Já era de se esperar a reação dela. Primeiro, um susto, depois, uma mistura de descontentamento e raiva que se estampava em seu rosto. Parada na porta à frente deles, mantinha as duas mãos nas costas, o olhar principalmente em Trowa, odiando-o por aquilo. Foi necessário que ele pedisse para entrar, para que não ficassem do lado de fora.
A casa era simples. Afinal, ter uma casa já era uma grande vitória para um casal que não era nada mais que artistas de circo. Quando estavam de férias, ou quando o circo pousava nessa colônia, eles ficavam na casa, desfrutando a vida de um casal normal e feliz. Uma vida pacata, simples e humilde. Perfeita. A única coisa que faltava naquelam casa era uma criança para trazer ainda mais alegria à família.

"205 A.C.
12 Paz Fria"

Trowa pediu que Heero e Duo sentassem. Heero se sentou na cadeira da cozinha, mas Duo agradeceu, e preferiu ficar em pé, apoiado à parede. Catherine se sentou também, logo depois dela Trowa. O pequeno gato da casa se esfregou nas pernas dele, pedindo carinho, e o dono coçou a delicada cabeça de pêlo marrom, fazendo o gato deitar-se no chão, satisfeito Que tal agora? resmungou Catherine. OZ II veio a essa colônia. Estão ocupando ela toda! Estão satisfeitos, pilotos Gundam? Satisfeitos? Satisfeitos? E onde está o loirinho, hein?
Foi levado. Heero disse com voz baixa, fazendo Catherine calar. Tanto ele como Relena.
Por sorte não sabiam que éramos pilotos Gundam. Duo começou a falar das partes técnicas. Só vieram com o intenção de levar Karim Asid e Relena Peacecraft. Acho que Quatre não contou a eles que é piloto Gundam, ne?
Heero deu de ombros. Virou-se para Trowa.
Sinto muito, Trowa. Atrapalhamos a sua vida, e deve estar tudo muito confuso para você. Sinto muito.
Não. disse Trowa, num sorriso.
Catherine, enraivecida, pôs-se a falar irônica e duramente:
Não, está tudo bem com ele! Sabe por quê? Porque ele estava mentindo que não se lembrava de vocês! Que não se lembrava dos Gundams! E o pior é que, além de mentir para vocês, mentiu também para mim! DISSE QUE NUNCA ME ABANDONARIA POR CAUSA DE UMA GUERRA, NUNCA MAIS!
Trowa calou-se, olhando-a assustado. Duo e Heero o olhavam.
Eu não queria mentir. disse Trowa aos pilotos, não tendo palavras para responder as acusações da esposa. Eu juro, eu não queria mentir.
Ah, isso é o de menos! Duo sorriu, compreensivo. Agora temos muito problemas maiores. E... por um lado, Catherine está certa. Ela tem direito à felicidade.
Felicidade que nunca vai vir se a OZ II continuar dominando tudo! Heero protestou. Não entende, Sra. Catherine? Trowa é importante para as colônias!
Mas até agora estávamos vivendo muito bem! ela reclamou, mas sabia que não estava levando em consideração os homens armados que vinham da Terra, de vez em quando, para fiscalizar os habitantes das colônias e impedir qualquer tipo de rebelião. Também estava percebendo que ignorava o preço altíssimo de tudo por causa da moeda caída das colônias, a falta de água e de alimento nos tempos de escassez, o salário que ia abaixando a cada mês, as doenças que se espalhavam com a falta de hospitais, acidentes e crimes por falta de bombeiros e policiais justos.
Abra os olhos, por favor! Heero insistiu. Ia levantar-se, mas então de lembrou que sua perna não se mexia e que fora arrastado até a casa por Duo e Trowa.
Esse é o problema pelo qual viemos até você, Catherine. Duo disse, apontando a perna de Heero com um movimento da cabeça. Gás de arcânio. Está tendo um efeito muito prolongado em Heero. Trowa nos disse que seu irmão é médico.
Catherine olhou para Trowa. Este tinha um olhar ao mesmo tempo arrependido e implorante.
Eu sei que seu irmão me odeia. Trowa disse a ela. Mas... precisamos tratar de Heero sem que OZ II perceba. Iremos embora, então. Você vem com a gente. Para um lugar seguro! pegou as mãos frias dela, aquecendo-as com as suas. Irei lutar até o fim, e voltarei vivo para viver com você. Mas viver assim... Não, não é possível, Catherine!
Catherine suspirou, fechando os olhos longamente. Então, abrindo-os de novo e surpreendentemente sorrindo, ela disse calma:
Você é, por natureza, um soldado. Tem alma de soldado, e por isso nunca vai me entender. Lembra-se da ditadura da Aliança e da OZ de dez anos atrás? Vocês lutaram bravamente. Muito lutaram bravamente. E agora? Tudo começou de novo. E vocês vão, de novo, lutar? Não vai adiantar nada, porque daqui a pouco tempo o mundo vai voltar ao que era antes. Esse é o grande problema da humanidade e vai existir enquanto ela existir.
Um grande silêncio acompanhou as palavras dela. Catherine fez uma grande força para não chorar e continuou:
Eu prefiro muito mais viver do modo como vivo do que viver em guerra constante. Principalmente se a pessoa mais importante do mundo para mim luta nessa guerra. Não vê a minha situação, Trowa? Apoiou a cabeça no ombro de Trowa e pôs-se a chorar quietamente. Ele a abraçou, chorando junto com ela. Duo e Heero se entreolharam.
E agora? Duo perguntou.
Não é possível que a humanidade seja tão incorrigível assim. Heero disse tristemente. Eu não... concordo com ela.
Catherine levantou o rosto. Depois de algum soluços, disse:
Vou procurar o meu irmão para você, Heero. Mas eu não acho que tudo isso vá trazer qualquer tipo de felicidade, a felicidade de que você me falou.

A pista de decolagem para o Espaço da fortaleza de Asid sobrevivera à batalha que se realizara ali. Um lugar para que o carguueiro pudesse decolar, e depois outra pista, mais moderna, de que Zechs ainda não tinha conhecimento.
Foi criada lá por 202 ou 203 A.C. informou-lhe Noin. Muito bom e útil. concluiu Zechs. Estavam todos dentro dos Gundams, pois não valia a pena ficar do lado de fora, onde o calor do deserto chegava a 80º C e fritava os corpos dos mortos em batalha. Uma pista para lançamento de Mobile Suits para o Espaço Sideral.
Não foi necessário muito tempo. Logo, já partiram para o Espaço, ansiando encontrar os pilotos Gundam. Seria mesmo muito bom vê-los agora. Se Aurey Mallaica descobrisse mais alguma coisa, sozinhos eles não conseguiriam sobreviver.

Sentada na elegante varanda, Relena observava o mar azul que se estendia a sua frente. A brisa marítima, pesada e úmida, só a ajudava a ficar mais tensa. As ondas batiam nas pedras e na parede do grande castelo que ficava à beira-mar, e os navios do porto próximo faziam seus barulhos característicos. O mar se estendia até o horizonte, confundindo-se com o azul do céu.
Relena ouviu passos atrás dela. Podia definir muito bem aqueles passos.
Sr. Mallaica, eu prefiro que o senhor fique longe de mim a tentar me consolar.
Ele parou atrás dela.
Também gosta do mar, Srta. Peacecraft? disse educadamente. Eu o adoro. Busco todas as minhas inspirações aqui.
Então deve ser um lugar realmente péssimo.
Foi muito ruim da parte da senhorita não revelar para mim sobre Quatre Raberba Winner.
Relena se virou para olhá-lo. Ele não sorria, como de costume, mas mantinha-se sério ao encará-la. Me sinto desapontado. Mallaica fechou os olhos delicadamente.
Eu não sigo o seu regime. Relena virou-se de volta. Se quer conquistar o mundo inteiro, não conte comigo.
Mas eu pensei que conquistar o mundo inteiro seria também o seu desejo, Srta. Peacecraft.
Eu nunca desejei isso! Relena se levantou.
Caminhou até a borda da varanda, apoiando-se no muro baixo. Contemplou as ondas estourando lá embaixo.
Seria impossível uma paz suprema se não há um governante supremo. Posso dar-lhe um exemplo bem antigo? ele cruzou as pernas. No Japão, uma vez há muito tempo, o shogunato conseguiu um líder supremo. A paz se instalou no país por quase 300 anos. Só se extinguiu porque forças estrangeiras, americanas, ordenaram que esse regime fechado deveria ser abolido.
Relena considerou a situação. Mas balançou a cabeça, virando-se para olhar Mallaica, tendo outro argumento em mente:
Antes de Cristo, Roma era a governante suprema de toda a Europa, e Júlio César era um ditador, o líder supremo. Traições e mais traições fizeram César ser assassinado. Mais tarde, o Império Romano caiu.
Caiu apenas porque César dividiu seu império entre muitos, Srta. Relena. lembrou-lhe Mallaica. Não. Ele teve que fazer isso. Havia traidores por toda parte. Não o apreciavam porque ele cuidava demais do povo, dos plebeus romanos.
Mallaica se levantou e se apoiou no muro da varanda, ao lado de Relena. Ambos se olhavam. Então, inesperadamente, ele levantou a mão e tocou o rosto dela.
A senhorita não se identifica com ele? Mallaica disse tenramente. A senhorita já foi líder suprema do mundo, e era bondosa e só pensava na paz e no povo. tirou a mão do rosto dela. Haviam muitos homens em que não se podia confiar, entre eles vale a pena citar o Duque Dermail. Foi mesmo muito bom que Treize Khushrenada tivesse tomado o seu lugar no trono do mundo, porque ele era forte o suficiente para lidar com traidores. Está dizendo que eu sou fraca? perguntou Relena, confusa, já não conseguindo dar sentido às palavras que ele dizia e muito menos analizá-las criticamente.
De certa forma, sim. Mallaica se virou para o mar. Compreende o que eu quero dizer? A senhorita deve ter pulso forte. O mundo a ama, e deve ter motivos para amá-la, assim como tinha com Treize.
Ama ou admira? Relena perguntou mais para si mesmo que para ele.
E qual a diferença, Srta Peacecraft?
Muitas. Admiração não quer dizer lealdade.
Amor também não.
Ela o contemplou. Não, não poderia continuar, não tinha mais forças para continuar com aquilo.
E o Sr. Winner? Como está?
A Srta. Catalonia me disse que ele anda distraído e que parece esquecer da vida.
Relena sentiu uma pontada de dor ao imaginá-lo assim.
Preciso vê-lo. concluiu. Vou permitir que o veja se considerar o que eu disse. Mallaica disse duramente. Lembra-se de que eu a pedi em casamento, para que pudéssemos formar um pacto? Eu confio na senhorita, e a ADMIRO. Governaríamos o mundo juntos.
Ela sacudiu a cabeça, pensando. Voltou à cadeira onde estava e se sentou.
Posso consultar Quatre sobre isso? perguntou.
Sim, pode. Mallaica foi se retirar. Mas lembre-se de que uma aliança com ele não vai adiantar nada. Ele não é mais ninguém, na Terra ou nas Colônias.

Por favor, senhorita, eu já disse que não quero.
As insistentes vindas de Polsja ao jardim, para que Quatre comesse alguma coisa, não estavam adiantando em nada. Ela percebera então que deviam fazer uns dois dias inteiros que ele não comia, e ele estava ficando pálido e fraco. Não desistiu. Tortas francesas era algo que ela sabia fazer bem e trazia para insistir que ele comesse.
Mas o senhor já está ficando ruim. ela retrucou pela primeira vez. Veja só, está pálido!
Pôs um delicado espelho à frente dele. Ele se olhou, depois sorriu.
É mesmo. olhou para Polsja através do espelho. Eu agradeço a sua preocupação, mas não se preocupe comigo. Não desperdice o seu tempo aqui, por favor.
Ela guardou o espelho. Era uma garota muito jovem, porém muito bem-prendada. Ruiva e de cabelos cacheados e firmemente presos, não gostava nada da OZ II, pois a organização expulsara todos os habitantes de sua terra natal. Escutando atrás de portas as conversas de Dorothy, descobriu finalmente quem era aquele jovem misterioso, e o que acontecera a ele.
Por favor. insistiu. Eu ficaria imensamente honrada em servir um piloto Gundam, Sr. Winner.
Ele levantou a cabeça e a olhou. Polsja corou violentamente.
Eu não sabia que ainda éramos amados por alguém aqui na Terra.
É... claro que são! Os povos oprimidos!
Fico contente por isso. Mas esses povos não vão mais amá-lo se continuar assim, de cabeça tão baixa! Vai abandoná-los neste estado? E.
Parou de falar quando ouviu passos. Dorothy estava ao lado deles, com seu elegante vestido azul-marinho, os olhos irritados a encararem a empregada.
Polsja, pode ir à cozinha por um instante, por favor? perguntou com nervosa delicadeza.
Polsja obedeceu sem hesitar. Quatre baixou novamente os olhos para a Ilíada. Acho que devo pedir perdão pela intromissão da minha humilde criada. Dorothy disse, voltando a sorrir como era de seu costume. Por incomodá-lo por tanto tempo.
Quatre ergueu os olhos até ela. Não tinha expressão nenhuma, como estava quando chegou à mansão.
Então as pessoas oprimidas pela OZ II se tornam escravas da mesma? disse com voz de desprezo.
Que escravos você está vendo aqui? Dorothy mostrou-se chocada, encenação que fazia toda vez que era acusada de algo. Duvido que aquela moça ganhe o suficiente para pagar as dívidas da OZ II e ainda assim sobrar dinheiro, Dorothy. ele fechou o livro, irritando-se por ela ser tão cínica. Será que iremos voltar à era de escravidão? Entre os habitantes da própria Terra? Está fazendo uma acusação muito séria, Sr. Winner. Tão séria quanto é essa situação. Eu pensei que você havia mudado, depois daquela nossa luta, daquele nosso último encontro. Dorothy permaneceu séria. Ambos se olhavam ameaçadoramente, odiando um ao outro. Mas então ela voltou a sua naturalidade:
Bom, esse é outro assunto! cruzou os braços. Vim aqui para avisá-lo de que a Srta. Relena virá visitá-lo.
Me... visitar?
Oh, sim. Foi o próprio Sr. Mallaica que permitiu que ela viesse, porque ela pediu e ele é tão educado! Espere-a, porque ela virá hoje à noite. Não quer comer alguma coisa, para não aparecer a ela tão pálido?
Ele não respondeu. Apenas se sentiu feliz pela notícia.

Noin mal podia respirar, de tanta que era a sua emoção. O céu negro e salpicado de estrelas distantes, a Terra tão linda vista de fora, a lua tão próxima e escura, inúmeros satélites, colônias espalhadas. O Espaço era mesmo um lugar muito agradável, quando visto depois de tanto tempo. Seria mais bonito se não houvessem tantas armas.
A visão era ainda melhor dentro do Deathcythe. Haviam vindo com os Gundams. Claro que isso era muito ousado, mas eles queriam mesmo aparecer, para que todas as colônias vissem que os Gundams e seus pilotos haviam ressucitado. Quanto à OZ II? Bem, haviam poucas frotas da organização no Espaço, então seria realmente fácil aniquilá-las, se elas aparecessem.
O combustível do cargueiro está acabando! Sally informou aos três. Não querem parar numa colônia próxima para podermos abastecer?
Agora temos que ter sorte de que a colônia que nós pousarmos não esteja ocupada pela OZ II. lembrou-se Noin. Não seria bom lutar dentro de uma colônia, com certeza iríamos ferir inocentes.
Bela observação, Miss Inteligência. resmungou Wufei.
Cale a boca, chinês idiota!
Zechs suspirou e virou-se para Sally:
Desde quando eles brigam assim?
É que eles nunca trabalharam juntos! riu ela. Nunca imaginei que eles não combinassem!

Catherine os levou até o humilde consultório, a duas ruas acima de sua casa. Era necessário que eles não andassem muito pela cidade, porque os soldados da OZ II ainda estavam de prontidão, embora já tivessem desistido de procurá-los. Estavam no centro da cidade, e a casa de Catherine e Trowa ficava na periferia, numa zona mais arborizada.
Mas eu já vou avisando. Catherine disse, indo à frente deles. Meu irmão nunca gostou de você, Trowa. Nada garante que ele vá tratar de seu amigo.
Sim, sim. Trowa respondeu educadamente. Mas não fale para ele que eles são Yuy e Maxwell.
Não... posso falar?
Por favor, Catherine!
Ela assentiu.
Tudo bem. Mas James já sabe que você é um piloto! Vai ser mesmo muito difícil ele aceitar.
Desculpa interromper, mas será que não dá pra parar de jogar praga pra cima da gente? Duo resmungou. Agradecemos a sua bondade, mas assim já é demais!
Então não precisa agradecer. ela retrucou.
Duo ia continuar, mas foi parado por um olhar de Trowa. Estava ajudando Heero a andar, mas estava tão inválido como ele, tendo dificuldades também para andar. Aqui. disse Catherine. Chegamos.
O pequeno consultório era apenas uma casinha comum, de cimento, verde-clara e com uma placa escrita: "Consultório Médico: Dr. James Bloom". Catherine bateu na porta e chamou:
James! Mano, você tá aí?
Atendeu a porta um jovem que lembrava muito Catherine. Os mesmos cabelos grossos e castanhos, ondulados, embora os dele não fossem compridos. Tinha dois grandes olhos verdes e uma cara inteiara sardenta.
Mana! ele cumprimentou alegre, abraçando-a. E então, como vai meu sobrinho? o riso dele era inocente e quase contagiante.
Pôs os olhos em Trowa, e então ficou estranhamente sério. Olhou os dois ao lado dele, analisando-os.
Como vai, cunhado? Trowa cumprimentou, tentando ser simpático. Ótimo. respondeu o jovem. Têm problemas aí?
Acontece que o gás de arcânio imobilizou a perna dele. ela indicou Heero. E eu quero... eles querem que você dê uma olhada. Arcânio, hein? James Bloom coçou a cabeça, olhando a perna imóvel. Então vocês provavelmente participaram daquele incidente com a OZ II que aconteceu a pouco, hein? Estranho... e então disse, desafiando-os. Eles disseram que não haviam acertado inocentes.
Não acertaram mesmo. Heero respondeu friamente. Eu não tenho dinheiro para pagá-lo agora, Dr. Bloom, mas posso pagar depois. Aceita me examinar?
O Dr. Bloom analizou-o com os grandes olhos verdes, e só depois disse:
Entrem.
Uma pequena sala no corredor dos quartos da casa era onde ficava o consultório. Uma cama alta com lençóis brancos no meio, ao redor estavam os intrumentos do médico. O Dr. Bloom mandou que Heero se sentasse na cama e começou a examinar a perna. Ouviu o coração do piloto, examinou a garganta, os ouvidos, os olhos. Embora fosse frio com eles, parecia ser dedicado no que fazia. Enquanto mexia na perna imóvel, perguntou:
Faz quanto tempo que a sua perna não se move?
Deve ser quase uma hora... Heero respondeu, pensativo.
De uma a duas. Duo completou. Já faz tempo mesmo.
Então isso é um péssimo sinal. o Dr. Bloom anuciou, terminando os exames e pegando um papel e uma caneta. Tudo o que o gás de arcânio faz é atingir as células nervosas, fazendo-as doer e latejar ou imobilizando-as. Mas o efeito passa depois de vinte ou trinta minutos... E o que isso quer dizer? perguntou Duo, antes que Heero pudesse fazê-lo.
Com certeza você é alérgico a arcânio. concluiu o doutor.
A...lérgico? gaguejou Heero.
Mas o que pode acontecer com ele? perguntou Trowa, preocupado.
Não sei. São raríssimos os alérgicos a um gás que foi feito justamente para não ferir ou matar. Os sintomas encontrados até hoje são incômodos internos. Heero estremeceu. E o que é isso!
Algo não muito agradável, mas até agora não foi registrado morte de nenhuma pessoa. o Dr. Bloom terminou de escrever no papel e entregou-o a Heero. Era uma receita. Tome esse remédio que o efeito do arcânio vai desaparecer da sua perna. Eu não posso fazer mais nada.
Heero desceu da cama e pegou o papel. Tentou ler.
O que está escrito aqui, com essa letra horrível? perguntou inocentemente.
Ah, a conversa tá muito boa, mas é melhor a gente ir! Duo puxou Heero para fora do consultório, percebendo a irritação brotar no médico com aquele comentário. Valeu, Dr. Bloom!
Iam saindo os dois da casa. Trowa permaneceu lá dentro. Apertou a mão no cunhado.
Muito obrigado mesmo. disse humildemente.
Tabom, já entendi. o doutor respondeu. Mas... pelo jeito você quer mais alguma coisa, cunhado?
Eu... quero.
Olhou para Catherine. Ela parecia saber o que ele queria pedir.
Pode... cuidar da Catherine por mim?
O Dr. Bloom se assustou.
Cuidar da mana? Por quê?
Vou partir em missão. Missão? Uma guerra?
Bem.
Mas você já não tinha prometido que nunca mais iria lutar!
Ficaram um tempo em silêncio, se olhando. Catherine suspirou.
Tudo bem, James, deixe Trowa ir. ela segurou o braço do irmão. Isso é importante.
Ah! Bloom se enfureceu. Quer dizer que a sua felicidade não é importante!
James.
Cunhado, por favor. Trowa se curvou, como que numa pequena reverência. Eu irei voltar. Prometo que vou voltar.
Você também tinha prometido que não iria mais lutar! Como posso confiar em você agora?! Nem a gravidez da minha irmã vai pará-lo?
Trowa se virou para Catherine, ignorando-o.
É apenas uma questão de tempo. pegou a mão dela. Só tenho a intenção de dar uma ajuda inicial, eu não pretendo lutar até o fim da guerra. beijou as mãos dela. Desculpe não poder cumprir essa promessa, mas é o futuro da Terra, das Colônias e dos meus antigos companheiros que está em jogo, Catherine. Se virou e foi embora. Ao contrário do que o Dr. Bloom havia pensado, ela não chorou nem gritou, apenas assentiu e sorriu como despedida. Estaria ela agora entendendo o coração de um soldado?

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Kitsune-Onna