Uma coisa tinha que se admitir em Washu: ela era uma aprendiz rápida, e conseguia teorizar sobre todos os assuntos em questão de segundos, desde que tivesse uma pequena base. Foi assim que Washu, junto com Remo e Sirius estudaram toda a Teoria da Magia possível para o pouco tempo que tinham. Obviamente, como uma cientista, Washu achou que teve MUITO pouco tempo para estudar a Teoria da Magia, em suas múltiplas vertentes, mas o que estudou foi mais do que o suficiente para conseguir resultados úteis:
- Bem, teorizei algumas magias... Não sei se irão funcionar, mas acho que devem resolver em embates entre múltiplos alvos e um único bruxo.
- Diga então Washu! - disse Sirius, enquanto os demais apenas ouviam.
- Estudei uma série de feitiços que chamo de série múltipla. Cada um desses é capaz de alvejar um grupo de inimigos bem significativos apenas com uma mágica.
- O primeiro é o feitiço do Múltiplo Desarmamento. Ele funciona como o feitiço de Desarmamento tradicional, o Expelliarmus, mas com um poder de afetar muitos alvos ao mesmo tempo: na verdade, se meus cálculos estão corretos, todos os alvos na linha de visão.
- OK, com é que se faz? - disse Sirius.
- Bem, pelo que pude teorizar, basta um movimento rápido de varinha de um lado para o outro, como se a varinha fosse uma espada ou faca, e dizer a Fórmula Mágica Legio Expelliarmorius. Simples.
Washu então colocou Ryoko, Kyone e Myoshi diante de Sirius e Remo:
- OK! Meninas, mandem ver!
Ryoko, Myoshi e Kyone sacaram suas armas e dispararam na direção dos dois. Sirius, antes que Lupin percebe-se, tomou a iniciativa:
- Legio Expelliarmorius! - disse Sirius.
As três sentiram o golpe do Feitiço de Desarmar: foram projetadas para trás por alguma distância, e logo em seguida foram desarmadas.
- Muito bom isso! - disse Sirius, arfando. - Mas cansa!
- Imaginei que isso fosse acontecer: os feitiços da Série Múltipla exigem muito mais poder mágico e força vital do que suas versões mais simples. Lupin, que tal testar o próximo enquanto Sirius descansa.
- OK! Qual é o próximo desse feitiços?
- Múltiplo Impedimento. Equivale à Impedimenta. Esse feitiço é ainda mais exigente que o Legio Expelliarmorius, pois a Azaração do Impedimento é mais difícil de ser usada que o Feitiço de Desarmar.
- Tudo bem. Formula mágica?
- Legio Impedimentae! Basta girar a varinha na frente dos alvos!
- Certo!
Washu, Ryoko, Myoshi e Kyone se levantaram:
- Ai, isso dói! - disse Myoshi.
- Bem, é importante que eles conheçam as alternativas mágicas que lhes dou. Depois vocês receberão também armamento para lutarem contra Surien.
- Certo! - disse Kyone, engatilhando sua arma laser.
- OK! Remo, está pronto?
- Pronto! - disse Lupin.
- Podem mandar ver, meninas!
As quatro novamente partiram em disparada:
- Legio Impedimentae! - disse Remo.
Todas estacaram na hora, exceto Myoshi:
- O... que... está... havendo? - disse Ryoko, com dificuldade de fala.
- Estamos... congeladas! - disse Kyone.
- Finite Incantatem! - disse Lupin, e as três voltaram ao normal.
- Porque eu me movi? - disse Myoshi.
- Talvez porque eu não tenha conseguido energizar bem. - disse Lupin. Lupin não estava arfando como Sirius - Acho que soltei a magia bem fraca, para me poupar!
- Você está certo, Remo! Todas as magias Legio têm que serem energizadas ao máximo possível. Ë como o Feitiço do Patrono que você me descreveu: como você não colocou toda a sua força nele, Myoshi conseguiu vencer o feitiço, ou melhor, o feitiço não teve forças para frear as quatro.
- Bom saber! - disse Sirius - Não vou poupar energia para barrar os Comensais!
- OK! O próximo feitiço é o Múltiplo Estuporamento, ou Legio Estupora. Basta fazer uma cruz com a varinha, buscando marcar os alvos. É importante que cada alvo a ser estuporado seja alvejado pela varinha.
- Entendi... Acho! - disse Lupin.
- Tudo bem! Agora vamos nessa! - disse Washu.
Novamente as quatro se prepararam para irem ao combate:
- Legio Estupora! - disse Lupin. Dessa vez, ele esforçou-se um pouco mais, cansando-se fisicamente um pouco. Mas o feitiço foi bem efetivo: as quatro foram nocauteadas.
- Incrível! - disse Sirius. - Quantos Comensais podemos nocautear assim?
- Teoricamente todos os que tiverem na linha de visão! - disse Washu - Mas na verdade, acredito que não seja possível, exceto para bruxos muito poderosos, como Dumbledore e outros, nocautear mais do que uma dúzia deles sem que o próprio bruxo caia inconsciente. Claro que estou falando tudo em teoria, pois nunca tentou-se isso antes...
- OK, e agora, tem mais um feitiço?
- Tem, e esse por sorte é o menos exigente em cansaço, embora seja tão exigente quanto o Legio Estupora para efeito de habilidade. O nome dele é Legio Enervares, e ele funciona como o Enervate tradicional, mas novamente para múltiplos alvos.
- Bem, vamos tentar. - disse Sirius.
- Basta mover a varinha lentamente sobre os alvos, enquanto diz a invocação.
- OK! - disse Sirius, apontando sua varinha para as quatro - Legio Enervares!
As quatro garotas foram lentamente acordando, como se tivessem saindo de um sono muito longo:
- Ahnnn... - disse Myoshi - O... que... aconteceu?...
- Esperem não sentir isso quando estiverem lutando contra bruxos de verdade. - disse Sirius - Vocês foram nocauteadas, ou como nós dizemos, estuporadas.
- Ai... - disse Ryoko - Isso é realmente uma droga! Espero que a pequena Washu não tenha mais nenhum feitiço para usar-nos de cobaia.
- Não... O último feitiço meu é um que provavelmente irá desfazer ou ao menos nocautear qualquer biomorfo. O nome do feitiço é Biomorphos Reversivus. Esse Feitiço de Reversão da Biomorfose é um feitiço muito experimental: não tive tempo de prepará-lo corretamente, apenas comparei por simulações. Não posso garantir que ele vá funcionar, embora possa garantir que não haverá efeitos colaterais.
- Já é alguma coisa... Pelo menos não terei tentáculos saindo no meu braço se tudo der errado! - disse Sirius.
- Estou falando sério, Sirius! - disse Washu - Você viu como a mãe do Malfoy ficou poderosa depois de passar por uma biomorfose! Além disso, a criatura biomorfizada fica totalmente insana! Não há como parar um biomorfo enlouquecido! Tentem não se aproximar demais dos biomorfos: se o feitiço falhar, ao menos terão tempo para recuar e abrir caminho para Kyone e Myoshi.
- Se a Ryo Oh-Ki estivesse aqui! - disse Ryoko - Ela fugiu para Hogwarts, atrás da Sassami...
- Ela está bem! - disse Washu.
- Poderíamos implantar algum tipo de canhão de ondas anti-biomorfose na Yagami também, pequena Washu.
- Não sei... - disse Washu - Não sei se os motores e energizadores da Yagami suportariam. Mas não deixa de ser uma boa idéia.
- Bem, - disse Sirius - acho que estamos bem armados para a vinda de Voldemort. Aquele crápula me paga... Tiago... Lilian... Frank... treze anos de humilhação e dor em Askaban... Ele me paga cada segundo de tudo isso!
Mas Sirius sabia que Voldemort também estava se preparando, e que não iria ser nada fácil vencê-lo, como ele se prometeu fazer.
- E os veículos estão prontos? - disse Voldemort.
- Ao menos um deles. - disse Surien - O outro ficará pronto em breve.
- E quanto aos novos Filhos da Amálgama?
- Veja você mesmo!
Voldemort observou a mão longa apresentando a sua criação: eram todos humanóides gigantes, que acabaram de brotar de dentro do corpo de muitos trouxas seqüestrados por Voldemort e por seus Comensais. Eles tinham todo tipo de armas naturais: garras, presas afiadas, lâminas, espinhos venenosos, ferrões nocivos. Alguns deles tinham furos nas costas de onde podiam emanar uma nuvem de gás fétido e nocivo. Outros, furos semelhantes que disparavam poderosas cargas explosivas. Muitos deles também possuíam uma segunda boca na língua, que tinha o formato de uma cobra, como no símbolo de seu Mestre.
E entre eles havia um principal, um mais poderoso, um mais esperto, um mais letal. Seu comandante.
Ele era mais alto que a maioria dos demais, e utilizava um elmo ósseo prateado sobre a cabeça. Os cabelos, de um loiro-branco doentio, eram amarrados em rabo-de-cavalo na sua cabeça. O elmo, prolongado em um bico de rapina, não ocultava a boca de dentes de tubarão que serrilhavam em sua boca, com um sorriso maníaco. Sua pele era dura e queratinada, óssea, como o dos insetos, mas formando placas e escamas, como se fosse um peixe ou uma tartaruga, formando algo semelhante a uma armadura completa. Da metade dos braços, duas protuberâncias na forma de espadas brotavam, afiadas. Suas mãos, com cinco dedos como a dos humanos, terminavam porém em garras. Um grande couro unia os braços ao peito, tal qual as asas cartilaginosas de morcego. As pernas eram grossas, e os pés coriáceos tinham garras em seus três dedos. De suas costas, saia um grande ferrão, e da ponta do ferrão, uma espécie de agulha, como o de uma seringa de injeção.
- Tragam mais um! - disse Voldemort.
Dois Comensais mascarados entraram, agarrando uma bela moça, que tentava se debater. A mesma observava o que estava acontecendo, e gritava em desespero, implorando piedade. Surien apenas assistia, deliciado, como quem já vira milhares de vezes o mesmo filme, mas que mesmo assim apreciava o ápice do mesmo. Voldemort tinha uma expressão sadicamente alegre. Ele sabia o destino que aguardava a garota, vestida em jeans e camiseta, roupas que eram abomináveis na visão de Voldemort.
A garota foi presa às paredes. Os biomorfos observavam com calma, alguns com expectativa, outros com um sádico júbilo. Todos eles sabiam o que estava para acontecer. Pois foi dessa forma que todos eles ali surgiram.
O maior deles foi até diante da jovem, e atacou-a no peito com o ferrão. A mulher gritou, gritou como nunca. Os sorrisos de Surien e Voldemort se abriram ainda mais. Do ferrão, uma coisa verde e gosmenta surgiu. Tão rápido quanto surgiu, ele desapareceu, injetado no peito da mulher. A mulher começou a lentamente convulsionar, quando ela foi solta das paredes. Os biomorfos não a tocara, enquanto os dois bruxos conduziam para o meio deles a garota. Ao ser solta, ela começou a convulsionar com muito mais força, enquanto seu peito avolumava-se, como se uma coisa profana estivesse movendo-se dentro dele. Ela continuou nas convulsões, até que, lentamente, a pele do peito foi rasgando-se. O que se viu foi uma criatura inimaginável, incompreensível, cuja a mera imaginação é refratada pela mente humana, incapaz de compreender e de sequer assimilar a existência de algo como aquilo: bípede, de pés coriáceos, mas com mãos pinçadas como as do caranguejo e exoesqueleto como o dos insetos. Seus olhos desaparecidos atrás de olhevos, milhares, milhões deles. Nada havia da bela garota na forma insetóide que agora ajoelhava-se diante de seu algoz. De seu comandante.
- Esse número de Filhos deve ser suficiente! - disse Voldemort – Trabalhou bem, Killwind, meu Primeiro Filho, minha melhor criação.
O comandante apenas ajoelhou-se sobre os pés de Voldemort e disse, com uma voz intercalada com o zumbido de um inseto:
- Apenas me agrada servir, Mestre!
- Pois para me servir melhor, Killwind, devo devolver-lhe um objeto vindo de sua outra vida! - disse Voldemort.
Os bruxos trouxeram a Voldemort um pequeno pedaço de madeira, de 28 centímetros, mogno, ao qual entregaram a Killwind.
- Faça bom uso dela! - disse Voldemort.
Os dentes de tubarão curvaram-se em um sorriso, e ele disse aos bruxos:
- Me tragam um!
Os bruxos correram, temerosos, e rapidamente trouxeram um jovem, que implorava pela sua vida. Ele continuava a sorrir maníacamente quando ergueu a varinha e disse, apontando-a ao jovem:
- Avada Kedavra! – com sua voz zumbida.
Um lampejo de luz verde atingiu o peito do jovem, que caiu morto no mesmo instante. Então, ele observou a varinha, e apenas olhou com seus olhos ocultos para Voldemort:
- Pode trazê-lo! - disse Voldemort.
O ferrão entrou no peito do jovem morto, que, como a garota, convulsionou em velocidade cada vez maior até que ele ressurgisse, em uma forma horrenda, que brotou e se ajoelhou junto às demais.
- Vocês são agora meus! Para matar e para morrer por mim! Eu os livrei da ignorância dos trouxas para me servirem! Quem é o mestre de vocês? – disse Voldemort.
- Lorde Voldemort! – gritaram todos em coro. Era um coro horrendo: vozes humanas misturadas a zumbidos, urros, guinchos, zurros e todos os barulhos de uma selva enlouquecida.
- E o que vocês farão?
- Matar, Morrer, Servir!
- Pois bem! Vocês irão fazer tudo isso! Mas não agora! Preservem-se! Receberão comida e vítimas no momento certo! Por hora, descansem e pensem! Logo chegará o momento!
E Voldemort olhou para Surien, contente:
- Fizeste um bom serviço! - disse Voldemort.
- Sou seu servo, como todos os demais! E a mim cabe apenas servir! - disse a criatura, ajoelhando-se diante de Voldemort em uma mesura.
- E eu, como prometido, darei-lhe tudo o que desejar!
Os dois riram, e aquela risada maligna ecoou por todo o céu...
... e dentro da cabeça de Harry.
