Um detalhe desde a Queda do Gundam é que, ao contrário do que se esperava, a ditadura e a opressão nas Colônias não aumentou como um todo, como era a idéia na Terra. As Colônia foram abandonadas, depois de uma decisão de um concílio realizado pelos líderes da OZ II, que acharam que seria melhor até a organização recuperar a credibilidade terrestre.
Fora Aurey Mallaica quem decidira esse abandono. Por um lado, as Colônias ficaram felizes por se verem libertas da opressão. Porém, o abandono era completo, ou seja, abastecimento de alimentação e água, desde há cerca de 200 anos realizado pela Terra, foi totalmente cortado, abandonando a população coloniana aos própros recursos. Recursos que poderiam ser pelo menos metade abastecidos, com as plantações artificiais das Colônias e outros métodos para pecuária. Mas havia uma coisa que o ser humano não era capaz de produzir, que em toda a história da humanidade fora motivo de guerras e conflitos, e que era, acima de qualquer coisa, essencial para um ser vivo.
Água.

"206 A.C.
18 Traidor Revelado"

A base coloniana de Yuy - antiga, em homenagem ao Heero Yuy assassinado em 175 A.C. - ficava numa Colônia próxima à Lua, e há mais de quinze anos não entrava em ativa. Era uma base bastante estratégica, por ficava no lado oculto das Colônias para a Terra, e, como era a última Colônia em seqüencia de órbita, esse lado oculto era voltado apenas para o Espaço, livre. Era uma Colônia um tanto isolada, também.
Quase ninguém nunca ouvira falar da base Yuy. O próprio Treize Khushrenada não deveria ter ouvido falar, portando Aurey Mallaica também não a conhecia, e, assim sendo, toda a OZ II não fazia idéia de sua existência.
Embora fosse uma base grande, foi difícil modernizá-la. Ela ainda tinha característas das bases do início da década de 190 A.C., quando fora posta fora de atividade. E era lá que os pilotos Gundam se alojavam, em segredo. Duo Maxwell, Trowa Barton, Chang Wuufei.
Haviam conseguido o necessário: um exército unido, forte e persistente como só os cidadãos colonianos podem ser. Lucrézia Noin, Sally Po e Zechs Marchise também estavam lá.
A invasão na Terra falhara completamente, sem nenhum êxito. 70 dos soldados mandados foram completamente massacrados, assim como 95 dos Mobile Suits. Foi uma fuga desesperada, uma fuga da morte. Um massacre na atmosfera.
Com certeza, a OZ II sabia que alguém atacaria naquele momento, ninguém tinha dúvidas sobre isso. Como tudo foi armado, embora improvisado, em absoluto segredo (sendo a comunicação com aquela Colônia completamente cerrada cinco dias antes da partida), a única alternativa é que o traidor que passou as informações para a OZ II estivesse muito próximo.
Tão próximo que poderia ser um deles seis. E, mesmo que algum soldado qualquer tivesse relatado sobre a invasão, como é que ele saberia exatamente as coordenadas de onde aconteceria o ataque? Não haviam tantos Mobile Suits na OZ II para estar aquela mesma concentração, daquele lugar da invasão, em todos os outros lugares da atmosfera onde era possível acontecer o mesmo. E, mesmo se o ataque fosse previsto pela tecnologia, não havia como levar tanto exército para aquele mesmo ponto a tempo, porque foi uma coisa muito repentina. Coordenada exata, exata. Um quilômetro quadrado forrado de Mobile Suits da OZ II, como um enxame de abelhas.
O que seria uma lança para perfurar a bolha da atmosfera e entrar, acabou se deparando com outra lança ainda mais forte. As duas chocaram as pontas e a mais fraca se estraçalhou.
Agora reuniam forças para lutar novamente. Ouviram dizer sobre o governo de Mallaica estar ameaçado pelos grupos revolucionários e tranformistas, que estavam cada vez mais numerosos e inquietos. Essa era a chance. Mas havia uma incógnita a ser resolvida entre eles.

Noin vestiu um casaco pesado.
Ainda é difícil de saber... nosso plano estava tão perfeito!
Estava em seu quarto, da base Yuy. Dividia-o com Sally, que estava se vestindo.
O traidor, você fala? Sally olhou-se no espelho, arrumando as franjas curtas e escassas. Argh, era menos complicado quando eu não tinha franjas.
Noin ficou atrás dela, de modo que pudesse olhá-la no espelho. Sally também podia vê-la.
Então... nós... Vamos parar com isso. interrompeu Noin.
Ainda se viam pelo reflexo.
Sinto muito, Noin.
Eu também, Sally. Minha querida Sally.
Se abraçaram. Mas ambas não podiam deixar de desconfiar.
Noin tirou o cabelos dos olhos.
Mas...

Trowa e Duo estavam no outro quarto, não muito longe. Folheavam juntos algun tipo de mapa da base Yuy.
Os soldados disseram que metade dos mapas daqui estão perdidos. disse Trowa.
Really? Duo jogou a trança para trás, que o estava incomodando. Então vai ser mesmo difícil!
Mandaremos fazer outro mapa. Acalme-se.
É, justo agora que a gente tem essa base. ele sentiu o coração apertar por um instante. E que tem o nome de Yuy.
Trowa sentiu o mesmo.
Foi tolice. sussurrou para si mesmo, sereno.
O quê? Duo perguntou meio atrapalhado. Depois debruçou-se sobre o mapa, olhando as linhas do projeto. Ao ver que Trowa não respondeu, escarou-o. Trowa? Hã? Trowa pareceu despertar dos pensamentos. É... foi tolice... levarmos ele... para a luta, certo? Right?
"Ele" era Heero. Costumavam chamá-lo mais assim do que pelo nome, agora.
Right.
Duo arqueou uma sombrancelha, e depois voltou ao mapa.

Zechs olhava silenciosamente pela janela do quarto, enquanto Wuufei meditava de olhos fechados, pernas cruzadas sobre a cama. Depois, abriu os olhos negros, olhando friamente o tenente.
Finalmente temos um tempo assim, sozinhos. Wuufei mal mexeu a boca para falar.
Zechs piscou. Mas não olhou-o.
Será que posso desconfiar de você? Wuufei perguntou sem expressar emoção alguma. Viu os olhos profundos, claros e verdes se voltarem para ele. Pareciam cansados.
Pode. Zechs respondeu, sem deixar de olhá-lo. E eu também.
Ficou quieto. Melhor não falar. Não paravam de se entreolhar. Wuufei lambeu o lábio inferior , ressecado. Sabia que Zechs ainda não o aturava, pelo ocorrido com Treize Khushrenada no passado.
Zechs, por sua vez, sabia que Wuufei o odiava porque simplesmente fora inimigo deles antes. Soldados outrota contrários não poderiam se tornar aliados, nunca. Belo provérbio chinês.

O clima de desconfiança não impediu os progressos. Como já falado, o exército dentro da base Yuy cresceu absurdamente, com a liderança principalmente por parte de Zechs e de Noin.
Na base havia uma sala de reuniões, um lugar alto de onde era possível ver toda a extensão da base pelas janelas que rodeavam a sala inteira, redonda. Com vidro espelhado, de fora não é possível ver de fora o interior da sala. Era espaçosa, e não tinha mais que uma mesa redonda no seu centro, rodeada de cadeiras.
Sentados no círculo, estavam eles. Zechs - Noin - Duo - Trowa - Wuufei - Sally, todos vestidos com pesados casacos, porque aquele lugar era estupidamente frio. Havia poucos aquecedores, e a Lua e a Terra quase sempre escondiam a luz do Sol na Colônia, e na base em si não atingia luz alguma. Não se podia ver o Sol de lá, apenas uma esfera redonda um pouco distante e uma grande e cinzenta esfera, que dava um tom lúgubre.
Incrível como as coisas no Espaço não eram nada se comparadas ao maravilhoso colorido da esfera terrestre.
Quem nascera na Colônia sempre teve vontade de conheceu o maravilhoso Planeta Água. Assim como era inimaginável, para um cidadão do Espaço, a falta de água naquele planeta. Quando sabiam que os séculos de guerra num lugar chamado Oriente Médio fora por causa de água, e pessoas morriam por falta de água, tinham ainda mais ódio dos habitantes terrestres pela sua mesquinharia. Agora, esse tipo de problema não acontecia mais. Muito antes da criação das Colônias, a água salgada já era vertida, em poucos segundos, em água doce, tendo o suficiente para os quase nove bilhões de habitantes que a Terra sustentava, na época.
Mas, voltando às pessoas da sala, fazia muito tempo que ninguém dizia nada. Sally já havia passado os relatórios sobre como andava o exército, assim como disse que a OZ II estava recuperando aos poucos o poder, por meio de uma ditadura forte.
Se esperarmos demais, eles atacarão primeiro. disse Noin ao fim dos relatórios. Eu diria que em um mês teremos o necessário.
Wuufei fechou os olhos.
Noin, concordo com você.
Que bom.
E a estratégia vai ser essa mesmo? Duo se debruçou na mesa gelada. Zechs?
Sim, por mais que vocês odeiem ter de obedecer ordens. Zechs sorriu. Será assim. Temos canhões-de-raios suficientes para qualquer coisa. E de onde saiu todo o orçamento? Trowa perguntou.
Da população. Sally respondeu com ar entristecido. Embora não saibam, estão pagando caro. Os líderes das Colônias estão nos oferecendo todo o apoio possível.
E pra quem ia sobrar? Duo fungou. É claro que é pro povo.
Eles não têm escolha. Wuufei, de braços cruzados, falou o que todos ali já sabiam. Ou é assim, ou daqui para a frente começará a aparecer mortes.
Ah, sim, a falta de água, o problema atual. Por mais que se reaproveitassem os esgotos.
Temos que agir logo, então. Noin se levantou. E, desta vez, dará tudo certo.
Não era de interesse geral começar a atacar de novo sem antes saber a fonte por onde as informações vazaram anteriormente - poderia acontecer de novo. Mas era uma situação de emergência. Demorando um ano tentando descobrir esse enigma, não o descobririam agora.
O mesmo lugar... Duo olhou para Zechs. Aquele no Sul da África, com lixo nuclear?
Isso mesmo. Zechs respondeu. Só que temos condições de abandonar aquele lugar em pouco tempo. O ferimento da esfera terrestre, seu ponto fraco. E um ponto fraco que o próprio ser humano criou! A Terra em si é forte; foi a raça humana que enfraqueceu-a, como um tumor. E os Gundams? perguntou Duo, mais descontraidamente, apoiando a cabeça nos braços cruzados atrás dela. Restauraram?
Claro. Sally respondeu, alegre. Tudo por conta de Eleni, a melhor mecânica de Mobile Suits que pudemos encontrar em toda a Colônia.
Eleni? perguntou Duo; já ouvira falar nesse nome.
Uma mulher? Wuufei disse secamente.
Wuufei, chega! Noin interrompeu. Eleni é uma antiga amiga minha. Eu.
Ah, isso não! Wuufei!
O que a Noin quis dizer... Sally disse antes que começassem outra briga. É que a moça é confiável. Foi ela mesmo que a receitou para nós.
Querem nos matar?
WUUFEI!

Com seu sotaque francês de Colônia francesa e seus óculos ovais delicados como o rosto, Eleni se apresentou. Tinha os cabelos num coque perfeito, castanhos apenas por causa da tintura, pois as raízes brancas já eram visíveis (ficara muito tempo sem pensar por causa das crises recentes). A pele envelhecida tinha um toque de sutileza, e Eleni não era nem gorda, nem magra. As mãos finas gesticulavam enquanto falava, apontando os Gundams do imenso depósito, totalmente prontos, renovados.
Não sabem como foi uma honra tratá-los pela segunda vez. ela disse com um sorriso, ao término das explicações. Apenas os três pilotos Gundam estavam lá, e alguns operários. Segunda vez? a voz de Duo ecoou pelo imenso local. Mas quando.
Pouco antes de vocês partirem inicialmente. Oh, e dessa vez foi ainda mais emocionante. os dedos compridos acertaram os óculos no nariz. Da primeira vez, foi só atualizá-los quanto a armamentos e armadura. E agora, eu e os meus meninos tivemos que concertá-los daquela última batalha.
Duo e Trowa olharam os "meninos" de Eleni, homens com quarenta anos ou mais.
Os Gundams ficaram quase um ano inteiro sem manutenção, destroçados, guardados. Finalmente um engenheiro à altura deles, depois dos velhos, criadores dos Gundams, terem morrido.
Wuufei estava dentro do Shenlong, na cabine, ouvindo tudo o que falavam e conferindo o que fora alterado. Odiava que mexessem em seu Gundam. Ao ver que apenas algumas coisas foram mudadas, ficou mais tranqüilo. Também reparou que Eleni não tirara o mecanismo de auto-destruição.
Monsieur seu amigo parece desconfiar muito de mim, não acham? Eleni sussurrou para os dois.
De você? Duo riu alto. Ele não confia em ninguém, Eleni!
Absolutamente. Trowa também riu. Era bom rir depois de tanto tempo de tensão.
Wuufei desceu até eles. Parecia satisfeito.
Foi um bom trabalho. olhou para Eleni, reconhecendo-a. Realmente. Acho que tenho que agradecer.
Não agradeça, meu querido, estou sendo paga! ela brincou com delicadeza. Depois disso. Não há agradecimentos, sou eu quem devo ser grata. Pago o triplo do meu imposto original, mas vejo que está dando resultado!
Trowa e Duo riram com ela. Até Wuufei deu um sorrisinho, Eleni tinha uma natureza muito doce e meiga, tendo essa habilidade de fazer os outros sorrirem.
Agora... quanto ao Wing Zero... ela continuou, mais séria.
Olharam-na.
Quanto ao Wing Zero, instalei algo que parece ter sido útil no final. Era para outra ocasião, mas vejo que funcionou.
Viu os olhares de curiosidade dos três jovens.
Contarei quando surgir a oportunidade. ela baixou a voz, como uma avó escondendo um final de um conto-de-fadas para os netinhos pequenos. Mas só depois.
Depois se virou e voltou aos seus afazeres. Um dos seus meninos a havia chamado.

Mais uma vez à sala. E agora por um motivo mais importante: Lady Une embarcara na base Yuy. Disse que trazia notícias, notícias importantíssimas.
Fazia tempo que não viam Lady Une. Pouco tempo depois da Queda do Gundam, haviam se encontrado, mais por pouco tempo. Não chegavam a confiar nela plenamente, agora. Na verdade, alguns deles nunca confiaram. O que ELA está fazendo aqui?! Duo gritou, mais furioso que Wuufei. Quem falou onde ficava esse lugar para ELA!
Ah, não é hora de desconfiar de mim agora! ela respondeu, quase no memo tom, com impaciência. Se quiserem provas, tenho provas.
Estavam todos em pé, em volta da mesa, tomados demais pelo nervosismo e pela tensão do pré-guerra. Ainda mais com Lady Une ali, entre eles.
Foi o bichinho de estimação de Treize! Por que não pode ser de Mallaica, agora?! Duo continuou. Porque começara a desconfiar dela tão repentinamente... era bem simples.
Foi na vez que se encontraram, há muito tempo, quando ela apareceu na base deles na Terra. Chamara Duo para dizer-lhe coisas importantes. Uma sala particular, sentados, na cadeira um à frente do outro.
O que é?
Como já sabe, sou jornalista-espiã agora. Por isso, sei de muitas coisas.
Falou para ele de uma Hilde, se ele conhecia alguma. Ele disse que sim, que se conheceram antes da Final War, e ela fora sua namorada por um tempo nas Colônias, depois dessa mesma guerra. Por que, por quê? Lady Une disse simplesmente.
Ela... está falecida há um mês.
A primeira reação de Duo foi praguejar, depois chegou quase a rir. Que absurdo, absurdo!
Não, digo que é verdade.
Que monte de mentiras! O que vem me dizer agora? Que a conhecia?
Ela estava me acompanhando, treinando para ter a mesma profissão que eu. No meio de nossas conversas, ela citou você.
Hein?
Explicou tudo.
Nosso caso. Nosso.
Morreu em uma reportagem, em meio a mafiosos. Mentira!
Morreu.
Idiota!
Eu nem avisaria você sobre qualquer coisa, Maxwell. Mas ela me pediu. Me lembro de ela me pedir, quando estava na ambulâcia para avisá-lo de que.
Mentira! Cale a boca!
Maxwell... Maxwell.
Maxwell? A mente de Duo voltou à sala. Todos o olhavam; ele deveria estar delirando ali mesmo. Sacudiu a cabeça e continuou:
Não confio em você.
Sei quem é o traidor. ela disse de repente.
Um silêncio na sala. Corações batendo rápido.
Há um traidor entre vocês. Lady Une continuou. Acham que fui eu, mas não. E tenho provas. Não viria até aqui acusar alguém sem provas concretas.
Mais silêncio. Todos olhavam Lady Une. Ela prosseguiu:
Quem os traiu foi...

Obs: Hum, será que as explicações sobre o fato de existir um traidor entre eles ficaram claras?

E espero ter criado a ansiedade que eu queria criar! Vote no seu traidor preferido! (hehe!) '
Foram horas minhas de meditação durante a aula de Química e de Geometria pra poder decidir, então aceitem com carinho, porque isso me custou uma nota horrível!

Por Kitsune-Onna