Mas a verdade é que, mesmo sabendo do que poderia estar esperando por eles lá fora, Harry, Tenchi e seus amigos eram incapazes de ficar apenas esperando, olhando para todos os lados, como se fossem caçadores a espera de uma caça arredia, que vive das emboscadas.

Mesmo naquele momento, Harry, Tenchi e os demais queriam apenas saber de aproveitar o momento. E foi com esse espírito que todos assinaram a lista que dizia quais alunos ficariam em Hogwarts para o Natal. Claramente, Tenchi e Harry sentiam pelo afastamento de seus entes queridos que estavam escondidos na Yagami, dentro da caverna próxima a Hogsmeade, mas nada poderiam fazer para impedir aquilo, pois seria melhor para eles: fora de Yagami, não contavam com os recursos de tecnologia e com a proteção fornecida pela mesma, dependendo de outras coisas para se manterem.

Tenchi, seguindo um conselho de Hermione, e aproveitando que Sassami também tinha que fazer tarefas durante o recesso de Natal, claramente aproveitou para se livrar daquele fardo o mais rápido possível, estudando com dedicação. Mas, assim que acabou sua última tarefa, um tenebroso trabalho de Poções de mais de 20 metros sobre as diversas Poções de Habilidades. Tenchi se reuniu aos demais em seus divertimentos.

O mais interessante para ele era, sem sombra de dúvidas, o Xadrez de Bruxo: Tenchi já tinha visto Rony jogar com Harry, Hermione ou algum de seus muitos irmãos, mas ele nunca imaginou que seria algo tão complexo. Ele percebeu desde o primeiro momento que não era apenas uma questão de fazer as pedras moverem-se, mas sim de as convencer a irem e também de, ocasionalmente, escutar os conselhos delas, que podiam ser muito úteis quando ouvidos no momento certo.

Tenchi jogava com um jogo de peças que Simas Finnigan tinha lhe emprestado (e que anteriormente, Simas emprestara a Harry). Definitivamente, aquilo o irritava: as peças ficavam sempre comentando os seus lances como se ele tivesse o mesmo cérebro de um trasgo mongolóide, e o subestimavam. Isso definitivamente deixava Tenchi maluco de raiva, sendo que duas vezes ficou com vontade de pegar a estúpida rainha branca e a arremessar pela janela.

Sassami estava mais feliz que Tenchi: suas amigas, Tiffany e Tammy, decidiram ficar em Hogwarts para as festas de Natal. As três se divertiam muito, junto com Aeka.

Tenchi não escondia, porém, que a revelação de que Surien poderia estar usando-se de biomorfos para criar um exército totalmente leal a ele o deixava nervoso. Foi Katsuhito que, durante uma partida de go em seu escritório, questionou Tenchi:

- Vejo que está nervoso, Tenchi...

- Vovô... Eu fiquei preocupado: andei lendo as informações do Monstruoso Livro dos Monstros como preparação para os N.O.M.s. E vi coisas sobre manticoras, dragões, dementadores, hipogrifos... Quero dizer: Surien deve ter um arsenal de criaturas das quais tirar DNA para a criação dos biomorfos. Será que vamos pará-lo?

- Pode ter certeza, Tenchi, que a pequena Washu está pensando em alguma idéia quanto a isso.

- E Dumbledore? Já sabe sobre isso?

- Sim... Andei comentando com ele, e parece que ele já imaginava isso, pois Snape lhe trouxe uma suspeita de que Voldemort estaria pegando bruxos, trouxas e criaturas mágicas diversas e as seqüestrando. Snape não confirmou, mas aparentemente Dumbledore sabe que Voldemort está com propósitos malignos para essas criaturas...

- E Surien, obviamente, estaria envolvido.

- Exato... Mas esqueça isso, ao menos por enquanto. Lembre-se que é o recesso de Natal. Divirta-se e aproveite o momento...

Tenchi decidiu seguir o conselho de seu avô. E foi nesse espírito que ele acordou no dia 25 de Dezembro:

- Feliz Natal, Tenchi! - disse Rony.

- Feliz Natal, Rony! Feliz Natal, Harry! - disse Tenchi.

- Feliz Natal, Tenchi! - disse Harry.

- Olha, presentes! - disse Rony.

Os três começaram a desembrulhar os pacotes que estavam aos pés de suas camas. Tenchi então viu os seus: seu avô havia lhe dado um jogo de go muito bonito, em cristal, com pedras bonitas, de cores branca e negra, em um estojo lateral. Ryoko mandara uma bonita (e ameaçadora!!!!) no-daichi, espada tradicional japonesa de duas mãos. Aeka e Sassami lhe mandaram alguns moti (doce de arroz) feitos pela própria Sassami (como ela fez?, Tenchi se perguntava). Myoshi e Kyone lhe deram um livro sobre as Leis dos Bruxos, recomendado e comprado por Lupin, enquanto Washu deu a ele uma coleção "Bases Elementais da Magia", com vários tomos, guardados em uma pequena urna de bronze. Katsuhito, ao saber da compra de Washu, também mandou a Tenchi um novo Malão, com sete trancas e sete chaves, cujo conteúdo mudava conforme a tranca que abria o malão.

Harry deu a Tenchi um Estojo de Manutenção de Vassouras, Rony um livro "Voando com os Cannons" e Hermione um estojo compacto de bolas de Quadribol. Foi quando Tenchi foi abrir o seu último pacote, disforme, quando estava de frente para Rony. Rony ficou com as orelhas muito vermelhas:

- Não... pode... ser... - disse Rony.

- O que? - perguntou-se Tenchi, ao abrir o pacote.

Dentro dele, uma suéter de cor branca, com um sol vermelho no centro apareceu, junto com algumas barras de chocolate caseiras e empadas de carne.

- Eu não acredito... Até para você, Tenchi! - disse Rony - Mamãe mandou-lhe uma suéter Weasley!

Foi quando Tenchi percebeu que Rony apontava para a suéter marrom que vestia, com um grande R dourado no peito. Harry também desembrulhara uma: era verde-garrafa, com um H em uma cor dourada.

- Bem... - disse Tenchi, vestindo a suéter - Ela é bem bonita! E bem quente também!

- A sua ao menos é legal! - disse Rony.

- Oi, pessoal! Feliz Natal! - disse Hermione.

- Ah não! Agora você também, Hermione? - disse Rony apontando para o peito da garota.

Hermione vestia uma suéter de cor marrom dourado, com um livro vermelho bordado, e as letras H e G também em marrom dourado sobre o mesmo, uma sobrepondo a outra.

- Ahn... Ah, quanto a isso: sim, Rony, sua mãe mandou! - disse ela - É bem bonita! E eu gostei muito!

Rony ficou meio encabulado:

- O que foi, Rony? - disse Tenchi.

- Bem... É que minha mãe faz uma dessas todo ano para mim e pros meus irmãos... Sempre igual: sempre cor de tijolo! - disse Rony - Sabe... As vezes é uma droga ser pobre...

- Anda! - disse Tenchi - Esquece isso! Hoje é Natal! Vamos nos divertir.

E realmente, Rony acabou esquecendo tudo, e assim como Tenchi, divertiu-se: um café da manhã fantástico, depois conversar na torre da Grifinória até a hora do almoço. Foi quando Tenchi viu que Aeka, Sassami e seu avô Katsuhito estavam sentados à mesa de Grifinória, enquanto as mesas das outras casas estavam praticamente vazias:

- Vovô...

- Pensou que iríamos almoçar no Natal longe de você, Tenchi? – disse Aeka.

- O Natal é um dia de ficarmos todos juntos, mesmo que o shinto não tenha no Natal um dia de festa. - disse Katsuhito.

O almoço de Natal em Hogwarts era esplêndido: cem perus gordos assados, batatas assadas e fritas, rosbife, carnes assadas, salada, molhos... enfim, todo o tipo de comidas gostosas que Tenchi conseguia imaginar. E, de tempos em tempos, vinham as bombinhas de bruxo, que eram muito interessantes: bastava puxar um barbantinho que elas explodiam, fazendo um grande barulho, e despejavam brinquedos e brindes natalinos no colo de quem puxou.

Após o almoço de Natal, graças aos brindes que ganhara nas bombinhas de bruxo, Tenchi tinha dois jogos de xadrez de bruxo, um de Snap Explosivo, um de go, dois de mahjongg, com desenhos que se mexiam e um conjunto de caligrafia japonesa com uma pena, um tinteiro de nanquim e folhas do papel arroz tradicional para isso.

Depois, Tenchi participou de uma disputa animadíssima de bolas de neve contra os Weasley, Harry, Mione, Sassami, Tammy e Tiffany. Os gêmeos Weasley eram muito bons nisso: cada bola de neve que eles arremessavam parecia levar a nocaute alguém do time de Tenchi, que desabava sobre a neve pelo impacto das bolas.

Eles ficaram nessa diversão até que o sol começou a se por, quando voltaram para a torre de Grifinória, aonde sanduíches de peru e chocolate quente bem preparado os aguardava.

Mas Tenchi não conseguia esquecer-se que não tinha ido para Hogwarts a passeio. Que tinham que auxiliar Kyone e Myoshi a capturarem Surien. Eles sabiam que Surien estava esperando, e foi decidido entre eles que o ataque contra Surien só seria feito quando ele decidisse atacar, para lhe dar a ilusão que teria a surpresa como aliada.

Mas Tenchi não imaginava que logo aconteceria um ataque...


- Chega, Surien! - disse Voldemort - Estou farto de suas experiências! Quero resultados!

- Você os terá, Lorde! - disse Surien, com sua calma mortal - É necessário e sábio ter paciência.

- Minha paciência está se esgotando, Surien! Espero que não demore, ou...

Voldemort prendeu a respiração: um barulho podia ser ouvido, como o barulho de uma criatura profana nascendo de um ovo abjeto e perdido no tempo. Um barulho, depois outro, semelhante, e o de algo sendo rasgado.

De um dos úteros profanos, podia-se ver uma criatura saindo: era de formato humanóide, mas sua cabeça era de forma de rapina, com um grande bico projetando-se de sua cabeça, como se fosse um visor protegendo os olhos da criatura. Possuía as unhas em forma de garras, e seus dedos eram longos e ressecados. Sua pele possuía escamas longas, que cobria o braço em camadas, como placas de uma armadura. Em seu braço direito, uma longa protuberância, como uma espada, podia ser vista. De trás do capacete, uma grande massa de cabelos louros doentios podiam ser vistos. Uma espécie de cristal era visível em seu peito, que também era protegido por placas como de uma armadura. As pernas também possuíam garras em seus três dedos, como os de uma ave de rapina. Asas como as de uma ave de rapina podiam ser vistas ligando o peito aos braços. A criatura parecia não ter boca, embora tenha-se inclinado e dado um guincho terrível, como o barulho de mil coisas profanas nascendo: um grito de humano, misturado ao rosnar de um trasgo, e o urro de um dragão misturado ao cantar de um fiunnn.

A criatura caiu ajoelhada no chão, enquanto um estranho e profano cordão umbilical desconectava-se sozinho de suas costas. Ela lentamente ficou ereta. Dois trasgos tentaram impedi-la de avançar: um foi morto com a protuberância em forma de espada, o outro teve o pescoço quebrado antes que seu cérebro diminuto percebesse o que aconteceu. Ela continuou avançando, lenta e inexoravelmente. Três bruxos de máscara e capuz sacaram suas varinhas, tentando todo tipo de magia, que refletia em suas escamas armaduradas. Tarde demais eles perceberam que suas magias eram inúteis: as garras das mãos evisceraram dois deles, enquanto o terceiro foi empalado pela lâmina, que estava recolhida e foi ejetada como se fosse um soco.

A criatura continuou avançando, até que parou bem diante de Surien e Voldemort: ao chegar perto, ela colocou a lâmina sobre o peito, em uma posição de respeito e fidelidade:

- Quem é o seu mestre, filho do amálgama? - disse Surien.

- Voldemort! - disse a criatura, como gritando, mas soltando um sussurro com a voz sibilada.

- Você morreria por seu mestre, seu criador? - disse Voldemort.

- Sim! - disse a criatura, devotada até o fim ao seu mestre.

- Você é a primeira, mas não será a única! - disse Surien – Porém, como sua matriz foi mais bem escolhida, você renasceu mais rapidamente. É mais forte, ágil, esperta e resistente do que qualquer um de seus irmãos o será. Você está disposta a comandar seus irmãos contra os inimigos de seu mestre, aonde quer que eles estejam, a qualquer momento, dia e noite, sob qualquer circunstância, e os eliminar, para honra de seu mestre?

- Sim!

- Está satisfeito, milord? - disse Surien - Essa é ou não uma arte poderosa?

- Sim... - disse Voldemort - Sim! Estou satisfeitíssimo!

Depois, Voldemort voltou-se à criatura:

- Criatura da amálgama, eu te denomino Steel Harpy! Você deverá aguardar seus irmãos renascerem, para que possamos levar nosso terror até os corações de meus inimigos. Quanto a esses fracos - disse Voldemort, apontando os três bruxos caídos no chão - fique com eles! Que eles sejam seu alimento nesse renascimento e que este seja seu lar, até que eu a mande lutar!

A criatura recolheu a lâmina de seu braço direito, e deitou-se sobre os três mortos: começou a sorver-lhes o sangue e a comer-lhes a carne, enquanto dava guinchos alucinados de alegria na morte alheia. Pois agora, seja o que ela tinha sido antes de renascer, ela fartava-se na morte alheia, e a todas as criaturas desejava apenas a morte. Sua vida era a própria representação da morte. Ela era a morte.

- Surien... Essa criatura é totalmente confiável?

- Sim, milord! - disse Surien - Não há criatura mais obediente que ela... Ela irá morrer por você, milord! Ela existe apenas para te servir.

- Ótimo. Espero que tal criatura seja realmente tão poderosa quanto você diz.

- Espere o momento certo... Depois, pode lançá-los contra os alvos que desejar. Eles não o decepcionarão.

Novamente, a risada fria podia ser ouvida, como a de uma criança sedenta de sangue...