Capítulo IV – Descontroladamente
O louro andava de um lado para o outro na Sala. Eu continuava sentada, farta de vê-lo naquele vai e vem. Ele não dizia coisa com coisa, parecia que andava em círculos só para não ter de chegar ao ponto da questão.
- Chega Malfoy! Estás a ver se eu me farto e vou embora?
- Deixa, não é nada de importante. Podemos falar dep...
- Diz logo de uma vez! Não deve haver um assunto assim tão embaraçoso para alguém com tanta coragem como tu. – Disse eu a sorrir. Um sorriso sarcástico. Só assim é que ele iria falar.
Ele interrompeu bruscamente o seu caminho contínuo de Norte para Sul e virou-se para mim com um dedo acusador no ar. E no mesmo momento eu percebi algo estupendo:
Eu descobri o ponto fraco de Draco Malfoy!!!
- Cala a b... – E deteve-se a ele mesmo. Recolheu o dedo, baixou o braço e fez uma careta de cansaço. – É...em relação ao que eu fiz hoje à tarde, acho que me precipitei um bocado. Foi uma atitude mesmo de criança. Mas é que...tás a ver, Slytherin, toda a gente diz que não somos muito dotados no que toca a coragem. E eu passo-me com quem diz isso – como já reparaste – porque eu sou corajoso. Não tenho culpa do Potter ter mais oportunidades para se mostrar.-
...aquele exibicionista nojento... acrescentei mentalmente.
- Mas acho que foi uma maneira muito estúpida de to provar – e agora ele desviava o olhar de mim, e continuava, – Deves ter ficado a pensar que sou um tarado, ou pervertido ou... - E voltou a encarar-me – pr'além das óptimas coisas que já devias pensar de mim através dos teus amigos e irmãos...
- Pode-se dizer que não te tinha em muito boa consideração. – Sorri, e continuei a falar lenta e suavemente. – Mas o que aconteceu não piorou nada. Só melhorou, Draco, só melhorou...
Eu estava a atirar-me a ele?! Uau...eu estava mesmo a atirar-me a ele. Já que ele não se decidia, tinha de ser eu a dar o tão conhecido "primeiro passo".
E assim foi, dei alguns passos na sua direcção e olhei para baixo, constrangida. É verdade, apesar de tudo eu ainda tinha vergonha na cara.
Uma Weasly a conquistar um Malfoy...que ridículo!
Mas esse constrangimento não durou muito. Pois ao sentir a sua mão fria no meu queixo, eu derivei de todos os meus possíveis pensamentos daquela noite. Eu viajei para longe, para um lugar onde não era obrigada a pensar no que estava a fazer. Naquele momento eu só queria continuar a beijar Draco Malfoy, algo me prendia a ele de tal maneira, (e não estou a falar das mãos hábeis que me puxavam pela cintura), que eu já nem queria saber onde estava.
Efectivamente, só dei conta de que já estávamos enrolados no sofá quando ele suspendeu a corrente de pequenos beijos no pescoço – que me estavam a alegrar tanto – e murmurou lentamente ao meu ouvido:
- Então, já subi na tua consideração, eh?!
Senti de novo os seus lábios, suaves como a seda, agora atrás da minha orelha. Causando-me arrepios que me faziam tremer até a alma.
Comparar os meus ex's com aquilo, seria uma anedota. E das boas.
- É...deves ter subido um pouquinho na minha, ção. – Sussurrei como resposta.
- Ah! Confessa, os meus beijos são irresistíveis. Nem pensaste em mais nada o resto do dia.
- Ahn...cala a boca, convencido...! – Disse eu quase sem fôlego enquanto ele me mordiscava delicadamente a orelha.
Nunca na minha vida eu tinha pensado que poderia achar um Malfoy assim tão...interessante. Ali, naquele sofá, com ele praticamente em cima de mim, eu estava completamente anestesiada! O peso do seu corpo parecia que desaparecera e era como se o meu coração quisesse sair do meu peito.
Ajudei-o a tirar a camisola verde de lã do uniforme, e comecei a acariciar-lhe as costas formosas por baixo da camisa.
Foi então que senti aquelas mãos quentes e macias a subir pelas minhas pernas, e eu achei que devíamos parar por ali, já estava a abusar!
- Pára... – murmurei.
Desprezando o que eu disse, ele continuou, e uau, estava a chegar à minha roupa interior. Tremi. Não é que eu não estivesse a gostar, mas acho que estávamos a ir depressa demais. E decidi parar por ali, gritando:
- PÁRA!
Ele afastou-se com uma expressão assustada e surpreendida.
- Desculpa, mas é cedo demais pra isto. – Disse eu a levantar-me.
- Cedo?! – Perguntou ele surpreso, a levantar a sobrancelha. Com os seus olhos frios, como dois blocos de gelo olhando directamente para os meus com desdém.
- Sim, leva-me à janela. – Pedi, enquanto apanhava a minha capa do chão (quando nos começámos a beijar, ele tirou-ma.).
- Ok, se é isso que queres... – Disse ele a custo.
Pegou na vassoura e levou-me de volta ao dormitório. Com um simples e seco "Até amanh" despediu-se e fiquei a vê-lo desaparecer na noite. Adormeci a pensar nele e a sorrir para comigo.
Acordei a recordar os acontecimentos da noite anterior. Vesti-me e fui tomar o pequeno-almoço. Ao entrar no salão não pude controlar-me e olhei para a mesa dos Slytherin reparando num certo loiro que cochichava com Pansy Parkinson. Um pormenor que não me agradou muito, de facto.
Hermione estava só, longe de Harry e Ron, o que eu achei estranho, dado que o trio raramente se separava. Aproximei-me e sentei-me perto dela. Perto de nós encontravam-se umas colegas do meu ano, que pareciam do 1º a rir e mexericar baixinho.
- Posso? – Perguntei eu a Hermione, ela assentiu, e quando me sentei reparei na expressão enfurecida que predominava na sua face.
- O que tens, Hermione?
- Não é nada de importante. O teu irmão...ele é um estúpido, um parvo, um atrasado mental, idiota e cretino! Não pára de me irritar, até parece que gosta de fazer isto como se fosse um passatempo. Está sempre a criticar-me por estudar muito e por fazer aquilo que gosto. E agora nem faz um esforço para me agradecer quando o ajudo em Encantamentos! Se não fosse o Harry, já lhe tinha lançado um feiti...Ginny, estás a ouvir-me?
De facto não estava a prestar muita atenção ao que a minha amiga dizia. E muito menos ao pedaço de pão que tentava empurrar para dentro da boca. Pois do outro lado do salão dois olhos verdes/prateados (ainda estava para descobrir qual era mesmo a cor...) encontravam os meus. Eu devia ter um sorriso estúpido na cara, e sabia que tinha de desviar o olhar dele, mas hesitei e fiquei a observa-lo por uns instantes. Instantes esses em que ele continuava a cochichar com Pansy.
Aquela cara de buldogue...grrrrrrrrrrrr...
Contive-me e finalmente desviei o olhar. Hermione continuava a chamar-me à atenção e respondi:
- Claro que te estou a ouvir, mas quando é que isso aconteceu? Isso com o Ron...
- Isso com o Ron, nada. Ele irrita-me, é só.
- Mas, que eu saiba ele sempre te irritou, porquê esse stress todo agora?!
- Oh Ginny, ele agora está muito pior! Parece uma criança autêntica, faz as coisas sem pensar e não vê que está a magoar as pessoas que estão à volta dele. Eu sei que ele é teu irmão, mas ele é um idiota! É o que é... – Disse ela rapidamente, voltando a sua atenção ao prato de cereais.
- Desculpa Hermione, tenho de ir para a aula. Se quiseres falamos na hora de almoço.
- Muito obrigado por me teres ouvido! Precisava mesmo de desabafar.
Sorri e afastei-me em direcção ao dormitório. Reparei que as raparigas do meu ano já não se encontravam na mesa. Provavelmente também iam buscar o material.
Passados poucos minutos já eu me encontrava a entrar na sala comum, que agora estava cheia de alunos apressados para as suas próximas aulas. Enquanto eu mesma arrumava o livro e os pergaminhos para aquela aula nojenta, com aquele professor nojento com um grande nariz também ele nojento, ouvi uns comentários sobre rapazes, ou melhor, um rapaz
- ...sim!!! Ele está cada vez mais giro... – dizia a Joanne, a gorda ranhosa do cabelo oleoso.
- Ai...aqueles olhos, ao pequeno-almoço parecia que estava a olhar pra mim!!! – Comentava Jenny (a tem-a-mania) com ar sonhador.
- Claro que aqueles olhos liiiindos de morrer estavam dirigidos a mim!
- O Malfoy estava a olhar era pra mim, meninas. Agora, vamos embora que já estamos atrasadas. Ginny, vens connosco?
- Err...ainda não arrumei tudo. Vão andando, eu depois encontro-vos lá.
Elas saíram e fiquei a pensar naquilo que disseram.
Idiotas...pensavam mesmo que ele estava a olhar pra elas...se elas soubessem...
Sorri satisfeita, peguei no saco e dirigi-me às odiosas masmorras.
Quando já estava a caminho, do corredor que dava para as masmorras vinha alguém no sentido contrário ao meu. Reconheci-o de imediato, o seu cabelo lindo quase a tapar aqueles olhos misteriosos que olhavam para mim.
Vinha a falar descontraidamente com os seus "guarda-costas" e com a Pansy Porcalhona. Quando me viu calou-se e passando rente a mim sussurrou com um ar maldoso:
- Não vieste cedo demais?
Apenas continuei o meu caminho. Aquela provocação não merecia resposta. Simplesmente ignorei. Ele deve ter percebido que eu ia ter Poções.
Ao aproximar-me da porta da sala reparei que Ron e Hermione estavam juntos, aparentemente a conversar, decidi ficar por ali perto à espera que o resto do 6º ano saísse.
Entre os passos ruidosos dos alunos consegui ouvir parte da conversa:
- ...eu sei que tenho sido parvo ultimamente, e queria pedir-te desculpa por isso. Mas é que faz-me confusão ver-te estudar tanto! Aqueles livros velhos não servem pra nada!
- Desculpas aceites. Espero que não se volte a repetir. – Respondeu a minha amiga.
- Mas...
E fiquei sem saber o que ele disse a seguir – devido ao barulho que as minhas colegas fizeram ao entrar na sala –, mas pelo tom de voz de Hermione, não foi boa coisa. Por isso fiquei ali a ver o que se passava.
Neville saiu da sala com um ar desolado, pensei que tivesse sido apenas pela aula que tinha tido, mas...
- Ginny! Viste o Trevor? Perdi-o outra vez! – Perguntou ele com uma cara desesperada.
- Acho que está ali perto do Ron. – Disse eu, que já tinha visto o sapo antes do rapaz aparecer.
- Obrigado Ginny! Muito obrigado! O professor Snape implicou com ele, por isso é que ele fugiu!
E vi-o correr para apanhar o bicho do chão.
De repente o corredor ficou vazio e pude ver exactamente o que aconteceu nos momentos que se seguiram.
Neville apanhou o sapo, e quando se levantou empurrou, sem querer, o meu irmão para "cima" de Hermione.
Quase se beijaram, se não fosse Ron ter posto as mãos na parede, de certo que se beijavam. Ficaram a pouquíssimos centímetros. Nem quis acreditar que o meu irmão não a tenha beijado!
Poucos segundos depois Hermione Granger saiu dali apressadamente, tanto que ao passar por mim, nem reparou que eu tinha assistido à cena.
Ronald, ia olhar para ela e deu de caras comigo o que o deixou muito corado e constrangido.
- Há quanto tempo estás aí? – Perguntou ele muito irritado.
- Há tempo suficiente para ver que és um imbecil.
- O que é que eu fiz? – Perguntou com ar de inocente.
- Não fizeste nada! É esse o problema.
Ele não retorquiu e foi-se embora murmurando "mulheres".
Entrei na sala. Mal eu sabia o que me esperava lá.
