"Foi ali, no Oceano Pacífico, a 1 km ao sul do Hawaii. Há exatamente um ano, o grande Mobile Suit vindo das Colônias, conhecido como Gundam, caiu exatamente nesta localidade, no dia 11 de julho do ano passado. A grande onda de água e estilhaços que caiu sobre as ilhas havaianas provocou a morte de mais de trinta mil pessoas, além de desastres ecológicos irrecuperáveis. O grande Mobile Suit vinha a uma velocidade de 1200 km/hora, e no lugar que cair, dentro do mar, abriu uma fenda de 200 metros de profundidade. O que os moradores do Hawaii que sobreviveram dizem é que viram uma enorme criatura, com asas parecidas com as de um anjo, quase cair em sua costa, levantando muita água e matando tanta gente que veio à mente de todos a idéia de um juízo final. Bastou algumas pesquisas por parte da OZ II para concluir que se tratava de um Gundam, chamado de Wing.
Só foram encontrados escombros desse Gundam, inclusive das tais asas de anjo. Ele foi completamente estraçalhado pelo impacto, apesar da água ter amortecido a queda. Quanto ao piloto, o corpo dele não foi encontrado, mas os médicos acreditam que o corpo pode ter sido queimado pela suposta alta temperatura dentro do Gundam, e depois dilacerado pela queda. O fato de não encontrarem nem vestígios de vida humana foi justificado pelos médicos, que disseram que as correntes marítimas levaram as cinzas. O piloto, de nome desconhecido, foi dado como morto. Houveram e ainda há grupos revolucionários na Terra e nas Colônias, que espalham o boato de que o piloto era Heero Yuy, o piloto do Gundam Wing morto há onze anos. As pesquisas vão ser canceladas pela OZ II oficialmente, conforme foi dito antes, que haveria apenas um ano de prazo para que os pesquisadores não pertencentes à própria pudessem verificar o solo da queda. Nada foi descoberto, e fica aberto como mistério quem era o piloto e quais eram as suas intenções."
"206 A.C.
(segunda fase)
16 A Terra Depois de Muito Tempo"
Esqueceram de mencionar que a OZ II executa os que dizem que aquele piloto era Heero Yuy. disse Marília ironicamente, após ler a notícia no jornal. Censura de imprensa... Dirceu tomou seu café. A OZ II teve de recorrer até a isso para se manter de pé. Não acha que ela está caindo agora?
Acho. Sem guerras, a própria população vai se cansar da OZ II e ela cai em dois ou três anos.
Tempo demais.
Você acha? Nem tanto.
Eram um casal como qualquer outro da Terra, talvez. Moravam na Velha Zelândia, administravam uma universidade famosa mundialmente, a Clermont, que haviam comprado recentemente com a fortuna que restara dos dois. Marília e Dirceu Mandaire. Relena Peacecraft e Quatre Raberba Winner Não houvera nenhuma notícia desde que o Wing Zero caíra no mar. Os dois não tinham esperança nenhuma de que aquele era Heero, não porque não queriam saber que ele morrera nesse atentado, mas por não acreditar realmente que ainda existiam pilotos Gundam e seus amigos e aliados. Relena e Quatre casaram-se apenas por pura política: haviam concordado com Mallaica que Clermont educaria os melhores soldados para a OZ II e pesquisaria tudo o que ela mandasse, sem receber nada em troca. Então viraram o casal Mandaire.
Dormiam na mesma cama. Só isso. Um não desejava o outro e eles apenas se viam como irmãos, e chegavam a levar uma vida tão íntima que era difícil acreditar que não o eram, que até ano passado se tratavam com imenso respeito formal.
Bom, pelo menos estamos em paz... Relena se levantou do sofá da sala em direção à varanda, de onde contemplou o mar da costa zelandiana. A casa era relativamente simples, feita só para um casal morar, toda branca e com poucos detalhes, um sobrado com um pequeno e lindo jardim cheio de primaveras. Relena, apoiada à grade da varanda, acabou por pensar em Heero. Tinha se recuperado mesmo muito rápido depois da morte dele, mas a dor na verdade ficara trancada, porque afinal tinha de ficar.
Fora naquela tarde chuvosa. Na sala de Mallaica, ela recebera junto com ele e Quatre a notícia de que o Wing Zero tinha caído na Terra e se estraçalhado.
Bem... disse Mallaica, com um falso ar de tristeza. Então é assim. Aqui termina a trajetória do piloto Gundam Heero, que a senhorita nunca havia me contado sobre ele.
Ela ficou em silêncio. Ele continuou.
O que devo fazer agora? Isso é traição.
Lágrimas doloridas escorreram pelo rosto de Relena. Ela começou a soluçar. Foi ficando cada vez mais forte, até que se jogou nos braços de Quatre em um pranto desesperado. Os olhos dele também estavam ensopados, embora ele não chorasse: era o que Mallaica queria. Permaneceu inexpressivo.
Você... começou para o líder da OZ II. sabia disso, não sabia? Não só que ele era Heero, mas sabia desse ataque.
Não seja tão desconfiado, Sr. Winner.
As mãos de Relena se apertaram de raiva nas roupas de Quatre enquanto ela o abraçava. Levantou o rosto, molhado de lágrimas, e olhou nos olhos de Mallaica. Ele até tinha se intimidado um pouco, embora não tivesse demonstrado.
Você... como pode jogar assim? Senhorita?
Você simplesmente não presta!
Quatre aproximou-a mais de si mesmo, beijando-a na testa, afim de acalmá-la. Olhava Mallaica com os olhos já bem-treinados para ficar sem expressão.
Você é mesmo um sádico.
Ora, Sr. Winner, o senhor.
Mallaica tentava disfarçar, levantando-se da cadeira nesse instante, mas parou. Quatre abrira a boca para falar algo, mas, como desistira, voltara os lábios para beijar mais uma vez Relena.
Quatre conversara com Mallaica dias depois. Conversaram como simples políticos, o líder da OZ II com seu ar de harmonia e o antigo piloto Gundam respondendo tudo curta e secamente, os olhos de vidro, a voz sem emoção.
Acabaram por concordar sobre Clermont. Quatre justificou estar agindo apenas em nome da filha do ministro Darliam e herdeira Peacecraft, que falara a ela que era talentosa para com política pacifista e ela tinha de continuar os fundamentos da Família Peacecraft, arduamente, mesmo que sobre essa pressão, até que um herdeiro assumisse a posição. E Quatre disse que seria seu soldado devotado. Inventaram o casamento. Adotavam os pensamentos pacifistas em Clermont, passando para os alunos. Meses assim deram a idéia de que poderiam recomeçar a revolução de novo, mesmo que demorasse anos. Era o destino de pessoas como eles dois: só parariam quando morressem, talvez.
E agora, Relena na varanda, os cabelos presos menos arrumados do que costumavam ficar antes. Quatre na sala, lendo o resto do jornal. Faz tempo que não vejo nenhuma notícia das Colônias. disse calmamente, enquanto fechava as folhas e as colocava no meio da mesinha de centro. Estão isoladas de novo?
E quando foi que não estiveram?
É que ultimamente eu tenho lido algo a respeito delas. Acho que vi na TV também.
Relena suspirou e voltou à sala. Sentou-se na frente de Quatre.
Sabe que... começou. pela primeira vez eu sinto falta de ser importante? Importante mundialmente, eu quero dizer. Eu nunca pensei que sentiria tanta falta do poder, do status para liderar.
Quatre apenas assentiu com a cabeça.
Se não houvessem alunos devotados da OZ II em Clermont ela continuou, se expondo pela primeira vez desde que estavam juntos. poderíamos organizar uma rebelião, ou algo assim. Demoraria alguns anos, mas teríamos grande chance de sucesso.
Mas não estávamos discutindo até agora que a OZ II vai cair sozinha? E em menos tempo que isso? Quatre perguntou, encarando-a. Não seria mais fácil esperar?
Relena hesitou por um instante, e depois disse com receio.
Não é só isso. Não basta que Mallaica caia. Eu gostaria... bem... EU mesma governar, entende? Quero... poder de novo, concentrado em minhas mãos.
Quatre sorriu. Sabia o que ela estava pensando fazia algum tempo; só esperava que ela mesma admitisse para ele.
E assim eu inseriria minha política pacifista. ela acrescentou rápido.
Afinal, hoje termina o prazo para pesquisas... o velho cientista fungou. Um ano? Não dá para esclarecer um mistério desses em um ano. Por que será que a OZ II quer escondê-lo?
Concordo com você, isso é mesmo uma incógnita uma companheira disse. Mas ou vamos embora, ou seremos fuzilados como rebeldes.
Os rebeldes estão cada vez mais comuns. disse outro.
Ah, mas eu não quero ter o mesmo destino que eles, obrigada!
Noite havaiana, aquele era um grupo de quinze cientistas - alguns dos melhores do mundo - esperando o navio para deixarem a ilha. Não havia praticamente ninguém no porto, além dos poucos trabalhadores costumeiros. Aquele porto ficara parado por muito tempo e agora recebia poucos navios, depois da queda do Gundam. À frente do porto ficavam as águas onde o Gundam havia caído.
A noite estava incrivelmente estrelada. Podia-se ver quase tantas estrelas quanto se via no Espaço.
Faz tempo que não recebemos notícias de Aurey Mallaica. um deles retomou o assunto. O que acham que pode ter acontecido?
Não sei. uma velha respondeu. A velha crença em Heero Yuy voltou com tudo e agora está difícil para uma pessoa de menos influência detê-la.
Por falar em influência, e a Relena Peacecraft?
É verdade, ela nunca mais apareceu.
Será que foi morta?
É o que os grupos revolucionários andam dizendo.
Ora, grupos revolucionários são grupos revolucionários! Vai saber que bobagem que proclamam em voz alta para defender uma revolução.
Mas todos são loucos por revolução.
E o que podemos fazer? São todos seres humanos!
Riram. Um deles se virou para um homem que estava no balcão do bar do porto e pediu vinho para todos. Depois brindaram, sorveram e continuaram com as conversas animadas.
Vida longa a Heero Yuy! gritou um brincando, erguendo sua taça.
Qual dos dois? brincou outra.
Algum ainda tá vivo?
Mas que nome de azar, hein!
Este último sentiu algo frio tocar sua nuca. Viu que todos ficaram assustados ao olharem para ele.
Que... é?
Um pequeno estalo o fez perceber que o que havia atrás de sua cabeça era uma arma. Ficou paralizado, enquanto outro cientista, cauteloso, perguntou:
Quem... é você?
A pessoa que estava atrás dele era o homem do bar da praia, que trouxera o vinho. Era de altura média, forte, um olhar frio e inexpressivo de seu rosto belo e jovem. Disse, com a voz congelante:
Cientistas aliados à OZ II que vêm saber algo sobre o Gundam devem ser destruídos antes que saiam desta ilha ou passem alguma informação para fora dela. O tiro disparou.
Na mesma praia, fim de tarde de dois dias depois. Marília e Dirceu Mandaire foram mandados pela OZ II ao Hawaii, com os especialistas de Clermont, para descobrir o que tinha causado o assassinato dos principais cientistas do mundo. Na praia, apenas os corpos sujos de sangue e vinho, com poucos tiros estratégicos na cabeça, possibilitanto que morresem rápido. Os poucos funcionários do porto rústico e precário também foram mortos da mesma maneira, e não há testemunhas, apenas os habitantes que moravam perto e que ouviram os disparos. É claro que a OZ II já havia agredido vários deles e matado meia-dúzia, para tentar arrancar alguns possíveis assassinos de dentro da população havaiana.
Mas era improvável. Por que tentariam matar os cientistas, já que estes não lhes causavam nenhum perigo ou problema? Para ser torturado pela OZ II?
Três horas de investigação na ilha, e nada. uma das professoras de Clermont, que havia vindo junto, disse a Relena. Estamos fazendo o máximo que podemos, Sra. Mandaire.
Eu sei. ela respondeu, observando desanimadamente as manchas de sangue não removidas da areia. Vamos ficar aqui o tempo que for necessário. Faça tudo o que puder, por mais caro que fique. Não vai ser Clermont quem vai pagar as investigações, mas sim a OZ II. Sim, senhora.
Procurou por Quatre com os olhos, sem achá-lo. Relena se sentia triste por dentro. Dois dos cientistas eram de Clermont, ela mesma os conhecera e os cumprimentara por seu trabalho, um deles havia até ganhado o Prêmio Nobel da Medicina. Inteligentes, capazes, os quinze. Mentes como aquela não se formariam de novo em menos de vinte anos. Suspirou. Estava tão cansada.
Ia subindo pela rua além da praia. O sol estava quente e ela suava por baixo do terno branco, a brisa do mar trazendo ainda mais calor tropical. Maravilhoso, o calor dos trópicos, diferente do temperado com o qual estava acostumada. Gostaria de estar deitada na praia tomando sol. As ruínas da cidadezinha ainda estavam ali. Só muito acima - a estrada era íngreme seguindo a montanha - é que começavam as casas com a população. Relena parou e se apoiou num coqueiro à beira da estrada, se aliviando embaixo da sombra quente.
Estava tão cansada que poderia dormir ali, em pé. Deliciou-se com a confortável solidão da ruazinha vazia, as pessoas bem longe, muito acima ou muito abaixo dela. As folhas do coqueiro balançavam suavemente, acompanhando o ritmo constante e sonolento da brisa. Balançava, balançava, sempre balançando.
Sra. Mandaire! ouviu alguém gritar de lá de baixo. Ela se virou rápido e olhou. Pessoas vestidas de cinza - fiscalizadores da OZ II estavam lá embaixo.
Malditos!, ela disse para si mesma. Começou a descer a rua, mas como era íngreme demais Relena estava quase correndo para conseguir chegar a tempo. Já estava bem rápido quando chegava na praia, e então virou para trás para ver onde estava Quatre naquela altura.
Caiu com tudo na areia. Havia se esbarrado em alguém. Desculpe... ela disse ao jovem que também caiu no chão com tudo. Eu estava distraída e.
Pensou ter reconhecido aquele rosto sujo de areia a sua frente. Pensou, não... HAVIA reconhecido! Seria ele, seria ele, seria ele, seria ele?! SERIA ELE?!
Sobre a Segunda Fase O principal motivo que me fez mudar de fase e de ano foi a recuperação da memória de Heero. Precisava de um momento importante... E também a primeira derrota das Colônias.
(Se bem que seria bom terminar esse fic logo, porque eu não ando escrevendo mais nada além dele ')
Ou, posso mudar completamente... --' Nenhum plano meu é definitivo, mesmo que eu queira que seja. É que eu me empolgo e vou criando cada vez mais problemas.
Muito obrigada por lerem o fic, e se comuniquem comigo Eu amo falar com outros otakus, eles são as únicas pessoas que me entendem, hehehe...
Por Kitsune-Onna
