Título: Os anjos de Anúbis
Ficwriter: Kaline Bogard
Classificação: yaoi, sobrenatural
Pares: YohjixKen
Resumo: Os gatinhos da Koneko se vêem envolvidos com uma nova parceira. Mas nada é tão simples quanto parece.
Os anjos de Anúbis
Kaline Bogard
Capitulo final – A vida continua.
São lembranças que se esquecem...
Ken despertou no momento em que Aya estacionou o carro. Depois de dormir por todo o percurso de volta, o jogador se sentia refeito... não havia mais resquícios do sonífero, nem da fraqueza que lhe dificultava os movimentos.
(Omi) Chegamos...
O sol começava a nascer, já ameaçando-os com promessas de um dia bem quente...
(Yohji) Foi uma longa viagem...
Não podia deixar de pensar em quanto era estranho o fato de não se lembrar de ter chegado àquela praia particular afastada...
Estendeu o braço para ajudar o amante, mas Ken recusou a oferta. Já se sentia capaz de agir por si mesmo.
Os quatro saíram em silêncio do carro, e entraram em casa.
Yohji abaixou-se para pegar o jornal do dia, que estava caído na porta como de costume.
(Omi) Preciso correr! Senão chego atrasado na aula e...
Parou espantado ao olhar para um dos cantos da sala e perceber os cacos da mesinha de centro, todos amontoados entre o tampo de vidro quebrado.
(Aya) Que diabos aconteceu?
O chibi não disse nada, lançou um olhar intrigado para o amante, e tratou de ir até a cozinha, voltando com uma vassoura e uma pequena pá.
(Omi) Estranho...
Ken respirou fundo, estava entendendo menos que os três amigos. Não expôs suas dúvidas, pois sabia que não teria respostas, e poderia deixa-los ainda mais confusos.
(Ken) Eu... vou trocar de roupa...
Aya e Omi olharam para o jogador, e apenas observaram enquanto ele subia as escadas. Yohji parecia muito interessado no jornal, e mal registrou o comunicado do namorado.
(Omi) Não vou ter tempo nem de tomar banho! Já estou atrasado...
(Yohji pensativo) Omi...
(Omi) O que foi?
(Yohji) Você diz que está atrasado para a aula?
(Omi) Claro! Já são mais de seis e meia!!
(Yohji) Hum...
Tanto Aya quanto o chibi olharam para Yohji, aguardando o que ele queria dizer... pois era óbvio que algo incomodava o companheiro...
(Aya irritado) O que foi, Yohji?
(Yohji) Aya, você se lembra que dia é hoje?
(Aya) Quarta feira.
(Yohji) Tem certeza?
(Aya) É CLARO.
(Omi) Onde você quer chegar, Yohji? Ontem foi terça feira, eu fiz prova de inglês na terceira aula...
(Aya) Se ontem foi terça... logo hoje é quarta feira...
Arremessando o jornal para o ruivo, Yohji perguntou:
(Yohji) E porque esse jornal está com data de domingo?
Aya empalideceu extremamente ao confirmar a veracidade do que Yohji dizia! Era jornal de domingo! Mas... ele não se recordava de mais nada além de terça feira a noite! Ou melhor, se lembrava de ir deitar-se, e depois...
(Omi) É impossível! Eu não me recordo do período referente a quarta, quinta e sexta feira!
(Yohji) Nem do sábado...
Ainda perplexo, Aya sentou-se no sofá, e escondeu o rosto com as mãos, respirando profundamente.
(Yohji) Talvez... Ken não esteja tão delirante assim...
(Omi) Você acha que o que ele disse sobre esses acontecimentos pode ser real?
(Aya) É óbvio que algo afetou nossas memórias, mas... a de Ken permanece intacta. A pergunta agora é: quem fez isso? E... porque?
(Yohji suspirando) Ih, isso tá parecendo um daqueles episódios de "Além da Imaginação"... acho que vou tomar um banho, e depois comer alguma coisa. Acabei de descobrir que eu perdi quatro dias da minha vida... preciso me acostumar com a idéia...
Subiu as escadas, indo em direção ao próprio quarto. Depois falaria com Ken...
Aya ainda observou o jornal em silêncio, sem querer acreditar no que era óbvio. Algo havia acontecido, e ele não podia simplesmente jogar a culpa no Ken...
(Omi) Vou... colocar isso lá fora...
(Aya) Hn.
Abriu o jornal, como que querendo confirmar que aquilo não era uma brincadeira de mal gosto. Mas sabia que não era. Não tinha um propósito... quem iria fazer aquilo? E porque?!
O ruivo estava extremamente irritado com aquela sensação. Se pudesse descontar em alguém, com certeza o faria.
Estava começando a achar que deveria subir e interrogar Ken mais a sério. Agora acreditava que era muito possível que o jogador estivesse dizendo verdades e não tendo alucinações derivadas de algum ato irresponsável.
Não parecia ser uma obra descuidada a fim de encobrir algum deslize por parte do moreno. A trama crescia aos olhos de Aya, como o enredo de um filme de mal gosto, onde ele e os outros integrantes da Weiss eram as vítimas.
Chegou a erguer-se e dar dois passos em direção do quarto do moreninho, mas ouviu a voz de Omi vindo do quintal dos fundos.
(Omi) Ayaa!!
Suspirando, o ruivo deu meia volta, e apressou-se em chegar até o amante, preocupado com o tom de voz empregado pelo chibi.
Ao abrir a porta da área, Aya parou e indagou de forma urgente:
(Aya) Está tudo bem? O que houve?
O loirinho esticou o braço, e indicou um desenho estranho no chão, riscado com giz. Parecia ser uma espécie de circulo mágico, com diversas inscrições sagradas feitas dentro dele.
(Aya surpreso) Que merda é essa?
(Omi) Eu queria saber...
Aya encarou o jovem amante e não disse nada. Sentiu-se cada vez mais mergulhado em um mar de dúvidas causadas por tantas descobertas surpreendentes. O que viria a seguir? O frio líder da Weiss não tinha certeza se queria saber a resposta.
oOo
Ken já havia tomado um banho rápido, e retirado as roupas que Koji lhe colocara. Se envergonhava ao se lembrar de que o bandido trocara suas roupas... mesmo que ele estivesse adormecido sob efeito dos soníferos... ainda assim era constrangedor.
(Ken) Puxa...
Estava secando o cabelo com uma toalha, quando uma mochila preta chamou sua atenção.
(Ken) É de Setsuko...
Ao entrar no quarto, o moreninho encontrara diversas fotos de si mesmo sobre a cama, e um dossiê completo relatando seus hábitos diários...
Ele desistira de tentar entender tudo aquilo. Sabia que não tinha todas as peças do quebra cabeças, e querer montá-lo não iria ajudar a manter sua sanidade...
O moreninho recolheu todas as fotos suas, as roupas de Setsuko e guardou dentro da mochila. Então prestou atenção em uma das fotos que estava sobre a cômoda. Era uma imagem de Setsuko e Seita. Ambos estavam abraçados, e pareciam felizes.
Sentindo uma pontada de tristeza no peito, Ken sentou-se na cama, segurando a mochila preta em uma das mãos, e a foto de Setsuko na outra. Abaixou a cabeça, e lutou contra as lágrimas, mas foi inútil. Não pode controlar o choro sentido.
(Ken) Não devia ser assim...
Se ele tivesse tido forças... se Setsuko não estivesse tão magoada com a morte do irmão... se...
(Ken) Droga!
Não adiantava tentar explicar. Era melhor esquecer e...
A porta se abriu, e Yohji entrou no quarto feito um furacão.
(Yohji) Ken! Você pode me dizer o que diabos suas roupas estão fazendo no meu quarto? Não que eu me incomode, mas...
Ficou em silêncio ao ver que o amante segurava uma mochila estranha nas mãos, e uma foto na outra. E estava chorando! De novo...
(Yohji preocupado) Está tudo bem?
"Que pergunta idiota! É claro que não está tudo bem.. senão ele não estaria chorando..."
Sem responder, Ken ergueu a foto para Yohji, que a pegou cheio de curiosidade.
(Ken) Setsuko e Seita... Seita foi assassinado por Koji, e eu acho que Setsuko acabou se matando...
(Yohji suspirando) Tenho certeza de que nunca vi essas pessoas antes.
(Ken) Acho que Setsuko apagou sua memória. Ela acabou me privando de muitas explicações. Nem eu mesmo entendo tudo, e gostaria que não fosse assim.
Yohji abaixou-se e abraçou o amante.
(Yohji) Vai ficar tudo bem...
As palavras eram boas, e a intenção de Yohji era louvável... mas as coisas não eram tão simples assim... Ken queria acreditar que tudo era possível, mas o fim da história era por demais frustrante.
Depois de vivenciar fatos tão irreais e ao mesmo tempo tão... DROGA!
Nada mais seria igual depois disso!
(Ken) Yohji...
(Yohji) Fala?
(Ken) Porque a vida é tão difícil? Tudo o que eu queria era um final feliz, mas... parece que nada dá certo pra mim. Será que sou eu?
(Yohji surpreso) Claro que não!
Apertou o moreninho entre os braços de modo possessivo mas protetor. Não queria que Ken tivesse idéias depressivas, mas o que ele poderia falar? Como refutar um perigo que era apenas um mal pressagio?
Via nitidamente que o episódio havia mexido com a estrutura do amante, e que ele estava diferente... mas... confortá-lo era tudo o que Yohji poderia fazer.
(Yohji) Não se preocupe, Ken. O tempo é o melhor remédio. Ele cura tudo.
E Ken quis acreditar fervorosamente nisso, fechou os olhos e suspirou, rendendo-se ao calor do loiro.
(Ken) Eu acho que você está certo...
(Yohji) Você é o meu anjo, Ken...
Para surpresa de Yohji, Ken começou a rir de modo descontrolado, quase histérico.
(Ken) Não! Por favor! Chega dessa história de anjos! Não agüento mais!
(Yohji)...
Não entendeu lhufas, mas... o que seria mais uma loucura se no fim, os integrantes da Weiss foram tragados bem no meio de um rodamoinho de extravagâncias?
(Ken) Essa noite eu quase ganhei um par de asas! Com certeza não quero ser um anjo tão cedo!
(Yohji) Ken...
O moreninho abraçou forte o amante, num misto de divertimento e satisfação.
Estava vivo! E estava em casa! O que mais poderia querer?
Estar nos braços de Yohji era como estar no paraíso.
oOo
O moreninho desceu da moto, deixando-a no início da estradinha de terra.
Estava voltando à casa de Koji.
No fim das contas, Yohji estava certo. O tempo era o melhor de todos os remédios. Nada escapava de suas garras.
No começo, Ken achou que Aya, Omi e até mesmo Yohji iriam espremê-lo, querendo saber de toda a história, de detalhes que o moreninho não saberia explicar.
Mas indo contra todas as expectativas os três companheiros acabaram se calando, e deslizando para um mundo de indiferença e aparente aceitação.
Era como se aqueles quatro dias perdidos já não fizessem falta, e eles se permitissem seguir o curso dos acontecimentos fingindo que estava tudo normal. Mas... decididamente não estava!
Então os dias se passaram virando semanas, e as semanas completaram os meses...
De vez em quando o jogador ia visitar as ruínas da mansão de Koji, palco de tantas aventuras...
Ali estava o tumulo de Koji, Seita e todos os outros garotos, que Ken não conhecia a história... e... Setsuko...
Chegando próximo aos escombros chamuscados da casa, Ken parou, e observou a paisagem atentamente.
Não sobrara nada além de entulhos queimados e pedaços de carvão enegrecido.
Ken abaixou, e colocou o buquê de flores que trazia sobre os escombros da mansão de Koji. Fazia isso sempre, desde que tudo aquilo acontecera.
(Ken) O tempo é engraçado...
Olhou para o penhasco de onde julgava que Setsuko se jogara.
Durante esses mais de seis meses o moreninho vinha até aquela casa de vez em quando, fugindo durante os domingos, ou alguma folguinha que aparecesse.
Era um tipo de homenagem a memória de Setsuko e Seita.
Ele trazia consigo um belo buquê de magnólias, e depositava sobre as cinzas enegrecidas. Era quase religiosa essa "tradição".
(Ken) Há males que vem pra bem...
Respirou fundo, e meditou por um segundo, fazendo uma prece de recomendação, onde pedia fervorosamente por todos os que haviam perdido a vida naquele local. E isso incluía Koji.
(Ken) Espero que tenham paz algum dia...
Deu meia volta, com intenção de ir embora. Yohji nunca reclamava de suas escapadas, mas Ken não gostava de deixa-lo preocupado.
Fez o retorno em silêncio, e ao chegar a sua moto, paralisou-se de surpresa.
Sobre o banco negro da mesma, estava depositada uma bela magnólia, vibrante e viva, tal qual uma flor recém colhida.
O moreninho sentiu as penas fraquejarem, e ele teve que fazer um esforço sobre humano para não desmoronar.
Uma imagem vale mais que mil palavras...
Santa verdade! Ken não poderia descrever a felicidade que aquela pequena flor lhe causara. Aproximou-se da moto, e pegou a plantinha na mão, com todo cuidado, como se fosse um tesouro raro e precioso.
Olhou para ambos os lados da estrada, mesmo sabendo que não encontraria ninguém. E agora não havia mais necessidade de encontros...
Entendia perfeitamente a mensagem que aquela flor queria lhe transmitir... não era bem um final feliz, mas era algo que o coração do moreninho desejava ardentemente!
Ele relutava em acreditar que Setsuko estava morta. Que desistira de tudo no final... e aquela era a prova de que ele podia aceitar. Valia a pena ter esperanças no futuro!
Agradecendo por aquela demonstração de afeto, Ken subiu na moto e deu a partida. Queria chegar logo em casa.
(Ken sorrindo) Obrigado, Setsuko...
oOo
(Naoko) Ah, Rumiko san! A senhorita demorou!
(Junko) Nós ficamos tão assustadas!
(Rei) Onde a senhorita estava?
Setsuko olhou para as três jovens e sorriu.
(Setsuko) Eu estava entregando uma flor...
Naoko começou a juntar as coisas do piquenique. As quatro estavam reunidas em uma pequena praia, para poder aproveitar a folga.
(Rei suspirando) Não é por aqui que fica uma mansão assombrada?
(Junko) Dizem que um príncipe queimou a casa, depois que sua amada morreu... essa é uma lenda muito antiga.
Setsuko quase gargalhou ao ouvir a 'lenda'.
(Setsuko) Puxa, não fazem nem sete meses que a mansão virou pó, e as pessoas já criam lendas antigas.
(Naoko) Rumiko san, a senhorita conhece essa lenda?
(Setsuko sorrindo) Não... não conheço. Faz pouco tempo que moro aqui, e ainda não me acostumei com todas as histórias.
(Rei) Ah, mas a senhorita é muito esperta, e é uma ótima sindica.
(Setsuko) Obrigada!
Observou que as três haviam terminado de guardar todas as coisas, e estavam dispostas a voltar para a pensão onde viviam.
Setsuko passou a mão pelos cabelos curtos e loiros. Sim, era uma mudança e tanto. Até ela mesma estranhara, ao se olhar no espelho. Havia cortado os longos fios negros, deixando-os do mesmo corte que o playboy usava. E finalizara a transformação tingindo-os de loiro.
(Setsuko) Vamos embora, então?
(Naoko) Vamos!
Voltaram para o carro de Rei, que estava estacionado a alguns metros dali.
Setsuko e Rei sentaram-se na frente, enquanto Naoko e Junko sentavam-se atrás.
Enquanto Rei guiava o carro de volta para a pensão, a mente de Setsuko voou, fazendo-a recordar-se dos últimos sete meses.
A verdade é que ela não tivera coragem de se jogar do penhasco.
"Ainda podia sentir o vento frio, que balançava seus cabelos negros, e lhe dava um frio na espinha, mas... faltava coragem para pular.
Era agora ou nunca...
De repente uma revolta começou a surgir em seu interior... sabia que devia isso a Seita, mas... ao mesmo tempo...
Setsuko queria viver! Ela queria prosseguir, lutando por seus sonhos, vivendo por ela mesma e por seu querido irmão. Assassinado de modo tão injusto e imprevisível.
Um terço da culpa de tudo aquilo era dela própria, e a garota admitia que precisava pagar por seus crimes... mas... ainda assim uma parte de seu coração se rebelava por aquela decisão tão drástica.
Se tinha que pagar, era melhor fazer isso viva, não é? Que punição ela poderia receber, morrendo? Parecia apenas uma fuga covarde, a fim de não encarar as cobranças.
Morrer significaria o fim de tudo, recorrendo a uma desculpa egoísta.
(Setsuko) É mais fácil morrer, do que continuar lutando...
Então ela tomou sua decisão. Continuaria vivendo. E tentando consertar seu terrível erro fratricida.
Não seria fácil, nem rápido, mas ela tinha esperanças de que valesse a pena no final.
Dando uma ultima olhada para o penhasco, depois para a casa em chamas, Setsuko se afastou, embrenhando-se dentro da pequena mata, sentindo uma necessidade quase urgente, de se afastar dali, antes que Ken o visse.
Finalmente se livrara. Estava longe da casa, e do perigo. Conseguir uma carona foi fácil... logo ela estava pronta para encarar a nova vida.
O primeiro passo foi mudar o visual, cortando e tingindo os cabelos. Ela ficara bem diferente, quase irreconhecível.
Não que esperasse ser reconhecida por alguém. Apagara a memória de quase todos os envolvidos no caso do quadro 'Os anjos de Anúbis'. Ainda não entendia completamente por que não apagara a mente de Ken...
No fundo sentia como se devesse isso a Seita... pelo menos Ken tinha direito de saber o que se passara, já que ele era parte fundamental daquilo tudo, participando ativamente e até mesmo de modo espantoso.
Ken tinha o direito de ter suas lembranças protegidas.
Os outros? Ah, os outros eram apenas lembranças que se esquecem.
Depois de procurar emprego por algum tempo, Setsuko foi aceita em uma pensão agradável, onde moças se hospedavam para poder fazer a faculdade.
Assumira para si o nome de Himtsu Rumiko, porque lhe parecera apropriado desligar-se completamente de Hashiru Setsuko. Queria vida nova, no sentido total da frase.
Conquistara boas amigas ali, durante esses seis meses e meio, e Setsuko não se arrependia por ter se transformado em Rumiko.
A pensão ficava duas quadras abaixo da Koneko no Sumu Ie. E as vezes Setsuko ia até lá, comprar flores a pedido das garotas da pensão.
E Setsuko se divertia ao entrar na floricultura (apenas quando Ken não estava presente), e conversar animadamente com os rapazes.
Já se tornara uma boa cliente, e era tratada gentilmente por Yohji e Omi. Apenas o ruivo a tratava com indiferença, mas Setsuko realmente não se importava com as opiniões dele.
A primeira vez que Setsuko entrara na Koneko, o playboy olhara pra ela, como se a reconhecesse de algum lugar, mas não se lembrasse de onde.
Setsuko chegou a temer que fosse reconhecida, mas (felizmente) isso não chegou a ocorrer.
Apagara qualquer vestígio da mente dos três. Esse fato, aliado a mudança de visual, espantava qualquer possibilidade de que Yohji, Aya e Omi a reconhecessem.
O único perigo real era o moreninho, mas Setsuko já cuidara desse detalhe. Tinha apenas que evitar ir a floricultura quando Ken estivesse presente.
Era divertido entrar na Koneko, e ouvir Yohji e Omi se dirigindo à ela como Rumiko chan.
Se eles se lembrassem de tudo, com certeza não seria tratada com tanta gentileza...
Porém, a única coisa que ainda preocupara Setsuko era Ken...
O jogador ainda não conseguia se desprender de tudo, e Setsuko chegava a se arrepender de não ter apagado a memória dele.
Percebia claramente que ele esperava secretamente por notícias suas. E aquelas idas ao local da mansão de Koji era prova mais que evidente de que Ken ainda não encontrara paz suficiente para seguir em frente...
Resolvendo expor sua posição protegida, Setsuko combinara aquele "piquenique" com três de suas amigas recém conquistadas. E arriscando-se a um encontro com Ken, aproximara-se sorrateiramente da moto do jogador, e depositara aquela única magnólia, querendo demonstrar a verdade a ele. Sabendo que Ken entenderia a mensagem."
Setsuko voltou a realidade, percebendo que as três garotas estavam discutindo alguma matéria da faculdade, e que sua atenção não era necessária.
(Rei) Se Naoko não se esforçar, vai levar bomba esse ano.
(Junko) Bem que eu tento ajuda-la, mas a tonta não entende!
(Naoko) Sinto muito!
Setsuko sorriu, pensando em como a vida era boa.
Ela havia ficado por perto da Koneko, apenas para ficar de olho em Ken, e evitar que o moreninho se metesse em alguma encrenca. Principalmente nas missões...
Sempre lia a mente de Yohji, Aya e Omi, e quando ficava sabendo de alguma ação perigosa, lá estava ela, agindo na retaguarda, sem que ninguém soubesse ou sequer imaginasse.
Estava sempre dando cobertura ao quarteto, mas sobretudo ao moreninho.
Usava seus poderes de modo discreto, sempre sem chamar atenção, e com eles evitava que Ken se ferisse, ou sofresse alguma coisa.
Ela sentia que devia isso a Ken, e a Seita. Toda a proteção que não dera ao irmão, Setsuko daria a Ken.
(Setsuko) Ken não é um anjo, mas merece ser tratado como tal. E eu vou garantir que ele seja feliz...
E era esse pensamento que lhe dava forças para continuar.
Por que a despeito de toda dor e desperança, todo medo e preocupação, a vida continua. Pregando peças, e criando obstáculos...
Mas também recompensando, e dando sonhos...
E no fim, ela estava viva... lutava pela vida, acreditava na vida! Essa sensação era boa demais!
Convivendo ou não com anjos, ela se sentia finalmente no paraíso.
oOo
A porta da Koneko se abriu, dando passagem ao moreninho.
Yohji ergueu a cabeça, e ia dar as boas vindas, mas acabou ficando quieto.
Aya e Omi olharam em direção à porta, prestando atenção em tudo o que acontecia.
(Ken sorrindo) Já voltei!
Parecia de ótimo humor, e estava diferente...
Yohji viu nitidamente que algo havia mudado. Desde aquele estranho incidente, Ken não era mais o mesmo. Andava sempre pensativo, e distante.
Por mais que se esforçasse em disfarçar, o playboy sabia que o amante estava incomodado. Só não sabia o porque. E achava que não saberia tão cedo, já que o assunto não era agradável, e Yohji evitava menciona-lo... pra não aborrecer o namorado.
(Yohji) Ken... o que foi?
(Ken) Pra você...
Estendeu as duas mãos, mostrando o que levava. Era uma magnólia, e estava meio amassada... mas Ken a segurava com infinito cuidado, como se fosse a jóia mais rara do mundo.
(Yohji)...
Aya olhou para Omi, e ficou em silencio. O chibi deu de ombros, mas estava achando a cena muito interessante.
(Ken sorrindo) Você não quer?
Segurava a plantinha com as duas mãos, mantendo os braços esticados. Olhava fixamente para o loiro, dizendo tantas coisas com os olhos castanhos, que o playboy achou que estava sonhando.
Depois de mais alguns segundos de inércia, ele acabou retirando a flor das mãos de Ken, e em um ato instintivo, levou-a até o nariz, absolvendo seu cheiro.
(Ken) Desculpe-me pelos últimos meses... sei que não tenho sido eu mesmo... mas eu precisava de respostas, e não estava recebendo-as...
(Yohji pensativo) Respostas?
(Ken sorrindo) A gente conversa depois, tá? Agora eu vou descansar e...
(Aya irritado) Que descansar o que! Não tá vendo a pilha de entregas que precisam ser fitas?
(Ken surpreso) Mas... hoje é minha folga!
(Aya) Folga suspensa até segunda ordem.
(Ken) Isso não é justo!
(Aya) Não discuta comigo! Pega essas encomendas e vai entrega-las logo!
(Ken) Droga! Se eu soubesse não tinha voltado aqui tão cedo... droga... falta de sorte... fala sério...
(Aya irritado) E não adianta reclamar! Quanto mais você demorar, mais pedidos se acumulam...
Diante dessa argumento Ken resolveu ser flexível, e sem reclamar mais ele pegou as entregas e saiu da Koneko.
Yohji suspirou emocionado. Parecia que Ken conseguira finalmente espantar os demônios que lhe atormentavam. Ele saíra pela manhã, e voltara agora, totalmente renovado, era outra vez o Ken despreocupado e sorridente, que Yohji senta tanta falta.
Podia ver isso no olhar brilhante e intenso, no sorriso límpido, e até mesmo nas reclamações mal humoradas.
Finalmente era o seu Ken...
oOo
O moreninho terminou de ajeitar as encomendas na moto, espreguiçou-se com vontade, sentindo o calor do sol aquecendo sua pele macia.
Aquele não era o final esperado... mas com certeza era a melhor das opções.
Podia voltar se ser ele mesmo.. sem medos e receios. Sabia que não iria se decepcionar por acreditar nas pessoas e no futuro, como sempre o fizera. Ainda mais agora que sabia que Setsuko estava viva!
Esse era um grande presente!
Não tinha as respostas para todas as suas dúvidas, mas quem sabe um dia? Agora lhe bastava saber que tinha amigos, e tinha esperanças, que eram correspondidas.
Voltou os olhos para a Koneko e soltou uma gostosa gargalhada.
Sabia que não era um anjo, e que ainda não tinha asas... mas durante um segundo se permitiu fantasiar...
(Ken sorrindo) Ora e porque não?
Subiu na moto e deu a partida, saindo em alta velocidade.
Tinha pressa de voltar logo... voltar para a Koneko... o local onde encontrara Yohji, ou melhor... o lugar onde encontrara o paraíso...
Fim
NOTAS: Um obrigado MUITO ESPECIAL a minha irmã, Sakura Hidaka, que leu essa fic, e me ajudou a revisar e corrigir os erros! Valeu, nee chan!!
E obrigado a Suryia, que me deu a oportunidade de expor o meu trabalho. Arigatou, Suryia!!
Outra coisa, os conceitos de Ka e Ba realmente existem, inclusive, é interessante inclusive o modo que os antigos egípcios ilustravam o Ba.
O Ba era desenhado como uma espécie de pomba branca, com a cabeça do falecido. Os antigos egípcios acreditavam que de vez em quando o Ba da pessoa podia voltar ao nosso mundo e fazer uma 'visita' aos seus entes queridos.
Deuses mencionados nessa fic, como Anúbis (deus do submundo), Cnum (deusa da criação), Osíris (rei do outro mundo) realmente fazem parte da mitologia do Egito, e eu tentei retrata-los o mais fielmente possível, porém a história deles é meio confusa, e os egípcios fazem uma misturada danada, além do que é difícil encontrar material a respeito.
Se eu errei com algum dos deuses, peço desculpas.
