Sim, há muitos problemas. Relena disse asperamente. Não quero ser usada como um fantoche nas suas mãos. Ora, e por que um fantoche? Mallaica riu com doçura, depois tomou um gole da sua taça de vinho. A senhorita comandaria.
Não realmente.
Qual seria a sua primeira ordem?
Mandar grupos de busca atrás dos pilotos Gundam. Ah, mas isso já estamos fazendo.
Não como vocês! Eu não os considero inimigos! Oh, então é por causa da senhorita? Colocaria as prioridades mundiais atrás dos seus próprios interesses, Srta. Relena?
Caçar os pilotos Gundam para executá-los não é uma prioridade mundial, Sr. Mallaica.
Mas é claro que é. Mallaica colocou a taça vazia em cima da mesa. Não é maldade minha, Srta. Relena. Eu apenas não estou convencido de que eles são mesmo inocentes, como a senhorita está.
Relena se levantou de um salto. Exatamente como ele queria que ela fizesse.
Mas o que está dizendo?! Foi você mesmo quem inventou essa história toda! Verdade Revelada e tudo o mais! Acha que eu sou uma imbecil para me convencer do contrário!
Srta. Relena, está se excedendo. Mallaica encarou-a nos olhos, coisa que ele muito raramente fazia. Quer se acalmar, por favor?
Não vou!
Acalme-se. Heero Yuy está bem, tenho certeza. Pelo menos lutando bem ele está.
Como?
A base secreta da Lua foi invadida por ele e outro homem. Destruíram metade dos nossos novos Mobile Dolls. Muito bom, não acha?
Relena arregalou os olhos e sua respiração quase parou quando Mallaica disse calmamente:
Estarão na Terra em três dias.
205 A.C.
14
Contagem Regressiva
Nosso plano é ir para a Terra em três dias. avisara Trowa naquela tarde.
Ele e Duo haviam mostrado os textos de Davi Ahul, impressionando a todos. Wufei concordou que destruir as Colônias era o único modo de honrar seus antepassados. Amaldiçôou aqueles cinco velhos burros que os haviam convocado, por não saberem nada da verdadeira intenção do povo antigo das Colônias. Mas Noin não concordou de maneira nenhuma com esse plano.
Mas... como vão fazer isso? Hein? Há as pessoas das Colônias, como pretendem destruir tudo sem matar milhões?
E só agora você pensou nisso? Wufei fungou e Noin se controlou para não perder o autocontrole. É claro que sim. Essa é a grande incógnita, senão já teríamos ido destruir tudo.
Wufei tem razão. Duo concordou. Por isso, vamos para a Terra, como o Trowa avisou.
Espere... Wufei olhou-o com desdém. E qual o motivo da Terra, hein? O que isso vai nos ajudar?
Hey, precisamos da ajuda de alguém, right? Um cara que pensa em tudo, tem as melhores idéias e seu objetivo é prejudicar o mínimo de pessoas possível. Acertou a charada?
Trowa sorriu.
Quatre... precisamos encontrá-lo.
Mas têm certeza de que ele não está nas Colônias? perguntou Noin.
Não, não está. Sally respondeu. Nosso sistema de espionagem aumentou muito nos últimos três meses que estivemos no Espaço. Tenho certeza de que o Sr. Winner e a Srta. Peacecraft não estão nas Colônias.
Bom, não sei... Duo riu, se defendendo. Quem tá cuidando desse lado é a Miss Sally.
Sally sorriu, orgulhosamente, e não pôde deixar de olhar para Wufei nesse momento. Ele, encostado na parede de braços cruzados, confirmou com a cabeça e lançou um pequeno sorriso.
Então eu vou preparar tudo para irmos para a Terra. Noin concluiu, levantando-se da cadeira onde estava sentada. Iremos todos, não? Ou alguém vai ficar aqui?
Ninguém se propôs a ficar.
Onde estão Zechs e Heero? perguntou Trowa. Saíram treinar e ainda não voltaram.
Nesse mesmo momento, Heero entrou na sala. Mancando desajeitadamente, sua travessia da porta até a cadeira mais próxima foi acompanhada com silêncio, pelo olhar de todos.
Que foi? perguntou, não se importando com os olhares, e massageando a perna afetada com as mãos.
Nothing, nothing... Duo respondeu por todos. Depois, a conversa reiniciou.
É que na verdade aquele não parecia ser o "atual" Heero, mas sim aquele adolescente de dez anos atrás. Sério e mancando como um soldado experiente e ferido, os olhos caídos de um cansaço que não parecia incomodá-lo. Permaneceu calado até Noin falar com ele.
Vamos para a Terra em três dias. Tudo bem pra você?
Tudo.
O que aconteceu hoje?
Nada, nada de importante.
Ocorreu na mente de todos ali perguntar se Heero havia recuperado a memória ou não. Mas resolveram ficar calados. Não, Heero não havia recuperado nada. Seu coração só estava se enrijecendo de novo, estando ele perto do Wing Zero mais uma vez.
Zechs permanecia sentado num banco de uma das praças da Colônia. Era noite por ali, e a Lua grande, cinzenta e feia mal brilhava no céu. A praça estava completamente vazia. Ou estaria, até Noin caminhar por ela e permanecer em pé ao lado dele.
Seria melhor declararmos uma guerra. Zechs pensou alto.
Contra quem? A OZ II? Noin o surpreendeu, ele não sabia que ela estava ali.
Isso mesmo. Zechs confirmou. Ela e a Terra.
A Terra? Noin se sentou. Como assim? Apenas a OZ II é nossa inimiga, ou você está com a mesma mentalidade que tinha na época da Presa Branca?
Não é isso. Zechs olhou-a amorosamente. Mas Mallaica vai envolver a Terra inteira nisso, não é? A Terra faz parte da OZ II.
Noin confirmou com a cabeça.
Temos soldados suficientes aqui. lembrou-o.
E eu tenho certeza de que eles merecem uma ótima tenente.
Uma ótima tenente? Noin riu. Não luto uma guerra de verdade faz muito tempo, Zechs. Seria melhor convocar pessoas mais jovens.
Como se você fosse uma velha! Zechs também riu.
Não, mas... Eu não sei quase nada sobre as guerras modernas.
Nunca é tarde para aprender.
Deixe-me ver se eu entendi... Você está ordenando que eu lidere, não é? É uma ordem!
É claro, é uma ordem!
Zechs beijou-a de repente, segurando o delicado rosto. Noin correspondeu ao beijo, e só depois de alguns instantes afastou-o e disse:
Que seja, então. Já estamos indo bem no sistema de espionagem, como Sally disse, então juntar soldados para uma guerra próxima não será difícil. Estão todos motivados, já que temos os cinco pilotos Gundam do nosso lado.
Quatro. corrigiu-a Zechs.
Não por muito tempo, espero. Quatre é muito importante para nós.
Ele contemplou a vista do céu. Lideraria rebeldes das colônias mais uma vez, coisa que não queria fazer. Queria que Heero comandasse. Ele nunca comandara! Olhou para Noin, que também fitava o céu, conseguindo imaginar o que ela pensava. "Estou aqui com ele, são e salvo, e só isso me basta..." Sabia que ela não se importava com mais nada na Terra ou nas Colônias, que queria uma vida de paz, não se importando se houvesse opressão. Tão jovem, e exausta, já pensava como um velho sargento querendo se aposentar. Zechs imaginou o quanto ela se arrependia de ter entrado na carreira militar, ao invés se seguir por uma profissão comum. Não que não fosse boa nisso. Era quase a melhor. Mas era sensível demais.
Em três dias... sussurrou Noin para si mesma.
Três dias. Zechs concordou. Se levantou e começou a ordenar como o tenente que era. Você vai reunir todos os soldados aptos das Colônias em dois dias, e no terceiro organizaremos a entrada da Atmosfera. não era necessário treinamento nem nada, porque quem viveu nas Colônias era soldado por natureza. As Colônias sobreviviam de guerra. Só precisavam de um líder forte. Entendeu tudo, Tenente Noin?
E sorriu. Mas ela se levantou e não correspondeu ao sorriso como ele esperava, mas apenas ficou em posição de sentido, a mão estendida ao lado da testa.
Sim, senhor.
Ele fez o mesmo.
Heero não conseguiu calcular quantas naves e Mobile Suits estavam naquela Colônia, prontos para um ataque. Deveriam ser cinco horas da manhã por lá, e ele estava morrendo de sono. Em pé na pequena varanda do centro de controle do quartel-general, apoiava-se à grade, olhando a imagem sob a noite e o frio da madrugada.
Dá pra acreditar que tudo isso é resto da última guerra? Duo disse atrás dele, surpreendendo-o. Foi até a grade e se apoiou também. A Presa Branca tinha poder bélico pra massacrar a Terra inteira.
Mas ela perdeu, não perdeu? Heero perguntou, observando um grupo de soldados reunidos ao redor de Noin e Sally lá embaixo.
Ninguém perdeu ou venceu. Duo bocejou.
E por que não venceu? Heero insistiu. Se a nossa força de ataque é puro "resto" da força que eles tinham?
Parte porque não haviam tantos soldados assim para lutar de uma vez. Duo balançou a cabeça. E a outra parte foi a teimosia e o orgulho do nosso querido Tenente Zechs em decidir o futuro de bilhões de pessoas em uma luta contra você.
Heero riu.
Os soldados gostam mesmo da Ms. Noin, né? Duo apontou-a, ela ao meio de todos os soldados animados, ouvindo-a, fazendo comentários, elogiando-a. Ela consegue ser amável e ter punho firme ao mesmo tempo.
É mesmo.
Gostaria de ter aprendido a lutar com ela.
Nesse momento chegou Trowa até eles, apressado. Já estava com uma roupa espacial, cinza, e os cabelos longos estavam desgranhados, com jeito de quem acabara de acordar.
O que foi? Duo perguntou, ao vê-lo.
Bem, vocês não vão acreditar em quem veio até nós. Trowa disse, um tanto embaraçado. Não era possível saber se ele estava feliz ou não com isso.
Quem?
Antes que Trowa respondesse, apareceu a pessoa atrás dele. O terno preto risca-de-giz, sapatos elegantes, os cabelos bem-arrumados, compridos e lisíssimos, escorrendo por seus ombros. Duo balançou a cabeça, incrédulo, quando ela lhe sorriu.
Lady Une!
Heero analisou-a. Lady... Une?
A passos formais e discretos, ela se dirigiu aos dois. A maquiagem perfeita em seu rosto um pouco afetado pela idade. Estendeu a mão para Duo, para apertá-la, depois para Heero. O sorriso permaneceu inalterado.
Como... como sabia de nós? Duo perguntou com certa desconfiança e grosseria.
Oh, isso é realmente um problema. ela disse, a voz soando como uma canção.
Sentados na sala de reuniões, mais uma vez. Só que agora tinham Lady Une com eles, a mesma postura delicada e formal. Já havia sido mostrada a todos, Heero já sabia quem ela era e todos já sabiam como ela descobrira tudo.
Boatos entre os líderes da Terra?! Noin indagou, incrédula. Sa...sabem de nós?! O nosso plano!
Lady Une pousou a xícara de café que bebia em cima da mesa.
Isso mesmo. Eu, como jornalista, me infiltrei nos assuntos da OZ II e ouvi esses boatos, das Colônias armando uma emboscada para a Terra. Até dos pilotos Gundam eu ouvi falar. Mas nunca pensei que fosse verdade.
Wufei estreitou os olhos.
Você é jornalista. Isso não quer dizer que.
Oh, não, não publiquei nada sobre isso! ela disse rápido, acompanhada de um sorriso. Nem disse a ninguém. O povo da Terra ainda não ouviu nada parecido.
Não que Mallaica não vá espalhar isso logo! fungou Duo. Ele vai revoltar a Terra inteira contra nós!
Duo tem razão. sussurrou Trowa, em pé ao lado dele. Uma revolta popular pode barrar qualquer possibilidade nossa.
Ou podem ficar do nosso lado. sugeriu Noin.
Como ficar do nosso lado?! Wufei começou a xingar novamente. Estamos querendo atacar o lar deles, tenente esperta!
É, mas a OZ II os oprime, não é? respondeu Noin numa altura de voz maior que a dele, certa de ter um argumento agora que vencesse o de Wufei. Tenho certeza que muitos, a maioria, adoraria que a OZ II caísse!
Wufei ficou calado. Mas Zechs voltou-se docemente para Noin:
Não é bem assim, Noin. Veja, eles estão cansados de guerra. Tivemos uma que quase destruiu a Terra inteira faz só dez anos. Com certeza os populares ficariam do lado de quem quer deixar a Terra como está, pacífica.
Duo suspirou.
Pacífica.
Lady Une se ajeitou na cadeira.
Bem, vou dizer o que eu vim dizer aqui. jogou os cabelos para trás, e surpreendentemente sua voz ficou rígida, muito diferente da canção que era antes. Os olhos ficaram sérios, encarando principalmente Zechs. Sou uma jornalista, atualmente, mas já fui coronel das forças principais da OZ original. Vou ficar feliz em lutar do lado das Colônias.
Heero mordeu o lábio, e imaginou que outros naquela sala pensassem do mesmo modo que ele. Lady Une sabia da guerra, mas não sabia do objetivo original. Como viu que ninguém ali levantara sequer uma pista de que queriam destruir definitivamente as Colônias, resolveu se calar também.
Lady Une esperou a aceitação de Zechs.
Sim. ele disse, simplesmente. Seja bem-vinda.
Então ela olhou para Noin, que permanecia com o pensamento um pouco longe. Passou os olhos por todos os pilotos Gundam presentes. Quatro.
Os pilotos Gundam... ela começou a dizer. eram.
Eram cinco. Duo respondeu rápido. Quatre foi levado pela OZ II.
Quatre... Karim Asid da Arábia?
Ele mesmo.
A Srta. Relena Peacecraft também foi levada. Noin acrescentou. A senhora não ouviu falar de nada a respeito?
A... Srta. Peacecraft? mostrou-se realmente surpresa. Depois balançou a cabeça. Nunca ouvi falar de nada parecido! Mas, se ela e o piloto estão na posse da OZ II, ela não poderia muito bem... executá-los? depois acrescentou. Não estamos mais num mundo que reprima essa atitude.
Um calafrio percorreu a todos. É claro que cada um dali já imaginara essa possibilidade, embora ninguém não tivesse comentado nada.
Isso seria muito mal para a imagem da organização. Noin disse rápido.
É claro que é meio diferente, tenente. Duo virou-se para olhá-la. Lady Une está falando de uma morte "por acidente.
Heero, quieto durante a conversa inteira, sentiu um nó incômodo na garganta. E apertava cada vez mais enquanto Duo falava.
Um avião caindo com os dois, isso seria "por acidente". É claro que a OZ II vai "esquecer" da manutenção desse avião e poderá cair em qualquer lugar da Terra... Por acidente, que nem ocorre todos os dias.
Noin suspirou.
Ficaria muito na cara. Nunca que fariam isso.
Concordo com a tenente. Trowa acrescentou.
Zechs se levantou, nesse momento. Disse em sua voz de comandante:
Será... amanhã. Não temos tempo para um ataque organizado. Será apenas para adentrar na Atmosfera, e sei lugares do sul da África para servir como base temporária. De lá, em solo terrestre e com bastante espaço, iniciaremos o treinamento.
Olhou para Noin.
Temos aqui onze legiões de Mobile Suits e soldados. Uma vai para a Tenente Noin, e tomará a dianteira junto comigo e a minha legião.
Sim, senhor. ela confirmou.
Wufei. olhou para o chinês. Terá a sua legião, e ficará em segundo lugar, você e a Major Sally ela não estava ali no momento, e sim organizando os homens.
Wufei odiou a idéia de ser comandado a fazer alguma coisa, mas assentiu.
Tudo bem.
Duo, você terá a sua legião e virá logo atrás de Wufei e da Major Sally. Heero irá com você, e vou dar a ele uma legião também.
Heero sentiu-se paralizar.
Eu?
Exatamente. afirmou Zechs e recomeçou as ordens antes que Heero pudesse protestar. Duo e Coronel Une irão por último, fechando o ataque.
Duo riu.
Então pretende formar uma fila indiana? Que forma organizada!
Zechs simplesmente ignorou-o.
Serão oito legiões de cinqüenta soldados cada uma, totalizando quatrocentos Mobile suits. As outras três ficarão nas Colônias, em caso de um ataque ou de precisarmos de reforços. Lembrem-se: concentrar-se apenas em passar pela Atmosfera com o maior número de soldados possível.
Não irão nos detectar, Comandante? Noin perguntou.
É claro que vão. Wufei respondeu rispidamente. E eu quero saber os planos de nosso comandante quanto a isso.
Zechs encarou os olhos negros, ansiosos por achar algum defeito nele. Começou:
É claro que vão saber que estamos lá. Mas é por isso que eu falei sobre o sul da África. suspirou. Demoraria até explicar. Eu vivi lá por muito tempo, e sei que o chão daquele lugar é extremamente tóxico.
Tóxico? Duo fungou. E o que tem a ver?
... e explosivo, porque por muito tempo aquele lugar foi lixo de todas as atividades nucleares da Terra.
Wufei franziu o cenho.
E como nenhum de nós sabia disso?
Nem eu sabia. Todas as nações com poder bélico nuclear nunca revelaram sobre esse fato, nem ninguém nunca descobriu. Quem descobriu acabou por ser assassinado, certamente. Desocuparam a área em 122 B.C., alegando que as placas tectônicas estavam em situação de risco naquela região. Depois pessoas começaram a viver lá, acho que em 145 ou 146 A.C.
A energia nuclear não danificava tanto assim a população que já tivera seus antecedentes vivendo num mundo onde se cheirava isso no ar.
Diante de todos, pasmos, Zechs completou.
Como eu ia dizendo, eles não ousariam atacar com explosivos um lugar daqueles. Explodiria um terço da Terra.
Mas eles podem muito bem nos cercar, não? Wufei resmungou mais uma vez.
Se isso acontecer, seremos maníacos. Zechs respondeu, irônico. Partiremos para um ataque suicida atirando naquele solo.
O ataque. disse a voz metalizada através do comunicador. Estimação de entrada na atmosfera em 10 minutos.
Está tudo preparado. Especifique o número de seu Mobile Suit.
X2337931YB.
Desde já agradeço.
O prazer é meu.
Quer mesmo realizar essa traição? Realmente quer ser leal à OZ II?
Senhor, eu não acho que alguém nesse Espaço todo consiga vencer a OZ II.
Então não é pela nossa proposta de paz.
Será quando a OZ II tiver alguma proposta de paz.
Que ironia.
Desculpe-me.
Tudo bem. Fomos amigos na infância, não é? Estivemos juntos por realmente muito tempo, toda a adolescência. Treinamos para o exército juntos!
E o senhor traiu a Aliança para estar ao lado da OZ II.
Não tive escolha. Treize Khushrenada era a razão da minha vida. Agora, veja, fico realmente honrado por você levar em conta nossa amizade e o longo tempo em que estivemos juntos.
É claro.
Vejo você em dez minutos. Mesmo se perder, terá o meu apoio.
Terei, eu sei. Agradeço de novo. Fechando comunicação.
Mallaica suspirou, satisfeito, aquela satisfação verdadeira ao ver que todas as coisas estavam correndo como ele queria. Em sua elegante cadeira, olhou para a imensa paisagem de mar e ilhas que estava atrás dela, formando um quadro vivo, em que as nuvens iam delicadamente se formando no céu.
Fora órfão desde que nascera. O fato de seu orfanato ser próximo a uma academia militar só o fez ficar vidrado em soldados, fortes, musculosos e aparentemente invencíveis, treinando em exercícios puxados o dia inteiro, todos os dias. Com as pequenas mãozinhas de criança e os olhos curiosos grudados na grade, observava tudo. Deveria ter seis ou sete anos nessa época.
Foi quando um dos soldados foi falar-lhe, num dos momentos de descanso. Alto, elegante e muito jovem. Tinha olhos profundos também, indecifráveis. Apoiou-se na grade, fazendo Mallaica assustar e recuar alguns passos. O soldado estava suado por causa dos treinos, mas não ofegante.
Bom dia. disse apenas.
Mallaica gaguejou.
B...bom dia.
Gosta daqui? o soldado perguntou, indicando o centro de treinamento com a cabeça.
G...gosto.
Deve gostar mesmo. Faz pelo menos dois meses que você vem aqui quase todo dia, garoto.
Mallaica sentiu-se corar, principalmente diante daquele sorriso estranho e ao mesmo tempo reconfortante. O soldado não o olhava com indiferença.
Seu nome, garoto?
É... Aurey.
Tudo bem, Aurey. Por que não vem aqui amanhã de novo? Bem, tenho certeza de que virá. Vou pedir a um dos responsáveis que deixe você entrar aqui. virou-se para sair, e então disse. O meu nome é Treize.
Mallaica voltara no dia seguinte. Voltara muitos outros dias. Mais tarde fora admitido pela academia. Mais tarde já era um soldado exímio, sempre seguindo os moldes de Treize, e Treize o ensinava e estava sempre disposto a ensinar. Depois da academia, Mallaica entrara para o exército. Se tornara um líder do exército. E Treize, quando se tornara líder da OZ, o designara para um dos melhores cargos. Quando a Facção Treize se separou da Rolme-Feller, Mallaica continuou até o último momento com o seu mentor. E Treize nunca se esquecia dele. E ele tinha uma fixação e uma lealdade ilimitadas para com Treize, porque Treize o ensinara e ele estava sempre nos moldes de Treize, e agora Treize estava MORTO!
Pôs a mão na cabeça, tentando apacentar a dor e a tontura. Encostou-se mais na poltrona, consolou a si mesmo: calma, olhe para o mar e as ilhas. Treize amava o mar e as ilhas. Amava a Terra, era tão linda! E o mar, e as ilhas, e o mar.
Foi se dando conta que mais uma daquelas crises o estava dominando. Respirou mais fundo ainda, se levantou e deu voltas pela sala espaçosa, o mar e as ilhas, e logo foi se acalmando. Ninguém sabia desse seu lado. Ninguém nunca descobrira nada sobre esse seu ponto fraco. Conseguia muito bem disfarçar tudo isso na frente das pessoas do mundo inteiro. Era líder do mundo agora. Líder do mundo. Do mundo-Terra, não do mundo-Colônias. O mar e as ilhas.
Se sentou de novo, tentando lembrar da imensa satisfação que sentia por estar tudo dando certo, tentando barrar sua obsessão através desse simples pensamento. Se bem que não era tão bom assim. Se não conseguisse barrar Zechs e sua tropa de chegar ao sul da África, seria uma dor-de-cabeça muito maior. E os malditos pilotos Gundam, todos vivos, ou renascidos. Ninguém ganhara dos pilotos Gundam. Os pilotos Gundam eram invencíveis.
Calma, Aurey, você tem Winner e a estúpida Peacecraft com você.
Ele já está falido, mas ela se recusa a ceder. Mas ela não é uma ameça - quando sozinha.
Trovejou de leve.
Viajei meeeeeeesmo! Nossa, quanta invenção pra sair logo essa guerra! Me desculpem mesmo, mas eu nunca pensei que fosse tão complicado escrever estratégias bélicas complicadas (que eu amo ler). Mas até que, particularmente, eu gostei de algumas idéias...
Kitsune-Onna
