Sirius foi imediatamente preso e julgado, assim como Rabicho. Sirius foi libertado de suas penas, sendo-lhe imposto um ano de trabalho social na Escola de Hogwarts como "pena" por Uso Ilegal de Animagia. Já Pedro foi condenado à prisão perpétua em Askaban. Narcisa fora colocada em uma ala especial na Ala Hospitalar, de forma a preservá-la do constrangimento: apenas Draco visitava-a.
Entrementes, a libertação de Sirius e a imposição dos serviços comunitários à ele foram uma ótima desculpa para que ele mantivesse contato mais fácil entre Hogwarts e Yagami. Nesse meio tempo, Washu já tinha aprendido a jogar xadrez de bruxo com Lupin, enquanto Ryoko divertia-se com diversos jogos que usavam o baralho de Snap Explosivo em seu lugar. Myoshi e Kyone procuravam manter a Galáxia Policial informada de todos os seus passos:
- Isso mesmo, comandante! O foragido Surien se associou a um criminoso bruxo terráqueo de nome Voldemort e está utilizando-se de técnicas proibidas de modificação biomórfica de seres vivos!
- E porque não capturaram-o ainda, Detetive Kyone?
- Senhor, a localização da base desse criminoso bruxo terráqueo Voldemort, ao qual Surien se associou, é desconhecida: por algum motivo, não conseguimos rastrear ninguém, embora já tenhamos tentado o rastreamento por meio de localizadores hiper-espaciais, ainda mais por estarmos contando com o auxílio de Washu...
- Não gosto disso: Washu tem muitos segredos que ela não contou para ninguém... Tomem muito cuidado.
- Sim, comandante! - disse Kyone - Câmbio desligo!
O comunicador hiper-espacial terminou sua transmissão. Kyone e Myoshi voltaram ao salão de recreação, aonde Sirius tinha acabado de chegar e começou a disputar uma partida de Pôquer com Snap Explosivo contra Ryoko. Na mesa ao lado, Lupin e Washu disputavam xadrez de bruxo (Washu usava um jogo que Tenchi deixara para ela):
- Cavalo na f6, xeque. - disse Washu, enquanto seu impetuoso cavalo se aproximava corajosa mas temerariamente do grupo de peões que protegiam o rei de Lupin.
- Peão da g7 em f6. - disse Lupin, e o peão de Lupin golpeou de forma muito violenta o cavalo de Washu.
- Pequena Washu, precisávamos lhe perguntar uma coisa... - disse Kyone.
- Sim.
- O que você sabe sobre Surien?
Pela primeira vez, Washu demonstrou algum tipo de preocupação: desde que Kyone conheceu Washu, nunca imaginou que o Grande Gênio Científico do Universo tinha algo a esconder. Mas parecia que era justamente aquilo que estava acontecendo: Washu sabia demais.
- Então, o comandante estava certo... Você sabe algo sobre Surien e não quer dizer! - disse Kyone, acusativamente.
- Calma, Kyone! Eu não estou escondendo Surien, se é isso que está pensando! - disse Washu.
- Não é isso, mas é estranho você conhecer tantas coisas que Surien pode usar, a biomorfose e tudo o mais. - disse Myoshi.
- Qual é o segredo seu, Washu? - disse Kyone.
- Tá bem... Eu vou contar tudo o que sei sobre Surien, mas espero que estejam preparadas, pois vão ser coisas que irão chocar vocês!
- Vá direto ao assunto, Washu! - disse Kyone, em seu tom competente.
- Bem, Surien foi meu pupilo. - disse Washu, envergonhada e enojada.
- Como é?! - disse Ryoko - Quer dizer que você sabia tanto sobre Surien porque ele era seu pupilo?
- Exato. Como vocês todos já sabem, fiquei aprisionada na Cápsula de Contenção por mais de 2000 anos. Mas antes disso eu era a cientista mais respeitada do Universo Jurai. Bem, não eram poucos os garotos e garotas que me procuravam desejando que eu os tutelasse no estudo científico. Mas nenhum deles me interessou. Isso até que quando eu tinha 400 anos de idade, apareceu Surien.
- Quando eu o conheci, Surien era ainda um garoto, e eu nunca imaginava que por trás daquele rosto meigo e amigo se escondia uma mente psicopata. Voltando ao assunto, Surien e eu passamos a trabalhar juntos em milhares de projetos, inclusive estudos de genética.
- Naquela época, os estudos de genética já eram avançados, mas não tanto quanto os são atualmente. Atualmente podemos fazer clonagem fracionada de órgãos, ou seja, gerar órgãos 100 compatíveis aos de uma pessoa baseado na clonagem apenas do mesmo. Mas muitas coisas aconteceram para que o estudo da genética chegasse ao nível atual. E eu e Surien participávamos desse processo.
- Meu interesse era a transgenia, ou seja, a possibilidade de criar-se espécies vivas novas a partir de combinações de características desejadas de espécies pré-existentes. Isso não era fácil naquele período: o conhecimento sobre as capacidades recombinantes do DNA era muito pequeno, e esse conhecimento era esparso. Não havia uma disciplina formada sobre a matéria.
- Eu e Surien nos aplicávamos, até que conseguimos criar Ryoko. – disse Washu - De certa forma, Ryoko era a realização dos meus sonhos: a primeira raça transgênica perfeita, com espaço na natureza e possibilidade de agir naturalmente em uma biosfera e em um ecossistema, capaz de reproduzir-se... Dessa forma, eu estava realizada.
- Mas Surien não era o Surien que eu conhecia: suas pesquisas estavam indo para caminhos estranhos, que eu não imaginava na época. Ele realizava a maior parte das suas experiências com cobaias múltiplas, mas nenhuma delas, ou seus corpos, jamais retornaram. Foi nesse momento que eu passei a suspeitar que Surien estava fazendo algo errado. Foi quando:
"Washu caminhava pelo corredor por onde Surien entrou. Ao chegar na parede do outro extremo, Washu sorriu e disse:
- Não dessa vez, Surien! Seja qual for essa sua "pesquisa secreta", você não vai a ocultar de mim!
Washu baixou seu Visor Termográfico e descobriu que ali de frente era uma porta. O que havia do outro lado ela não era capaz de ver, mas ainda assim era tudo uma questão de revistar com o Anulador Transmolecular a região ao redor e procurar aonde estava a tranca da porta de Surien. Encontrou a entrada do cartão de abertura e interfaceou o sistema da porta com o cartão de arrombamento especialmente desenvolvido por ela. Em questão de segundos, ela já tinha a senha de acesso e uma leitura falsa para devolver ao sistema de biometria analítica. A porta se abriu.
Washu nunca imaginou que Surien conseguiu construir um laboratório científico bem abaixo do seu, e com tão grande tamanho. Ela então ativou seu rastreador de DNA e o colocou para procurar Surien. O sinal estava fraco em uma direção, e Washu seguiu nela.
Durante uma hora ela andou, vendo o grande laboratório que Surien construíra. Era fantástico: apenas o pupilo do Maior Gênio Científico do Universo seria capaz de construir do zero algo de tão grande magnitude. Todo tipo de equipamento de análise e pesquisa estava disponível, bem como uma holo-biblioteca lotada do que havia de melhor e maior em ciências, sem desprezar um único pulso de dados, a medida espacial de transmissão de informação. Todas as ciências estavam lá, em todos os seus níveis, desde coisas primitivíssimas como vacinas até mesmo rejuvenescimento de células.
E foi quando ela o localizou. Surien estava perto. Havia apenas uma porta.
Uma porta de tranca tripla.
Washu teve que improvisar: colocou três cartões de arrombamento, um em cada uma das trancas digitais e as acionou. Criou um programa rápido em seu computador para interfacear as três entradas e, descobrindo as chaves, fornecer contra-chaves relacionadas.
Em dois minutos, a porta se abriu. E ela viu Surien.
Mas não era o Surien que ela conhecera e respeitara.
Surien ainda tinha os mesmos cabelos negros e olhos azuis, mas seu rosto parecia... maníaco. Ainda mais alto que Washu, Surien conseguia intimidar o Grande Gênio Científico do Universo com sua presença macabra.
- O que está acontecendo, Surien?
- Eu... fique esperando para descobrir quanto tempo a grande Washu descobriria meu pequeno laboratório secreto... - disse Surien, com cruel naturalidade.
- Nunca tivemos segredos entre nós, Surien! - disse Washu, zangada - Que experiência é essa que você não pode me mostrar? O que você está fazendo, Surien?
- O que VOCÊ deveria estar fazendo, Washu! - disse Surien,
rindo debochadamente.
'Definitivamente',
pensou Washu, 'este não é o Surien que eu
conheci... Ou será que eu é que não conheci o verdadeiro Surien?' Mas a
voz de Surien chamou-a de volta à realidade - Ampliando os horizontes da mente
humana! E não à toa, eu escolhi esse projeto. O ser humano é frágil: apenas uma
bolsa de ligas protéicas e complexos de ácidos graxos interligados e
impulsionados e ritmados por impulsos elétricos, tendo como sustentação frágeis
estruturas calcáreas e como defesas contra outros organismos apenas películas
de queratina apodrecida! Há raças muito mais fortes que os humanos: que tal os
shrikkak, que possuem armaduras blindadas de titânio orgânico? Ou os jyanaeris,
com sua pele sensível à luz, capaz de enxergar tudo em um raio de 360 graus
esféricos?
- Surien, já te disse: o ser humano é a raça mais forte do universo. Apesar de realmente ser tudo isso que você disse, são maravilhosos, tanto assim que eu e você somos humanos! O ser humano realmente não possui as visões especiais dos jyanaeris, ou as armaduras blindadas dos shrikkak, ou até mesmo a capacidade de sobreviver no espaço sem uso de roupas especiais como os Oh-Ki, mas para vencer suas próprias limitações, o ser humano desenvolveu a ciência... Você sabe disso tanto quanto eu!
- Sim, Washu... E é justamente por isso que estou trabalhando em segredo... no futuro da raça humana! - disse Surien, dramático.
O "futuro da raça humana" ao qual Surien se referia estava guardado em uma jaula: era semelhante a um cachorro, mas possuía uma estranha armadura óssea, como a de um tatu, ou antes, como a de um besouro. Da mesma forma, possuía um grande ferrão, semelhante ao do escorpião, e suas patas dianteiras pareciam-se também com pinças de escorpião. O rosto não existia, aparentemente substituído por um elmo ósseo de um verde doentio.
Washu ficou horrorizada ao ver aquilo:
- O que você fez, Surien?
- Simples: consegui formular o primeiro experimento prático de biomorfose eugênica bem sucedido da história!
- Biomorfose eugênica? - disse Washu, assustada com o que ouvira, como se Surien tivesse acabado de dizer um palavrão - Mas você sabe que os estudos de eugenia foram proibidos pelo Conselho da Sociedade de Ciência da Galáxia! Todos os experimentos resultavam em cobaias ensandecidas que causaram muita destruição, até mesmo destruindo planetas, como no caso do Projeto Fobos de Yahmesh-IV, que exterminou toda a população da região!
- O Conselho foi tolo! - disse Surien, ensandecido - O processo eugênico só consegue gerar criaturas terríveis e fortes... e com os DNAs decompostos corretos, lealdade total ao criador.
- DNAs decompostos?! Você... está... destruindo criaturas? – disse Washu.
- Para gerar Ryoko, você teve que utilizar-se de DNAs também!
- Mas não realizei a decomposição de outras criaturas! – disse Washu - Utilizei-me de óvulos e espermatozóides não utilizados no processo de fecundação que o corpo descartou! Depois foi uma questão de o recombinar corretamente! Mas você Surien... Utilizando-se de DNAs decompostos? Você sabe que isso equivale a matar essas criaturas!
- Apenas um pequeno passo para a ciência!
- Chega, Surien! - gritou Washu, seu rosto fervendo em fúria – Se existe uma coisa que eu sempre lhe ensinei é que a Ciência deve respeitar e preservar a Vida!
- Ora, Washu! - disse Surien - Está com medo?
Surien pressionou um pequeno painel, e uma cápsula fechou-se ao redor de Washu:
- Você vem sendo uma pedra no meu caminho, colocando tais éticas diante do processo científico! Tola! Você ainda vai se arrepender por ter me desafiado! Mas em consideração a todo o conhecimento útil que me deste, vou apenas a devolver para a sua nave. Não tente entrar nesse planeta novamente: se o fizer, será morta!
Surien apertou o botão e ejetou Washu.
E assim começou a guerra entre os dois."
- E foi assim. Desde então eu nunca mais aceitei outro pupilo, e comecei a criar armas para vencer as criaturas de Surien. Muitas das explosões que creditaram a mim eram na verdade coisas feitas por Surien. Outras tantas foram momentos de batalhas entre eu e Surien.
- Surien foi capturado e eu também, e ambos encontramos o mesmo destino: sermos colocados em Cápsulas de Contenção e ejetados no Cosmo.
- Agora, eu sei que não aconteceu por acaso! - disse Washu - Se Surien utilizar-se de sua biomorfose, ou a conseguir ampliar, estaremos encrencados. Afinal de contas, "qualquer tecnologia suficientemente avançada é comparável à magia", como disse um escritor trouxa terrestre.
- Isso é verdade! - disse Lupin - Mas, Washu, você tem uma idéia do que Surien pode estar fazendo...
- Não! Como eu disse para vocês, a biomorfose eugênica é um processo proibido... Não há pesquisas sobre ela: tudo que eu posso fazer é teorizar e tentar algumas simulações por computador. Mas não posso fornecer meios mágicos para impedir criaturas biomórficas: não conheço ainda o suficiente sobre a complexa Teoria da Magia para sequer imaginar uma teoria de um feitiço ou poção para isso... Venho trabalhando nisso nos últimos tempos, mas não consigo nada.
- Pode contar com a gente! - disse Sirius, que agora podia andar livre para qualquer lugar que desejasse - Vamos chutar o traseiro desse Surien e colocá-lo de volta na casinha!
- É isso aí! - disse Ryoko - Pode deixar, Washu querida, que eu vou fatiar esse Surien em tirinhas bem fininhas para você saborear!
- Surien será detido! - disse Kyone, eficiente - Nós da Galáxia Policial juramos.
- É isso mesmo, Washu! - disse Myoshi, só sorriso - Se anima!
- Obrigada, gente! - disse Washu, sorrindo - Mas vamos precisar trabalhar juntos! Lupin, quero que você e Sirius me ensinem tudo sobre a Teoria da Magia que puderem! Kyone, preciso de tudo que a GP possuir sobre biomorfose eugênica: eu sei que eles conseguiram encontrar muitos holodiscos de informações que o Surien ocultava. Ryoko, você ajuda Kyone e Myoshi a separar as informações.
- 'Xá comigo! - disse Ryoko, animada.
- Venha cá então, Washu! - disse Lupin - Quanto mais rápido você entender a teoria da magia, mais rápido podemos pensar em um feitiço para ferrar essas aberrações.
Bicuço dormia a sono solto, enquanto todos trabalhavam e não reparavam que alguém estava faltando.
Ryo Oh-Ki havia evadido-se de Yagami e corrido para a floresta...
