
- Temos problemas... - disse ele.
- O que foi? - disse Rony
- Os Comensais... Atacaram a reserva... Muitos dos outros pesquisados foram mortos e os dragões foram seqüestrados... - disse Carlinhos, ofegante.
- Droga! - disse Harry.
- Tem mais... Houve mais assassinatos de trouxas aqui na região. Acho que foram uns 12 mortos em duas semanas...
- Você está bem, querido? - disse Molly, com a preocupação típica de mãe.
- Estou legal! - disse Carlinhos - Só algumas queimaduras ácidas de um dragão do brejo brasileiro, mas nada que algumas poções corretas não curem... Estou indo para aí.
Em minutos, Carlinhos passou pelas chamas e chegou até "A Toca". Depois de contar tudo aos demais (enquanto aproveitavam e tomavam café), disse:
- Eu pedi para os bananas dos Ministérios da Magia dos países que tinham pesquisadores lá mandarem Aurores e investigadores para a região, mas eles nos deram as costas. Leiam só o que eu recebi do banana do Fudge:
"Caro Sr. Weasley:
Estou realmente muito feliz em saber que seu trabalho de pesquisa sobre o comportamento das comunidades multi-raciais de dragões venha progredindo.
Quanto à sua solicitação, devo admitir que tal ato feriria a soberania de outro estado, atitude essa que eu condeno até o fim dos meus dias.
Sendo assim, sou obrigado a rejeitar seu pedido.
Mesmo assim, desejo todo o sucesso do mundo em suas pesquisas.
Com meus sinceros cumprimentos,
Cornélio Fudge
Ministro da Magia Inglês."
- Só mesmo o Fudge para ser tão banana assim! - disse Rony.
- O Fudge não é um banana! - disse Percy.
- Eles estão certos, Percy... - disse Harry.
- Harry?
- Percy, eu VI o que me aconteceu na final do Tribruxo! O Bartô Crouch Jr. matou o próprio pai, e conseguiu trazer Vold... Quero dizer, Vocês-Sabem-Quem, de volta à vida! Eu vi o maldito Rabicho matando o Cedric Diggory... Eu vi os Comensais! Eu NÃO ESTOU LOUCO! Aquele Fudge é mais que um banana: ele é um maldito inescrupuloso que venderia até a mãe para galgar posições e adquirir poder!
Percy ficou desconcertado com o rosto de Harry. Harry tinha um ódio faiscante nos olhos que fez Percy tremer. Arthur percebeu que os ânimos estavam se exaltando demais e disse:
- Bem, Carlinhos, o importante é que você está bem... Têm mais alguém vivo?
- Sim, mas não têm para onde ir...
- Traga-os para cá! - disse então Arthur, aproveitando a deixa para esfriar os ânimos - Eu darei uma torcida no Fudge para ele nos ajudar nessa empreitada... Harry, o melhor que você pode fazer é escrever para Dumbledore e dizer para ele sobre o sonho que você teve. Conte o máximo de detalhes que puder... Algo me diz que esse sonho pode ajudar-nos.
Mal sabia Arthur Weasley o quão certo ele tava...
Dumbledore terminou de ler a correspondência de Harry. Edwiges tinha sido bastante rápida no trajeto entre Ottery St. Catchpole e Hogwarts. Dumbledore sabia que ela tinha feito de tudo para chegar a tempo e pediu que Hagrid cuidasse bem da coruja de Harry. Ao terminar a leitura, ficou pensando no que estava acontecendo e pediu para a professora McGonagall ir até sua sala.
- Desculpe a demora, professor Dumbledore, mas tinha alguns livros novos sobre Transfiguração que eu precisava catalogar...
- Tudo bem. - disse Dumbledore, com seu sorriso fácil – Compreendo que tem mais tarefas além de ouvir um "velho biruta e pateta", como alguns trouxas me chamam por aí.
- Bem, deixando de lado a piada... - disse Dumbledore, agora com um rosto sério, que exalava poder e autoridade por cada poro. Os fios de cabelo, barbas e sobrancelhas brancas, cada um deles, pareciam pequenos raios prontos a explodirem. Os olhos azuis faiscavam, como se estivessem prontos para atingir os inimigos à distância.
- O que o senhor deseja? - disse McGonagall.
- O que a senhora sabe sobre o Mito de Surien? - disse Dumbledore.
McGonagall respirou fundo. Ela era da mesma opinião de Binns, o fantasma que dava aulas de História da Magia: fatos eram fatos, lendas eram lendas, e ela trabalhava com fatos.
- Pelo que sei, - disse McGonagall, parcialmente a contra-gosto - menciona a existência de um demônio antigo preso em algum lugar do Japão... Até aí, nada que não seja uma das milhares de "lendas" dos trouxas.
- E se eu lhe dissesse que isso é verdade? - disse Dumbledore, em um tom sério
- Como? - disse McGonagall - Professor Dumbledore...
- Você deve imaginar que vi e ouvi muitas coisas antes de assumir a responsabilidade de Diretor de Hogwarts. E que entre essas coisas estava a queda do antigo Grindelwald, o Corruptor.
- Sim... Me lembro que era ainda uma garotinha quando aquilo aconteceu. Ordem de Merlin, Primeira Classe. Primeira página do Profeta Diário de 22 de janeiro de 1946.
- Sim. Mas o mais importante é que eu visitei o Japão, ou como os bruxos de lá chamam, Nihon, enquanto perseguia Grindelwald e seus comandados, entre eles Tom Servoleo Riddle...
- O Você-Sabe-Quem?
- Por favor, professora McGonagall... Já cansei de pedir que não faça essa bobagem de Você-Sabe-Quem. Você é uma bruxa muito mais esclarecida e sabe que Tom Servoleo Riddle virou Voldemort.
- Sim... Sim... Continue.
- Bem, durante a perseguição, encontrei um trouxa, ou ao menos assim eu pensava, que se apresentou a mim como Katsuhito Masaki, que estava perseguindo também Grindelwald, que lhe roubara um item muito especial. Aceitei sua companhia em batalha, quando me veio a surpresa: o trouxa, ou assim eu imaginava, tinha poderes especiais. Não era bruxaria, disso pode ter certeza. De qualquer forma, ele me auxiliou a lutar contra Grindelwald no Japão. Quando encontramos Grindelwald, Katsuhito já tinha obtido de volta seu item, algo semelhante ao cabo de uma espada.
- Foi quando ele revelou-se como um ser humano extraterreno...
- O que... Ele era de fora da Terra?
- Sim, e de um planeta muito longínquo chamado Jurai. A Terra faz parte de seu Império, mas é ignorada pelo Império Jurai. Isso levou Katsuhito, ou Yosho, como era o nome verdadeiro dele, a vir para Terra ocultar-se.
- O item que ele carregava - continuou Dumbledore - era conhecido como Espada Jurai, que apenas pessoas portadoras de um poder especial chamado Poder Jurai podem utilizar-se.
- Bem, por ser alienígena, Katsuhito sabia muita coisa sobre o espaço, inclusive sobre uma organização conhecida como Galáxia Policial...
- Galáxia Policial? - disse a professora McGonagall.
- A Galáxia Policial, ou GP, é uma espécie de "Aurores Intergalácticos". São tropas de elite que perseguem criminosos espaciais por todo o Cosmo. Alguns deles, depois de capturados e condenados, são presos em Cápsulas de Detenção e arremessados ao Cosmo. Alguns, ocasionalmente, caem em planetas. Como foi o caso da de Surien.
- Surien é uma força alienígena? - perguntou McGonagall.
- Sim. E segundo Katsuhito, duas agentes da GP foram indicadas para investigarem e recapturarem Surien. Mas se eu estou certo, e particularmente espero não estar, Surien está aliado a Voldemort...
- Como?
- Voldemort, intrigado e tentado com a possibilidade de obter ainda mais poder, decidiu despertar Surien... Isso bateria certinho com o relatório que Snape nos mandou, dizendo que Voldemort viajou para o Japão.
- Mas se isso for verdade, como faremos para colocarmos esse Katsuhito em Hogwarts? Ele tecnicamente é trouxa, por mais que esse tal Poder Jurai possa semelhar-se à magia! Fudge iria fazer o senhor em sushi de tiras MUITO finas!
- Fudge desconhece muitas coisas que eu já vi... Para ele, Katsuhito e seus amigos poderiam se passar como bruxos normalmente. E acredito que tudo seria uma questão deles pegarem varinhas e automaticamente seriam capazes de usar magia... De certa forma, parece que o Poder Jurai é muitíssimo assemelhado à bruxaria real.
- Bem... Mas e o que você pretende fazer? - disse McGonagall.
- Tenho meus planos... Mas agora, preciso pensar nos detalhes, e nisso é que eu queria sua ajuda...
E foi explicando o plano para McGonagall, que olhava desconcertada e maravilhada ao plano...
