Capitulo 5
Tempo de mudanças.
Acho que foi por esta altura que as coisas começaram realmente a mudar. A mudança veio tão repentinamente que nós nem pudemos dizer ao certo quando aconteceu. Claro que se não fosse a morte do meu tio eu provavelmente nunca teria conhecido Draco e ele nunca teria se tornado o meu melhor amigo, nas não consigo deixar de pensar que foi realmente aquele acordo que mudou tudo. Porque até ali, eu nunca tive muito tempo para me preocupar apenas comigo. Eu sempre tive um deles atrás da porta ou junto às escadas, prontos para captar algum segredo, alguma coisa que mais tarde pudesse ser usada contra mim. Primeiro foram as pessoas que me rodeavam. Eu senti como nunca o amadurecimento que a morte do meu tio trouxera. Como se de repente nos tivéssemos percebido que não podíamos ser aquela família feliz para sempre. Porque os problemas existiam e nós tínhamos recebido a prova disso. Depois fui eu. Comecei a sentir-me ser empurrada pela corrente. Todos os dias, quando acordava assustada por mais um sonho maldito, eu sentia aquela angústia dentro de mim. Aquele aperto no peito, a vontade de desabar em lágrimas. Por fim, os meus dois novos amigos, que vieram acompanhados por uma época totalmente nova. Antes eu passava horas como o meu tio e com os meus irmãos. Agora eu não tinha o meu tio, e Draco fizera com que eu me afastasse dos meus irmãos. Nessa época eu pude conhecer Liza e Draco sem interferências, sem um dos ruivos curiosos para seguir-me. E acho que se as coisas não tivessem realmente mudado eu nunca teria construído uma relação tão forte com aqueles dois.
Devo confessar que quando vi Elizabeth pela primeira vez, perdi-me naqueles olhos castanhos. Ela era sem dúvida uma menina especial. Bonita como uma manhã de Outono, serena como a brisa suave da Primavera e risonha como uma tarde de Verão... Uma menina perfeita. Lembro-me bem da primeira vez em que olhei com atenção para os olhos dela. Foram a primeira coisa em que eu reparei, os olhos. Aqueles olhos cor de mel, que nos prendiam. Com o tempo, eu descobri que ela era mais do que uma menina perfeita. De fato, eu percebi com o tempo que não existem seres perfeitos. E Liza? Estava o mais longe da perfeição possível. Porque sendo bonita, serena e risonha, ela também era falsa. Falsa como a lua, com a sua eterna face escondida. Desde o início, eu fui a única que viu mais do que uma cara bonita. Sempre senti que eu e ela estávamos ligadas por alguma coisa, então eu sempre vi mais em relação a ela do que as outras pessoas. Não concordava com as atitudes dela. Liza sempre foi uma boa atriz, mas na altura não percebi porque queria ela enganar os meus pais daquela forma. Ela não era uma má pessoa, acho que tudo o que ela sempre quis foi atenção. Passava tanto tempo longe dos pais... Eu dei-lhe essa atenção. Devagar, apenas o necessário para a conquistar, para lhe mostrar que podia confiar em mim. Mas como podia eu julgar que conseguia compensar com apenas algumas semanas de amizade, toda a carência de amor que a minha amiga acumulara durante todos aqueles anos?
Apesar de todos os contratempos, nós aproximamo-nos. Apesar de sermos tão diferentes, contávamos tudo uma á outra. Éramos confidentes. Eu contei-lhe sobre a dor que sentira com a morte do meu tio e ela à sua maneira confessara-me a falta que sentia dos seus pais. Mas haveria sempre um abismo entre nós. Um grande muro que nos separava. E o seu nome era Draco Malfoy.
Não vi Draco durante muito tempo e sentia-me mal por o ter deixado naquele dia no Celeiro. Pela primeira vez, eu tivera de optar entre as duas pessoas que me amariam e protegeriam toda a vida. Eu simplesmente tivera de escolher e na altura pareceu-me mais sensato ficar ali com Liza. Eu tinha menos de dez anos, qualquer menina da minha idade ficaria junto dela, que começava a chorar no meu ombro. O que estou aqui a dizer? Fui eu que chorei no ombro dela. Não pude evitar. Ainda não sei explicar o que aconteceu comigo naquela altura. Acho que uma onda vinda do futuro nos atingiu enquanto nos olhávamos. Porque eu juro a pés juntos que na altura senti todo o amor que viria a construir pela menina ao longo dos anos. Nunca falamos disso. Naquele dia simplesmente quebramos o abraço, caminhamos lá para dentro, secamo-nos e conversamos o resto do dia. Não sobre aquele estranho encontro, mas sobre nós. Se bem me lembro naquela semana enviei cerca de dez cartas de desculpas à mansão dos Malfoy. As cartas eram enviadas com intervalos, porque Draco me pedira isso e porque eu só tinha uma coruja, e nem sempre estava disponível. Eu vi as minhas cartas retornarem intocadas de todas as vezes, até que um mês depois quando eu já desistira de tentar, eu vi finalmente a coruja negra de Draco a aproximar-se.
E iniciou-se assim a época mais feliz da minha infância.
Gina dobrou a carta que acabara de receber cuidadosamente, não deixando de sorrir. Pegou na sua pena e riscou o nome do remetente. Com a sua curiosa amiga Liza Tompkins a remexer em todas as suas coisas, não podia arriscar. Guardou o pergaminho com todas as outras cartas que já recebera. Nenhuma até agora a tinha feito tão feliz como a última. Agora até agradecia a Liza por ter aparecido naquela tarde e tê-la feito faltar ao encontro. Todos aqueles dias de angústia tinham servido para alguma coisa. Acabava de descobrir por ela mesma que o melhor de uma briga era a reconciliação.
Não lhe ocorreu que deveria fechar rapidamente a gaveta. Não lhe ocorreu no momento que naquela gaveta guardava o seu maior segredo. Podia tê-la fechado. Podia ter ocultado todas aquelas cartas antes que ela aparecesse. Mas não, ficara apenas sentada a pensar, a olhar o vazio. Uns segundos antes, apenas uns segundos antes e teria sido poupada a toda aquela situação. Nunca iria deixar de se sentir culpada por aquilo... Normalmente quando a nossa vida é arruinada, não costumamos ser nós os responsáveis. Ninguém quer arruinar a sua própria vida. Claro que com ela isso não podia ser assim. Merlin parecia ter arranjado um destino diferente para todos os momentos da sua vida. Porque as pessoas que vêm a sua vida ser arruinada podem deitar-se à noite, culpar o mundo toda, e jurar vingança. Mas não ela. Gina tinha de ser a culpada pela sua própria desgraça.
- Com que então estás aqui!- Liza apareceu à porta do quarto ostentando a sua maior expressão de triunfo.- Te procurei por toda parte.
Gina sorriu desajeitadamente enquanto tentava fechar a gaveta com todas as cartas dentro. Maldita hora para emperrar! Liza a olhou com seus olhos castanhos curiosos. Olhou-a de cima a baixo passando os olhos pela gaveta cheia de cartas. Gina sorriu novamente. Não era isso que Liza dizia? Sorrir quando as coisas davam errado? Burra era ela que pensava que podia enganar a sua própria professora!
- Gi? – Gina a olhou e mordeu o lábio inferior.- Er... vou tentar ser clara e o mais breve possível, está bem? - Fez uma pausa. - O que raio é isso?
Gina abriu a boca uma série de vezes e em todas elas as palavras não saíram. Ficara sem reação. Podia sentir as suas faces a ardes, estariam agora muito provavelmente da mesma cor que o cabelo. Tentou novamente fechar a gaveta numa tentativa completamente inútil de esconder as cartas. Liza foi mais rápida. Com duas passadas (ou talvez mais, porque Gina estava ocupada demais para as contar) atravessou o quarto até chegar junto da pequena gaveta. Retirou-a do móvel e virou-a ao contrário, espalhando as cartas pelo chão. Ficou alguns minutos a verificar o remetente de cada uma delas, mas isso ela nunca acharia. Nada como um bom spray ocultador de tinta caseiro. Quando por fim se cansou de procurar nomes, olhou para uma Gina que a fitava de queixo caído e com uma expressão horrorizada. Agora era tarde demais. Liza descobriria tudo sobre Draco e contaria para a sua família. E Draco ficaria chateado com ela, e os seus pais não a deixariam sair para o ver, nem mandar-lhe cartas. Por Merlin, logo agora que eles tinham feito as pazes! Estava tudo perdido.
- Gina, isto são cartas!
- Adivinhona! – Disse debilmente, mas com alguma dose de sarcasmo na voz. Se Liza iria descobrir pelo menos ia tentar mantê-la calada. Mas como enganar a pessoa que enganava todos com a maior facilidade?
- Então é aqui que as escondes, não é? - Gina ergueu uma sobrancelha. De que estava ela a falar? Será que sabia? Por Merlin, que vontade era aquela que ela sentia de chorar? Não conseguia falar. Não podia argumentar contra provas tão grandes. Não obtendo resposta, Liza resolveu continuar. - Não vale a pena esconderes-me nada. Eu JÁ sei tudo! Não precisas me contar nada. Não me olhes assim, tu sabes do que estou a falar!
- Er... sei? - E sabia bem! Como podia achar que Liza não descobriria nada se elas ficavam juntas vinte e quatro horas por dia? - Tens razão, Liza, eu sei de que estás a falar! - Respirou fundo, preparando-se para a revelação. Sentiu as lágrimas deslizarem uma a uma pela sua face. Liza olhou-a compadecida, com um sorriso bondoso nos lábios e os seus olhos curiosos fixos nos seus. Era agora, Liza saberia tudo. - Agora vai contar a todos! Vai, porque eu não me importo, eu gosto dele, Liza, ele é meu amigo. Posso dize-lo eu se quiseres! Eu...
- Tu tens um namorado!
Até poderia ter sentido o alívio, não fosse o choque tê-la deixado sem reação. E quando começara realmente a pensar no que Liza acabara de lhe dizer, foi a vez da incredulidade tomar conta de si. Como pudera ela pensar em pôr aquela possibilidade? Um namorado? Como Carlinhos e Gabrielle. Gina fechou os olhos tentando imaginar como seria o seu futuro namorado. Nesse momento teve uma espécie de visão. Como se estivesse a sonhar mas com as imagens a virem-lhe à mente como se fossem recordações. Recordações. Recordações que não eram dela mas que faziam parte dela. Estava num grande jardim, um dos jardins de Hogwarts. Ela e Draco passeavam de mãos dadas sobre o luar. Se era aquilo que namorar significava, não era assim tão mau. Porque ela conseguia sentir todo o afeto que aquelas duas pessoas sentiam uma pela outra. Depois viu a imagem mudar com brusquidão. Deixou de ver uma menina ruiva de mãos dadas com o rapaz que amava. Agora via duas pessoas deitadas no chão, um aconchegar de bocas e corpos. Ouviu Liza a chamá-la e abanou a cabeça fortemente, expulsando todas aquelas imagens hediondas. Não, ela não queria um namorado. Pelo menos, não para coisas daquelas. Quando acabasse Hogwarts, juntar-se-ia à seita das bruxas de Glastonbury, junto de Avalon, e não tocaria num homem até ao fim da sua vida. Sim, seria difícil estar longe de Draco e dos seus irmãos (pelo menos de alguns), mas era um preço a pagar se queria evitar "aquilo". Queria começar imediatamente aos berros com Liza mas ela fê-la calar com apenas um gesto. Era a vez dela falar:
- Não te preocupes, Gina! Apesar de eu achar que não deves sentir vergonha disso. Já tive vários namorados e sempre contei à minha mãe. – Gina parou de chorar. A naturalidade com que Liza dizia aquilo era surpreendente. Parecia a prima Evelynd a falar! Não parecia tão mau dito assim com toda aquela banalidade. – Não te preocupes, não vou contar a ninguém. Juro. Vontade não me falta é verdade...
A resposta àquele último comentário foi uma suave pancada na cabeça. Gina acabara de lhe atirar com o urso castanho e velho que estava em cima da cama. A ruiva começava a pensar que talvez deveria deixar Liza acreditar naquilo. Assim não eram necessárias mais explicações. Ela tinha um namorado e pronto, nada de mais perguntas sobre cartas ou encontros. Se Liza não ia contar a ninguém (e ela não ia, porque mesmo conhecendo os Weasley à tão pouco tempo, já sabia da tendência que a família tinha para ficar... "nervosa") ficava tudo resolvido. Sorriu para confortar a amiga. Não queria deixá-la preocupada. Bastava dizer que sim. Bastava confirmar.
- Mas claro que me vais deixar conhece-lo! – Gina abriu os olhos, demasiada chocada para reagir. Uma chuva de maus pensamentos caiu sobre a sua mente.
Não! Ela não ia deixar que aquilo acontecesse! Liza não ia conhecer Draco, ainda mais pensando que ele era seu namorado. Nem pensar! Fez um esforço para convencer a si própria que estava a fazer tudo aquilo porque Draco lhe pedira para não contar a ninguém. Porque a sua família não podia saber daqueles encontros, daquele rapaz. Mas conhecia-se bem. Ela não estava a fazer aquilo porque Draco lhe pedira, mas sim porque todos os seus medos e receios a faziam lutar pelo seu pequeno sonho. Liza era tão perfeita. Tão perfeita. Capaz de fazer a multidão parar só para admirar toda aquela beleza e inocência considerada impossível de poder residir numa só pessoa. Se eles soubessem. Draco não! Ninguém lhe ia tirar o seu melhor amigo, a única pessoa que estava lá para a ouvir sempre que precisava. Nem mesmo Liza, com a sua beleza deslumbrante. Estava a agir como uma menininha fútil e mimada, estava a fazer birra. Draco nunca a deixaria para estar com alguém como Liza. Ou será que não?
- Não tenhas medo, não pretendo roubar-te o rapaz! Só gostaria de conhecer o menino que conquistou a minha miúda. Tu sabes, como uma melhor amiga deve fazer.
E nesse momento, Gina sentiu todo o choque a invadi-la. Uma explosão dentro de si que a fez falar sem pensar. As palavras começaram a sair atropeladas e sem comando.
- O quê? Liza, eu não te vou apresentar namorado nenhum! - Disse demasiado alto enquanto fazia um esforço para se controlar.
- Não?
- Não!
- Por que? – Perguntou Liza com o tom de voz que usava apenas quando se dirigia aos Weasley mais velhos.
- PORQUE EU NÃO TENHO NAMORADO NENHUM! – Respirou fundo. - Liza, eu tenho sete anos! Os únicos rapazes com menos de dez anos que já conheci foram os meus irmãos e os meus primos! Eu não tenho namorado nenhum!
- Hum... okey.
Encostou-se à parede. Ela era uma mentirosa compulsiva. Precisava de tratamento ou aquilo ia piorar ainda mais. Não podia chorar agora, tinha de aguentar só mais um bocado. O pior já tinha passado, certo? Tinha tido coragem suficiente para dizer a verdade, ou parte dela. Então, por que razão o ar continuava tão pesado, como se a tensão o fizesse cair sobre as duas meninas? "Okey"? Liza tinha mesmo dito "okey"? O que lhe teria acontecido? A Elizabeth Tompkins que ela tinha conhecido nunca diria "okey" numa situação daquelas sem uma boa dose de sarcasmo à mistura. O que se estava a passar ali? Claro que tinha de vir mais alguma coisa com aquela simples palavra. Tinha de vir mais do que um comentário daqueles. Liza era inteligente demais para se deixar enganar assim. Demasiada inteligente para deixar escapar aquele pormenor: quem tinha escrito as cartas?
Para sofrimento ainda maior de Gina, Liza não disse nada. Apenas se sentou na cama e ficou ali, olhando a amiga com um sorriso trocista nos lábios. Nos seus olhos lia-se apenas uma frase: "O que me estás a esconder?" E claro que Gina tinha de dizer alguma coisa. Tinha de lhe contar. Não podia viver com aquela desconfiança, não podia encarar aquele sorriso trocista todos os dias. Contar ou inventar alguma coisa suficientemente credível rapidamente. Nesse momento, uma luz acendeu-se na sua mente. Como naqueles livros do Rony, quando as personagens tinham uma idéia e via-se uma pequena lâmpada surgir no topo das suas cabeças. Se Gina fosse Star, a auror maravilha, os leitores teriam visto uma dúzia de lâmpadas luminosas a surgirem.
- Liza... - A amiga deixou de sorrir e sentou-se bastante direita, esperando uma grande revelação. - Eu tenho assim, uma espécie de amigo. Eu posso vê-lo e falar com ele. Mas as outras pessoas não.
Não estava propriamente a mentir. Não que Draco fosse invisível, mas as outras pessoas não podiam saber que ele existia, certo? Draco simplesmente não fazia parte das suas vidas. E era assim que devia ser.
Gina pode ouvir todas as máquinas a trabalharem na cabeça de Liza. Todas aqueles engenhocas que lhe davam uma velocidade de raciocínio superior a qualquer menina da idade delas. Nesse momento todas as pequenas lâmpadas que pairavam sobre a cabeça de Gina, flutuaram até à de Liza, multiplicando-se.
- Uma espécie de amigo? - Disse.- Umamigoimaginário?
- Desculpa? – Liza parecia relutante em dizer aquilo. Como se estivesse realmente embaraçada. Como se ela alguma vez se embaraçasse como alguma coisa....
- Um amigo imaginário. Tu escreves-te e respondes-te? – Perguntar, agora com um olhar sério.
A única coisa que Gina pode fazer foi acenar. Que mais havia para dizer? Não tinha capacidade para mentir mais. Nesse dia, Gina ficou conhecida como "A pequena ruiva dos amigos imaginários". E esse título perseguiu-a por muitos e muitos anos.
- DESTA VEZ VOCÊS PASSARAM DOS LIMITES!
Gina abriu a porta do quarto com um estrondo. Antes de começar imediatamente a gritar, cerrou os punhos e respirou fundo, impedindo-se de passar para a agressão física. Atrás dela, Liza acabava de chegar com um copo de água numa mão e uma poção calmante na outra. Sorria divertida. Desde que se "mudara" para a casa dos Weasley a sua vida tinha decididamente ganhado mais ação. Chegara a tempo de ver a sua parte preferida: o grande salto que eles davam quando Gina batia com a porta e as caras de susto que permaneciam até algum deles passar para a fase do "Desculpa, não voltamos a repetir". Gina nunca reparara que eram tão bons a representar. Pestes. Eles não tinham o direito! Sempre pensara que eles sabiam onde parar. Mas não, tinham acabado de ultrapassar a linha que dividia os dois lados: pequenas partidas e brincadeiras de mau gosto.
- Como puderam? Nós tínhamos um acordo! Eu quero o meu dinheiro de volta. - Rony ergueu as sobrancelhas enquanto os gêmeos apenas a olhavam de boca aberta. Estáticos, sem reacção.- LIZA, DIZ-LHES QUE QUERO O MEU DINHEIRO DE VOLTA!
Liza sorriu inocente. Um daqueles sorrisos que faziam ceder qualquer um. O seu sorriso angelical, como lhe chamava. Para Gina, que já a conhecia bem, a armação não passava despercebida. Ela estava a tentar parecer preocupada e razoável, assim ficaria livre de qualquer complicação que se pudesse seguir àquele conflito. Fazia aquilo sempre que eles discutiam. Quando Sra. Weasley chegasse e visse a sua casa destruída pelo mau temperamento dos filhos, Liza poderia correr para ela e com uma expressão culpada dizer: "Desculpe, Sra.Weasley, eu tentei fazer com que parassem, mas sabe como eles são..." Molly, como qualquer adulto que se visse frente a frente com o "sorriso angelical", render-se-ia aos encantos da menina e rapidamente dirigiria a sua atenção para os filhos, esses sim em verdadeiros sarilhos.
- Ela quer o dinheiro dela de volta. - Disse, dando de ombros.
Os gêmeos entreolharam-se, levantando-se e avançando em direção à irmã que continuava impassível, sem encarar os irmãos com medo de perder o controlo. Rony deixou-se ficar sentado no chão, fingindo não prestar a mínima atenção à cena que se desenrolava. Claro que era impossível não prestar atenção. Por essa razão, Liza já se adiantara, misturando a água e a poção calmante e deixando-a próxima a Gina, que a qualquer altura a beberia sem nem perceber o que era. Assim podia juntar-se a Rony no chão e apreciar o espetáculo. Quanto a Rony, era maravilhoso para ele passar algum tempo "quase" sozinho com a inocente Liza. Seria difícil concentrar-se na discussão que se aproximava.
- Gina, irmãnzinha, de que estás a falar? - Perguntou Fred calmamente (e daquela vez todos podiam dizer que era mesmo Fred, graças ao grande "F" na sua camisa).
- Sim, nós não quebrámos acordo nenhum. Tu deste-nos o dinheiro e nós não metemo-nos na nossa vida. Não te fizemos nada!
Gina levou as mãos à cabeça e deu um enorme grito de raiva. A grande sorte de todos eles era a Sra.Weasley ter saído à uns momentos. E graças a Deus, Percy já estava em Hogwarts. Sentados no chão, Liza e Rony cobriram os ouvidos, seguindo o ritual.
- NÃO ME FIZERAM NADA! QUE ENGRAÇADO, JORGE! CLARO QUE NÃO ME FIZERAM NADA! – Por Merlin, definitivamente Liza não era uma boa influência. Nunca teria coragem para dizer aquilo antes dela aparecer. Ou talvez, antes de Draco aparecer. O importante é que estava a enfrentar os seus irmãos, a controlar a sua raiva e a raciocinar suficientemente rápido para arranjar uma boa resposta. E tudo isso em apenas uma discussão! - NA VERDADE, FOI O VAMPIRO QUE ACHOU DIVERTIDO ENTRAR NO MEU QUARTO NO MEIO DA NOITE E ROUBAR O MEU DIÁRIO E A MINHA CAIXA!
- Esse vampiro anda cada vez mais descarado... - Jorge murmurou, provocando algumas risadas aos espectadores.
Foi nessa altura, já demasiada irritada para se conseguir controlar, que Gina viu um copo sobre a mesa. Água. Era exatamente disso que ela precisava. Sem sequer olhar para a substância dentro do copo, engoliu-a de uma vez só, rapido demais para poder sentir o seu sabor. Depois continuou com a discussão, respondendo ao comentário do irmão.
- Jorge! Estou a falar a sério. Vocês não tinham o direito de fazer isto. Quer dizer, é a minha privacidade. Sem falar que... Por que é que eu baixei a voz? Eu devia estar a gritar! O que está a passar?
- Súbito ataque de compaixão pelos teus amados irmãos?
Não demorou muito para que Gina se lembrasse que tinha acabado de beber um copo de água que apanhara em cima da mesa. Visualizou-o na sua mente. Definitivamente aquela substância azul não era água. E se fosse uma das experiências dos gêmeos? E se eles a tivessem envenenado? E se ela estivesse agora condenada a uma lenta e dolorosa morte? Ela estava a morrer. O que diria Draco se ela faltasse ao encontro deles no dia seguinte? Não podia propriamente mandar uma carta da sua bonita casa no céu (ou de qualquer outro lugar para onde os mortos iam) a desculpar-se. Mesmo que pudesse, que diria? Já estava a imaginar: "Querido Draco, desculpa não ter aparecido (novamente) no Celeiro. Não fiques chateado, eu tenho um bom motivo! Acontece que morri. Sempre podes visitar-me..." Ridículo!
- Poção calmante. - Apresou-se Liza a esclarecer ao ver a cara assustada da amiga.
- Certo... - Respirou fundo. Ao menos um dos seus problemas estava resolvido. Já podia discutir com a certeza de que não saltaria no pescoço dos irmãos de um momento para o outro. - Agora que eu já sei que vocês não me envenenaram e que vocês já sabem que eu não vou mata-los enquanto esta coisa fizer efeito, podem começar a explicar-se.
- Desculpa, mas não temos falado com o nosso amigo sugador de sangue ultimamente. – Fred decidira que, já estando em segurança, podia começar a irritar Gina novamente. Principalmente quando se encontrava por uma da primeiras vezes inocente. – Mas da última vez que estivemos com ele disse-nos que não se vai meter contigo.
- Sim, ele tem um certo receio de pessoas que falam sozinhas, têm amigos imaginários e assim... - Jorge completou. Depois, novamente sério, acrescentou. - Não fomos nós Gi.
Se um olhar matasse Fred e Jorge estariam enfiados num caixão antes do sol se pôr. Entretanto no seu canto, Rony começava a juntar as peças daquele pequeno mistério. Sempre tivera algum jeito para isso. E aquele não podia ter mais pistas. Os gêmeos não quebravam promessas. Os gêmeos não negavam a sua culpa quando já os tinham descoberto. E ninguém apertava tanto os dedos como Liza fazia naquele momento, sem razão nenhuma. Era suspeito demais aquilo acontecer justamente quando ela passara lá a noite. Enquanto a discussão continuava à frente deles, Rony teve a sua primeira oportunidade de falar apenas para ela. Murmurou-lhe ao ouvido: "Isso foi errado", sem esperar uma resposta. E ela não respondeu. Olhou-o com um dos seus sorrisos preparados e encolheu os ombros. Agora já estava feito. Quando voltaram novamente a sua atenção para os "agressores", perceberam que estavam a ser observados. Gina aproximou-se, pegando na mão da amiga e arrastando-a.
- Elizabeth Tompkins, tu e eu temos muito que conversar.
Estava dada por terminada mais uma discussão na casa dos Weasley.
Gina entrou no Celeiro rapidamente, lançando a sua grande caixa, recentemente recuperada, para o chão. Fora o único lugar que lhe ocorrera quando saíra de casa furiosa, só não batendo com a porta porque a poção calmante não a deixava. Se tivessem sido os seus irmãos, ela compreenderia. Não era a primeira vez que eles tentavam ler o seu diário. Mas Liza? Que motivos tinha ela?
Estava tão irritada que nem se dera conta do barulho vindo lá de fora, no lado oposto àquele por onde ela entrara. Sorriu. Ele estava a cantar. Atravessou o Celeiro rapidamente, passando por cima do muro de palha que eles tinham construído para uma das suas brincadeiras. A escada que eles usavam para subir lá para cima tinha desaparecido. Como já esperava, ele estava lá fora, debruçado sobre algumas tábuas de madeira. A cantar. Quantas pessoas se poderiam gabar de ter ouvido Draco a cantar? Não sabia, só podia dizer que Draco não era pessoa de cantar. Ainda por cima com um grande sorriso nos lábios.
- Draco? – Chamou, um pouco receosa em interrompê-lo.
Ele levantou os olhos do seu trabalho, finalmente notando-a. Os seus olhos estavam azuis. Parou de cantar imediatamente. O seu sorriso desapareceu e o martelo que segurava caiu pesadamente sobre uma das tábuas.
- Gina? O que estás aqui a fazer? - Ele franziu as sobrancelhas, pondo-se de pé. Imediatamente, a ruiva entristeceu-se, invadida por um leve sentimento de remorso. Não o devia ter chamado. Ele estava tão feliz, concentrado no seu trabalho. E Draco estava tão poucas vezes verdadeiramente feliz...
- Desculpa interromper-te. Eu não... eu não tinha o direito de aparecer assim. Estás ocupado... er... eu vou...
Apontou para dentro e sem conseguir dizer mais, virou as costas e afastou-se do rapaz, embaraçada. Aquele dia estava a correr muito mal. Primeiro acordava assustada por mais um dos seus pesadelos. Procurava pela sua caixa e não a achava, descobrindo depois que o seu diário desaparecera também. Discutia com os seus irmãos por achar que eram eles os culpados e ficava a saber que eles estavam inocentes e que tinha sido a sua melhor amiga a "roubá-la". Por fim, encontrava Draco e acabava com a sua felicidade. Eram demasiadas coisas más para um dia só. Ouviu-o correr para ela e apressou o passo. Por fim, antes de entrarem no Celeiro ele agarrou-lhe o braço, puxando-a e obrigando-a a virar-se para ele.
- Gina? Não sejas tola, não quero que vás embora. Só fiquei surpreso por apareceres.
- Estás chateado por eu ter aparecido. - Disse, não o olhando nos olhos.
- Claro que não estou! – Ele disse seriamente. Depois voltou a usar o seu tom brincalhão, somente utilizado para quando ela estava aborrecida. - Quem te põe essas idéias na cabeça?
- Eu imagino-as sozinha. Não é impressionante? – Ela respondeu, finalmente ganhando coragem para olhá-lo de frente.
- Deixa-me dizer-te que tens uma grande imaginação. – Draco cruzou os braços e sorriu. Começou a caminhar para a cerca, onde eles se sentavam quase sempre, com as flores amarelas a roçarem-se nas suas pernas.
- Pois tenho. E um amigo imaginário.
- Podes ser mais clara? - Disse ele, olhando-a novamente de sobrancelhas franzidas.
- É uma longa história. - Gina não pode deixar de sorrir, lembrando-se que há bem pouco tempo para Liza, Draco era seu namorado.
- Eu tenho tempo. Tu tens?
Gina acenou e ele sentou-se fazendo sinal para que ela o imitasse. Sentados os dois naquela velha cerca de madeira, despejaram tudo o que acontecera nas suas vidas durante as últimas semanas, esquecendo-se até que tinham estado sem se falar durante tanto tempo. No final, levantaram-se em silêncio e deitaram-se na relva, com algumas flores rodeando-os.
- Draco? – Tinha se esquecido. De certeza que aquilo era importante. Draco não cantaria sem motivo nenhum.
- Hum?
- O que estavas a fazer quando eu cheguei?
- Uma surpresa.- Disse simplesmente.
- Para quem?- Perguntou Gina ingenuamente.
- Para ti, sua grande idiota.
- A sério? - Perguntou animada - O que é?
- Uma escada nova, a outra partiu-se e sei que gostas mais de ir lá para cima.
Gina sentou-se bruscamente, abrindo os olhos de espanto. Um pequeno detalhe acabara de aparecer na sua mente, chocando-a.
- E usaste um martelo. Um instrumento trouxa.
- Sim.
Ele dissera aquilo simplesmente, como se para ele não fosse nada de extraordinário usar um martelo. Como se fizesse aquilo todos os dias. Gina já conhecia Draco o suficiente para saber da sua adversão às pessoas sem magia no sangue. Mas havia algo na sua voz que lhe dizia que tinha sido necessário um grande esforço da parte dele. Algo na sua voz que a fazia sentir-se feliz por Draco ter feito aquilo por ela.
- Draco?
- Hum?
- Obrigada.
Ele sorriu sem olhar para ela e levantou-se, caminhando em direção ao que seria brevemente a nova escada de madeira do Celeiro. Ela seguiu-o e, entre risos e brincadeiras terminaram juntos a suposta surpresa. E cantaram os dois, velhas músicas que qualquer pessoa que tivesse crescido entre feiticeiros conhecia.
Quando Gina chegou a casa transportando a sua caixa que levara com medo que Liza lhe fosse mexer novamente, encontrou os seus irmãos e a amiga sentados no jardim, esperando por si. Mas ninguém lhe fez perguntas. Ninguém tinha coragem suficiente para arriscar acabar com aquele sorriso que ela trazia nos lábios. E na grande mansão dos Malfoy, longe dali, um rapaz loiro e de olhos cinzentos, quase azuis, sorria ainda mais, fechado no quarto escuro e olhando a pétala amarela que lhe fora enviada à alguns meses. Passou os dedos por ela, levemente. Depois guardou-a novamente na sua caixa de vidro. Afinal, aquele era o coração da sua melhor amiga e ele prometera tomar conta dele. Era isso que faria.
N/A: Desculpem a demora, não foi intencional. Nunca me custou tanto a escrever. Não que eu não tivesse idéias, apenas as palavras não saiam. Mas as aulas de Geografia ajudaram... Bem acho que a única aparte que gosto mesmo no capítulo é o início. E talvez goste mais ou menos a partir do momento em que Gina começa a falar do vampiro.
Tentei tornar os gêmeos um pouco mais divertidos desta vez. Acho que em certos comentários, consegui. Não é que eles não gostem da Gina. Simplesmente acho que nenhum rapaz da idade deles admite que gosta da irmã mais nova. Eu nunca consegui admitir que gostava da minha irm nem para mim quando era mais nova, portanto... Espero que gostem da Liza, ela é incrivelmente fácil de escrever porque... é minha D Não foi ideia da JK, ela é mesmo minha! D Também espero que gostem mais do Rony e que ele deixe de parecer uma abécula neste capítulo. Quanto à pequena paixão dele... bem, vocês sabem qual é o meu shipper, ele é novo, isso passa-lhe. P Algumas evoluções na relação Gina e Draco. Deu para explorar um pouco mais a amizade dos dois.
Bem, espero que tenham gostado. Quero comentários. Deus...eu falo demais...
Eu estou meio sem tempo agora e eu queria colocar o capitulo o mais rapido possivel para voces, mas mesmo assim, como não podia deixar de ser...Agradecimentos:
Mari: Não se preocupe em deixar reviews grandes e personalizadas. P Para mim chega um comentáriozinho, por mais pequenino que seja. Só não chegue atrasada a lado nenhum por minha causa P Sabe, eu tenho um grave problema com as crianças. Não, eu não sou uma anti-social rabugenta que não gosta de crianças, eu simplesmente não conheço muitas...P Deve ser por isso que a Ginny sai sempre tão profunda. Mas eu tenho uma explicação para isso...brevemente numa fic perto de si...E aí? Gostou desse capítulo? (eu decididamente falo demais...)
Lilith: Eu vivo me queixando dos meus capítulos mas o 4º foi também capítulo que eu mais gostei. Ui...é para vocês que deixam comentários por cada capítulo que eu devo um pedido de desculpas. Eu demorei tanto tempo. XX
Kah: A sério? Minha fic desperta curiosidade? D EBA!!!!! A sua também desperta (e é assim que a coisa funciona, ela me engraxa, eu engraxo ela, e ela me engraxa, e eu engraxo ela de novo...e nisto vamos lendo as fics uma da outra P) Se houver alguma coisa que vocês não percebam, por favor, perguntem! Eu estou aqui para isso...dúvidas nalguma palavra, dúvidas na história...qualquer coisa. Eu já decidi o futuro do Draco! D Draco vai viver para o México, onde viverá a vida toda sentado sem camisa e com uma caneta na mão, em frente de uma multidão de leitoras de fics brasileiras. Viajando...
Nininha e Miaka, obrigado pelas reviews Ainda bem que vocês gostaram!
