Um negro atingiu a sua mente, confusa, e sua cabeça começou a latejar. Vamos, lembre-se! Você é... Heero Yuy, certo? Sim, veio um cara de repente e te deu esse nome. O seu nome de antes... Impossível de lembrar. O nome daquele cara era... Duo? É, Duo Maxwell. Quatre alguma coisa Winner é o outro, aquele bem rico, que os acolheu na mansão dele. O que estávamos falando mesmo? Era alguma coisa Revelada... O que seria? Não conseguia lembrar-se. Perguntaria depois para Quatre? E ele teria que explicar tudo de novo? Não, seria patético. Nossa, que dor de cabeça... O... o que estou fazendo agora?! Estou... andando, não estou? Sim, agora eu vejo tudo, estou andando, logo atrás do Quatre. Mas... o que iríamos ver mesmo?

205 A.C.
03 Wing Zero

Estava completamente escuro. Quatre ia à frente, Heero depois, Duo logo atrás. Iam por um escuríssimo caminho, um corredor, localizado no mais fundo subterrânio da fortaleza de Jeddah. Segundo Quatre, ninguém além dele e dos homens de alta confiança do ex-Maganac Corps sabiam desse local. Ele não disse o que havia no final do estreito corredor, mas Duo parecia já imaginar o que era. Heero, por sua vez, fazia força para não esquecer o nome de todo mundo ali.
Foram mais ou menos quinze minutos andando no subsolo. Heero já ficava cansado e respirava com dificuldade, dado também o intenso calor do lugar. Duo parara de falar, para poder continuar andando firme e forte, e Quatre estava normal, acostumado com situações desse tipo. Segundo ele, o Maganac formava vários caminhos subterrâneos por baixo do deserto árabe. Utilizavam esses túneis um tanto rústicos para transporte de informações sobre os demais países do mundo pronto para explodir em outra guerra.
Por fim, chegaram. Quatre parou e os outros dois também. Perceberam ter saído de dentro do túnel, para um lugar bem mais espaçoso. O herdeiro Winner apalpou a parede ao lado deles, procurando alguma coisa. Encontrou.
Vários interruptores acenderam todas as luzes ali. Mostrou-se então à claridade um lugar imenso, tanto de altura como de largura. Mas não foi só isso o que impressionou os dois visitantes. Havia algo ali. Quatro Mobile Suits, Um ao lado do outro, tendo um em destaque. Mas Heero notou que eram bem diferentes dos que via sempre por aí, defendendo a nação (teve o privilégio de se lembrar de alguns deles). Esses eram mais coloridos, diferentes uns dos outros, com armas diferentes e com a impressão de serem poderosíssimos. Afinal, não eram Mobile Suits normais. Eram os... eram os.
OS GUNDAMS! Duo exclamou alto, depois que conseguiu recuperar o fôlego pela visão que tivera. Quatre sorriu.
É... os Gundams. Heero se lembrava desse nome de algum lugar. Não fazia a mínima idéia de onde, mas a pronúncia desse nome lhe trazia uma saudade gostosa.
Gundams são esses Mobile Suits? arriscou-se a perguntar.
Isso mesmo. responder Quatre, muito compreensivo. O de lá, com duas foices, é o meu, chamado Sandrock. Ao lado dele, Deathcythe, que é do Duo. Aquele outro é o Heavyarms de Trowa, outro do nosso grupo. E esse da frente... é o seu. Wing Zero. Duo já estava quase chorando de emoção.
Ahh.... DEATHCYTHE!! Que saudade, cara! Como você agüentou ficar tantos anos aqui embaixo, hein?
Heero estranhou a cena.
Você conversa com ele?
Ah, isso não é nada! o americano ria, com boas recordações. Você precisava ver, quer dizer, precisava se lembrar do Wuufei, que punha o apelido de Nataku no Shenlong, e... Por falar nisso, cadê o Shenlong?
Não foi possível recuperá-lo. Quatre explicou. Não consegui localizar ele nem Wuufei. Putz.
Mesmo que eu o localizasse, ele não iria querer me entregar o Gundam. suspirou. Provavelmente já o auto-detonou. É uma pena, seria muito bom guardarmos todos eles aqui, para ocasiões futuras. Mas... depois de dez anos? Duo se sentou no chão, para descansar um pouco. Não ia ficar ultrapassado?
Não. Poderíamos fazer poucas reformas, como fizeram com o Talgeese, lembra?
Continuaram a conversar assuntos que não chegavam a interessar a Heero, mesmo porque ele não entendia nada. Caminhou mais próximo dos Gundams, e ia contemplando um por um. De repente, algo voltou: conseguia se lembrar do Wing Zero. Conseguiu relacionar que esse era mesmo o nome daquele Mobile Suit mais destacado, e que passara muito tempo perto dele. Mas teria mesmo pilotado aquela coisa? E aí, Heero, se lembrando? Duo correu até ele.
M... Mais ou menos.
Já tá pensando em pilotar ele? Apontou o grandioso Wing Zero com o rosto. De... de jeito nenhum! se assustou. Eu esqueci, ne? Como é que eu ia simplesmente sentar ali e pilotar?
Duo sorriu.
É claro que pode. Sabe por quê? Essa belezinha aí pode entrar na sua mente e mudar as suas habilidades. Hein?
Quer dizer que ela te deixa mais forte!
M... mesmo?
Mesmo. Quatre chegou atrás dos dois. E é por isso mesmo que eu os trouxe até aqui. Heero, se alguma coisa vai fazer você se lembrar de tudo, é o Wing Zero.

Um sol escandante do deserto, no meio do nada, só os três e mais dez homens ali. No dia seguinte, Quatre os levou para um treino no meio do deserto. Atravessaram as áreas populosas por baixo da terra, mas depois, quando só há areia e céu para onde quer que olhe, não há mais problema. Foram levados o Sandrock, o Deathcythe e o Wing. Heero pisou na areia quente, e já não se agüentava mais de calor. Ainda mais com um pesado uniforme de soldado, que era o que estava usando. Com a ajuda de uma máquina, com escadas, subiu em seu Gundam. Quatre e e Duo fizeram o mesmo. Ao sentar-se ali dentro, uma sensação de medo e excitação foi percorrendo-o. A porta então fechou-se. Viu ali, no escuro, muitos botões e painéis, que davam a luminosidade. Ficou apenas sentado, esperando. Então, num painel apareceu Quatre com óculos de piloto. Sua voz, computadorizada, falou com calma:
Está tudo bem aí?
Sim... está. Que bom. Se assustou?
Um pouco, ne? riu nervoso. E então, num outro painel, apareceu Duo, e sua voz também diferente:
E aí Heero? Isso te lembra as batalhas?
Er.
Tabom... Quente aí, ne? Você pode resfriar o ar apertando esse botão azul do lado do painel direito.
Esse aqui?
É.
Heero fez conforme o ordenado, mas Duo reagiu com uma expressão de terror:
Argh!
Que... que foi?
Você apertou o botão de auto-detonação!
HEIN!
To brincando, idiota! Hahahaha... Quatre entrou na imagem de novo, dessa vez bravo:
Duo, não o assuste mais ainda!
Foi mal! O Winner voltou a ficar calmo novamente. Muito bem, Heero. Ande para a frente. Esse foi um pedido meio impossível, Sr. Winner, pensou o "novato" consigo mesmo. Olhou para os infinitos botões à sua frente, para suas mãos trêmulas sobre as pernas e o seu reflexo na tela de onde via o rosto do esperançoso Quatre. Respirou fundo. Já estava começando a suar frio.
Eu... não consigo!
Nem terminou de falar, quase. Quando via à sua frente, o Gundam de duas foices de Quatre estava vindo com tudo em sua direção. O quê? Vai me atacar? Mas por quê? O que foi que eu fiz? Onde eu tô? Por quê eu piloto isso? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê?
Tudo à sua volta foi ficando amarelo, um tipo de uma luz amarela que vinha de todas as direções. Pensou que estava delirando, sim, estava delirando com certeza. Talvez as pessoas enxergassem tudo amarelo quando sentiam a ansiedade na hora da morte. Ou... ou.
Quando conseguiu sentir seu corpo novamente, aquilo já tinha passado. Estava novamente com o imenso deserto à frente. Respirava ofegante e não parava de tremer. Apareceu, então, o rosto de Quatre no monitor. Impressionante. O rosto de Duo apareceu ao lado. Estava pálido. Ele... tá igualzinho antes! Será que.
Foi a capacidade de reação do sistema Zero. Quatre concluiu, pensativo. Então, observou a expressão de Heero, aterrorizada. Decidiu explicar o que acontecera nesses dois segundos que se passaram durante o ataque. Você contra-atacou, Heero. E com perfeição. Conseguiu se desviar das minhas foices com uma habilidade que eu não via desde a Final War.
Eu... fiz isso?
Um brilho do seu lado direito logo o informou que a foice de energia do Deathcythe vinha exatamente em sua direção. Mais uma vez tudo amarelo, um segundo de luz e medo, e novamente ele ali, ileso. Quatre e Duo trocaram umas palavras, mas Heero não conseguia ouvir. Estava quase inconsciente, aquela máquina entrara em sua mente como nada que vira antes. Ela o controlava. O Sandrock mais uma vez estava vindo. Nesse segundo de luta, finalmente o piloto do Wing Zero pôde ver o que se passava. Viu que suas mãos pegaram nas alavancas do seu lado, as empurraram com precisão, logo os dedos em alguns botões e pronto. Fim do ataque, fim da luz amarela. Aquilo o estava controlando totalmente. Ele era apenas um expectador do que o seu corpo fazia sem a sua autorização.
Quero... QUERO SAIR DAQUI!!!

Era bom ver-se sentado em uma cadeira comum, respirando o ar de fora e bebendo muita água, embora o calor estivesse insuportável e fosse totalmente eliminado dentro do Gundam. Mas não tinha a mínima vontade de voltar dentro daquele monstro.
Tem certeza de que aquilo não tá vivo? reclamou, quando conseguiu recuperar as forças. Foi muito bom para a primeira experiência. Quatre concluiu, calmamente. Olhou para Duo, que nada disse. Você não vai desistir agora.
E se eu quiser?
Não vai querer. Não pode querer. Como assim?
Assim como o Wing Zero precisa de você, você precisa do Wing Zero. Já fiz várias experiências com ele ao longo desses últimos anos, e nenhuma foi assim. Você não tem absolutamente nenhuma noção de batalha e de Mobile Suits. O Wing Zero foi quem te deu isso. É feito sob medida pra você.
Heero se levantou. Já estava ficando nervoso demais.
E o que isso tem a ver comigo? Posso muito bem recusar o que vocês tão me propondo, não é?
Claro que não. Por quê?
Você vai ver. Não vai conseguir ficar sem ele.

Já anoitecia. À noite, o deserto ficava muito frio, pois sem árvores, não era possível reter o calor do dia. Decidiram passar a noite ali, pois não havia ninguém mesmo que pudesse vê-los, e ir a essa hora da noite de volta à fortaleza de Jeddah poderia levantar muitas suspeitas. Dormiram em uma cabana. Chegada mais ou menos meia-noite, a temperatura do local estava em torno de 20 graus negativos, algo que, mesmo com os pesados casacos de soldado árabe e com os sacos-de-dormir, ainda se sentia um leve frio. Heero não conseguiu dormir. Silenciosamente, levantou-se, e, sem acordar ninguém, saiu da cabana. Tremeu de frio ao se deparar com o ar de fora. Foi andando devagar pela areia macia, que mais lhe aparentava neve, se aproximando cada vez mais do cargueiro que estava ali ao lado, onde eram guardados os três Gundams. Não queria fazer isso, mas sentia que precisava. Iria entrar no Gundam, e fugir nele. Se conseguia contra-atacar, também conseguiria fugir dali em uma hora desesperadora como essa. Entrou no cargueiro e viu os três Gundams. Imaginou ter que forçar bastante a memória para se lembrar de qual era o seu, por causa de sua cabeça fraca, mas não foi isso o que aconteceu. Viu o Wing Zero. Se dirigiu até ele, chegou perto da porta de entrada do Gundam deitado e abriu-a. A cabine lhe era a coisa mais familiar do mundo. Nunca havia Se lembrado de nada assim com tanta clareza. Agora tinha certeza. Duo e Quatre não estavam errados; ele era mesmo Heero Yuy, piloto desse Gundam. Sentou-se ali dentro. Não demorou até lembrar-se como ligá-lo. Fechou a porta, se deparou novamente com o lugar completamente escuro, com botões servindo de iluminação. Mais nada.
O que... eu faço mesmo?
Gostou de ficar ali só contemplando, mesmo porque não fazia a mínima idéia de como tirar um Mobile Suit desse tamanho do chão. Era relaxante aquele lugar. Se pudesse... dormiria ali mesmo... mas... nada o impedia, ne? Poderia, sim, dormir ali, sem nennum incômodo... E.
Foi acordado por por um alarme. Hein? reparou que o alarme vinha do próprio Gundam. Uma luz vermelha piscava rapidamente ao seu lado. Uma voz, naquele mesmo estilo de computadorizada, ordenou severamente:
Karim Asid! Você foi identificado! Saia com seus homens com as mãos para cima!
Heero manteu-se paralizado por uns instantes, até ver o Gundam ao seu lado se levantar. A voz de Quatre murmurou algo que devia ser em árabe para seus subordinados, alguma ordem de defensiva. Heero, trêmulo, se arriscou a dizer:
Qua...Quatre?
Heero?! Quatre respondeu assutado, e logo apareceu em seu monitor. Você estava aí!
Eu... eu... Fomos encontrados! Eu e Duo vamos lutar, você foge agora!
Mas... eu não sei... Não tem problema, fuja sem o Wing Zero! Meus homens vão levar você!
Mas.
Uma explosão e um barulho de Mobile Suits. Duo já estava em batalha. VAI LOGO!
O Sandrock saiu do cargueiro e foi lutar. Mobile Suits novos, pertecentes às Forças Unidas do Oriente Médio, uma grande organização unida para competir nas guerras que logo se iniciariam. A Arábia estava compreendida nessa organização, e o único oposicionista dela era "Karim Asid". Estavam a muito tempo tentando achar um motivo para matar esse pacifista e começar a guerra de vez, para conquistar o maior número de territórios possíveis. E, quem sabe, o mundo inteiro. Essa é a intenção de todos os países que habitam a esfera terrestre no ano de 205 A. C. O Wing Zero se levantou. Heero ao certo não tinha a mínima idéia de como havia feito isso, mas fez ele se levantar. Em seu painel enfim apareceu: o imenso deserto à noite, cerca de trinta Mobile Suits iguas, inimigos, e os dois Gundams Deathcythe e Sandrock. Quatre e Duo ficaram sem palavras. He...Heero?! O que vai fazer?! a voz de Duo apareceu. Eu... não sei.
Mas à sua frente um Mobile Suit o atacou. Sentiu o estrondo do choque da arma de ferro do inimigo, e sentiu o Wing Zero cair no chão, o levando junto. O Mobile Suit ia atacá-lo novamente, mas foi cortado ao meio por uma das foices de Quatre, e explodiu, fazendo um intenso barulho e muita luz. A visibilidade ficou horrível, por causa de toda a areia levantada, resultante da explosão. Heero tocou nas alavancas, fez o Wing Zero novamente ficar em pé. Percebeu que havia um canhão na mão esquerda dele. Sem saber muito como, levantou-o, mirou na zona aonde havia a maior concentração de inimigos. Não teve dúvida. Disparou. Novas explosões, a maioria deles derrotados. Um raio amarelo saíra daquela arma, e destruíra quase tudo. Quatre nem conseguiu dizer nada sobre esse progresso todo. Duo ainda conseguiu dizer algo:
Idiota, você quase me mata junto!
Mas Heero não ouviu. Estava concentrado demais no que estava fazendo para ouví-lo. Sua mente agora só pensava em lutar. Haviam sobrado dez caras depois daquela explosão. Ele iria derrotá-los. Iria matá-los. De qualquer jeito, não sairia dali sem acabar com todos os inimigos. Afinal, agora sabia QUEM eram seus inimigos. Sistema Zero. Num impulso, pegou o sabre de raios e cortou um na metade. Perfurou o outro atrás desse e fez o mesmo com o próximo. Três, quatro, cinco, seis e sete, oito, nove. Cortou o último em pedaços. Dez.
Com toda a areia que havia se levantado, não dava para ver absolutamente nada. Heero procurou o Sandrock e o Deathcythe ali, mas nada encontrou. Foi recuperando sua falsa personalidade calma. Encostou a cabeça no banco, sentiu algo que não definiu se era desmaio ou sono. Que importa? Se rendeu a ele.

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Por Kitsune-Onna