Tenchi, Harry e os demais não sabiam nada sobre o que estava acontecendo em Yagami, nem sobre a revelação da ligação misteriosa entre Washu e Surien, continuando a levar suas vidas de sempre. Foi quando, em uma certa segunda feira:
- E aí, gente, prontos para mais uma aula sobre os gatelhos? – disse Rony, enquanto tomavam café da manhã.
- Claro! - disse Tenchi.
- Agora, eu não compreendo como Hagrid achou os gatelhos tão legais, se eles não tem presas afiadas, venenos ou asas cortantes? - questionou Harry.
- Talvez o Hagrid esteja aprendendo... Sabe, é que só agora é que ele está se acostumando a dar aulas. - disse Hermione, sabia e eficientemente.
- Bem, antes vamos ter Herbologia, com o pessoal da Lufa-Lufa. Ao menos isso! Não vamos ter que encarar a cara de passa do Malfoy até a aula de Trato de Criaturas Mágicas.
Terminaram de tomar o café e foram para a aula de Herbologia, aonde já os aguardavam a professora Sprout, com suas roupas costumeiras (leia-se: parecendo alguém que rolou no chão). A aula daquele dia foi lidar com as mamonas venenosas da Amazônia, uma exótica planta mágica tropical que tinha pequenos ferrões com capacidade de eliminar uma poderosa solução cáustica, semelhante à da mamona comum, mas muito mais perigosa:
- A seiva cáustica é muito usada na limpeza e manutenção de vassouras, pois não deteriora as propriedades mágicas das mesmas como fazem os líquidos comuns. Mas é importante tomarem muito cuidado: a seiva pura corrói qualquer coisa com a qual entre em contato, exceto materiais mágicos poderosíssimos. Por isso mesmo, há nos balcões luvas extra-forte de couro de Rabo Córneo Húngaro e óculos feitas com vidro reforçado por magia. As equipes que forem melhor irão ganhar os óculos e luvas após o final da aula. Os demais terão que os devolver.
Neville, como de costume, tinha se saído muito bem naquela aula: sua equipe (que tinha também Simas Finnigan, Dino Thomas e Justino Finch-Fletchley) foi a melhor, seguida pela de Harry, Rony, Hermione e Tenchi. Apenas as duas receberam as luvas e óculos como prêmio por terem se saído bem. As demais equipes não se deram tão bem.
Depois, Harry e os demais alunos da Grifinória foram descendo para perto da Floresta Proibida, em direção da cabana de Hagrid, aonde teriam a aula de Trato de Criaturas Mágicas. O ano parecia ter sido dedicado por Hagrid aos gatelhos, mas até aquele momento todos os gatelhos com os quais Harry e os demais estavam lidando eram castanhos. Qual não foi a estranheza ao perceber que Hagrid havia trazido gatelhos brancos, cinzas, amarelados, marrom-caramelado e até mesmo alguns de pelugem avermelhada.
- Bom dia, gente! - disse Hagrid, bem animado - Conseguimos uma pequena doação de um criador de gatelhos de alguns espécimes diferentes de gatelho para trabalharmos. Os gatelhos com os quais trabalhamos até hoje, – disse Hagrid, apanhando um dos espécimes castanhos com os quais todos sabiam lidar - são os gatelhos comuns. Eles não possuem nenhuma habilidade mágica inerente. Agora, vamos estudar um pouco sobre as variedades dos gatelhos. Agora, alguém sabe qual é esse tipo aqui... - disse Hagrid, pegando um gatelho de pelo branco-acinzentado.
- Esse é o gatelho-das-neves, ou gatelho-mercúrio. - disse Hermione, com seu tradicional tom "eu-devorei-o-livro-de-Trato-de-Criaturas-Mágicas" - Possui velocidade elevadíssima, comparável à dos mais rápidos unicórnios. Existem registros de gatelhos-mercúrio que alcançaram a velocidade de Mach 1.
- Muito bem, acho que são mais 15 pontos para a Grifinória por isso! - disse Hagrid - Os gatelhos-mercúrio resistem muito bem ao frio, como vocês podem ver pela pele de pelo fofo que eles têm. Mas isso dificulta a vida deles em épocas de calor. Por isso mesmo, vamos trabalhar depois com eles em um criadouro climatizado por magia. - disse Hagrid, apontando para uma construção semelhante a uma das estufas da Profª Sprout. - Agora, e sobre esse aqui?
Foi a vez de Neville falar, ao ver o estranho gatelho de cor acaju:
- Gatelho do Fogo. Se ele ficar irritado ou estiver protegendo alguém, ele é capaz de projetar um hálito de fogo equivalente ao de um Rabo-Córneo Húngaro.
- Ora, Longbottom! - disse Malfoy, fazendo troça - Você acha que um trocinho desse pode machucar tanto assim?
O Gatelho do Fogo cuspiu uma pequena bola de fogo que atingiu as roupas de Draco, começando a queimá-la. Ele teve que retirar sua capa:
- Bicho maluco! - disse Draco, olhando revoltado para o gatelho e depois para Hagrid.
- A culpa é sua, Malfoy, se achou que um Gatelho do Fogo irritado não era problema! - disse Hagrid, com autoridade - Acho que menos 5 pontos para a Sonserina deverão ser o suficiente para fazer com que você entenda a seriedade das coisas aqui!
Malfoy obviamente ficou irritado, principalmente ao perceber as risadinhas vindas dos alunos da Grifinória, principalmente do trio Harry-Rony-Mione e de Neville. Ele adoraria retribuir aquilo, mas não era aula do Snape, e sim de Hagrid.
- Bem, e agora, que tal esse aqui? - disse Hagrid apontando para um gatelho de cor marrom-caramelada.
- Acho que sei sobre esses. São os gatelhos-florestais. - disse Rony.
- Certo, Rony. E qual é o poder deles?
- Eles podem ficar ocultos na floresta, utilizando-se de mimetismo. Além disso, possuem radar e inteligência extrema, podendo elaborarem táticas avançadíssimas de caça e luta.
- Muito bom, Rony. Agora veremos a última das variantes de gatelhos antes de irmos para os cuidados práticos. - disse Hagrid, pegando um bicho de cor cinza, cujos tons alteravam do cinza-claro ao grafite:
- Esse é o gatelho-diamantino. Seu pelo é espetado porque ele é extremamente afiado e resistente, formando uma camada protetora semelhante ao dos ouriços. Podem inflar e desinflar por magia os pelos, formando proteções poderosas, capazes de suportar praticamente tudo. Tanto assim que os pelos são utilizados como conta-gotas para materiais corrosivos usados em poções. - disse Harry
- Eu não poderia ter definido melhor. Agora, vamos ver as ati...
Antes que Hagrid fosse terminar, um gatelho, ou melhor, uma gatelha, saiu do mato, miando como se tivesse com fortes dores:
- Ryo Oh-Ki! - disse Tenchi
- Conhece esse gatelho, senhor Masaki? - disse Hagrid.
- Acho que é de Sassami, minha prima do primeiro ano.
Tenchi observou que Ryo Oh-Ki parecia inchada demais, com a barriga muito grande. Era quase como se ela tivesse...
- Grávida! - disse Hagrid, como se tivesse acabado de ganhar na loteria - Bem, meninos, é um momento raro, portanto nos dedicar a ele agora: senhor Masaki, acho melhor colocar as luvas de couro de dragão para ajudar ela a colocar esses bebês gatelhos no mundo.
- Tudo bem! - Tenchi apanhou as luvas de couro extra-forte de dentro de sua mochila e as colocou.
- OK! Agora, vamos com calma! - disse Hagrid - Se a gatelha colaborar, vai dar tudo certo!
- Ouviu, não é, Ryo Oh-Ki?
A gatelha fez que sim e continuou a miar e berrar de dor:
- Coloque a cabeça próxima à... - Hagrid ficou com um pouco de vergonha e disse - ...saída para ver se um dos gatelhinhos já está tentando sair.
Tenchi observou a "saída" e viu que pelo menos um dos gatelhos estava pronto para sair.
- OK! Agora, isso é importante, não puxe com força, senão vai arrancar a cabeça do gatelho. Apenas dê apoio e ajude o gatelhinho a sair, o trabalho deve ser da Ryo Oh-Ki... esse é o nome dela, não é? - Tenchi confirmou com a cabeça - Vamos então: agora, Tenchi!
Tenchi sentiu as duas orelhinhas e a cabeça do gatelhinho. Começou a forçá-lo com calma para fora, enquanto Ryo Oh-Ki fazia força. Alguns segundos depois, um berro indicava que o gatelhinho recém-nascido estava vivo e bem. Ele tinha uma coloração grafite com mechas cinza-claro sarapintadas por todo o (ralo) pelo dele.
- É isso aí, Tenchi! - disse Hagrid, enquanto os demais aplaudiam Tenchi (com a exceção de alguns sonserinos). Foi quando Hagrid percebeu que Ryo Oh-Ki ainda sentia contrações.
- Ops! Gravidez múltipla! - disse Hagrid - Bem, tanto melhor! Preciso de mais um voluntário para tirar mais um gatelhinho de dentro da Ryo Oh-Ki!
Hermione se prontificou de imediato, retirando suas luvas da mochila. O gatelhinho parecia não querer sair, ou tinha se enroscado:
- Essa... joça... não... quer... sair! - disse Hermione, ansiosa - Sai... Sai!
Hermione deu um puxão um pouco mais forte que desenroscou o gatelho e o tirou de dentro. Era de um tom todo marrom-caramelado, e era maior que o de Tenchi.
E aparentemente havia mais um.
Foi a vez de Harry tentar. O gatelho dele saiu com muita facilidade, e era totalmente branco, com algumas listras de branco-gelo para não ficar com aquela aparência lisinha.
E havia ainda mais um:
- A placenta ainda não saiu, o que quer dizer que tem ainda mais um gatelhinho lá dentro! - disse Hagrid - Aparentemente, só tem mais um, já que a Ryo Oh-Ki não está berrando mais do que antes. Rony, que tal ajudar?
Rony ficou todo vermelho de vergonha de dar uma de ama-seca, mas mesmo assim concordou. Por sorte, seu gatelho veio facinho, com uma grande e ensangüentada massa atrás. Era fácil perceber que era a placenta, pois os quatro gatelhinhos recém-saídos ainda estavam ligados à Ryo Oh-Ki. Ela então voltou-se e começou a comer a placenta, o que muitos alunos, principalmente as meninas, acharam nojento. Pode-se ouvir Pansy Parkinson virar-se de costa e vomitar:
- Calma, calma! Isso é natural! Após os partos, as gatelhas ficam realmente com vontade de se alimentar da própria placenta, é uma forma de recuperar proteínas perdidas!
Podia até ser natural, mas o fato era que ver um bicho metade gato-metade coelho engolindo uma massa que lembrava muito a um pedaço de carne esmigalhada e ensangüentada não era uma coisa muito bonita de ser vista. Mas o espetáculo de horror terminou rapidamente: Ryo Oh-Ki devorou em questão de segundos a placenta e também engoliu a maior parte do cordão umbilical de cada um dos quatro gatelhos.
- Agora vão... Foi uma aula divertida, não foi? - disse Hagrid, enquanto entregava Ryo Oh-Ki e os quatro gatelhinhos para Tenchi, Harry, Rony e Mione.
Hermione estava extasiada, assim como Harry, Tenchi e Rony, mas eles eram exceção. Os meninos e, principalmente, as meninas estavam enojados. Hermione ouviu Pansy falar:
- Então é assim que uma criatura nasce. Deus, é nojento!
- Deve ser, principalmente para alguém que é filha de chocadeira como você! - disse Hermione - E digo mais, filha do choco de um sapo!
Os grifinórios riram bastante, enquanto Pansy Parkinson tentava traduzir a mensagem. Draco então resolveu tomar as dores:
- E você então... Você não devia ter sequer nascido, sua grande...
Draco parou, ao ver que a Madame Pomfrey se aproximou dele:
- Senhor Malfoy, espero que não esteja arrumando confusão?
- Não... Madame Pomfrey... - disse Draco, envergonhado.
- Tenho boas notícias! Acompanhe-me à Ala Hospitalar!
Harry, Rony, Tenchi e Hermione nunca imaginaram que viriam Draco daquele jeito: um sorriso de "mamãe-quero-colinho" surgiu bem grande estampado no rosto dele. Enquanto Draco se retirava, e os demais sonserinos desciam as escadarias para as Masmorras, Harry, Tenchi, Rony e Hermione subiram as escadarias para a Torre da Grifinória, para devolver a Sassami Ryo Oh-Ki e os demais gatelhinhos:
- O que deu em Malfoy? - disse Rony.
- Eu sei lá! - respondeu Harry.
- O que será que aconteceu na Ala Hospitalar? Porque, seja o que for, deve ser bem importante para Draco ir todo contente. - pensou Hermione.
- A mãe dele! - disse Tenchi. - Talvez a biomorfose tenha sido desfeita completamente!
- Como? - disseram Rony e Harry.
- É claro! - disse Hermione - Nós nem nos demos conta de quanto tempo passou desde o ataque a Hogsmeade! Provavelmente Narcisa deixou de ser aquela aberração e voltou ao normal.
- Se é possível isso... - disse Rony. - Agora, fico me perguntando... Porque Draco está tão preocupado com sua mãe?
- Ninguém... gostaria de perder a mãe... eu acho. - disse Harry.
Naquele momento, os outros estranharam: Harry nunca foi muito de ser favorável a Draco. Mas parecia que o caso com Narcisa Malfoy o chocara de alguma maneira:
- Harry? - disse Hermione.
- Eu acho... que ninguém gostaria de ver a mãe morta...
A ficha então caiu: de certa forma, Harry entendia a dor de Draco: sua mãe estava, querendo ou não, em um estado crítico. A reversão da biomorfose não era algo simples. Talvez, mais do que ninguém em Hogwarts, Harry entendesse o que Draco sentia: afinal de contas, Harry não tinha mãe, e Draco chegou bem perto disso.
Os três passaram pelo corredor que dava acesso à Ala Hospitalar, quando viram Draco voltando. O mais impressionante foi os três verem Harry perguntar:
- E sua mãe, Malfoy?
- Veio tripudiar de mim, Potter?
- De jeito nenhum... Não tripudio com tais coisas...
A resposta de Harry foi um golpe em Draco: Draco percebeu que Harry estava sendo sincero naquilo, que Harry estava REALMENTE solidário com ele naquele momento. Foi então que, pela primeira vez desde que entraram em Hogwarts, Draco conseguiu responder a Harry de forma simpática:
- Ela está legal! Ainda tem escamas pelo corpo, mas vai ficar bem.
- Fico feliz. - disse Harry, sincero.
- Olha, Potter, tenho que reconhecer... Você é bem mais que uma cicatriz na testa! - disse Draco, descendo para o Salão Principal.
- Que cara mais esnobe! - disse Rony - "Você é bem mais que uma cicatriz na testa!". Francamente, esse cara dá nos nervos, não dá Harry?
- Não sei... Mas vou entender o que ele disse como um elogio! – disse Harry.
Algo estava mudando, Harry podia sentir. E estava mudando para valer.
Mal sabia Harry que as coisas iriam esquentar bastante.
- Aqueles veículos prometidos...
- Terminarão logo, Mestre! A tecnologia terrestre é muito primitiva, mesmo aquela dos que vocês denominam trouxas, mas com certeza é possível a adaptação.
- E os novos Filhos do Amálgama?
- Eu preciso de mais "voluntários"!
- Não precisa mais! - disse o senhor loiro - Eu me ofereço!
- Você, Lúcio Malfoy? - disse Voldemort.
- Para destruir os trouxas e todos os inimigos do meu amo, eu me torno qualquer coisa que ele desejar!
- Sua lealdade não será esquecida, Malfoy! Você terá a honra de criar a mais nova espécie de servos para mim!
- Eles se reproduzirão com facilidade e velocidade! - disse Surien - Sua nova prole será como a erva daninha que se espalha na plantação. Será o joio que sufocará o trigo dos inimigos de Lorde Voldemort!
- Não me importo com nada! - disse Lucio, enquanto entrava no sarcófago.
- Você está certo de que isso funcionará! - disse Voldemort.
- Claro! Minha ciência é a mais poderosa do Universo, assim como sua magia é a mais poderosa! E quando a ciência mais poderosa se une à magia mais poderosa, não há poder capaz de vencer tal combinação. - disse Surien, enquanto a canaleta que dava vazão aos líquidos de biomorfização era colocada sobre a cabeça de Lúcio.
- Está realmente pronto a isso? - disse Voldemort.
- Sim, milord! Jurei que iria lutar por você quando me tornei seu Comensal! Vou cumprir meu juramento! - disse Lúcio.
- Você terá a maior de todas as honrarias, Lucio! Será a criatura mais forte do meu séqüito, meu segundo em comando! - disse Voldemort – Comecem!
O líquido desceu. Inicialmente Lucio Malfoy começou a gritar de dor, mas os gritos foram dando lugar às risadas, risadas ensandecidas, de gozo e prazer na dor, na dor que estava sofrendo e na dor que viria causar aos outros. Ele renasceria. Mais forte. Mais rápido. Mais esperto. Mais letal. Para servir melhor a seu Mestre.
E nisso, Voldemort riu, uma risada fria, sem vida, que ecoou por todos os lados:
- Prepare-se, Potter! Prepare-se, Dumbledore! Seus tolos! Vocês serão o primeiro alvo! E Hogwarts irá encontrar o destino que sempre foi reservada a ela: ser o lar dos bruxos de verdade, o maior centro de Magia Negra de todos os tempos... É só uma questão de tempo! Hahahahahahahah...
E aquela risada pode ser ouvida em vários locais.
Inclusive nos sonhos de Harry Potter...
