7º Capitulo

Por todas as coisas.

Liza ajoelhou-se em frente a Rony, que ainda ofegava. O seu coração pulava de aflição e de medo. Onde estaria Gina? O que poderia ter acontecido? E por que Rony não tentava ultrapassar por uns momentos o seu atraso de vida para lhes contar?

Irritada, agarrou nos ombros do rapaz e chocalhou-o, conseguindo fazê-lo olhá-la por fim. Ignorou toda a raiva contida nos olhos dele, bem como o fato de ele ser um palmo mais alto do que ela e ter força suficiente para deixá-la inconsciente quando quisesse. Só queria achá-la. Achar Gina e abraçá-la. Ter a certeza de que ela estava bem.

- Diz-me! Diz-me onde ela está!

Falara demasiado alto. Um rapaz ruivo, meio morto e uma menina desesperada, ajoelhados no meio da rua, chamavam demasiada atenção aos curiosos feiticeiros que vagueavam no Beco Diagonal. Imediatamente, as pessoas começaram a juntar-se em volta deles. Uns apontavam, outros cochichavam e alguns tentavam ajudar as duas crianças, preocupados. Os gêmeos, que se tinham afastado assim que Liza se atirara ao irmão mais novo, levantaram-se e ajudaram Rony a afastar-se da menina. Esta ainda gritava, puxando os cabelos e esperneando. Por que é que ele não lhe dizia? Por que é que ele não acabava com aquilo, com toda aquela confusão? Bastava dizer-lhe! O que lhe custava? Correriam imediatamente em busca de Gina, estivesse onde estivesse. Traria uma notícia tão má que era suficiente para lhe tirar as palavras?

- Diz-me! Pelo amor de todos os deuses! Pela tua família, por Gina, diz-me!

- O QUE PENSAM QUE ESTÃO A FAZER?

Todas as quatro crianças arregalaram os olhos ao ouvir aquela voz. A Sra.Weasley poderia passar por todos os horrores do mundo que continuaria a conseguir impor-se. Assim que o seu grito foi ouvido, o circulo abriu-se, oferecendo-lhe passagem. A mulher avançou e todos puderam vê-la, ainda de olhos inchados das lágrimas e visivelmente preocupada. Vinha acompanhada por um homem velho e de cabelo grisalho que Liza reconheceu imediatamente. Elifas Doge, um feiticeiro amigo dos seus pais que comparecia ocasionalmente nos bailes e festas organizadas pelo Ministério e pelas famílias mais antigas e respeitadas do mundo bruxo. Poucos conheciam a sua história.

Molly libertou-se do braço que o seu velho amigo colocara em volta dos seus ombros e aproximou-se do filho mais novo. A multidão desvaneceu-se rapidamente e Doge afastou-se um pouco da família, dando-lhes direito à sua privacidade, invejando-os de longe. Molly abraçou o filho e puxou-o para um dos bancos da rua, fazendo sinal às outras crianças para que a seguissem. Sentaram-se e conversaram durante uns momentos, sobre Gina, certamente. Os gêmeos tentavam controlar a impaciente Liza, que quase arrancava os seus cabelos de tanta ansiedade. Por fim, Sra. Weasley levantou-se e pegou firmemente na mão de Rony, talvez receando que este lhe escapasse novamente. Aproximou-se de Elifas e disse o mais baixo que pode:

- Vamos buscar Gina na rua Bativolda. – Elifas arregalou os olhos à menção daquela rua, que lhe trazia tantas recordações dos seus tempos de auror. Recompondo-se, acenou para que Molly continua-se.- Já fizeste mais do que poderias fazer por nós e estou-te muito grata, mas por Merlin, faz-me um último favor. Fica aqui com as crianças. Não os posso nem quero levar para aquela rua maldita.

- Não te preocupes com eles, Molly, ficam em boas mãos.

- Tenho a certeza que sim, Elifas.

O feiticeiro sorriu, agradecendo a confiança que nele era depositada. Esbracejou para que a mulher se despachasse, e esta assim o fez, quando se lembrou da sua filha sozinha no meio dos perigosos feiticeiros que andavam pela rua Bativolda.

Ao menos ela tinha alguém com quem se preocupar… Podia amar os filhos e o marido. Ele tinha perdido essa chance há muito tempo. Suspirou, lembrando-se de algumas das famílias que ele conhecera durante os tempos negros. Talvez ele até tivesse tido sorte. Para ele era preferível a morte à loucura…

Elifas virou-se para o banco onde tinham ficado as três crianças. Estavam a seu cargo até Molly voltar com os filhos mais novos. Conteve uma exclamação de espanto. Aquele sim era um grande problema. Olhou em volta, com esperanças de encontrá-los. Talvez só tivessem ido colar os narizes a alguma das montras, como qualquer criança que se via no meio de todas aquelas lojas. Quem lhe dera a ele que assim fosse… Dois Weasleys e uma Tompkins. Quais eram as possibilidades deles não irem parar na Grifinória, como todo o resto da família antes deles? Quando algo que um grifinorio amava era ameaçado, este não ponderava o perigo e corria imediatamente para poder dar o seu apoio, mesmo que este não servisse de muito. A maioria das pessoas encarava esses salvamentos como coragem. Mas Elifas passara sete anos em Hogwarts e conhecia-os demasiado bem para saber que quando um grifinorio via algo que não era correto, agia instantaneamente. Não era uma questão de coragem, de irresponsabilidade ou de anseio por protagonismo. Eles faziam aquilo muitas vezes. Deixavam de pensar com o cérebro para o fazerem com o coração. A lógica do coração é que nem sempre é coerente, por mais verdadeira que seja. E é a primeira opção a usar quando se procuram problemas.

Já sabendo o que o esperava deu meia volta e caminhou rapidamente até ao cimo da rua, aonde poderia ter uma visão mais ampla da rua Bativolda. E ali estavam eles, Liza Tompkins e Fred e Jorge Weasley, descendo a alta velocidade, desviando-se dos estranhos feiticeiros e sempre escondidos da mulher e do rapaz que seguiam poucos metros à frente deles.


Lucius olhou para a passagem estreita que tinha de atravessar para chegar à Grim, a mais conceituada loja de magia negra de todo o complexo de ruas bruxas nos subterrâneos de Londres. E também a de melhor disfarce. A passagem era pouco convidativa e sombria, afastando qualquer feiticeiro mais curioso. As paredes estavam cobertas por uma substância viscosa que lhes dava um aspecto deplorável. Uma leve neblina trespassava o local e o vento seco e fétido soprava ocasionalmente, chegando aos narizes dos pouco afortunados que passavam ali nessas alturas.

- Pai! – Lucius virou-se para o filho, ficando assim de costas para a loja. Draco tentava ganhar algum tempo.- Hum… Sr. McNair falou-me de uma nova vassoura, mais ágil que a minha Cleansweep 7. Talvez pudéssemos ir vê-la antes de irmos à Grim?

O homem franziu as sobrancelhas e olhou o filho como se ele fosse louco. Draco sabia que estava a arriscar demasiado. Sugerir ao pai que fossem ver vassouras quando ele estava a poucos passos de fechar mais um dos seus "negócios"? Estava a sentenciar a sua morte… Aproveitou aquele momento de distração de Lucius para procurar novamente os olhos de Gina na escuridão. Por uns momentos pensou que ela tivesse fugido e estava prestes a desculpar-se ao pai quando a encontrou, espreitando por detrás de um barril fedorento que fora colocado para dificultar a passagem para a loja. Estava assustada e olhava para ele como quem procura uma salvação. Quem lhe dera poder dá-la. Tentou explicar-lhe a situação, tentou pedir-lhe que fugisse. Por alguma razão Gina parecia não querer abandonar aquele espaço apertado entre as duas paredes.

- Draco! Em que planeta é que vives, rapaz? – Draco desviou a sua atenção para o pai.- Que mal é que eu fiz? Eu merecia isto? - Perguntou, mais para si próprio. Depois, bastante baixo para que ninguém ouvisse acrescentou.- Como é que consegues arruinar todos os meus planos com a tua simples existência?

Draco revirou os olhos. Lucius era um homem que não tinha fé em absolutamente nada. Nascera numa família de feiticeiros que se gabavam daquilo que não tinham e conseguiam o que não mereciam. Ouvi-lo dizer que o filho era uma desilusão e lhe tinha arruinado a vida, já se tornava ridículo. Com o nascimento de Draco Malfoy, Lucius conseguira alguém para depositar a culpa quando percebera que o seu mundo estava longe de ser perfeito. Os comentários do homem chegavam mesmo a ser irónico. O problema de Lucius não tinha absolutamente nada a ver com o fato de Draco ser da família... Para o pai, ele era um inútil, fosse qual fosse o seu sobrenome.

- Olha para mim quando falo contigo! - Ordenou. Draco era bem mais baixo que o pai, mas ergueu a cabeça para o olhar nos olhos. Podia não ser um verdadeiro Malfoy, mas sempre era ialguém/i. E dignidade era uma coisa que nunca lhe faltara. – Se há uma vassoura melhor que a tua, nós vamos vê-la, porque um Malfoy deve ter o melhor! Mas não agora. Que impertinente! Sabes muito bem que tenho assuntos para resolver…

E seguiu em direção à passagem, em direção ao barril e em direção à pequena ruiva que se encolhia no chão, para não ser vista. Que tremia de medo pelo pai do seu melhor amigo. Um dia, há muito tempo quando acabara de conhecer Draco, fantasiara aquele encontro. Sempre imaginara o Sr. Malfoy como um homem elegante e inteligente. Um pouco arrogante e frio talvez, pelo menos à primeira vista, mas sempre com um sorriso escondido nos seus olhos cinzentos. Pronto para ser oferecido a qualquer um que estivesse disposto a recebê-lo. Tal como o filho.

Agora ali no chão úmido, vendo Lucius aproximar-se, percebia que estivera muito longe da verdade.

Draco deixou que o pai avançasse. Ficou para trás, de olhos fechados no meio da rua, esperando que Gina conseguisse passar despercebida, que não acontecesse o pior. Uniu as mãos à sua frente e pediu ajuda a todos os Deuses, de todos os cantos da terra, de todos os Universos, de todas as Dimensões. Pediu-lhe que afastassem o pai da menina, pediu-lhes que lhe dessem uma oportunidade de fugir. Mas quando ouviu a voz do seu pai, sempre tenebrosa e ameaçadora, percebeu que os deuses o tinham ignorado, como haviam feito tantas vezes ao longo da sua vida. Qualquer ajuda tinha-se tornado desnecessária. Lucius acabara de dizer o que ele mais temia ouvir:

- Olhem, olhem, o que eu encontrei…


Peter observava a irmã avançar por entre as flores com as mãos estendidas à sua frente, como lhe fora ensinado. Apalpava tudo o que se atravessava no seu caminho e girava sobre si própria, tentando perceber onde Peter tinha se escondido. Levava um sorriso no rosto e gargalhava ocasionalmente, como sempre acontecia quando a mãe a deixava sair. Não era seguro deixar a pequena atravessar a porta da casa onde moravam, mesmo quando Peter arranjava algum tempo entre o trabalho na quinta e a escola e se disponibilizava para a acompanhar e olhar por ela. O mundo era perigoso para pessoas como Eva.

Desta vez, Julie acompanhava-os. Ninguém lhe daria os vinte e dois anos que tinha. Era baixa e roliça e usava roupas largas e garridas que condiziam com o seu sorriso jovial. Julie trabalhava e vivia em Londres, mas gostava de vir à casa dos tios sempre que lhe era dado algum tempo livre. Tinha dezesseis anos quando a prima nascera e sempre se fascinara pela bondade da menina. Gostava de contar-lhe histórias e de ficar junto dela, debaixo dos cobertores, enquanto chovia. Quando o sol se atrevia a espreitar por entre as nuvens, ela sentava-se numa cadeira lá fora, com Eva sentada no seu colo. Descrevia-lhe o que via. Emprestava-lhe os seus olhos, já que a menina não podia usar os seus.

Nesse dia, Eva estava mais agitada que o costume. Corria de uma ponta á outra do campo, ignorando os pedidos da prima para que abrandasse, para não se machucar. Julie revirou os olhos após pedir à menina que parasse pela terceira vez. Olhou para o primo, sentado na cerca um pouco longe delas. Sempre com os olhos postos em Eva caminhou para ele e sentou-se ao seu lado, cansada.

- Peter! Vem ajudar-me…

- Ajudar-te, Julie? – o rapaz sorriu carinhosamente, também ele olhando a irmã. - Não me parece que precises de ajuda. Ela tem seis anos, Julie. Deixa-a correr, deixa-a brincar. Tem idade para isso…

- Mas Peter! Ela pode cair! Pode machucar-se! Sabes muito bem que pessoas como ela…

- A Eva vê tanto como nós dois, apenas o faz de uma maneira diferente.

Julie desviou o olhar da prima e encarou Peter. Novamente aquela conversa. Será que ele não percebia? Eva era uma menina perfeita, sabia avaliar as pessoas como ninguém. Via com o coração, como o primo dizia. A verdade é que ver com o coração não lhe servia de nada se tropeçasse e caísse. Percebendo que repetir o seu discurso não o levaria a lugar algum, Peter limitou-se a tranquilizar a prima.

- A minha irmã não é feita de vidro, Julie. Se cair levanta-se. Não lhe pode acontecer nada enquanto estivermos aqui.

Peter sorriu para a prima que lhe passou a mão pelo cabelo. Amava Peter como a um irmão. Tinham crescido juntos e eram grandes amigos, embora tivessem sete anos de diferença. Sem trocarem mais palavras, voltaram a olhar para o campo que se estendia à sua frente. Peter saltou imediatamente do lugar onde estava sentado e Julie arregalou os olhos, assustada.

- Onde está ela?- Perguntou Julie, sentindo a sua voz fraquejar.

Peter não lhe respondeu. Talvez nem a tivesse ouvido. Quando ela se atrevera a falar já ele começara a correr por entre as flores, rápido, desesperado. Como tinha ela desaparecido tão depressa? O campo era grande e não havia muitos lugares onde ela pudesse se esconder. Não podia estar sentada no chão, entre as flores. O vestido cor-de-rosa de Eva não passaria despercebido ali.

Julie passou os olhos por todo o espaço à sua volta. Depois a viu. Como não tinham pensado nisso? Tinham passado tanto tempo a tentar ignorar aquele lugar que agora nem percebiam que ele ainda estava ali. Chamou-a. Tinha de a impedir de entrar. Mesmo não morando longe conhecia as histórias daquele lugar maldito. Começou a correr o mais rápido que podia, segurando o vestido para não tropeçar. Sem parar, olhou para trás procurando Peter. Ele nunca se perdoaria se alguma coisa acontecesse à irmã. Ali estava ele, a correr atrás dela. Também a tinha visto.

Juntos, alcançaram o Celeiro, o lugar mais temido de todos os que entravam nas histórias da bruxa da casa assombrada. Em circunstancias normais nunca atravessariam aquela cerca. Agora era diferente. Eva estava em perigo.

Ficaram alguns segundos à entrada tentando ver alguma coisa. Depois avançaram de mãos dadas, assustados, temerosos. Assim que os seus olhos se adaptaram à escuridão, puderam destinguir algumas ferramentas agrícolas, do tempo em que o velho Barty ainda ali morava. Procuraram por Eva em todos os lugares onde achavam possível que ela pudesse se esconder. Nada. Parecia ter evaporado.

Sentaram-se no chão, exaustos. Eva tinha desaparecido. Eva tinha desaparecido, e a culpa era deles, que não a tinha vigiada como haviam prometido fazer. Peter largou a mão da prima e enterrou a cabeça entre os joelhos. Estavam assim, entregues aos seus remorsos, quando ouviram um pequeno guincho vindo algures de cima deles. Aquela voz pertencia a Eva, sem duvida. Peter levantou-se imediatamente, procurando por alguma escada ou algo onde pudesse se apoiar para subir. Como não tinham reparado antes no espaço mesmo a cima deles? O mais rápido que conseguiram, subiram pelas escadas de madeira que acharam escondidas entre as sombras, num dos cantos do Celeiro.

Aquele era sem duvida um lugar estranho. Era acolhedor, mas ao mesmo tempo sinistro. E a primeira coisa em que repararam foi que Eva não estava ali. No chão, uma pequena cobra sibilava, atraindo a atenção dos primos. Normalmente não faziam caso daqueles bichos. Estavam habituados a vê-los por ali, embora a maioria não se atravesse a ir até à vila. Alguma coisa naquela criatura fê-los recuar. Os olhos dela… vermelhos. Vermelho sangue. Frios, duros, assustadores. Quando olharam os olhos do animal, os primos perceberam imediatamente que não havia salvação para a pequena Eva.

Uma densa névoa envolveu-os. Uma névoa quente que quase queimava ao tocar na pele. Os primos recuaram o máximo que aquele espaço lhes permitia. Tão rápido como tinha aparecido, a névoa desvaneceu-se no ar. Peter olhou a cobra que ainda se contorcia em frente deles. Estranhamente, os olhos dela não eram mais vermelhos. Agora era simplesmente mais uma cobra.

Foi com um enorme pesar que Julie e Peter desceram as escadas e viraram as costas ao Celeiro, aquele lugar maldito. Sabiam que não tinha sido culpa deles. Conheciam a história daquele lugar, tinha-lhes sido contada por o avô. Costumava ser habitado por uma bruxa, que passara anos e anos no Celeiro. Mais anos do que qualquer um deles chegaria a viver. O avô dissera-lhes que quando ele nascera já ela era velha e que não mudara com os anos. Sempre o mesmo rosto, sempre as mesmas roupas.

Caminharam por entre as flores de cabeça baixa, rumo a casa. Eva, a menina que eles tanto amavam, tinha desaparecido. E nunca mais voltaria a aparecer…

E durante alguns anos, a imagem daquela cobra de olhos vermelhos e daquela estranha névoa, assombraria os sonhos daqueles dois. Muitos anos depois, aqueles olhos vermelhos voltariam a surgir, desta vez não numa cobra, mas em algo mais assustador. Que viria a assustar muitas mais pessoas…


Gina fechou os olhos, tentando em vão, colocar-se noutro lugar. Longe daquelas pessoas e daquela rua. Não queria estar ali. Não queria saber que o seu melhor amigo estava poucos metros à sua frente, vendo-a sofrer, sem nem levantar uma mão para a ajudar. Então por que não apenas esquecer? Sempre tivera uma larga imaginação, por que não tentar esquecer onde estava? Mais do que difícil isso era algo impossível. Era impossível ignorar a mão fria que se fechava sobre o seu pulso, era impossível ignorar os olhos ásperos que a estudavam, era impossível ignorar a força que aquele homem pressionava contra si. De testa franzida em concentração, procurou a parede com o seu braço livre e encolheu-se um pouco tentando ficar o mais longe possível daquele monstro.

- Então… parece que nos perdemos, não é? – a voz dele ecoou nos seus ouvidos. Ouvia-o repetir aquela frase vezes e vezes sem conta dentro da sua cabeça, como se ela precisasse desesperadamente ouvir aquelas palavras para perceber no que se tinha metido. – Não te preocupes, Pequenina. Eu estou aqui para olhar por ti.

Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Pânico. Medo. Estava nas mãos daquele maldito. Sabia que sozinha não conseguiria libertar-se. Ele podia fazer o que quisesse dela. Deixá-la dias e dias fechada numa cela na sua grande mansão, até que a fatiga tomasse conta do seu corpo e a esperança de fuga desse lugar à resignação a uma morte inevitável.

- Agora diz-me: O que trás uma menina tão bonita a um lugar imundo como este?

E ele podia fazer bem pior… Não arriscou abrir os olhos. Não queria olhá-lo. Não queria constatar que ele estava mesmo ali. Sentiu aquela mão apertá-la ainda mais e cerrou os dentes, tentando evitar qualquer gemido de dor. Não queria dar-lhe o prazer de perceber que a estava a atingir. A sua expressão chorosa, no entanto, denunciava-a.

- Pai…- Gina abriu os olhos de tão surpresa que estava, encontrando imediatamente os olhos cinzentos do amigo, Draco. Fizera um esforço tão grande para se convencer de que ele não estava ali que quase se esquecera da sua presença, quieto e sereno atrás da grande figura de Lucius Malfoy. - Acho que estás machucando-a.

Dissera aquilo a meia voz, medindo cada palavra e ainda assim sabendo a resposta que o esperava. Fora impertinente. Interrompera aquela pequena tortura psicológica com a observação mais inteligente que lhe poderia ter ocorrido… Estava a arriscar demasiado para um dia só. Para a menina encolhida em frente do seu pai que ainda não desviara o olhar dele, aquelas palavras chegavam para reconfortar a sua alma e o seu coração. Afinal, aquele rapaz poucos metros à sua frente sempre era o mesmo que ela conhecera. Sabia que não estavam no Celeiro. Ali não eram apenas eles dois. Era como se tivessem de repente saltado para o mundo real (que naquele momento não parecia estar muito a favor). Como se fossem dois estranhos, como se não tivessem passado dias e dias juntos. Aquele cruzamento de olhares deu-lhes tempo para se recordarem de quem eram, do que eram um para o outro. Poderiam ter ficado horas apenas olhando-se, estudando-se. Era tão estranho… Parecia que estavam a se conhecer novamente.

- Achas?- A voz cortante de Lucius Malfoy soou entre os dois, despertando-os daquela transe e trazendo-os de volta à rua Bativolda. Para surpresa de ambos, já não segurava Gina. Parecia tê-la esquecido completamente e agora lhe virava as costas, ficando assim a menos de um metro de Draco.

Os seus pensamentos estavam demasiado concentrados no que o filho lhe dissera para poder notar a troca de olhares entre as duas crianças. A sua mão esquerda pousava agora no ombro do filho, enquanto a direita procurava pela varinha no interior das suas vestes. A sua pele pálida adquirira um leve tom avermelhado e os seus olhos estavam fechados, como tentasse a todo o custo controlar-se. Aquele homem estava furioso. Mantendo uma expressão neutra, num gesto calmo, Lucius pegou na varinha. Aquilo não podia ser um bom sinal…

- Achas? Pois adivinha Draco… Era esse o meu objetivo. E acredita, eu queria fazer muito mais com ela. Tens alguma objeção a fazer? - A sua voz tremia de cólera. O rapaz abanou a cabeça, sempre encarando o pai. - Estava a planejar levá-la lá para casa. O que me dizes? Até te deixo brincar com ela, se quiseres.

Gina abriu os olhos horrorizada. Até ali acreditara que Draco a poderia salvar daquele homem. Agora as suas esperanças caíam por terra. Porque agora ela podia constatar a impotência do rapaz perante o pai.

Podia fugir… Não importava se depois ela se perdesse definitivamente. Não importava se Rony chegasse ali e não a encontrasse. Antes perdida naquele lugar horrível que nas mãos daquele bastardo desprezível! Podia fugir… Bastava esconder-se na sombra e ir avançando. Ele não a veria.

Não. Fugir não era uma coisa que ela pudesse fazer agora. Queria fugir, sim, mas não podia fazê-lo. Voltou novamente a sua atenção para Draco que enfrentava o olhar do pai de semblante duro e ameaçador. Provavelmente já estava habituado àquelas coisas, afinal de contas o homem era o seu pai, vivia com ele desde que nascera.

Gina suspirou, olhando o amigo. Admirava-o ainda mais que antes. Por Merlin, não podia deixá-lo sozinho. Arriscara-se por ela, era a vez dela de se arriscar por ele. E por isso ficaria. Ficaria ali até Draco estar a salvo. Depois disso logo decidiria o que fazer.

Não teria percebido o que estava a acontecer se os bruxos que atravessavam a rua naquele momento, não tivessem parado de repente, murmurando entre si. Ver Lucius Malfoy discutir com o filho era uma coisa mais que comum de se ver naquela rua, mas vê-lo apontar-lhe a varinha? Aquilo era novo. E suficiente extraordinário para que todos eles interrompessem as suas rotinas para observar, por mais ocupados que estivessem.

- Não sei o que se passa contigo Draco, mas juro-te pelo sangue puro dos Malfoy que te mato aqui mesmo se voltares a falar. – O homem voltou a falar, sempre frio, sempre arrogante. Encostou a varinha ao peito do filho e inclinou-se para poder olhá-lo de frente. Suspirou. Draco Malfoy estava longe de ser o filho que desejara, que ainda desejava.

Gina observou a varinha de Lucius irradiar um leve brilho esverdeado. Imediatamente Draco baixou a cabeça, desviando o olhar do pai. Parecia… apático. Lucius não pronunciara qualquer palavra, contudo aquele brilho verde causara um efeito estrondoso. A multidão desvanecera-se e continuara o seu caminho rapidamente, como se empurrados por uma forte rajada de vento. Pareciam ter todos subitamente esquecido aquele episódio, caminhando de olhos postos no chão. Apenas Gina continuava a olhar para Lucius. Quem achava ele que era?

Quando o viu agarrar Draco pelo colarinho, num gesto brusco, perdeu toda a calma que podia ainda ter. Recorrendo a uma coragem e a uma força que nem sabia ter, jogou-se na frente de Lucius Malfoy, empurrando-o. Apanhado de surpresa, o homem perdeu o equilíbrio, recuando alguns passos antes de cair no chão. Gina nem teve tempo para o ver cair. Estava preocupada com outra coisa. Assim que o empurrou, virou-se para Draco, segurando-o com ambas as mãos e tentando fazê-lo olhá-la. Não reagia. Abanou por alguns segundos e por fim conseguiu vislumbrar-lhe os olhos. Vazios, inexpressivos, como tudo nele naquele momento.

Os olhos dele foi a última coisa que viu antes de ser sacudida para trás, caindo no chão e batendo com a cabeça. Depois tudo ficou escuro.


Onde estava ela? Que lugar era aquele?

Estava tão escuro ali dentro. E tinha tanto frio… As paredes pareciam cair sobre ela, como se a culpassem por não ter respostas. Entrando em pânico por ela, talvez. Por vezes via algumas luzes na escuridão, dançando a sua frente como se fossem pirilampos. Não tinha a mínima ideia de onde se encontrava ou de quem a trouxera ali. Não sabia onde estava Draco, não sabia quem eram aquelas pessoas que começava a destinguir à sua volta. Tentou sentar-se na cama onde estava, mas alguém a forçou a permanecer deitada. Tentou então lembrar-se do que tinha acontecido. Ela e Rony, a rua, Lucius Malfoy, Draco… e depois? Quem os teria salvo?

Lentamente, pode destinguir algumas vozes. A escuridão foi-se desvanecendo e ela pode enfim ver os rostos das pessoas que a rodeavam. Rostos conhecidos, sorrisos conhecidos. Estava em casa. Virou o rosto para a mulher sentada ao seu lado na cama. Tinha uma mão quente pousada sobre a sua que ela destinguiu imediatamente. Era a sua mãe.

Quem a tinha achado? Como fora trazida até ali? Demasiadas perguntas, tão poucas respostas… Olhou à sua volta e pode ver Fred, Jorge e Rony, todos em pé ao lado da cama. Rony estava bem, ao menos isso. Molly parecia ser a única que ainda não percebera que a filha estava acordada. Não mudara de roupa, portanto Gina deduziu que não se havia passado muito tempo desde o seu encontro com Lucius Malfoy.

- Mãe… - Chamou.

Molly levantou a cabeça de repente e deu um pequeno salto no lugar onde estava. Aquilo era uma surpresa. Segundo os medibruxos Gina só devia acordar na manhã seguinte, estando sobre o efeito de poções. Segundo eles, não fora a queda ou o impacto que provocara aquele estado de inconsciência na menina. Qualquer problema proveniente da queda poderia ser facilmente curado com um simples feitiço. Gina fora sujeita a um feitiço negro, conjurado por um feiticeiro poderoso. Não fora ela o alvo, mas estando presente, servira de alimento ao feitiço. A magia negra causa sempre problemas. Não importa o alvo, qualquer pessoa a poucos metros do raio do feitiço é afetada. É uma das noções elementares da magia negra. E ali estava a sua filha, à sua frente, de olhos bem abertos. As perguntas repousavam na ponta da sua língua e esperavam apenas um bom momento para dispararem.

- Mãe. – Sussurrou novamente.

Virou-se para ela ainda deitada e pegou numa das suas mãos, como que pedindo desculpa pelas inquietações e desassossegos que a fizera passar. Aquele teria sido um ótimo momento para um abraço entre mãe e filha. Teria sido um momento perfeito para ambas se acalmarem e encontrarem conforto nos braços uma da outra. O abraço veio, mas tudo o resto ficou pelo caminho… Quando Gina conseguira finalmente acompanhar os acontecimentos, já Liza estava pendurada no seu pescoço, como se a sua vida dependesse disso e arrastando-a consigo até ao chão. Nos segundos seguintes estavam as duas estendidas aos pés dos três rapazes, rindo uma da outra, rindo deles, rindo de tudo o que olhavam. Porque simplesmente precisavam rir juntas. Foi o suficiente para quebrar toda a tensão ou encanto que ainda pudesse haver naquele quarto. Como tal, Molly levantou-se, com um sorrido cansado no rosto e limpando as mãos ao avental por força de hábito.

- Parece-me que já estamos todos bem… Merecemos uma comemoração, não acham? Afinal, não é todos os dias que uma filha minha se perde no dia do seu aniversário e vai e volta do hospital! Acho que tenho algumas bolachas feitas… E deixo-vos beber uma cerveja amanteigada cada um se prometerem prender a vossa irmã à cama.

Gina fora imediatamente empurrada até à cama por quatro pares de braços. Não fora necessário muito esforço, já que Gina praticamente voara para debaixo das cobertas. Não era todos os dias que ela fazia anos e se perdia, mas também não era todos os dias que tinha direito a beber uma cerveja amanteigada!

Molly dirigiu-se à porta e saiu, entre exclamações e risos das crianças. Quando já ia longe, perto das escadas, acrescentou:

- E tentem não pegar fogo em casa enquanto eu estiver lá em baixo!


- Devias ter visto Gina. – Rony repetiu a história pela milésima vez. Gina deixava-o falar. Estava tão entusiasmado que chegava a ser divertido vê-lo a gesticular com uma das suas expressões mais caricatas no rosto.- Primeiro a mãe a correr com a bolsa na mão e a deitar o maldito do homem ao chão. Estava furiosa Gina! Não era como quando ela se zanga conosco… ela parecia… parecia…

- Um hipogrifo com problemas intestinais?- Sugeriu Fred um pouco alto de mais, o que fez com que todos no quarto arregalassem os olhos.

- Para o bem da humanidade Fred, não deixes que ela te ouça. – Rony fez um sinal ao outro gêmeo, que espreitou para o corredor, certificando-se de que a mãe continuava bem longe deles. - Mas sim, era isso que ela parecia. E não acabou! Lá estava o estupor do Malfoy, deitado no chão e a ser espancado por uma mulher, pela nossa mãe… - Novamente uma entoação nas últimas palavras, seguida de uma pausa para que todos pudessem sorrir orgulhosos. - A gritar por ajuda. Não estou a brincar Gi! Ele estava mesmo desesperado!

Gina reprimiu o riso. Quem não estaria depois de ser alvo da fúria de Molly Weasley? Não era qualquer coisa. Ver um Weasley furioso não era algo que ela desejasse a muitos. Na verdade, até ao dia do seu aniversário não o desejara a ninguém. Existiria alguém tão mau a ponto de merecer isso? A resposta era sim. Lucius Malfoy. E talvez muitos outros como ele… Desejava que não tivesse sido fácil para ele. Que ele tivesse ficado assustado. Que tivesse se sentido realmente humilhado. Ser literalmente espancado por Molly Weasley. Gina sorriu ainda mais. Os deuses ainda eram justos.

- E claro, depois a Liza aqui entrou em ação!- Rony puxou a menina dos olhos castanhos para debaixo do seu braço e afagou-lhe o cabelo. - Ela foi genial! Não a terias reconhecido. Pediu aos gêmeos para afastarem a mãe e pôs-se à frente do verme! Depois… bem, fez um grande discurso cheio de palavras difíceis sobre a imbecilidade da família Malfoy. Até batemos palmas no final! Nessa altura, obviamente que as pessoas já se tinham juntado à nossa volta. E algumas até tiravam fotos. Espero que saia no jornal.

Após escapar dos braços de Rony, Liza voltou a aproximar-se da melhor amiga, sorrindo. Sentou-se novamente na cabeceira da cama e apertou-lhe a mão, como se não tivesse feito mais do que a sua obrigação. E não tinha… Era a sua melhor amiga, não era? Tinha mais é que ajudá-la. Já era altura de ser Liza a fazer alguma coisa por ela, para variar.

Sacudiu a cabeça, afastando aqueles pensamentos maldosos. Devia estar agradecida. Liza tinha enfrentado Malfoy. Tinha sido corajosa como ela nunca seria. Devia-lhe muito.

- Bem, na verdade apenas trocámos algumas palavras amigáveis. – Os rapazes sorriram, recordando o quão amigável tinha sido o breve diálogo dos dois.- Ele percebeu que eu estava com vocês e disse que esperava mais de mim. Que eu não precisava praticar caridade! "Consegues arranjar muito melhor companhia, sendo quem és." Claro que lhe respondi. Disse-lhe que a única pessoa que precisava de caridade urgentemente era ele! E de uma vaga no St. Mungos! Depois o canalha disse que os meus pais tinham errado na minha educação! Acreditas nisto? O cafajeste teve a lata de dizer que os meus pais me estão a educar mal! Eu podia ver-te no chão, do lugar onde estava. Olhei para ti e… bem, descontrolei-me.

- Ela chamou-lhe lambisgóia miserável! – gritou Rony enquanto Liza corava, embaraçada e os gêmeos gargalhavam agarrados um ao outro. Gina desejou ter estado acordada para ver a cara de Malfoy ao ouvir aquilo. A desforra era doce. – Depois começou a gritar com ele, claro. Só parou quando nós a agarramos e praticamente a arrastamos dali para fora. Aquele amigo da mãe ajudou-a a carregar-te até ao hospital. O resto tu já sabes. E claro, o loiro oxigenado júnior continuava parado a olhar para baixo. Deve ter visto algum familiar a rastejar no chão.

Gina arregalou os olhos e engoliu em seco. Rony preparava-se para contar mais uma passagem da sua história e todos o ouviam atentamente. Ninguém parecia ter percebido que a expressão de Gina mudara de repente. Tinha-se esquecido de Draco. Tinha acontecido tanta coisa. Ele não a tinha ajudado. Certo que cumprira o seu papel como amigo dela. Interferira quando percebera que as coisas estavam a chegar ao seu limite e sofrera as consequências disso. Mas ele estivera lá do inicio ao fim. Poderia ter parado aquilo.

Abaixara a cabeça assim que Lucius o repreendera, sem fazer qualquer esforço para o afastar dela. Isso punha em causa tanta coisa… Teria ela enfrentado aquele homem malvado por Draco? Claro que teria. Ficara lá e defendera-o quando poderia ter fugido. Por outro lado Draco conhecia o pai muito melhor que ela. Talvez tivesse algum bom motivo. Talvez acreditasse que não havia nada a fazer. Mas não era isso que estava em causa. Não importava como aquilo iria acabar ou se sairiam dali vivos ou mortos. Se Draco simplesmente tivesse arriscado a sua vida pela dela…

Teria ela enfrentado aquele verme e arriscado a sua vida por ele? Claro que teria. Não só teria como o fizera. E voltaria a fazer se fosse preciso. Ou talvez não. Talvez antes de todas aquelas coisas acontecerem. Talvez na altura em que ela confiava nele. Porque neste momento, não gostava mesmo nada de Draco Malfoy.

Sentiu uma lágrima solitária deslizar até aos seus lábios, queimando-lhe a face e enxugou-a a tempo de ninguém a ver. Rapidamente se recompôs e voltou a prestar atenção à história, rindo com os irmãos e com a melhor amiga. Não queria piorar as coisas.

Desta vez, as suas preocupações eram outras. Agora era impossível esquecer Draco e tudo o que acontecera entre eles nesse dia. Tudo o que mudara.

Sentada no parapeito da janela, olhando a neve lá fora, levou uma das suas mãos à cara. Sentiu o toque frio contra a sua face salgada, contrastando tanto com aquele calor que a raiva, a desilusão e as lágrimas tinham trazido.

Estranhamente não sentia frio. Estava ainda de vestido e a neve tocava nas suas pernas que balançavam ao sabor do vento, pendendo do lado de fora da janela. Mas não sentia frio.

Durante algum tempo, brincou com os flocos de neve que apanhava quando estendia as mãos, por vezes dando-lhes forma, por vezes deixando-os derreter entre os seus dedos. Sempre gostara de neve, trazia-lhe conforto.

Pode sentir uma presença atrás de si e não teve dúvidas em qualquer momento de que era Draco. Silencioso, atrás dela, esperando por algum sinal que o incentivasse a agir. Aproximou-se por fim e pousou as mãos nos ombros de Gina. Estava gelado, como se tivesse passado horas e horas lá fora, antes de entrar. Como se tivesse receado entrar e encontrá-la, olhá-la.

- Gina…

Gina suspirou, inclinando a sua cabeça para trás e encostando-a a do amigo, de olhos fechados para não lhe ver o rosto. Temia encontrar novamente os olhos que a haviam olhado na rua Bativolta. Às vezes gostava que Draco conseguisse continuar imperturbável quando estava com ela, como fazia com todos os outros. Só para não ter de ler tantos sentimentos nos olhos dele… Só para não ter de passar por tudo aquilo.

- Sabes, neste momento não consigo gostar mesmo nada de ti. - Disse finalmente, quebrando o silêncio que se instalara entre eles.

- Como eu te percebo... Eu também não consigo. - Ajudou-a a vir para dentro e arranjaram um espaço para se sentarem, de modo a poderem continuar a olhar os flocos de neve pela janela.

- Gostar de mim?- Perguntou Gina, de forma tão inocente que conseguiu arrancar um sorriso do rapaz.

- Não. De mim. – E dissera aquilo sem ironia. Não estava a troçar dela e sabia que aquela não era a altura para isso. Tinha sido sincero em todas as suas poucas palavras.

- Por que?

- Por todas as coisas…

Respondeu pausadamente, como se aquilo fosse um fato mais que óbvio. Gina acenou séria, tentando mostrar que o compreendera, que ele dissera a coisa certa no momento certo. Nenhum deles ousou quebrar o silêncio novamente. Aquelas palavras tinham encerrado tudo. Não havia mais nada para ser dito.

Agora deviam esperar. A confiança regressaria aos poucos. Se eram amigos antes poderiam continuar a sê-lo. Bastava aceitarem esta nova condição que se impunha sobre eles. Bastava acreditarem que da próxima vez estariam prontos para atravessar aquilo.

E eles esperaram. Ficaram ali algumas horas em silencio, até Gina parar de chorar e Draco conseguir olhá-la nos olhos novamente. Depois adormeceram, um ao lado do outro, não se importando com mais nada.

N/A: E desta vez prometo que o próximo capítulo sai pelo menos em Fevereiro...

Ah, claro, o capítulo! Bem, já que durou tanto tempo com o outro não poderia demorar tanto com este. E eu até gostei. A parte da Eva, do Peter e da Julie ficou maior e melhor do que eu esperava. Era só para dar uma ideia de que eles andam aí. E tivemos o primeiro capítulo com alguma ação. E adorei o final.

Agora sobre os próximos capítulos, quem leu a n/a do ultimo capitulo ja sabe que Hogwarts está proxima. O próximo capítulo é mais centrado na Liza e no Draco.

O título do capítulo...Bem, está obvio. P A frase do Draco.

Como queria postar o capitulos ainda hoje, não posso responder às reviews personalizadamente agora. Apenas agradeço por todas e fico à espera de comentarios a este novo capitulo. Beijos a todos que lêem a fic.

Becca