15 Um Final"
Vamos amanhã, hein? Tomorrow's the great day!
Cale a boca, americano.
Chinês idiota, nem bebendo fica com humor melhor!
Ora, acalme-se, Duo.
Tudo bem, Sally. O que ele diz é verdade.
Tenente, não beba. Você já não consegue liderar direito, de ressaca ainda.
ORA, WUUFEI!
Seria bom se não discutissem agora, tenente.
Bem, Trowa, não é você que tem de aturar esses comentários rudes! E, ah, parem de rir!
Mas a senhora também tá rindo, tenente!
Eu sei, Duo, mas.
Eu poderia dizer que vocês estão mais animadinhos que o habitual.
Lady Une ainda não viu nada...! Ne, Hee?
Hum?
Hee?
De onde você tirou isso, Duo?
Não posso chamar assim?
Eu ainda preferia Heero.
Ah, a gente tem que aproveitar que você não tá mais tão sério!
Tem?
Wuufei, vá pastar.
É, quem sabe assim eu consigo ensinar alguma coisa para a tenente.
O quê?
Vou ter que ensiná-la a ouvir também?
Wuufei é bastante diferente do que eu imaginava.
Volto a repetir: Lady Une ainda não viu nada... Ne, Hee?
Hunf.
Não é que eu sou diferente. Eu apenas estou diferente.
O clima da guerra?
O convívio com vocês. Em especial com a.
Se falar de mim de novo vai ter!
E Tenente Zechs não a defende?
Hum? Eu?
Estava distraído? O senhor mesmo!
Bem, Une, eu.
Ele é assim mesmo.
Major Sally tem razão. E Lady Une não viu nada! Ne, H.
HEERO!
Ca-calma!
Duo, você deixa qualquer um extressado.
Você tem QI para ficar extressada?
Argh!
Já perceberam que estamos repetindo as mesmas coisas?
Ah, Trowa, sempre inteligentíssimo.
Repita, senão a tenente não entende.
BASTA!
Miss Noin!
Calma, Noin!
Tenente!
Vai enforcá-lo!
Zechs, faça alguma coisa para detê-la!
Se vocês todos pararem de rir!
Olhe, Noin, que lindo, Zechs está rindo!
Já vi, Sally.
Então largue o Wuufei!
Desculpe, mas vou te deixar viúva antes de casar!
Ai, que sina a minha!
Por que não voltamos a falar dos assuntos sérios?
Isso não vai ser possível.
Concordo com você, Trowa.
Não é por nada, mas temos uma batalha amanhã.
A gente tem que se divertir antes de morrer nela.
Duo! Não diga algo assim!
Seria bom dormir agora.
Hee falou tudo.
A propósito, a Noin ainda não soltou o pescoço do Wuufei, soltou?!
A decolagem fora perfeita. O coração de Heero, pulsando forte debaixo da roupa grossa de batalha, parecia fazer seu corpo inteiro tremer junto. Repetia as palavras de Zechs constantemente na cabeça, mais preocupado em conseguir entendê-las para aprová-las do que para segui-las. Aprová-las. Queria ter o mesmo olhar fuzilante de Wuufei, diante de ordens que não aprovava, para não ser um mero fantoche e conseguir agir como um ser pensante.
Ouviu a voz de Trowa.
É estranho. Faz realmente tempo que a OZ II não vem às Colônias.
Você acha que eles desconfiam de alguma coisa? Heero tentou falar naturalmente.
É bem provável. O Espaço é muito grande.
Heero estranhou um pouco. Não era muito comum Trowa iniciar conversas simplesmente por começá-las.
Está tudo bem com você? Trowa voltou a falar.
Sim. Não precisa se preocupar.
Estou temendo por Quatre agora. Nunca imaginei que tivesse que temer por ele.
Se Trowa fala de assuntos tão fora do momento, então não deve ter nenhum problema, pensou Heero. Nada que indicie inimigos. Isso é muito bom.
Vocês eram mesmo grandes amigos. Não imagina como ele ficou triste quando você disse ter perdido a memória e quando recusou vir com a gente.
Trowa riu de leve.
É mesmo. Pobre Quatre.
Algo piscou na tela.
Um minuto para a entrada na Atmosfera. Trowa disse friamente a Heero e a todos os outros soldados de sua legião.
Dentro do Wing Zero, Heero sentia a temperatura aumentando cada vez mais a cada segundo. Chegou a passar mal, mas persistiu, Trowa dizendo ordens, inexpressivo como um computador. Tudo ao redor dele ficou avermelhado e ainda mais quente. Estariam os outros soldados sofrendo tanto quanto ele?
Viu que outra luz em seu painel piscou em alerta. Era o aviso de... inimigos!
Um tiro de míssil passou raspando pelo ombro direiro do Wing Zero. Heero congelou de susto e virou instintivamente, o canhão-de-raios em punho. Viu que não fizera o errado, já que todos ao seu redor, inclusive o Heavyarms, se viraram para atacar. Trowa murmurou mais alguma orden que Heero, no desespero, não ouviu.
Sagitários e um outro tipo de Mobile Suit estavam lá, dezenas deles. Heero sentiu ser atingido três vezes, e então começou a revidar do modo mais rápido que pôde. Nem se deu conta que lutava tão bem quanto um piloto Gundam, destruindo três dos inimigos de uma só vez. Quando o canhão-de-raios não tinha mais utilidade, jogou-o fora e tirou o sabre-de-raios, aquela espada estranha que pensara nunca poder usar. Mas não pensou nisso nesse momento.
Os soldados da OZ II pareciam proliferar. A batalha ocorria bem na entrada da Atmosfera terrestre, e a temperatura continuava insuportavelmente alta. Heero estava com tonturas, e continuava retalhando, não imaginava como o resto do exército improvisado estava agindo, se estavam vencendo ou sendo massacrados.
Afinal, Zechs, por que esse ataque tão súbito? Por que não uma preparação antes da batalha? Por que tanta pressa? Por que contar com a sorte? Por que arriscar a própria vida? Por que achar que pode tudo, que o inimigo nunca vai ser melhor que você? POR QUE ESTÁ LUTANDO EXATAMENTE DO MESMO MODO COMO EU LUTARIA!
Cerrou os dentes, com raiva de sentir estar perdendo. Seus dedos se esticaram e ele, sem saber como, digitou o que digitava há tanto tempo atrás. Sua mente humana não conseguia comandá-lo mais. Só o instinto de sobrevivência de um soldado.
Z-E-R-O
Tudo ao seu redor foi ficando amarelo, e não conseguiu ver mais nada então, só os inimigos sendo destroçados com uma força e uma habilidade devastadoras.
Enfim tudo parou.
Foi sentindo o poder inegável da gravidade, au mesmo tempo que a temperatura foi caindo e a paisagem ao redor foi ficando escura e negra, sem a palidez da Atmosfera nem o brilho da batalha. Foi se sentindo cair. Caindo, caindo, caindo, caindo, caindo, caindo, caindo, caindo, caindo, caindo, caindo.
Pensei em Zechs, na luta que tive com ele que quase decidiu o destino da Terra. Em Noin, tão doce e ao mesmo tempo experiente, em Sally e sua emoção ao rever uma pessoa que mal conhecera. Em Duo, que me encontrou na velha hospedaria, que me ajudou a fugir quando fui pego pela Aliança, pela vez em que atirou em mim para defender aquela moça de vestido de festa azul. Em Trowa, e quando o vi no circo, quando briguei com Catherine, quando eu ensinei que a melhor maneira de viver é seguindo as próprias emoções. Em Quatre, quando ele era Karim Asid e mostrou-me os Gundams, quando confiou em mim para que aquela bomba não explodisse, na primeira vez que nos encontramos. Em Wuufei, quando ele me viu sem memória e disse que aquilo era deprimente, quando tentei convencê-lo a lutar do nosso lado mandando-o pilotar o Wing Zero. E em Relena, quando me abraçou e viu que eu nem sabia quem ela era, quando nos encontramos pela primeira vez e eu quase a matei, quando dançamos juntos e depois a defendi com meu Gundam, quando ela gritava meu nome - e sinto que ouço aquela voz agora - quando eu rasguei aquele maldito convite e ela fez o mesmo, ela fez o mesmo depois.
Inconsciente. Foi bom encontrar um consolo tão agradável na morte.
PRIMEIRO FIM
Final da Primeira Fase de 205 A.C.
Kitsune-Onna
