Capítulo I – Introdução – De Negro
Nem sei por onde começar. Tudo parecia tão distorcido, tão fora do lugar. A minha vida sentimental não fazia sentido: a adoração que um dia senti por Harry estava a desaparecer...pois tentei esquecê-lo através de outros rapazes, e estes também serviram para eu ganhar experiência no que toca ao sexo oposto; Primeiro há aqueles (na classe C) convencidos que só nos querem exibir em frente aos amigos, depois há aqueles (na classe B) melgas que não nos largam o dia todo, e por fim os românticos (classe A) que sim, são queridos, mas se não lhes pomos um travam, passam o dia todo a dizer "lamexices". Com tudo isto fui esquecendo o rapaz-cicatriz. Eu agora via-o com outros olhos, ele não era mais do que um miudinho famoso provando a sua coragem para enfrentar os maus da fita (muuuuito classe C).
Enfim, sem Potter, e sem rapazes-para-esquecer-o-Potter, o meu coração estava vazio. Mas a minha mente não, oh...não, eu estava cheia de planos para a minha vida depois da escola. Tais como trabalhar como professora, talvez em Hogwarts, talvez no estrangeiro.
Por falar em estrangeiro, bem, se algum dia eu me fartasse desta vida, eu iria para longe, começar uma vida nova e talvez até longe da magia. A verdade é que estava tão farta daquela sociedade mágica que se um dia eu tivesse de fugir, iria mesmo viver como muggle para o estrangeiro!
Não que eu estivesse assim tão mal com os que me rodeiam. Tenho a minha família. Bem, mas sendo família, não quer dizer que esteja sempre bem com eles. Os meus dois irmãos mais velhos: só os vejo no Natal; Percy: bem, nem vale a pena explicar; os gémeos: agora com a loja só pensam no negócio e já nem sei o que eram aquelas tardes de risota a ouvir as suas piadas; e por fim, Ron, que agora parece ser o santo de devoção lá de casa, talvez por causa de ter sido escolhido prefeito, ou por ser o camarada de Harry Potter (o outro santo). A protecção que outrora os meus pais demonstravam para comigo por ser a mais nova, evaporou-se, simplesmente. E eu já não sinto aquele aconchego, aquela alegria de estar em casa. Só me apetece chorar quando sinto a frieza com que sou tratada pela minha mãe. A minha Mãe! Céus, o que estou para aqui a pensar, ela ama-me como sempre amou, tenho a certeza. Mas...
Deixemo-nos de coisas, cá estou eu, para mais um ano em Hogwarts, chegámos ontem ao castelo, o Neville está excitadíssimo, vai para o seu sexto ano, já eu, só de me lembrar que vou ter aqueles terríveis exames no final do ano...até me dá arrepios, mas não há de ser nada do outro mundo pois tenho tido boas notas a tudo, bem, nem tudo. Poções é a minha desgraça, queria ver se arranjava alguém para me ajudar a subir a nota.
O parapeito da janela do meu dormitório era suficientemente largo para uma pessoa lá se sentar. Uma pessoa que por acaso era só eu. Sentava- me lá à noite desde o meu primeiro ano, costumava ter muitas insónias (por causa daquela cena com o Tom Riddle) mas também gostava muito de ficar a olhar o céu estrelado.
Continuando, estava lá eu sentada, por volta das 02h do dia 2 de Setembro, quando a minha atenção foi atraída para um vulto que se deslocava no ar à minha direita. Não me surpreendi, pois aquilo podia ser uma coruja que ia entregar uma mensagem tardia a algum aluno com insónias, como eu. Errr...era, sem duvida, uma coruja grande. Enorme. Uma coruja meio-gigante? Não, uma coruja numa vassoura. Uma coruja que envergava uma capa de veludo negro, fascinante, e cujo capucho lhe cobria a face. Pois só quando estacou a cerca de 3 metros da minha janela, e porque vinha a grande velocidade, caiu-lhe o capucho e eu dei conta que não era de uma coruja que se tratava...mas de um rapaz de pele clara e cabelo loiro, lindo. Nos poucos segundos em que o nosso olhar se cruzou, senti algo muito, muito estranho, que nem eu sabia explicar. Como se eu não fosse Ginny Weasly, como se aquela criatura em negro não fosse Draco Malfoy.
- Boa noite – achei melhor ser bem-educada, a estas horas da noite nunca se sabe o que pode acontecer...ainda mais sabendo com quem estava a falar.
- Pra ti deve estar, a tua vida deve ser perfeita, Weasel. – disse Malfoy, sem me olhar nos olhos, ele parecia bastante triste e pensativo. Por um momento tive pena dele, mas depressa afastei esse pensamento, afinal todo o mal porque ele passasse era mais do que merecido!
- Se pensas que a minha vida é perfeita estás muito enganado. – enfrentei-o com a mesma expressão carrancuda que ele agora mostrava. – Mas diz lá...o que andas a fazer em cima da vassoura a uma hora destas, Malfoy?
- Em cima da vassoura eu costumo voar, Weasly. – ele deu aquele sorrisinho idiota de classe C, mesmo a armar-se em espertinho. – Mas se tens outras ideias...estou aberto a sugestões, por assim dizer. – disse com uma expressão de puro gozo encolhendo os ombros.
- Se não queres conversar, o que eu já devia ter percebido, vai-te embora e deixa-me em paz! – passei-me. Aquele miúdo é insuportável, não só pelas piadinhas secas mas também pela maneira como as diz, aquele sorriso...argh, que nojo!
Ele ficou surpreso com a minha reacção e foi-se embora.
Uma semana depois daquele pequeno "incidente" já eu estava farta das aulas, ainda que só tinha tido uma semana delas: para minha decadência, soube que este ano em Poções a matéria vai ser terrível, não sei como vou aguentar; também não estou lá muito bem com Herbologia, odeio plantas, quero lá saber para que servem elas! Por outro lado desenvolvi bastante em Transfiguração... O quê? Eu estava a gastar o meu precioso tempo de reflexão a pensar nas aulas? Isso é um pecado! Sentia-se uma brisa agradável que afastava o calor intenso que tinha feito durante o dia. Como sempre, eu estava na janela a olhar a minha estrela, e de repente atravessa-me a mente aquela imagem quase demoníaca. Ele estava realmente belo, tinha de o admitir. A franja a cair-lhe sobre os olhos...aqueles olhos tristes e abandonados, naquela noite deu-me vontade de saltar da janela só para poder acariciá-lo. Não era a primeira vez que ele me causara estas sensações...
...estava eu a pensar nisto quando vejo uma coruja, (desta vez era mesmo uma), vinda de baixo, aproximar-se de mim, quase que me assustei.
- Hey! Quem te mandou vir aqui assust... - já eu estava a pegar no bilhete quando disse isto e calei-me. Perplexa. A mensagem era curta, de facto, mas intensa.
"Com insónias? Deixa-me adivinhar...Estás de novo sentada no parapeito da janela, hm, a sentir a brisa no corpo, com essa camisa de dormir púrpura que te fica a matar..."
Graças a Merlin a coruja esperou, pois eu já tinha em mente uma boa resposta para mandar ao espertinho que me estava a observar. Mas espera...se ele disse "Estás de novo sentada". De novo?! Grrr...de novo? Então, quem quer que fosse, já me havia visto ali...e isso só significava uma coisa:
"Não tens mais o que fazer, Malfoy? Nunca pensei que alguém como tu se iria esconder e mandar mensagens, Não gosto de falar por coruja, vem cá, se tens coragem suficiente...ou ficas só pela observação?"
Escrevinhei à pressa, nem sei como fui capaz de o "convidar" a ir ter comigo. Ele disse que a camisa de dormir me ficava a matar. Hm, Eu também podia dizer que ele com aquela capa negra não era nada de se mandar fora.
