Mas tudo foi ficando cinza depois. Máquinas surgiram atrás de você, um chão arenoso e um céu cinzento por nuvem e fumaça. Mas as suas asas não desapareceram. E mesmo assim eu não conseguia tocá-la. E então, todo o seu branco foi se tranformando em vermelho. Sangue! Fiquei ainda mais desesperado para ir te salvar. O líquido avermelhado-escuro ia escorregando por todo o seu corpo e te deixando completamente manchada. E você... você disse.
A paz... morreu... meu querido... Hee...
205 A.C.
05
Prazer em Conhecê-lo, Espaço Sideral
Heero! Tá vendo? Não é tão difícil assim se você pega o jeito.
Hum... pode ser.
Duo ensinava Heero a pilotar uma pequena nave da frota de Noin. Estavam sobrevoando o alto-mar, a alguns quilômetros da base da tenente. E Heero até que estava conseguindo fazer tudo sem problemas, parecia que tinha um dom dentro de si que mandava sua mente fazer todas as coisas certas para se pilotar. Parecia ser algo tão natural... e era tão fácil! E o mais estranho era que ele não tinha a mínima lembrança de ter dirigido algo assim. É como se ganhasse esse poder magicamente.
Quatre, Noin e Sally estavam num barco, ao observarem o treinamento de Heero e sentirem um pouco da brisa do mar, que era refrescante e confortante. Os planos em discussão era como chegar à Relena Peacecraft do Reino de Senk sem suspeitar nada dos outros países, da OZ II e até mesmo do próprio Reino Senk. Quatre também estava preocupado com seus leais homens do Maganac que ele abandonara para fugir. Precisava ver como eles estavam.
Heero e Duo finalmente voltaram ao barco, deixando a pequena nave amarrada a ele para ser levada junto.
Então, Heero? Noin perguntou num sorriso. Já se acostumou.
É... eu acho que sim... ele respondeu meio sem graça e quase corando. Olhou com medo para Duo, que, por talvez misericórdia, não fez nenhuma brincadeira.
Ótimo. Nós vamos aos poucos, certo? Primeiro com uma pequena nave dessas, depois vai aumentando o nível até chegar num Gundam. Acho que você consegue fazer isso em pouco menos de dois meses, não?
Oh! Duo começou, o que já levou olhares de advertências de todos ali. E isso é mais um magnífico plano da super Instrutora Noin?
Na verdade, meu querido Deus da Morte, foi o Quatre que pensou isso, e não eu. ela disse, e Duo pareceu até um pouco feliz de ter seu nome reconhecido por alguém depois de dez anos.
Deus... da Morte? Heero não entendeu. Como assim?
Ah, não é nada! Duo fez pose. É só a minha verdadeira identidade.
Pois é... Noin suspirou, enquanto Sally ria. Quatre apenas observava com um sorriso. Ainda vamos ter que suportar o Shinigami por mais um tempo, então tenham um pouco mais de paciência.
Lieutenant's very cruel, huh?
Quatre era o único que não ria ali. Encostado a grade da extremidade do barco, parou de prestar atenção neles e voltou os olhos para o vasto oceano. Tinha a mente completamente fora dali e o olhar completamente triste. Mas percebeu que Heero o encarava com preocupação.
Heero?
Er... hum... encostou-se ao seu lado, deixando Duo falar as bobagens de sempre. Por que você está assim? Parece preocupado.
Obrigado por se preocupar.
Hein?
Não é nada. Mas... Quatre se sentiu meio inseguro de dizer. Você sabe que existem as colônias, não é?
Sei. Isso eu sempre soube. Por quê?
Você por acaso lutaria por elas?
Heero olhou o mar e pensou por um tempo. Depois:
Bem, Sr Quatre, é que.
Quatre!
Hum... desculpe... Mas... eu não sei se lutaria por elas. Eu nunca fui pra lá nem tenho nada a ver com elas.
Quatre sorriu, um sorriso meio triste.
É claro que tem. Você nasceu lá.
Eu... nasci? Como sabe?
As colônias... Quatre meio que ignorou a última pergunta. já foram as nossas maiores protegidas. Nós viemos à Terra e mudamos completamente as nossas vidas só por causa dessas colônias. Para você a vida deve ter mudado para melhor, não é? Mas para mim não. Tudo piorou depois que eu participei da Operação Meteoro.
Operação Meteoro! Sim, a poucos dias atrás alguém comentou desse troço. Quem foi mesmo?
O que é essa tal Operação Meteoro?
Não tenho muito o que explicar... mesmo porque nem eu sei direito como se organizou ou que sgnificado tinha. Mas.
Os dois se afastaram um pouco de Noin, Sally e Duo, que agora discutiam sobre um certo aparelho do barco. Quatre começou a contar sobre a Operação Meteoro, a vingança em nome de Heero Yuy, o encontro deles na Terra, a volta para o Espaço, a morte de seu pai, a luta entre eles dois.
Quer dizer que nós dois lutamos?! Heero mal acreditava. Eu.. contra o senhor?, quer dizer, você?
É.
Quem de nós venceu?
Eu teria vencido. Não que eu seja melhor que você, Heero, eu estou inferior às suas habilidades como piloto. Mas eu pilotava justo o Wing Zero. Aquilo mexeu completamente com a minha cabeça. Eu estava fora de mim.
Heero pensou um pouco. Estava surpreso consigo mesmo por conseguir entender algo tão complicado. Talvez sua cabeça estivesse mudando também.
Mas... você tinha razão, não, Quatre? Afinal, estava furioso por causa da morte do seu pai, e.
Nenhuma fúria do mundo é justificativa para o que eu fiz. Quatre interrompeu rápido.
Silêncio.
Eu quase te matei. Destruí uma colônia inteira também, e quase foi a outra se não fosse por você e Trowa. E eu... quase matei Trowa.
Quem é Trowa? É outro piloto de Gundam?
Sim. E talvez o meu melhor amigo e companheiro. Ele mudou a minha maneira de pensar, muitas coisas que eu sei eu aprendi com ele... sua voz foi começando a ficar trêmula. E eu... em gratidão... quase mato ele? Faço ele perder a memória, e depois sofrer com isso?
Se controlou para parar de tremer e tentar não chorar. Conseguiu. E Heero se comovia com o sentimentalismo de Quatre. Nunca imaginou que ele poderia ser assim. E era uma pessoa muito boa. Assim como Duo. É, todos os pilotos de Gundam deveriam ser pessoas muito boas. E não vêm essas histórias que contam que o bem deve sempre vencer.
A cabeça de Heero dizia: viu como você tem poder? Faça o que você acha certo e siga as suas emoções como bem entender. Ignore o resto do mundo. Você acha que os pilotos Gundam é que têm que vencer isso a todo custo? Pois bem; assim será. Você é Heero Yuy, pode definir tudo, escolher tudo, até mesmo o seu destino e o destino da humanidade.
Ah, e acima de tudo, esqueça aquele sonho ridículo.
Ir para o espaço?! Duo quase cuspiu o café que tomava. Agora!
Sim. Quatre continuou normal, tomando o seu café. É muito importante irmos agora. Heero está preparado, eu sei que está.
Estavam os dois na sala de refeições da base de Noin. Apenas os dois no grande estabelecimento, era uma da manhã, e praticamente todos já haviam ido dormir, exceto os homens de vigia noturna. A luz do holofote que ficava do lado de fora do prédio, iluminando tudo ao redor, entrava pelas grandes janelas e era a única iluminação ali. Tanto Quatre como Duo não estavam com o mínimo sono, então resolveram sentar ali e ficar conversando. Então veio a proposta de Quatre de pedir uma nave a Noin para irem ao espaço no dia seguinte. Duo não concordava.
Mas... assim, tão de repente?
Eu não vejo problema algum. Quatre mantinha sua posição formal. Talvez até para ocultar alguns sentimentos. Afinal, como eu disse, Heero está preparado.
Não tá nada! o americano se levantou da cadeira. Não dá pra ir pra lá assim, de uma hora pra outra! Além disso, eu ouvi dizer que o espaço tá ainda mais turbulento que a Terra. Não dá pra saber, já que eles cortaram bastante a comunicação.
Quatre olhava lá fora. Não havia absolutamente nada no grande pátio, o que dava uma enorme sensação de vazio e solidão. Dava a impressão de que só havia eles dois naquele lugar enorme inteiro.
Cortaram... é mesmo... terminou a sua chícara de café. Por que será? Talvez as colônias sejam um símbolo de poder do povo. Coisa que os terráqueos não podem aprender, poir tiraria o poder de muitos líderes e ditadores.
É... A Terra tá mais nojenta ainda do que era na época da Operação Meteoro... Hey, por falar nisso, a gente precisa explicar pro Heero sobre ela também, ne?
Eu já disse.
Já?
Os dois se entreolharam por um tempo.
Você tá preparando tudo, Quatre. Duo olhou desconfiado.
Preparando...? dava para ver que Duo havia acertado. Quatre não era lá muito bom em mentiras nem em fingir.
Claro. Tá nos seus planos a gente ir pro espaço, e o mais rápido possível, ne? Você já falou sobre tudo isso com o Heero. Você deve ter convencido ele também.
Quatre se levantou calmamente, indo em direção à janela. Continuou a observar o local vazio.
É mesmo. Eu quero ir para o espaço o mais rápido possível, e quero levar o Heero. Você vai se quiser, Duo. Eu não posso obrigá-lo.
Mas é claro que não! Duo se encostou na parede ao lado da janela. Mas o que você planeja? Quer ver o Trowa, não quer?
Não só o Trowa, mas o Chang Wuufei também. Temos que nos reunir. Precisamos nos juntar de novo, e.
... E RECOMEÇAR UMA NOVA GUERRA?! só depois Duo percebeu que havia gritado, de tanta que era sua surpresa.
O olhar de Quatre confirmou que sim. É, as suas opiniões haviam mudado... Com dez anos a mais de experiência que aquele inocente garotinho que desobedeceu o pai e foi à Terra no Sandrock, estava mais crente de que aquela paz tão propagandeada pelos Peacecraft não era tão boa assim. Pouquíssimo tempo depois, o mundo já estava explodindo de novo em guerras. Alguns ataques e batalhas tanto de Mobile Suits com o de humanos eram noticiadas com freqüência nos jormais e noticiários.
Mas uma pergunta começou a ser feita pelos críticos:
"E onde está Relena Peacecraft?"
Se é Quatre Raberba Winner que está pedindo isso, achp que não posso recusar! Noin sorriu falsamente, porque na verdade estava insatisfeita com isso. Mas... tem certeza de que é hora de ir para as colônias?
Eu creio que sim, Srta. Noin. Quatre sorriu, de um modo tão forçado quanto a tenente. Heero precisa rever aquele lugar, quem sabe ele se lembra de algo. Preciso encontrar mais três pessoas por lá, também. Não sei se Duo vai conosco.
Heero apenas ouvia tudo. Já estava pronto, vestindo uma roupa estranha de viagem, inteira preta e insuportavelmente colada no corpo. Quatre já parecia mais que acostumado com isso, pois se comportava normalmente.
Duo inesperadamente apareceu, vestindo a mesma roupa que os dois.
Duo... Noin olhou-o. Você vai?
Tem que ir, ne! ele resmungou. Tenho que acompanhar esses dois aí, já que o Heero não sabe de nada e o Quatre apaixonado é duro de segurar!
Se despediram e entraram na nave. Lá dentro, Quatre deu um pisão no pé de Duo, irritado, já sabendo que a pessoa referida no "Quatre apaixonado" era justamente o piloto do Heavyarms. Duo reclamou, mas não retrucou, sentando na cadeira ao lado da cadeira do piloto, que foi ocupada por Quatre. Heero sentou logo atrás, já perguntando com toda a inocência do mundo:
Você tem uma amada no espaço, Quatre?
É! Duo começou a gargalhar. E você vai cair pra trás quando descobrir que gata que ela é!
Cala a boca, Duo! Quatre xingou, enquanto ajustava as coordenadas para lançar a nave.
Em poucos minutos já atravessavam a atmosfera terrestre. Heero vislumbrou a Terra vista de cima: inteira azul e verde meio marrom, com muitas nuvens emcobrindo-a. Do lugar onde estavam, dava para ver como a Terra era gigantesca.
Heero foi ficando cada vez mais admirado, Acima e por todos os lados, só um lugar negro e vazio, salpicado de pontos pequenos e brilhantes. Poucos minutos depois olhou para um lado e se assustou ao ver uma grande esfera cinzenta, parte clara, parte quase totalmente escura: a lua. Era muito mais linda dali... Chegando mais perto, conseguiu ver as bases lunares, o que a fazia parecer um planeta desconhecido, e não mais a grande esfera. Algo parecido com um satélite, só que muito maior, estava a leste da lua e também perto deles: uma colônia. Heero não imaginava como seria dentro de um lugar como esse. Mas para Duo e Quatre, agora completamente sérios, isso era tão normal... Ele queria alguém para comentar essas coisas tão lindas... Mas para aqueles dois, as preocupações com as batalhas, as guerras, os Gundams e o futuro os impedia de parar um pouco para admirar tudo isso.
Nossa... Seria a vida de um soldado tão chata assim?
Pousaram na colônia. Estava tudo normal por ali, aquela colônia estava realmente vazia e sem suspeitas de autoritarismo militar ou algo do gênero. Andaram os três pelas ruas (depois de ter deixado a nave em algum lugar seguro). Aquilo era mais ou menos um tour para Heero ir se acostumando com o local.
Realmente, era direfente. O ar parecia ser bem diferente do da Terra, embora fosse até mais confortável, pois quase não havia poluição nele. Era ali uma cidade normal, com ruas, prédios, carros e até áreas arborizadas, tudo muito organizado e limpo. Bem diferente da Terra, que até hoje o povo ia crescendo e tentando arranjar espaço à sua maneira, tendo assim uma coisa meio desorganizada. Faziam 205 anos que aqueles colônias flutuavam em volta da Terra... Nem parece. E sempre lutaram para defender os seus princípios e sua liberdade. Durante toda a sua história. Quatre ia contando tudo a Heero, que ficava pasmo.
É, habitante de colônia nasceu pra sofrer... Duo resmungou.
Nós tivemos mesmo uma história bem triste. Quatre disse. Mas também não é assim.
Claro que é! Eu costumo dizer que quem nasce em colônia é quase santo!
Você... costuma dizer isso...? Quatre encarou-o com olhar irônico.
Por que tá me fazendo essa cara?
Não...nada.
Duo recuperou a pose.
Então... é por isso que o povo das colônias vai mais fácil pro Céu!
Heero:
É porque eles são muito honestos?
Quatre:
É porque a colônia fica mais para cima.
Duo:
Winner, o seu mal-humor hoje tá INFERNAL! Eu não me conformo! Tudo isso aí é por ficar muito tempo sem o Trowa, é!
ARGH, DUO!
Sally não conseguiu manter comunicação com eles.
Tem certeza de que ficarão bem, Noin? perguntou, preocupada. Já faz um dia que foram para o espaço e nada. Será que foram pegos?
Ora, Sally... Noin torceu o nariz. pegos? Você não conhece esses meninos.
Meninos?
Sally riu um pouco, de leve. Noin também, apesar de ficar meio sem graça.
É... para mim, serão eternamente meninos.
Você gosta muito deles, não é mesmo?
É... eu acho que sim.
Tive pouca oportunidade de conhecê-los, mas eu sei que eles realmente são pessoas muito boas. Sally cruzou os braços, tendo consigo uma certa inveja dócil. Você teve muita sorte de lutar com eles.
Não, eu não lutei com eles. Noin suspirou. Não foi tão assim que.
Ora, pare de falar bobagens! Estou sentindo tanta falta deles... Mas... e os outros dois? Será que estão na Terra ou no espaço?
Não faço idéia.
Ficaram quietas durante um tempo. Na sala de comando, triste e vazia, conversavam em silêncio apenas com os pensamentos. Só alguns minutos depois é que algo aconteceu ali. E nada de bom.
Um dos soldados entrou na linha com as duas.
Tenente Noin?! Major Sally?! Estamos com problemas!
As duas se levantaram de um salto. Noin respondeu, chegando mais perto da tela onde estava o rosto pálido e assustado do soldado.
O que é!
Mobile Suits da OZ II foram identificados no radar! E entraram em contato com a nossa tropa!
O que eles querem? a voz da tenente foi ficando rouca.
Querem falar com a torre de comando, e dizem querer falar com a Tenente Lucrezia Noin! Estão com suspeitas!
Suspeitas...? De quê?
Mas a comunicação foi cortada. Noin e Sally se encararam, ambas sem saber o que fazer. Foi quando o rosto de um dos comandantes da OZ II apareceu na tela.
Tenente Lucrezia Noin, a sua base está prestes a ser cercada. Sugiro que se renda sem resistência, e assim tudo será mais fácil. Agora.
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Kitsune Onna-
